Casagrande e Milly Lacombe, os destaques do jornalismo esportivo na Copa do Qatar, por Marquinho Carvalho

A Copa do Mundo do Qatar caminha para o seu encerramento e a partir de agora os debates mais acirrados girarão em torno da eleição dos melhores jogadores

Casagrande e Milly Lacombe, os destaques do jornalismo esportivo na Copa do Qatar

por Marquinho Carvalho

É bem provável que a Copa do Qatar seja lembrada como uma das que mais suscitou debates políticos diversos, com especial atenção ao tema dos direitos humanos.

Ainda na seara da polêmica, temas de viés histórico e geopolítico foram incorporados ao longo da competição em razão da belíssima campanha da seleção do Marrocos.

Em nosso programa “Gol de Letra”, que vai ao ar no canal do YT da TV GGN, demos um enfoque nestas questões em uma live intitulada “Marrocos: A reconquista Ibérica”, que foi ao ar após a histórica vitória da seleção marroquina diante de Portugal em partida  válida pelas quartas de final e que pela primeira vez classificou uma seleção do continente africano para as semifinais de uma Copa do Mundo. Um feito épico e inédito.

A Copa do Mundo do Qatar caminha para o seu encerramento e a partir de agora os debates mais acirrados girarão em torno da eleição dos melhores jogadores da competição. Também não pretendo entrar, por ora, nessa discussão.

Feita esta introdução, quero enfatizar que o objetivo central deste artigo é destacar o belíssimo trabalho de dois jornalistas durante a cobertura do Mundial e que são os meus destaques na cobertura jornalística desta Copa. São eles, Walter Casagrande Jr e Milly Lacombe.

Novamente parafraseando Nelson Rodrigues, existem “os idiotas da objetividade” no jornalismo que do alto de sua ignorância ou canalhice afirmam que esporte e política não se misturam. Casagrande e Milly Lacombe vão justamente no sentido contrário.

Durante esse mês da Copa do Qatar eles fizeram comentários em diversos programas e canais, especialmente no Youtube, e publicaram artigos memoráveis que abordavam o futebol sempre com um viés político e tocando em questões sensíveis que exigiram dos dois jornalistas muita coragem e competência em suas análises.

Casagrande em sua nova fase fora da TV Globo rasgou a camisa de força da linha editorial “pacheca” da emissora e soltou sua voz com toda a potência. Muitos que o acompanharam e leram os seus ótimos artigos fizeram comentários pífios questionando-o do porquê ele não ter feitos os comentários com a pegada atual na época de Rede Globo.

Creio que esse questionamento já foi respondido aqui quando mencionei o termo ‘linha editorial’ da referida empresa de comunicação. Mas isso não significa que o Casão fosse um boneco de ventríloquo nos programas esportivos da Globo e nos jogos em que era escalado como comentarista. Muito pelo contrário. Mas certamente esses que questionam a sua contundência na abordagem de temas sensíveis na cobertura do Copa do Qatar certamente não liam as suas colunas no portal UOL em que ele, sempre atento as questões políticas que geraram muitos atritos, debates acalorados e mesmo processos com jornalistas e ex-atletas – sendo um deles com a ex-jogadora de vôlei, pseudo jornalista e militante de extrema-direita Ana Paula, devidamente vencido pelo Casão.

Em atuando na TV UOL, Casão está livre, leve, solto, criativo e com coragem de sobra para fazer jornalismo de verdade, o que significa fazer críticas contundentes e não passar pano para ex-jogadores de futebol que levam uma vida frívola de pura ostentação sempre a serviço do poder, distantes dos terríveis e graves problemas sociais do Brasil. Justo os ex-jogadores que em sua ampla maioria nasceram em meio a pobreza

Casagrande foi muito atacado por essa gente * “careta e covarde… que vivem contando dinheiro e não mudam quando é lua cheia”.

Refiro-me especialmente aos pentacampeões do mundo de 2002.

Sentados ao lado dos poderosos da FIFA e do Qatar nas tribunas dos estádios da Copa feito papagaios de piratas, como muito bem os definiu Casão, eles não têm a menor ideia da sua mediocridade.

Ao passo que Casagrande que foi gigante em campo e fora dele, desculpem-me o trocadilho infame, agora na Copa do Qatar chega à sua plenitude como jornalista e ser humano sensível e efetivamente preocupado com os mais de 40 milhões de nossos irmãos brasileiros miseráveis que passam fome em nosso País. Enquanto isso, Ronaldo Nazário, um dos ídolos do futebol brasileiro, reúne alguns jovens talentos da seleção brasileira para comerem churrasco folheado a ouro num restaurante do Qatar.

Milly Lacombe por sua vez, dona de um texto primoroso, discute em seus brilhantes artigos futebol, poesia, antropologia, psicologia, comportamento, questões sociais e política, tudo junto e misturado, com uma desenvoltura encantadora.

Milly também provocou diversos debates importantíssimos em seus artigos e que também geraram muita polêmica.

Em um deles, profética, discutiu a “liderança infanto juvenil do Neymar” na seleção, sendo este um líder na elaboração das coreografias das tais dancinhas (abordei aqui no artigo: O Brasil dançou. E “dançou”), na pintura dos cabelos dos jogadores, mas que, no entanto, não chamou para si a responsabilidade pela cobrança do primeiro pênalti na decisiva partida contra a Croácia.  Lamentável.

Feminista militante e bastante antenada a todas as nuances do movimento, há tempos vem sendo duramente criticada pelos idiotas de plantão, em especial os simpatizantes e militantes de extrema-direita, como era de se esperar dessa escória.

Chegando ao final do mundial do Qatar eu quero agradecer com todo meu entusiasmo e reverência à Milly Lacombe e ao Casagrande pelos seus trabalhos maravilhosos e, principalmente, pela coragem e inteligência revelada nos seus posicionamentos, comentários, entrevistas e artigos escritos durante a Copa.

Parabéns!! Você me representam!!

*Blues da Piedade – Cazuza – disco Ideologia (1988)

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

Redação

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