
do Observatório de Geopolítica
Finanças globais
por José Francisco Lima Gonçalves
A partir de 2018, a economia mundial entrou em fase de correção depois de quase dez anos em modo expansivo. Juros baixos, expansão dos balanços dos BCs e elevação do padrão de regulação bancária. Esta, enfraquecida por Clinton e por Trump, tolerante e frágil.
Depois de 20 anos de desdobramentos da retomada neoliberal dos anos 1990 e da entrada definitiva da China no mercado mundial com o reforço da demanda por commodities e revolução na indústria manufatureira global, parecia que haveria transição pacífica para um mundo multipolar.
No centro, a mudança da política monetária americana com alta de juros e um início de redução do balanço do Fed. Ao longo de 2019, a economia americana reagiu à contração monetária e o ano acabou com a discussão sobre em qual trimestre entraria em recessão.
Aqui, o novo governo começava sua aventura pseudo liberal com o inevitável desestímulo ao investimento e o desvio do foco para a agenda orientada pelo ataque às instituições representativas da Constituição e aos avanços das políticas setoriais em geral. Nada seria colocado no lugar. Com a pandemia, mais desmantelamento do Estado e mais polarização entre a negação da política e a defesa da democracia. Chegamos aos dias de hoje atrasados em quatro anos, mas um pouco mais revigorados.
A pandemia interrompeu tudo e acelerou o balanço crítico da globalização. A guerra da Ucrânia potencializou a incerteza política e econômica. A obsessão com a produtividade foi substituída pela rendição à segurança no abastecimento. Energia, alimentos, componentes industriais, elos fundamentais das cadeias de valor globais passam a ser objeto de reforço de nacionalismos, mas nacionalismos combinados a avanços anteriores e irrecuáveis. Seja nas dimensões internas (o fim da antiga manufatura nos EUA), seja nas regionais (Euro e Otan), seja nas estratégicas (Oriente Médio, Oceania e Europa Central).
Nacionalismo, temperado pelas finanças globais, mas concentradas, que se renova na corrida tecnológica. A recente crise bancária é uma crise dessa articulação. Um setor de alta tecnologia e de capital fechado, financiado por bancos e capitalizado por entidades fora das bolsas. O ciclo industrial se confunde com o horizonte menos instável, de certa perspectiva, da pesquisa e com as agruras decorrentes das reversões abruptas da política monetária.
A reversão da postura dos principais bancos centrais, iniciada há um ano, piorou as condições financeiras globais, não derrubou a inflação e consolidou o triplo mandato das autoridades monetárias: buscar estabilidade financeira, preservar atividade e emprego e controlar a inflação.
O reforço da regulação bancária e financeira em geral volta a ser o centro das atenções.
Trataremos desses temas no Observatório de Geopolítica neste GGN.
José Francisco Lima Gonçalves é professor da FEA-USP e economista chefe do Banco Fator
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