Luis Tarquinio: pioneiro da Responsabilidade Social empresarial, por Marcos Oliveira

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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LUIS TARQUINIO – O PIONEIRO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL

Por Marcos Antonio Lima de Oliveira, MSc
Diretor da ISOQUALITAS e conselheiro da ABRH-BA na gestão passada

O objetivo deste artigo é apresentar a história de um empresário baiano que foi pioneiro na implantação da responsabilidade social empresarial, quando esse nome ainda não existia. Cinqüenta anos antes do lançamento da CLT ele já praticava alguns direitos trabalhistas inexistentes nas empresas brasileiras. Cem anos antes do Instituto ETHOS ser lançado ele já praticava os conceitos da responsabilidade social.

Ele nasceu em uma família sem recursos financeiros, neto de escravos. Só estudou os quatro primeiros anos do curso primário pois precisou começar a trabalhar com dez anos de idade para ajudar a sustentar a sua família. Começou a trabalhar no comércio. Ele um garoto dedicado, preocupado em atender as necessidades dos clientes, antecipando os conceitos de qualidade de serviços. Todos gostavam do seu trabalho.

Em função disso, aos 15 anos foi convidado para trabalhar em uma grande empresa inglesa de importação de tecidos. Lá trabalhou com dedicação, conquistando a simpatia de todos. A empresa cresceu muito com a sua ajuda. Em função disto ganhou uma participação acionária na empresa.

Na empresa teve acesso a livros e começou a estudar sozinho. Era um auto-didata. Estudava história, economia, administração de empresas. Aprendeu inglês. Logo assumiu posição de destaque na empresa. Ele desenhava padronagens para os tecidos.

Aos vinte anos fez a sua primeira viagem para a Inglaterra. Aproveitou para aprender mais, pois era um autodidata autêntico. Fez ao todo 23 viagens à Europa, numa época em que só havia viagem de navio, bastante demoradas.

Nas viagens ao exterior começou a ter contato com as idéias de socialistas utópicos, que se preocupavam com os empregados. Robert Owen e Saint Simon foram seus inspiradores.

Ele desenvolveu um conhecimento muito grande na área de finanças. Escrevia artigos para jornais, trocava correspondências com Rui Barbosa, que era Ministro da Fazenda. Aprendeu a falar fluentemente o inglês, francês e alemão.

Com a chegada das primeiras fábricas de tecido à Bahia, sugeriu que a empresa de importação de tecidos fosse fechada, recebendo a sua parte como acionista.

Ele era um empreendedor. Resolveu instalar a sua própria fábrica de tecidos. Para isso procurou as melhores tecnologias disponíveis, que ele conheceu em suas viagens à Europa.

Foram cinco anos de planejamento, junto com dois sócios. Em 1890 fundou a Companhia Empório Industrial do Norte, uma empresa com 1.600 operários. Escolheu para instalar a empresa na cidade baixa, em local com facilidade para acesso ao mar.

Lembrando-se da sua origem humilde, procurou desde o início dar boas de condições de trabalho aos operários. Implantou um projeto pioneiro no Brasil: uma vila operária. Ao inaugurar a Vila em 1892 ela já tinha energia elétrica, um luxo que muitas residências do centro ainda não tinham.  A vila tinha escola, ambulatório médico, armazém. Havia uma creche para os filhos das operárias. Sempre havia aulas de ginástica e esportes no final do expediente. Luis Tarquínio achava que os operários precisavam descarregar as tensões do trabalho antes de ir para casa. Era preocupado com asseio e limpeza. Nos armazéns os atendentes utilizavam aventais brancos. Na frente de cada edifício havia um jardim que era cuidado pelos próprios empregados. Ao todo eram 258 casas dispostas em oito quarteirões, com 22.000 metros quadrados. Água e energia elétrica eram gratuitas.Na praça havia um coreto onde  tocavam filarmônicas no final de semana. Havia apresentações de teatro, com a participação dos filhos de Luis Tarquínio.

O maior edifício da Vila era a escola Rui Barbosa, onde os filhos dos operários recebiam não só a educação elementar formal como aprendiam artes ( música, dança, teatro, desenho, pintura). Havia também aulas de língua estrangeira. Os alunos eram obrigados a saber de cor o Hino Nacional, que era sempre cantado nas solenidades. Foram trazidos professores da Alemanha e dos Estados Unidos para elaborar os planos da escola. A escola tinha uma excelente biblioteca para os padrões da época. Os filhos menores de Luis Tarquínio freqüentavam a escola junto com os filhos dos operários. Ele instalou um museu de história natural e um curso noturno para os operários. Havia uma revista para os moradores da vila.

Um deputado apresentou um projeto para fornecer uma subvenção à escola. Luis Tarquínio não aceitou. Isso foi uma característica de seus negócios. Não queria envolvimento com o governo. Na mesma época havia no sul um empresário igualmente inovador, o Visconde de Mauá. Mas ao contrário de Luis Tarquínio, os negócios dele sempre envolviam o governo.

Em um relatório para os acionistas em 1899, Luis Tarquínio escreveu: “  Para que o trabalho seja produtivo é preciso que o operário  tenha tranqüilidade de espírito e vigor físico.  A Vila Operária oferecendo esse conforto habilita o operário a produzir mais e melhor. Sem a Vila seria impossível manter a fábrica ao pé em que se acha. “. Era realmente um pioneiro.

Apesar de não querer o apoio do governo, ele sempre procurava colaborar através dos artigos que escrevia nos principais jornais da Bahia e do Rio de Janeiro. Foi um participante ativo da campanha pela abolição dos escravos. Chegou a apresentar um projeto bastante inovador que garantia terra aos escravos libertos. Infelizmente o projeto não foi seguido.

Luis Tarquínio estabeleceu os primeiros direitos trabalhistas. A mulher tinha uma licença de 45 dias após o parto. Os operários ocupavam as confortáveis residências pagando um aluguel compatível com o seu salário. Após cinco anos, os operários que não apresentavam registros negativos em sua ficha, eram dispensados de pagar o aluguel. Após completar dez anos de trabalho na fábrica o operário recebia a escritura de uma casa. A partir de suas práticas é que começaram a surgir os primeiros projetos de lei para defesa dos trabalhadores.

A sua empresa se chamava Companhia Empório Industrial do Norte, que tinha uma Vila Operária, que passou a receber visitantes que queriam conhecer esta experiência pioneira.

Seus artigos foram reunidos no livro  SOLUÇÃO DA CRISE. Sempre que surgia uma crise, ele estudava o assunto, discutia em fóruns chamando pessoas para o debate. Depois publicava seus artigos. Era um fato impressionante para quem tinha apenas quatro anos de estudo formal.

Ele conseguiu a aprovação dos acionistas da empresa para destinar 10 % dos lucros para as ações sociais, sendo um dos precursores da participação nos lucros.

O empresário faleceu em 1903. O seu sepultamento foi um evento que contou com a participação dos operários da indústria e das principais autoridades da Bahia.

O maior legado que ele deixou foi o seu exemplo. Em toda a sua vida Luis Tarquínio teve como meta a conciliação entre os interesses do capital e do trabalho.

O objetivo deste trabalho é divulgar esta obra exemplar. A obra de Luis Tarquínio deveria ser divulgada em todas as escolas para servir de exemplo. Se você concorda com isso procure divulgar este artigo com o maior número possível de pessoas.

 

Artigo elaborado a partir da leitura do livro  O SEMEADOR DE IDÉIAS, de Eliana Dumet ( sua bisneta ), editora GENTE.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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