Observatorio de Geopolitica
O Observatório de Geopolítica do GGN tem como propósito analisar, de uma perspectiva crítica, a conjuntura internacional e os principais movimentos do Sistemas Mundial Moderno. Partimos do entendimento que o Sistema Internacional passa por profundas transformações estruturais, de caráter secular. E à partir desta compreensão se direcionam nossas contribuições no campo das Relações Internacionais, da Economia Política Internacional e da Geopolítica.
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Os extremos agora são outros, por Felipe Bueno

Nosso mundo superou as divisões e as uniões arbitrárias dos últimos cem anos, as fronteiras definidas em gabinetes por homens brancos de terno e gravata - ou fardas?

Os extremos agora são outros

por Felipe Bueno

Trinta anos atrás. Nós, brasileiros, acompanhávamos as consequências imediatas da queda do Muro de Berlim e do mundo soviético com o mesmo interesse com que apostávamos em quanto tempo teríamos que cortar novamente zeros de nossa moeda. Nossos muros eram mais simbólicos que o da cidade alemã, mas não menos intransponíveis: desigualdade, preconceito, pobreza, fome, hiperinflação, violência e tantos outros.

Neoliberalismo, pós-modernidade e aldeia global eram expressões da moda no noticiário e na academia. Clinton, Major, Mitterrand, Kohl e Yeltsin eram nomes que davam rumo ao planeta naqueles tempos em que ainda mandávamos cartas e a TV era a grande fonte de (des)informação.

Era o fim do Breve Século XX.

Naquele 1993, um homem começava a escrever uma obra que se tornaria referência para quem tenta entender o mundo e seus ocupantes. Ainda que o autor revelasse, no prefácio, suas dúvidas acerca do sucesso da empreitada. Era um pessimista, falando sobre um período que justificava esse estado de espírito.

Naquilo que se tornaria no ano seguinte A Era dos Extremos, o britânico Eric Hobsbawm, já veterano e consagrado investigador do mundo, preparava um livro de História, uma reflexão pessoal e um testamento para as futuras gerações.

Eram muitas as perguntas levantadas por Hobsbawm naquele início de década, a última do século XX. Proponho aqui selecionar três planos da obra para que pensemos de que maneira evoluímos, ou não, três décadas depois.

Afinal, somos filhos do fim do século XX e afilhados da Guerra Fria, assim como netos da Revolução de 1917 e das duas guerras mundiais.

Primeiro, o plano político-geográfico. Nosso mundo superou as divisões e as uniões arbitrárias dos últimos cem anos, as fronteiras definidas em gabinetes por homens brancos de terno e gravata – ou fardas?

Não, se considerarmos que civilizações, povos e culturas minoritárias ainda lutam para ter voz. E muitas dessas vozes são silenciadas da mesma forma de sempre: com violência e opressão.

Segundo, o plano econômico. Seres humanos valem mais que bancos? Estados cuidam de pessoas físicas ou jurídicas? Há condições para que todos vivam com dignidade, em equilíbrio de oportunidades?

Não, porque a cada minuto normalizamos a fome, a pobreza e a desigualdade. Todas as desigualdades.

Terceiro, o plano social. Hobsbawm observava à época uma busca cada vez mais intensa pela satisfação das questões imediatas e individuais. Paramos de pensar apenas em nós mesmos?

Não, porque hoje cada vez mais são nossos simulacros, potencializados com filtros, que se relacionam com outros equivalentes nas redes sociais.

Provavelmente sem o talento e a sensibilidade do historiador britânico, seguimos escrevendo os próprios livros sobre a nossa era. Era também de extremos: neonazismo (presente há tanto tempo que deveríamos dispensar o prefixo neo), negacionismo, racismo, xenofobia, intolerância religiosa, tudo isso e além, circulando e influenciando com a mais alta tecnologia disponível.

Hobsbawm termina a apresentação do livro dizendo: Esperemos que seja um mundo melhor, mais justo e mais viável. O velho século não acabou bem. Considerando que ele morreu em 2012, talvez possa ter levado para outros planos mais esperança que os que aqui permanecem em 2023.

Felipe Bueno é jornalista desde 1995 com experiência em rádio, TV, jornal, agência de notícias, digital e podcast. Tem graduação em Jornalismo e História, com especializações em Política Contemporânea, Ética na Administração Pública, Introdução ao Orçamento Público, LAI, Marketing Digital, Relações Internacionais e História da Arte

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  1. Tudo é novo para quem nasce agora. A maldade permeia o mundo adaptando-se a cada boa intenção de mudança e minando a cada era a possibilidade de paz, bonança e equidade.

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