Síria: um antepasto da guerra mundial naval muito desejada, por Fabio de Oliveira Ribeiro

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Foto: US Navy

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Quase todas as guerras norte-americanas começaram com base em pretextos forjados. O incidente do Golfo de Tonkin (ataque a embarcação dos EUA por lanchas da CIA que foi atribuído aos norte-vietnamitas) e as inexistentes Armas de Destruição em Massa de Saddan Hussein provocaram respectivamente a Guerra do Vietnã e a II Guerra do Iraque. Nas duas oportunidades parte da imprensa norte-americana ou quase toda ela tocou os tambores de guerra legitimando a opção militar.

A mesma coisa está ocorrendo neste momento. Os terroristas armados e financiados pelas potências ocidentais usaram armas químicas fabricadas nos EUA e na Inglaterra contra a população civil na Síria, mas os EUA atacou as tropas regulares daquele país culpando-o pelo incidente. A imprensa reproduziu a versão oficial dos fatos dando ao governo Trump liberdade para agir.

Thomas Hobbes usou a metáfora do “grande homem” para descrever o Estado como um ser vivo que transcende os homens que constroem e sustentam o poder público. A vontade primordial do Leviatã seria assegurar a coexistência pacífica entre os cidadãos. Para tanto, apenas o Estado deve ter o monopólio da violência legítima.

A guerra de todos contra todos dentro da sociedade deixa de existir assim que o Leviatã passa a exercer suas funções. Todavia, quando a economia do Estado entre em crise ou ele é politicamente sabotado, a guerra civil volta a atormentar os cidadãos que estavam em paz.

Os Estados não são ilhas isoladas. Os Leviatãs interagem uns com os outros. No plano internacional a guerra de todos contra todos é uma triste realidade que não foi superada porque a ONU não tem – e provavelmente nunca terá – os meios necessários para coagir, coibir e punir um Leviatã que sabotou ou atacou outro por ganância ou pura perversidade.

Na atualidade os EUA é o Leviatã mais poderoso e mais ativo. Ele estende suas garras em todas as direções. Em alguns continentes os norte-americanos sabotam econômica e politicamente Estados soberanos criando ou apoiando partidos políticos pró-neoliberalismo (caso do Brasil, Venezuela, Argentina, Bolívia etc…). Em outras regiões do planeta o Leviatã norte-americano usa a força bruta para provocar as mudanças que deseja como se fosse o único árbitro legítimo das relações internacionais (caso da Síria).

O EUA se especializou em produzir e exportar predominantemente armamentos e entretenimento. Os corações e mentes que o Leviatã norte-americano não consegue devorar ele se propõe a destruir. Logo, a fragilidade dele é evidente apesar de não ser tão aparente.

No exato momento em que o comércio internacional for interrompido por uma guerra mundial, o Leviatã norte-americano irá ficar mais faminto. Mas ele não poderá saciar sua necessidade crescente de importar alimentos, matérias primas, petróleo, produtos industrializados, etc… Portanto, a próxima grande guerra acarretará uma inevitável mudança de regime dentro dos EUA.

A próxima guerra mundial não será travada predominantemente em terra ou no ar. Ela será travada no mar e seu principal objetivo será impedir que o Leviatã norte-americano de exportar o que produz e importar o que necessita. O principal instrumento da nova grande guerra será o torpedo, armamento não muito sofisticado e barato que raramente deixa de produzir dano fatal em navios que transportam alimentos, minérios, produtos industrializados e petróleo.

Nesse sentido, é perfeitamente compreensível o ataque político e econômico que o Leviatã norte-americano fez à indústria de submarinos brasileira. O potencial militar do Brasil num cenário de guerra mundial naval seria imenso se nossa frota de submarinos fosse suficientemente grande e respeitável. Os gringos parecem conhecer suas fraquezas, mas nós ignoramos nossa própria força.  

Levando em conta este cenário, o ataque feito à Síria só tem uma finalidade: provocar a guerra mundial naval que decidirá de uma vez por todas se o Leviatã norte-americano continuará crescendo da mesma forma ou se os EUA será condenado à sofrer mudanças políticas internas em razão da interrupção do comércio internacional de alimentos, produtos industrializados, minérios, petróleo, etc…

Nas últimas décadas a Rússia apostou suas fichas na construção de submarinos maiores, mais rápidos, mais letais e menos detectáveis. Os estrategistas russos sabem exatamente quais são as fragilidades do Leviatã que atraiu a Rússia para uma guerra mundial naval ao atacar ilegalmente Síria. Mas talvez as coisas tenham se passado de uma outra maneira.

Não foram os norte-americanos que atraíram os russos para uma armadilha. Muito pelo contrário, ao atacar a Síria os EUA é que caiu numa armadilha russa. Quando a guerra mundial naval começar no Mediterrâneo próximo ao litoral sírio, os caçadores submersos russos já estarão posicionados onde os norte-americanos menos esperam. A conferir…

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Fábio de Oliveira Ribeiro

7 Comentários

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  1. A Era do Capitalismo Curupira ou: vai dar merda…

    Analogias históricas são tão necessárias em certos aspectos, quanto inúteis em outros…

     

    Repetir O Velho nunca é demais: primeiro como tragédia, depois como farsa, a História segue seu curso…

     

    Todas as vezes que o mundo vislumbra o abismo, após as inflexões dramáticas dos fluxos de capitais, que os cínicos e outros tantos idiotas chamam de “crises” (mas que são apenas a própria natureza do capital em movimento rumo a mais concentração), há deslocamentos dos eixos de poder nesse tabuleiro mundial…

     

    E tais deslocamentos, ora mais, ora menos, são sempre violentos…

     

    De fato, a Inglaterra assumiu o controle do mundo com um banho de sangue em doses, digamos, homeopáticas, substituindo, ou melhor assumindo o posto de “chefes do mundo” em lugar das oscilantes potências europeias de então: Espanha, Portugal, e em menor medida, a França…

     

    Já  a transição da Inglaterra para os EUA obedeceram uma dinâmica sangrenta que teve seu ápice entre 1914/1945…

     

    E no meio das duas guerras um tombo econômico gigantesco de 1929…

     

    Pois bem, naquela época o cenário de disputa era o teatro europeu e as possessões africanas, se estendendo até o Pacífico e a Ásia (na sua porção sul)…

     

    Hoje, o foco central da disputa é o Oriente Médio…O objeto principal, claro: o controle de jazidas de petróleo de baixíssimo custo de extração…

     

    Nessa toada, uma intrincada rede de interesses tribais e sectários, intervenções externas, que na maioria das vezes não guarda nenhuma relação com qualquer lógica ou “moral”, a não ser alimentar o apetite dos complexos estatais bélico-industriais e suas “comunidades de informações”, e todo o poder subterrâneo que nasce dessas relações geopolíticas assimétricas….

     

     

    Naquela porção do globo terrestre, o mundo parece permanentemente de pernas para o ar…

     

    Tal condição de anomia não é acidental, e óbvio, tem ganhadores e perdedores…

     

    O jornal inglês The Independent traz uma manchete que poderá ser lida com desdém…

     

    “Rússia e Irã avisam os EUA que responderão com uso da força se a linha vermelha for cruzada”

     

    Esse aviso é resultado do ataque a bases sírias por mísseis Tomahawk, realizado por EUA e Grã-Bretanha…

     

    “Ora, essas ameaças fazem parte do jogo de cena”, dirão os céticos…

     

    Tomara…

     

    O problema é que pela primeira vez, em muito tempo, os EUA são comandados pela “idiotia em seu estado da arte”, capaz de fazer george bush jr parecer um gênio!

     

    Como a chamada “maior democracia do planeta” chegou a isso…?

     

    Ora, qualquer calouro de ciências políticas sabe o resposta: 

     

    O principal inimigo da Democracia é o pleno desenvolvimento do capitalismo versão 21.0…

     

    Em outras palavras: para que haja um ambiente de ampla desregulamentação e completa liberdade de fluxo de capitais, para que a acumulação e concentração de riqueza surja totalmente despregada de qualquer laço com a chamada economia real e orgânica, é preciso reduzir ou aprisionar a luta política (e de classes) a parâmetros cada vez menos “democráticos”…

     

    Não é a toa que regimes proto-fascistas eleitos sejam a cara da representação nesse ambiente neocapitalista…

     

    Se fôssemos associar a uma figura da nossa cultura popular, diríamos que estamos na Era do Capitalismo Curupira…aquele ser mitológico que andava para frente de deixava rastros para trás, porque seus pés eram virados ao contrário…

     

    Normalmente, nesse ambiente de capitalismo 21.0 temos sempre a impressão que A Política está encurralada: de um lado a percepção (nem sempre irreal) de uma escalada de corrupção, que a torna coisa “suja”, e de outro a fatalidade de que “só assim funciona”…

     

    Tudo com repetição sistemática dos meios de comunicação de massa, que fragmentam a informação a ponto de termos sempre um olhar esquizofrênico sobre a realidade…

     

    Embaixo dessa camada, teorias econômicas cartesianas, que reduzem o aspecto social dessa ciência a uma planilha ou estatísticas, e que na medida que se apresentam com um ambiente “limpo”, colocam-se hierarquicamente  e artificialmente acima dos conflitos…

     

    Justamente os conflitos que ajudam a produzir

     

     

    Aí temos um intrigante paradoxo:

     

    Com uma agenda econômica de viés globalizante radical, os efeitos prejudiciais sociais tendem a empurrar as sociedades a experiências de nacionalismo-radicais…

     

    Sejam as de caráter institucionais-formais, como nos EUA, sejam as resultantes de rupturas das ordens estabelecidas, com golpes violentos (como os que aconteceram na última metade do século XX na América Latina e África) ou, ajustes mais sofisticados, como recentemente passou a ser experimentado: 

     

    Golpes jurídicos-parlamentares-midiáticos (Honduras-Paraguai-Brasil), e enfim, os modelos “primavera”, como no Egito, Tunísia e adjacências, que a despeito da justeza maior ou menor das reivindicações, representam, em sua maioria, movimentos que replicam provocações das agências das comunidades de informações a serviço dos países hegemônicos…

     

     

    Em determinado momento, essas fricções nacionalistas radicais vindas do centro geopolítico capitalista (nações ricas), espalhando-se pelas franjas periféricas do capital, acabam por provocar conflitos em escala regional até alcançarem sua versão global…

     

     

    Um ótimo documentário na Al Jazeera explica com pormenores o conflito sírio…você pode assistir e ler aqui…

     

     

    A sensação que tenho é…após assistir o vídeo, e ler o texto, e espero muito estar errado…vai dar merda…

      

    1. vida inteligente além do mainstream… rs…
      Fábio e Hydra,

      mandaram muito bem… enxergar além do nariz e das notícias “paridas” pelos serviços de (DES)inteligência e divulgados pela máfia midiática (MSM) é dever de todos!

      resumindo, é muito bom ver que tem vida inteligente além do mainstream… congrats!

      Hydra, vc que parece estar “por dentro do babado”, saberia quem está por trás, desde a formação dos reinos europeus (acho q sec. XI ou XII, confere?), das tramóias envolvendo jogos de poder, trapaças financeiras, guerras, acumulação indevida e formação de cartéis “internacionais”?
      (isso que é competência, hein? desde aqueles tempos!)

      Saberia quem (e porquê) apoiou (e tem apoiado) fortemente o protestantismo (Lutero, confere?) e modernamente os pentecostais?

      Saberia quem se apropriou da maioria dos bancos centrais de cada pais desde sua formação?

      Saberia tbém quem (e porquê) financiou Hitler na 2a. GM?

      Saberia o motivo (não declarado) da maioria das guerras desde os séculos supra citados?

      Falar sobre fatos é fácil… (well, convenhamos que não é tão fácil enxergar atrás de fumaça e espelhos, mas realmente (os fatos) foram bem descritos por vc)
      difícil é dar nome aos bois! quer tentar?

      Obrigado e ótimo domingo aos colegas do blog.

      em tempo: (todos) vcs já leram o talmud? deveriam!
      deixei o link no fim do artigo “O asqueroso legado de David Rockefeller”, no Clipping do Dia.

      em tempo 2: sorry, mas cometi um erro de digitação (2x); a grafia correta é “farisaica” e não “farasaica” (pressa e falta de atenção não combinam muito)

  2. Naval????
    Não. A naval foi a 300 anos, entre Inglaterra e Espanha. A 3a guerra mundial, se houver, será de misseis nucleares versus antimisseis lançados de qualquer lugar e durará apenas algumas horas.

    1. Veremos. Eu aposto que você
      Veremos. Eu aposto que você está errado. A mútua destruição garantida limitará a guerra entre Rússia e EUA ao uso de armamentos convencionais. A guerra será no mar porque os EUA depende demais do comércio marítimo.

  3. A mesma coisa está ocorrendo

    A mesma coisa está ocorrendo neste momento. Os terroristas armados e financiados pelas potências ocidentais usaram armas químicas fabricadas nos EUA e na Inglaterra contra a população civil na Síria, mas os EUA atacou as tropas regulares daquele país culpando-o pelo incidente. A imprensa reproduziu a versão oficial dos fatos dando ao governo Trump liberdade para agir.

     

    UAU !!

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