no Observatório de Geopolítica
80 anos do fim do cerco de Leningrado pelos nazifascistas
por Raul Carrion
Em 22 de junho de 1941, a Alemanha nazista – depois de submeter toda a Europa e expulsar a Inglaterra do continente – atacou de surpresa a União Soviética, mobilizando 4,6 milhões de homens, reforçados por mais 900 mil homens de seus aliados europeus. O objetivo declarado era “pôr a URSS de joelhos em 2 a 3 semanas”.
O ataque se deu em três frentes: a Frente Norte, que tinha como objetivo a conquista de Leningrado; a Frente Central, cuja meta era tomar Moscou; e a Frente Sul, para ocupar as regiões produtoras de cereais e petróleo e tomar o centro logístico de Stalingrado.
Na Frente Norte, após 3 semanas de combate, as tropas nazistas tomaram a Lituânia, Letônia, Estônia e a cidade de Pskov, ao sul de Leningrado. Ao mesmo tempo que atacavam Leningrado pelo sul, os finlandeses o faziam pelo norte. Dois fortes contra-ataques soviéticos – em julho e agosto – detiveram o seu avanço, causando grandes perdas aos nazifascistas e destruindo ums boa parte dos seus blindados.
Com isso, Leningrado – então com cerca de três milhões de habitantes – ganhou tempo para se preparar para uma luta “de casa em casa”, construiu quase mil km de trincheiras, 650 km de fossos antitanque e 5.000 casamatas e incorporou centenas de milhares de cidadãos à sua defesa.
A paralização das hordas nazifascistas na Frente Central – devido à tenaz resistência das tropas soviéticas –, quando já se encontravam a poucos quilômetros de Moscou e a contraofensiva soviética, que os forçou a recuar, obrigou o comando alemão a deslocar parte dos seus blindados da Frente Norte, para os combates em torno de Moscou, enfraquecendo o ataque a Leningrado.
Em fins de setembro de 1941, a frente estabilizou-se e o confronto transformou-se em uma batalha de posições e de desgaste, tendo Leningrado ficado totalmente sitiada por terra, desde o Golfo de Finlândia até o Lago Lagoda.
Em 23 de setembro de 1941, depois de várias tentativas de tomar Leningrado, o General Halder comunicou a Hitler: “Nossas forças […] sofreram pesadas perdas. Essas forças são suficientes para a defesa, mas não para acabar com o inimigo. Porém, não temos outras forças.”
Hitler respondeu ordenando a destruição de Leningrado: “Decidi apagar São Petersburgo da superfície da terra. […] O problema da vida da população e de seu abastecimento não cabe a nós e não deve ser resolvido por nós. […] não temos que preservar nem mesmo a menor parte da população dessa grande cidade.”
A ordem do QG de Hitler, ditada em fins de setembro, determinava: “bloquearemos Leningrado (hermeticamente) e destruiremos a cidade […] com a artilharia e a aviação. […] Na primavera, penetraremos na cidade […,] tiraremos todos os que ainda restarem vivos, enviando-os ao interior da Rússia ou aprisionando-os, arrasaremos Leningrado e cederemos à Finlândia a zona situada ao norte do Rio Neva”.
Seguiu-se um cerco implacável, com bombardeios permanente por terra e por ar. Com todas as comunicações terrestres de Leningrado com as demais regiões da URSS cortadas, só restaram uma estreita faixa navegável no Lago Lagoda – grande parte dela sob fogo inimigo – e as comunicações aéreas. Através desses dois caminhos, enfrentando todo o tipo de dificuldades, Leningrado foi precariamente abastecida e continuou resistindo.
Em 12 de janeiro de 1943, quando ainda não havia sido finalizada a batalha de Stalingrado, as tropas soviéticas da Frente Norte atacaram os exércitos nazifascistas que sitiavam Leningrado, com o objetivo de restabelecer a comunicação por terra com o resto do país. Após sete dias de luta, retomaram Schlisselburg, chave para reabrir uma ligação terrestre com Moscou. Com isso, foi melhorado o abastecimento da cidade, mas o cerco de Leningrado prosseguiu com ferocidade.
Finalmente, em janeiro de 1944 – no bojo da ofensiva geral do Exército Vermelho, contra as hordas nazifascistas – Leningrado foi totalmente libertada do terrível cerco a que foi submetida, durante quase 900 dias.
A ofensiva soviética começou na madrugada do dia 14 de janeiro de 1944, enfrentando 740 mil homens a mando do general Küchler, armados com mais de 10 mil canhões e morteiros, 385 tanque e veículos de assalto, contando com 370 aviões e entrincheirados em fortificações consideradas inexpugnáveis.
Em pouco mais de dez dias, as tropas soviéticas derrotaram esses poderosos exércitos alemães e jogaram os seus restos a uma distância de mais de 100 km. No dia 27 de janeiro a população de Leningrado festejou sua completa libertação!
Mas esta vitória – alcançada depois de quase três anos de luta titânica, enfrentando todo o tipo de dificuldades – cobrou um altíssimo preço de sua população: cerca de um milhão de mortos, em decorrência do cerco nazifascista – a grande maioria pela fome, outros pelos bombardeios ou pelo frio.
Ao se completarem 80 anos dessa grande vitória em Leningrado – à qual se somam as vitórias em Moscou (1941), Stalingrado (1942-43) e Kursk (1943) – é preciso homenagear o heroísmo do povo soviético, que foi quem suportou, quase que sozinho, o grosso da guerra contra a besta nazifascista e a derrotou.
Raul Kroeff Machado Carrion é um historiador, sindicalista, escritor e político brasileiro. Foi vereador de Porto Alegre e duas vezes Deputado estadual do Rio Grande do Sul, tendo militado por mais de 50 anos no Partido Comunista do Brasil.
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