A velocidade nas vias de São Paulo

Atenção, moradores de São Paulo: a CET pensa que somos otários mentalmente incapazes de manter em segurança um carro a 70 km/h da maneira como conseguimos fazê-lo a 60 km/h.

A CET também pensa que acreditaremos na história de que haverá mais segurança nas ruas com motoristas tendo de olhar mais vezes para o velocímetro em vez de para o trânsito ao redor (o que tira a atenção para o principal e faz com que as pessoas se exponham mais a acidentes, como atropelamentos e colisões nas traseiras alheias, pelo fato de ter de olhar mais vezes para o painel). A CET também quer que acreditaremos que isso não tem qualquer relação com uso arrecadatório de multas de radar.

Aos que reclamarem, lembro que em países de Primeiro Mundo, a velocidade máxima a ser aplicada em uma via é feita da seguinte forma: pegam diversos motoristas, dos mais diversos tipos, dão-lhes um carro com o painel tapado para que não possam ver o velocímetro, pedem para eles rodarem pela via na velocidade que consideram segura, anotam todas as velocidades desenvolvidas, excluem os melhores e os piores resultados e baseando-se no intermediário com o uso de uma série de fatores de cálculo, tira-se a velocidade da via. O resultado? Toda vez que você vê uma placa com a velocidade máxima daquela via, bate o olho no velocímetro e vê que estava nela o tempo todo sem precisar fazer qualquer esforço sobrenatural. Com isso, você mantém mais atenção à via e a seus elementos, ficando mais fácil evitar acidentes por estar mais tempo de olho no que ocorre em vez de desviar a vista para o velocímetro mais vezes do que o necessário.

Para quem ainda não acredita que todas as vias têm velocidade natural e que é possível guiar seguramente sem ter um referencial escrito de velocidade, que se lembrem das bicicletas e dos carros de corrida, ambos sem velocímetro e perfeitamente possíveis de serem guiados com segurança. Um ciclista sabe por instinto qual a velocidade e a inclinação que deve aplicar em uma curva para que a faça com segurança sem que se estatele no chão. O mesmo ciclista presta atenção aos elementos da via para não causar acidentes, pois sabe que se passar por um buraco muito fundo, corre o risco de cair, sendo mais fácil desviar. Já o piloto de corrida, como seu carro não tem velocímetro, usa dos mesmos parâmetros instintivos para poder fazer a curva, tal e qual o ciclista. E na mesma analogia, ciclistas e pilotos de carros conscientes checam regularmente todos os parâmetros de suas máquinas por saberem que são obrigados a confiar em suas capacidades, pois se tivessem velocímetros e estivessem em péssimo estado de conservação, seriam apenas bicicletas e carros de corrida bichados, mas que marcam com precisão a velocidade em que estão (só que para reduzir a velocidade quando preciso…).

Os efeitos sobre o trânsito por não ser seguida a velocidade natural das vias? Vários:

1) Menos atenção à via por ser preciso prestar mais atenção ao velocímetro;

2) Quando se vê que a velocidade está passando do limite da via, você é obrigado a reduzir e, com isso, gera onda de congestionamento em quem estiver atrás, obrigado a reduzir também;

3) Com a redução da velocidade, além da onda de congestionamento, aumenta o consumo (por ser preciso fazer mais retomadas de velocidade) e, por conseguinte, a poluição (pelo aumento de energia usado), o que por tabela gera mais crianças e velhinhos em prontos-socorros;

4) Freando mais, gasta-se mais os componentes do sistema e expõe-se mais a acidentes por fadiga de freios, em que o motorista pisa no freio e não consegue parar pelo fato de o sistema ter sido excessivamente solicitado em pouco tempo e consequências poderem ocorrer não por desejo do motorista, mas por excesso de solicitação da máquina;

5) Com a onda de congestionamento, gera-se congestionamentos maiores e mais demorados, pois os carros tenderão a ficar na via mais tempo do que aquele que ficariam se a velocidade fosse a natural da via (uma vez que o comportamento geral do trânsito fica mais harmônico);

6) Com mais congestionamentos, gera-se mais estresse e outros problemas de saúde para todos;

7) Com mais congestionamentos, a SulAmérica Trânsito aumenta a audiência (claro que não por culpa dela, até porque o serviço que presta é muito bom) em vez de se ouvir uma musiquinha na Oi, na Kiss, na Mit ou na Eldorado para coroar a volta para casa;

8) Com mais trânsito, obviamente aumenta-se a necessidade de funcionários da CET e nessa, o pagador de impostos tenderá a ser mais taxado para sustentar uma burocracia que se expande suas demandas para atender às necessidades da burocracia em expansão;

9) Todos esses problemas também são compartilhados por quem usa bicicleta ou transporte público, pois mais congestionamentos expõem ciclistas a riscos (mesmo que se imagine uma situação ideal em que todos os motoristas respeitem quem pedala por se porem no lugar deles) e fazem com que os ônibus andem mais lentamente, aqui lembrando que nem todo lugar tem corredor de ônibus e que o corredor de ônibus Francisco Morato-Consolação não possibilita que coletivos ultrapassem outros pelo fato de as vias que o compõem serem muito estreitas e do tempo em que leitos eram literalmente carroçáveis;

10) Ônibus tendo de frear mais vezes submetem-se não só aos problemas citados em carros particulares como também os maiores gastos em peças de reposição e combustível são uma ótima justificativa para as empresas seguirem pressionando a prefeitura para que aumentem o preço da passagem. Quem se ferra obviamente é o passageiro, também conhecido por pagador de impostos e que é tido pelo poder público como otário que paga impostos todos os anos, assim como são considerados otários pagadores de impostos aqueles que estão nos volantes dos carros e nos guidões de bicicletas e motos, isso sem falar daqueles que estão com os pés nas calçadas, todos eles independente daquilo em que acreditem ou não;

11) Fora isso, poluição, consumo de combustível e acidentes de ônibus são muito piores que aqueles com outros veículos;

12) Aí, o cara que poderia ir sossegadamente de ônibus para seu trajeto prefere pegar o metrô e o trem da CPTM, mesmo que o tempo de trajeto fosse parecido, o que obviamente deixa o sistema mais lotado e isso, como já foi dito aqui, expulsa os velhinhos dos trilhos.

Caso alguém não tenha entendido o efeito borboleta citado, que por favor leia de novo o texto até entender e, ao comentar, demonstre o equilíbrio e a serenidade característicos de quem é capaz de raciocinar e debater ideias sem ganas de matar o mensageiro por ele trazer algo que desagrade. Segue a notícia e a indignação:

Da Folha.com

28/06/2011 – 19h34

CET reduz velocidade para 60 km/h em mais três vias de SP

DE SÃO PAULO

A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) informou que vai padronizar a velocidade máxima permitida no corredor Lapa-Paulista-Jabaquara, em São Paulo, a partir do dia 4 de julho.

CET unifica velocidade em 60 km/h em oito avenidas de SP
SP reduz velocidade no eixo Cruzeiro do Sul-Ricardo Jafet

As mudanças acontecem especialmente nas avenidas Doutor Arnaldo, Paulista e Bernardino de Campos, num total de 5,3 km de extensão, onde a velocidade cai de 70 km/h para 60 km/h. Nos 15,7 km restantes a velocidade regulamentada já é de 60 km/h.

Um trecho da rua Heitor Penteado, na altura da rua Capote Valente, sentido Lapa, continuará com velocidade máxima de 50 km/h, após estudos técnicos feitos pela CET.

O corredor Lapa-Paulista-Jabaquara tem 21 km e é formado por rua Heitor Penteado, avenida Doutor Arnaldo, avenida Paulista, avenida Bernardino de Campos, rua Vergueiro (entre as avenidas Bernardino de Campos e Professor Noé de Azevedo), avenida Professor Noé de Azevedo, rua Domingos de Morais (entre as avenidas Professor Noé de Azevedo e Jabaquara), avenida Jabaquara, avenida Engenheiro Armando de Arruda Pereira, avenida Doutor Hugo Beolchi.

O principal objetivo das mudanças é proporcionar maior segurança aos motoristas e pedestres que circulam por essas vias, diz a CET.

A companhia afirma que estão sendo implantadas 155 placas de regulamentação de velocidade e advertência e 12 faixas informativas para alertar os motoristas.

A companhia vem anunciando a redução de velocidade em uma série de vias desde o ano passado. Passaram pela mudança diversas vias do corredor norte-sul, como as avenidas 23 de Maio, Rubem Berta, Washington Luís, Santos Dumont, Tiradentes e Prestes Maia; o eixo Braz Leme/Pacaembu/Rio Branco; e a Radial Leste.

Luis Nassif

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