Concordo muito com esta frase do artigo: “Até partidos de oposição, se quiserem conquistar o poder, terão que se pautar pela nova agenda.”
Eles o fazem.
Talvez não haja nada mais emblemático a respeito que a transição, em 1952/1953, de Democratas para Republicanos nos EUA.
A partir de 1933 Roosevelt iniciou, com apoio tanto de sindicatos como representantes não-toscos do capital, uma série de reformas que introduziu o ‘welfare state’ nos EUA.
Houve o atraso (em relação a outros países desenvolvidos) na área de saúde (o que será parcialmente superado com o Obamacare), mas a desconcentração de renda nos anos 1930 e 1940 foi mais intensa que qualquer movimento do gênero em países em desenvolvimento nos anos 2000. (Muito se perdeu, infelizmente, com o neoliberalismo a partir da Reaganomics, mas a distribuição de renda nos EUA ainda é melhor que na maioria dos países em desenvolvimento.)
Houve um redesenho do papel do Estado, com a fixação da política tributária e estabelecimento de inéditas alíquotas de impostos (de renda e de consumo), uma reforma agrária efetiva (até hoje a eficiente agricultura norte-americana é muito mais familiar, ao mesmo tempo que muito mais automatizada, que na maioria dos países), rápida universalização do ensino (o percentual de alunos em escolas privadas nos EUA é menor que no Brasil.)
O governo Roosevelt ‘socializou’ os EUA talvez mais rapidamente que os aumentos de carga tributária de 1993 a 2002 no Brasil. O tamanho do Estado e de suas atribuições aumentou inexoravelmente e o setor público norte-americano emprega percentual maior de pessoas que social-democracias como o Japão.
Por 20 anos (e o ‘patriotismo’ com a vitória sobre Alemanha, Japão e circunscrição de União Soviética e China ajudaram, claro), os Democratas se reelegeram consecutivamente. Tamanho foi o sucesso de Roosevelt (4 mandatos, o último interrompido por seu falecimento mas seguido de reeleição de seu sucessor, Truman) que levou a uma determinação que apenas uma reeleição de executivo seria considerada (e nos EUA ex-presidentes já reeleitos, como Clinton, não se reapresentam como candidatos mesmo após intervalos.)
Mas nada disso impediu a volta dos Republicanos em 1953. Por outro lado, estes não recuaram nem desmontaram praticamente nada de relevante da herança do governo anterior.
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Está incompleto…
Titia fez a crítica lá no post que deu origem a este, e refaz aqui…
A agenda conservadora não se refaz para “incorporar” temas e pautas dos progressistas, como sinal de amadurecimento, ou de continuidade…
Esta é uma visão romântica, ou uma tradução seletiva do Gunter do livro da Michele Alexander…
O estado conservador tem uma aliança com a classe que o domina, e que pretende financiar a acumulação de capital…Não há concessão possível nesta agenda…E não houve nos EEUU, embora a propaganda diga o contrário…
Ora, a cada ciclo de incorporação de grandes contingentes de excluídos nos EEUU, logo depois, os conservadores implementavam mudanças econômicas, e atingiam as conquistas sociais por uma via oblíqua, opondo explorados (os pobres com empregos, contribuintes e brancos) contra os excluídos (os negros sem empregos)…
Esta marginalização, via de regra pela criminalização dos setores excluídos, obedeceu no pós-abolição e guerra de secessão, a lógica da estatização da escravidão, dizimando cada passo dado na direção de dotar negros de cidadania (voto e direitos econômicos), que caiu como uma luva no período da depressão.
Em 52/53, os conservadores (republicanos) reescrevem a lógica da exclusão e do desmonte do welfare state pela mistura de aspectos anti-comunistas, que eram vinculados aos defensores dos direitos civis, e logo depois, na outra onda (Reagan) com o criminalização do “war on drugs”.
Por óbvio, todas as leis e regras do welfare state foram, formalmente, mantidas, mas na realidade, aqueles que deveriam ter acesso a estes benefícios estavam presos…
Ainda que consideremos sui generis que o estamento dos direitos civis tenha sido implementado e garantido por Lindon Johnson, é fato que o conjunto de medidas que possibilitariam o rompimento das condições que, a cada época expunham os negros e outros pobres, às intempéries cíclicas do capitalismo ( expansão e retração)…
É este o desafio imposto aqui no Brasil, e que deve ser encarado pelo governo do PT e aliados, mas que já encontra na “nova direita”(eco-pentencostais e oligarquismo de gestão) uma pretensa “proposta” de “mais e melhor”, mas que na verdade só deseja impedir a radizalização da necessária tarefa distributiva…
Titia não discute a crença de Gunter e Nassif de que haverá uma nova cara conservadora…”religião” não se discute.
Esta “nova” direita é só um contrabando ideológico…os canibais agora conseguem comer com talheres e não falam de boca cheia, mas continuam a nos desejar para o jantar…
perdoem titia.
Mas este trecho ficou sem sentido (como o resto, rs):
(…)Ainda que consideremos sui generis que o estamento dos direitos civis tenha sido implementado e garantido por Lindon Johnson, é fato que o conjunto de medidas que possibilitariam o rompimento das condições que, a cada época expunham os negros e outros pobres, às intempéries cíclicas do capitalismo ( expansão e retração) não foram implementadas, ou seja, as causas da desigualdade…
PS.
Falta tio Gunter também dizer que a cada ciclo conservador (ainda que na fachada se digam “pelos pobres”), a nível de desigualdade recrudesce a níveis piores aos dos ciclos keneysianos anteriores, como acontece hoje nos EEUU, quando a concentração de renda e desigualdade atingem o fosso da década de 80 do século XX.
Esta teoria da “ciência política” gunteriana, titia teme dizer que não vinga…
O tema é muito grave – esse
O tema é muito grave – esse observar a paisagem e não para onde se está indo de verdade. Gosto de seu estilo Morgana, mas mais que sua ironia o tema levantado é de extrema gravidade. Creio que a leitura do que representa esse nascimento do “seio de organização de esquerda” edurina é uma paisagem. Não sou tão religioso.
abç e continue a rever posições contemplativas de janela.
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Brontossauros não, é Progressauros.
[video:http://www.youtube.com/watch?v=nQj3wjK4tZQ%5D
Os republicanos não aprenderam nada
Caríssimo Gunther, ficaram alguns fios soltos:
1. A denominada “transição republicana” nos EUA diz respeito a quê – à alternância no cargo ou a um suposto “aprendizado” desse partido (rep.)? Não entendi, mas vou presumir que seja a este último.
2. Roosevelt se reelegeu não porque teve sucesso na 2ª Guerra Mundial, mas porque antes disso seu New Deal salvou a economia estadunidense do abismo em que estava com a crise de 1929 – e três gestões republicanas anteriores (Warren Harding, Calvin Coolidge e Herbert Hoover, a partir de 1921) não previram ou regraram o mercado que, livre, levou o mundo inteiro ao desastre (como aquela famosa frase diz, “é a economia, estúpido!”).
3. A predominância (inédita) dos democratas por 5 mandatos consecutivos (prque Truman não concorreu à reeleição, mas foi eleito depois de substituir Roosevelt em seu 4º mandato) é que provocou a lei de limitação de reeleições para somente duas (coisa da maioria republicana das duas casas legislativas, durante o último mandato de Truman – este um incompetente pulsilânime que só não foi pior em avaliação do que o republicano Bush Jr.).
4. O crescimento da máquina estatal dos EUA ocorre de forma BRUTAL a partir de 18 de setembro de 1947, quando foi aprovado (pelo Truman!) um Ato de Segurança Nacional (National Security Act) que passava a instituir uma nova força armada e e criava TODA a estrutura moderna de inteligência dos EUA (já falei sobre isso em outro post), estrutura depois denunciada por Eisenhower como o “complexo militar-industrial”, setor “híbrido” (porque presente tanto na esfera governamental quanto no setor privado) visto como o mais poderoso e influente na formulação e condução dos rumos dos EUA que qualquer outro grupo existente até hoje; aliás, Eisenhower o denuncia (em seu discurso de despedida) mas não o reprimiu, passando a “bola” para o presidente democrata recém-eleito, John Kennedy (e nós sabemos o que deu sua tentativa de limitá-lo…).
Resumindo: o GOP (Great Old Party) foi responsável no séc. XX pelas gestões dos EUA mais retrógradas, belicistas e corruptas – e só não interromperam os avanços sociais e de inclusão de Roosevelt (a quem odiavam) e Kennedy pelo sucesso destas e pela grande capacidade de mobilização da sociedade de então. Além disso, a falta de apoio dos republicanos junto aos militares (atendidos eternamente por um budget dinossáurico, eterno, indecente e inquestionável, pois inauditável) pesou consideravelmente para que as FA mantivessem uma postura interna apolítica e indiferente aos extremismos – desde que estes não sufocassem sua ação na Guerra Fria.
Se é que os republicanos aprenderam algo, isso pode ter ocorrido há pouco menos de 10 anos, quando uma ala mais radical (o Tea Party, o “talibã norte-americano”) passou a controlar a legenda e as atenções de seus eleitores da direita – John McCain, Colin Powell e demais reps moderados aí aprenderam que, ao evocar o radicalismo político e exacerbar o ódio, pode-se acabar flertando perigosamente com o caos e a desordem.
Abs.