O que fazer com as Forças Armadas?, por Luis Felipe Miguel

Ou o Brasil acaba com a gafanhotada fardada ou a gafanhotada fardada acaba com o Brasil.

O que fazer com as Forças Armadas?

por Luis Felipe Miguel

A experiência da ditadura liquidou de vez qualquer traço de respeitabilidade que os militares pudessem manter no Brasil.

Foram duas décadas de violência, arbitrariedades e corrupção desenfreada.

Outras décadas se passaram desde então. A cúpula fardada não foi capaz de fazer uma autocrítica – nem do golpe, nem da tortura, nem da censura, nem da concentração de renda, nem do entreguismo, nem da roubalheira.

Quase 40 anos após a redemocratização, o Estado brasileiro mantém Forças Armadas que ainda têm orgulho e nostalgia da ditadura.

Nos governos civis, os militares lutaram para manter impunidade, capacidade de influência política (leia-se poder de ameaça), privilégios corporativos injustificáveis e acesso a bons negócios.

Quando um ex-oficial subalterno de poucas luzes mas metido a malandro teve chance de chegar ao poder, os generais não tiveram dúvidas. Colaram nele, em busca de vingança, sinecuras e oportunidades de negócio.

Tráfico de drogas, contrabando, receptação, contratos superfaturados, esquemas com as milícias, também genocídio yanomami, sabotagem às medidas de saúde pública, golpismo, fábricas de mentiras – em suma, tudo, no governo Bolsonaro, tem dedo de militares.

Todas as vezes que precisam demonstrar algo de sua expertise profissional, as Forças Armadas brasileiras dão vexame. De desfile de tanques na Esplanada à operação no Haiti, sem esquecer da logística do general Pazuello.

Teve um tempo em que essa ineptude profissional era atribuída à formação bacharelesca. O desempenho acadêmico pesaria muito para as promoções, mais que os resultados obtidos em campos de batalha inexistentes, e o Brasil formaria “intelectuais fardados”.

Bom, se um dia foi assim, certamente não é mais. Na cúpula militar, imperam a ignorância e a incultura.

Há quem defenda simplesmente extinguir as Forças Armadas.

Não acho que seja tão simples assim. Um país com as dimensões e as riquezas do Brasil não pode prescindir de forças de defesa próprias.

Mas é urgente traçar uma política de regeneração das Forças Armadas, expurgando a cúpula, punindo corruptos e golpistas, mudando a educação militar e as políticas de promoção.

Pena que Lula prefere manter, no Ministério da Defesa, um civil frouxo e conivente com todos os desmandos fardados.

Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da UnB. Autor, entre outros livros, de O colapso da democracia no Brasil (Expressão Popular).

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Luis Felipe Miguel

4 Comentários

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  1. Esse é um desafio prioritário para a Democracia no Brasil. Precisamos ter FFAA sim , mas que sejam respeitadas por sua formação, integridade, compromisso profissional e ético, dever cívico e respeito à CF. A nossa república começou mal em 1889, por meio de um golpe militar patrocinado pelas oligarquias que ficaram reféns, por comodidade, da tutela militar e essa manteve o caráter do império, ser um ” poder moderador”, e foi conveniente para todos.
    A mentalidade ainda é essa e, se não for atualizada, não faz sentido termos FFAA.

  2. A modernização das forças armadas exige e extinção do alistamento obrigatório e a transformação deste paquiderme de 300 mil conscritos em uma força voluntária moderna, composta de regimentos especializados como tropas de selva, paraquedistas, mecanizadas e fuzileiros navais, distribuídos pelas fronteiras dos território Brasileiro. Acabar com a verdadeira ocupação imobiliária urbana com um monte de quarteis inúteis em centros urbanos, extinção das escolas preparatórias e academias que forma um monte de militares inúteis para preencher este monte de quarteis inuteis

  3. Caro nassif, lula mantem um civil frouxo?

    Esse ‘e o problema da esquerda que sempre passa a mao na cabeça de lula, o presidente ‘ e o lula e nao o ministro frouxo, lula que teve a segunda chance de tirar todos os comandantes por causa da tentativa de golpe e o que faz o presidente? Nada, assim como em 2006, na revolta dos coroneis lula nao fez Nada ou melhor fez mandou embora o ministro veigas que lutou contra Esse revolta.

    Sempre assim lula nunca sabe de Nada ou nao tem força ou… Sempre tem uma desculpa.

    Lula quis ser presidente pra que?

    Lula apenas quer ser aceito, nunca mudou Nada. Nao vai e esta feliz assim o resto ‘e papo pra iludir a periferia. Como se isso fosse possivel

    Anota ai, vem golpe ai sem eletricidade e causando panico e claro, vao falar lula nao pode fazer Nada….

  4. Concordo com o autor do texto. É necessário expurgar todos os bandidos fardados, para que possamos ter Forças Armadas, dignas do papel que a Constituição lhes confere. Tendo a achar que a simples abolição destas, seria a melhor, ou mais fácil solução para o problema. Mas, em verdade, concordo no raciocínio de que o país, por sua grandeza e riqueza, necessite de forças que possam garantir nossa soberania. Mas, é difícil imaginar que “expurgar a cúpula e punir os corruptos e golpistas” seja o bastante para colocar nos trilhos este imenso, custoso e inútil trem que, de há muito está descarrilhado. Qual seria o tamanho do expurgo necessário à isso? Bastaria demitir (não reformar) generais e coronéis? Não creio. Lembrando que o problema se inicia na formação dos oficiais e, porque não dizer que dos sargentos, também?

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