O mundo unipolar tornou-se coisa do passado, reafirma Putin em reunião do Valdai Club

Putin foi categórico; a Rússia não é inimiga do ocidente e não pretende substituir as elites ocidentais

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O mundo unipolar tornou-se coisa do passado, reafirma Putin em reunião do Valdai Club

por Marcus Atalla

Quinta-feira (27), teve início a 19º reunião anual do Valdai Club em Moscou. O aguardado discurso de Vladimir Putin ocorreu em sessão plenária para políticos, economistas e diplomatas de mais de 41 países interessados em discutir importantes soluções à crise mundial, muito mais política do que econômica.

Putin é conhecido por discursos diplomáticos e diretos, dessa vez foram comentários duros. Apesar de não apontar diretamente o dedo a Washington e Bruxelas, o que ele chamou de “Ocidente” e “as elites ocidentais”, os estígios dispostos a tudo para manter seus lucros e hegemonia. Em sequência, o Presidente russo respondeu às perguntas dos presentes.

Talvez, um dos momentos mais importante de seu discurso foi que o fim da URSS destruiu o equilíbrio de forças. O Ocidente sentiu-se vencedor e proclamou uma ordem mundial unipolar na qual apenas a sua vontade, cultura e interesses tinham o direito de existir. “Mesmo no auge da Guerra Fria, ninguém negou a existência da cultura e da arte do Outro. No Ocidente, qualquer ponto de vista alternativo é declarado subversivo, propaganda e uma ameaça à democracia”.

O mundo unipolar tornou-se coisa do passado. O Ocidente não é capaz de governar sozinho a humanidade, mas está desesperadamente tentando fazê-lo. A maioria dos povos do mundo já não toleram isso. Esta é a principal contradição da nova era. As elites não podem, e as classes mais baixas não querem mais viver assim. “Nas palavras dos clássicos, a situação é, até certo ponto, revolucionária”.

Putin foi categórico; a Rússia não é inimiga do ocidente e não pretende substituir as elites ocidentais, “não vamos nos tornar um hegemon”. A Rússia tentou construir relações com o Ocidente para vivermos juntos em paz e harmonia. A resposta a toda cooperação foi simplesmente, um NÃO.

“O mundo está em um marco histórico à frente da década mais perigosa e importante desde a Segunda Guerra Mundial”. “Existem pelo menos dois ‘Ocidentes’. Um é tradicional, com uma cultura rica. O segundo é agressivo e colonial”. “A humanidade tem duas opções, ou continuamos acumulando o fardo dos problemas que certamente nos esmagarão a todos, ou podemos trabalhar juntos para encontrar soluções.”

Alerta a decomposição das instituições internacionais.

Putin: “O mundo está testemunhando a degradação das instituições mundiais, a erosão do princípio da segurança coletiva, a substituição do direito internacional por ‘regras’” [impostas unilateralmente]. “A busca presunçosa da liderança mundial, está resultando em uma diminuição da autoridade internacional dos líderes do ocidental, incluindo os Estados Unidos. A crescente desconfiança na sua capacidade contratual e no seu conjunto. Hoje dizem uma coisa, amanhã dizem outra. Os documentos são assinados e depois não são cumpridos. Fazem o que querem. Não há estabilidade em nada. Como assinar documentos com eles? O que podemos esperar?

[A legitimidade no Direito Internacional está na diplomacia. Ele só existe pelo respeito aos tratados entre os concordantes, no momento em que um país não o cumpre e recusa-se ao diálogo, só resta a Guerra. Os EUA vêm descumprindo todos os acordos há décadas. A Rússia vem pedindo a mediação à União Europeia, há as mesmas décadas. No entanto, Bruxelas aderiu ao lado dos EUA].

“Os nazistas queimaram livros. Agora os pais ocidentais do ‘liberalismo’ estão banindo Dostoiévski”. “Se vocês são democratas, deveriam acolher o desejo natural de liberdade de milhões de pessoas. Mas não! O Ocidente chama isso de minar a ordem liberal baseada em regras. Lança guerras econômicas e comerciais, sanções, boicotes, revoluções coloridas, prepara e conduz vários tipos de golpes. Um deles teve consequências trágicas na Ucrânia em 2014 [Euromaidan]. Eles até disseram quanto dinheiro gastaram neste golpe”

“Mataram Soleimani, um general Iraniano. Como foi possível tratar Soleimani assim? Um funcionário de outro Estado que foi morto no território de um país terceiro e depois disseram: “Sim, matámos”. O que é isto? Em que realidade vivemos?” [Soleimani havia sido enviado ao Iraque na qualidade de embaixador a pedido do Governo Trump, a fim de negociar uma diminuição nas tensões entre os países da região].

Sobre a Ucrânia, o Presidente afirmou considerar a situação como uma guerra civil. Russos e ucranianos são o mesmo povo e a criação da Ucrânia foi como um estado tampão artificial. Também afirmou não haver necessidade de armas atômicas contra a Ucrânia. “Ucranianos e russos são um povo, isso é um fato histórico. “O único país que pode garantir sua soberania é o país que a criou, a Rússia”. [Assista o discurso de Putin, legendado em inglês, aqui].

A Reunião do Valdai Club (24-27) terminou com a produção de um relatório “Um mundo sem Superpotências”.

O quadro que se desenha é o mundo caminhando rapidamente para uma anarquia construída sob a força, “o triunfo da ‘única ideia verdadeira’ impossibilita o diálogo e os acordos com defensores de diferentes visões e valores” no mundo. Os EUA arrastam o mundo para uma anarquia, pois as ferramentas geopolíticas e geoeconômicas – sanções – mostraram-se inúteis para controlar as outras nações. Voltaremos aos conflitos em grande escala entre centros de poder.

Não haverá transferência do poder como ocorreu no século passado, quando o Império Britânico passou o bastão aos EUA. Não há evidência de que Washington e Bruxelas abrirão mão de seu unilateralismo normativo e seus valores impostos aos demais povos. Sendo assim, a única saída é a multipolaridade, um mundo sem superpotências hegemônicas.

É reconhecido a importância do Sul Global e das potências médias que podem atuar como amortecedores durante os períodos de mudanças vindouras. Pequim não tem nenhum interesse em se tornar um novo xerife mundial e mesmo que quisesse, não conseguiria, o hegemon tem sob seu controle todo o sistema financeiros e econômicos.

Projeção dos grandes projetos regionais dos “não-oeste”.

Comparação estatística entre “oeste” e “não-oeste”

Marcus Atalla – Graduação em Imagem e Som – UFSCAR, graduação em Direito – USF. Especialização em Jornalismo – FDA, especialização em Jornalismo Investigativo – FMU

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