Laptop do filho de Biden: Blinken montou farsa contra Rússia?, por Ruben Rosenthal

A confissão do ex-vice-diretor da CIA, Mike Morell, parece confirmar o que já havia sido veiculado por jornalistas independentes

Jonathan Ernst – Reuters

do blogue Chacoalhando

Laptop do filho de Biden: Blinken montou farsa contra Rússia?

por Ruben Rosenthal

Com a Câmara dos Deputados sob controle dos republicanos, Blinken já foi chamado a dar explicações pelo presidente do Comitê Judiciário. 

Em artigo da jornalista Miranda Devine de 20 de abril, o New York Post levanta fortes suspeitas de que o  secretário de estado norte-americano Antony Blinken teria sido responsável pela campanha de desinformação que atribuíra à Rússia a origem dos e.mails contidos no laptop de Hunter Biden. A atuação de Blinken se deu às vésperas do debate presidencial de 2020, e possibilitou que Biden se defendesse de acusações de corrupção proferidas por Donaldo Trump.

A polêmica sobre o conteúdo do laptop, que Hunter havia abandonado em uma oficina de reparos, surgiu com uma publicação no próprio New York Post, poucos dias antes das eleições presidenciais de 2020. Estes e.mails indicariam que o filho de Biden estava fazendo tráfico de influência junto a vários países, se aproveitando que o pai era então o vice-presidente do governo de Barack Obama. Ou seja, os Bidens teriam atuado de forma corrupta, mas mídia preferiu não investigar esta possibilidade, para não prejudicar as chances do candidato democrata nas eleições, o que iria favorecer a reeleição de Trump.

A revelação do esquema montado para desacreditar a veracidade dos e.mails foi feita sob juramento pelo ex-diretor da CIA, Mike Morell, ao Comitê Judiciário da Câmara de Deputados dos Estados Unidos. Morell revelou que havia sido procurado por Blinken, então ocupando uma posição de destaque na campanha eleitoral democrata à presidência, poucos dias após o NYP publicar artigos sobre o conteúdo do laptop.

Em artigo de 14 de outubro de 2020, o NYP publicou que Hunter havia apresentado  Joe Biden a um alto executivo de uma empresa energética ucraniana. Meses depois, o vice-presidente teria pressionado o governo ucraniano para demitir um procurador que estava investigando a tal empresa. Em artigo publicado no dia seguinte, o Post revelou supostos esquemas de Hunter junto a uma firma chinesa.

A farsa da desinformação russa

Morell revelou que atuou na preparação de uma carta para ajudar o vice-presidente Biden a ganhar a eleição, e que esta intenção surgiu após uma conversa que teve com Blinken e do e.mail que recebeu deste, contendo um artigo do USA Today, onde era mencionado que o FBI estava investigando se a questão do laptop do Hunter Biden seria parte de uma campanha de desinformação.

Além de sua própria assinatura, Morell conseguiu as de 50 ex-oficiais do setor de inteligência em uma carta que procurava vincular a questão do laptop a um esquema de desinformação por parte da Rússia. A ideia era repassar a carta para um jornalista do Washington Post, mas um colaborador a enviou para o Político, que publicou em 19 de outubro, com a manchete: A história do Hunter Biden é desinformação russa, dezenas de oficiais dizem.

A carta pode então ser usada dias após no debate presidencial entre Trump e Biden, possibilitando que este negasse acusações de tráfico de influência internacional a favor dos interesses de sua família. Morell revelou ainda que após o debate recebeu um telefonema do chefe de campanha do Biden, agradecendo pela declaração.

Com a Câmara dos Deputados sob controle dos republicanos, Blinken já foi chamado a dar explicações pelo presidente do Comitê Judiciário, Jim Jordan, e pelo também republicano, Michael Turner, do Comitê Seleto Permanente de Inteligência. Eles pediram a Blinken que encaminhasse toda a documentação e comunicações relacionadas no documento com as 51 assinaturas, e que fornecesse os nomes de todos que estiveram envolvidos no esquema, do começo até a divulgação.

No conteúdo da carta que Turner e Jordan enviaram a Blinken consta: “Os esforços para desqualificar as sérias alegações feitas pela reportagem do Post e para suprimir qualquer discussão sobre a história (do laptop do Biden) tiveram um papel significativo na campanha de 2020”.

Os dois deputados republicanos acrescentaram ainda: “Soubemos que você teve um papel na origem da declaração, como conselheiro da campanha do Biden, ……. impedindo que os cidadãos americanos pudessem tomar uma decisão com total informação durante a eleição presidencial de 2020”.

A desinformação promovida pela mídia norte-americana

A confissão do ex-vice-diretor da CIA, Mike Morell, parece confirmar o que já havia sido anteriormente veiculado por alguns jornalistas independentes, que foram na contra-mão do que estava sendo divulgado na  mídia corporativa estadunidense.

Em março de 2022, Glenn Grennwald, em artigo na plataforma Substack, chamava a atenção para o fato de que na tal carta com a declaração dos 51 ex-oficiais da inteligência não era afirmado em momento algum que havia evidências de envolvimento russo na questão do laptop, e sim, que havia fortes suspeitas. Coube à mídia, no afã para assegurar que Trump fosse derrotado, divulgar uma falsa versão de que os documentos (dos e.mails) se tratavam de fato de desinformação russa.

Glenn relembra que se demitiu do Intercept quando o veículo se negou a publicar a análise que escrevera sobre os arquivos do laptop. A campanha de desinformação na mídia também foi usada pelas Big Techs para justificar uma severa censura nos relatos ou discussões sobre o assunto.

É irônico que um jornalista do Político, o mesmo veículo que iniciara a campanha sobre desinformação russa, tenha publicado um livro em que afirma categoricamente que os arquivos são genuínos.   Em seu livro de setembro de 2021, Ben Schreckinger afirmou que eram autênticos os principais e.mails em que o New York Post se baseara para fazer as matérias sobre a corrupção da família Biden. Os editores do Político reconheceram, na ocasião, que livro apresentava evidências de que parte relevante do material do laptop é genuína.

Ainda em seu artigo de março de 2022, Glenn relata que a mídia corporativa optou por ignorar a publicação do livro. Ele ressaltou que o New York Times não aderira à campanha de desinformação que tomara conta da mídia corporativa. Antes das eleições de 2020, o NYY publicou que “não existe evidência concreta de que o laptop contenha desinformação russa”.

Também em março de 2022, o Times publicou sobre as investigações conduzidas pelo FBI nas atividades do Hunter Biden. No artigo, o NYT reconhece que a autenticidade dos e.mails teria sido confirmada por especialistas.

Cabe observar que o recente artigo do New York Post, contendo as declarações de Morell, não mencionou que a maior parte das especialistas de inteligência que assinaram a tal carta pertencem à empresa Beacon Global Strategies, uma firma de consultoria estratégica, especializada em política internacional, defesa, cibernética, inteligência, e segurança interna.

Consta no site da empresa que seus fundadores e diretores prestaram anos de serviço à Casa Branca, Departamento de Estado, Departamento de Defesa, CIA, Departamento de Justiça e no Capitólio.

Mas o envolvimento da Beacon Strategies com o Partido Democrata é anterior à polêmica sobre o laptop. O jornalista investigativo do Intercept, Lee Fang, publicou em seu twitter que oficiais da empresa estiveram envolvidos em 2016 em um esquema montado pela campanha presidencial de Hillary Clinton para prejudicar Bernie Sanders nas primárias, divulgando que ele, se eleito presidente, traria riscos à segurança nacional dos EUA.

A propósito, o Washington Post já publicou um artigo em que minimiza a relevância “da mais recente teoria sobre o laptop de Hunter Biden”.  O fato inegável é que a acusação que caiu sobre a Rússia, de interferência nas campanhas presidenciais norte-americanas em 2016 e 2020, contribuiu para acirrar o sentimento anti-russo na população. Isso se reflete em apoio ao belicismo do governo Biden, na guerra por procuração que o país e seus aliados travam contra os russos na Ucrânia.

Ruben Rosenthal é professor aposentado da UENF, responsável pelo blogue Chacoalhando e pelo programa de entrevistas Agenda Mundo, no canal da TV GGN e da TV Chacoalhando. 

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. A publicação do artigo dependerá de aprovação da redação GGN.

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