A obsessão dos republicanos em atacar os programas sociais, por Paul Krugman

Sugerido por Assis Ribeiro

Da Carta Capital

A loucura conservadora

A obsessão republicana por atacar os programas sociais não tem nada a ver com a fé no Estado mínimo 

por Paul Krugman

Muitos comentaristas têm se referido a um relatório da Democracy Corps sobre reuniões de grupos de opinião com republicanos, e com bons motivos: Stanley Greenberg, o cofundador da organização, basicamente forneceu uma teoria unificada sobre a loucura que envolveu a política americana nos últimos anos.

O relatório deixa claro que a atual obsessão republicana por atacar programas que beneficiam os necessitados, desde cupons alimentares até a reforma da saúde, não tem a ver com um compromisso filosófico com o governo reduzido. Trata-se de ansiedade sobre o rumo da América em mutação, a sociedade multirracial e multicultural que estamos nos tornando, e de raiva de que os democratas estejam tirando o Dinheiro Deles e dando-o Àquelas Pessoas. Em outras palavras, continua sendo uma questão de raça, depois de tantos anos.

Uma ironia: são os liberais que acreditam na América, enquanto os conservadores, não. Eu acredito em nossa capacidade de mudar enquanto mantemos nossa natureza essencial. Acredito que os imigrantes de hoje serão incorporados ao tecido social, como os imigrantes italianos e judeus, um dia considerados fundamentalmente incompatíveis com o modo de ser americano, tornaram-se “brancos” em meados do século XX.

Outra ironia: o grande temor da direita de que os programas de seguro social efetivamente comprem votos minoritários para os democratas, levando a mais mudanças, torna-se uma profecia que se autocumpre. O Grande Velho Partido poderia ter tentado estender a mão aos imigrantes, moderado suas posições sobre o Obamacare e marcado posição como um partido moderado e sensato. Em vez disso, aliena todas as pessoas que precisa conquistar e possivelmente prepara a cena para a própria dominação liberal que ele teme.

Enquanto isso, uma importante concessão para nós, estudiosos obcecados, é que nenhum dos debates ostensivos que estamos tendo, por exemplo, sobre as crescentes listas de incapacitados, pode ser tomado pelo valor de face. Sim, precisamos triturar os números, mas no final o outro lado não se importa com a evidência.


Fui omisso por não escrever sobre a nomeação de Janet Yellen para o Fed. Em parte foi por não ter exatamente certeza do que dizer e como explicar por que eu e tantos outros economistas estamos realmente felizes com a escolha. Mas Noam Scheiber, da New Republic, acertou o prego na cabeça ao escrever em um artigo que o animador sobre Yellen não é apenas seu histórico, mas com quem ela anda. Nisso, ela é definitivamente a candidata dos economistas.

Todos os sondados para o cargo já foram, de uma maneira ou de outra, próximos de Wall Street. Até Larry Summers, um histórico formidável como pesquisador, mas também um formidável histórico de ganhar dinheiro como consultor de firmas financeiras. E, embora você possa defender a tese em tempos normais de que um profundo conhecimento das finanças, dos mercados e tudo isso é bom, há duas verdades fundamentais aqui: Wall Street é amplamente responsável pela confusão atual, e os tipos financeiros têm estado constantemente errados, não apenas por não enxergar os riscos antes da crise, como ao diagnosticar o que viria depois. Acima de tudo, eles assumiram a posição de que socorrer os bancos abriria caminho para a recuperação de forma mais ampla, o que não aconteceu.

Enquanto isso, a macroeconomia acadêmica sensata se saiu muito bem, e Yellen está muito nesse campo. Por isso é, se quiser, um membro da minha tribo. O fato de sua indicação também ter feito história, se a nomeação for confirmada, será a primeira mulher a liderar o Fed, é apenas molho.


Uma antiga piada sobre a economia é que é o único campo em que duas pessoas podem ganhar o Nobel por dizer coisas opostas. Até as pessoas que fazem a brincadeira, porém, provavelmente não imaginavam que aqueles dois sujeitos pudessem compartilhar o prêmio, que foi mais ou menos o que aconteceu este ano.

Mas na verdade aprovei o prêmio. O trabalho de Eugene Fama sobre mercados eficientes foi essencial para definir o parâmetro contra o qual se puderam testar alternativas. Robert Shiller fez mais que qualquer outro para codificar as maneiras como a hipótese do mercado eficiente falha na prática. Se Fama disse algumas besteiras nos últimos anos, não importa, ele mereceu esta honra, assim como Shiller. Quanto a Lars Peter Hansen, seu trabalho envolve métodos econométricos sobre os quais não tenho qualquer perícia, mas confiarei nos especialistas que o consideram um ótimo trabalho.

Redação

7 Comentários

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  1. Uma releitura do artigo de Paul Krugman

    A loucura conservadora

    A obsessão da nossa oposição por atacar os programas sociais não tem nada a ver com a fé no Estado mínimo 

    A observação do que sai massivamente na grande mídia deixa claro que a atual obsessão das oposições por atacar programas que beneficiam os necessitados, desde o bolsa família e as cotas até a reforma da saúde no  projeto “mais médicos”, não tem a ver com um compromisso filosófico com o governo reduzido. Trata-se de ansiedade sobre o rumo ao desenvolvimento do Brasil, a formação de uma sociedade democrática e mais justa que estamos nos tornando, e de raiva de que o governo esteja tirando o “Dinheiro Deles e dando-o Àquelas Pessoas”. Em outras palavras, continua sendo uma questão de raça e de exclusão, depois de tantos anos.

    Uma ironia: o PT acredita no Brasil, enquanto os conservadores, não. Eu acredito em nossa capacidade de mudar enquanto mantemos nossa natureza essencial. Acredito que os planos de governo de hoje serão incorporados ao tecido social, trazendo mais inclusão e menos injustiças sociais.

    Outra ironia: o grande temor da direita de que os programas sociais efetivamente comprem votos minoritários para o PT, levando a mais mudanças, torna-se uma profecia que se autocumpre. Os partidos de oposição poderiam ter tentado estender a mão aos mais pobres e excluídos. Em vez disso, tenta alienar os seus eleitores.

    O Brasil cresce, se desenvolve, temos um número recorde de empregos, pobres tendo oportunidades, saúde e educação sendo levados para todos e eles a posição dos partidos e da grande imprensa continuam tentando negar ou esconder esses avanços que são do conhecimento de todos.

  2. Como é facil ver os truques

    Como é facil ver os truques dos esquerdistas.

    Direita e conservadorismo não são contra pobres , mesmo pq a maioria dos conservadores e direitistas são pobres.

    Um exemplo de uma instituição conservadora e de direita que presta grande serviço aos mais pobres, a igreja católica por meio das santas casas é responsável por 70% dos atendimento do SUS.

    Não é só os conservadores que são contra o assistencialismo estatal, a própria esquerda era contra, inclusive os mesmos que estão no poder.

    1.   Parabéns pelo comentário:

        Parabéns pelo comentário: raras vezes li tantas distorções em tão poucas palavras.

        Para começo de conversa, em TODOS os lugares em que se instala a direita neoliberal-conservadora apenas retrai o Estado no que se refere AOS POBRES. Para os ricos, a direita é SEMPRE uma mãe, até porque Estado pequeno é sinônimo de Estado fraco, facinho de ser conduzido pela turma da grana. Esse quadrinho, é verdade, acaba bastante simplificado com a sua turma: tudo vai parar na bocarra de meia dúzia de “grandes investidores”, o pessoal que vive de rendimentos cujas taxas é estabelecida pelos próprios servos deles, seja na mídia ou nos canais de poder, e sustentados pelo trabalho de todos os outros, os “exploradores” e “folgados” trabalhadores.

        Quanto a muitos pobres e remediados apoiarem os conservadores, isso se deve ao controle de mídia e cultura que vocês tanto prezam. É pra lá de sintomático que você venha falar em igreja, a instituição “par excellence” de controle de mentes dos pobres ao longo da História.

        Os “truques” dos esquerdistas te incomodam não porque são contrários ao mantra de que pobre é vagabundo, mas sim porque não sustentam a visão feudal e feudalizante de praticamente todo direitista conservador.

        Faça um favor, peça para um padre abençoar sua santas, queridas (e manipuladas) taxas Libor, SELIC e vá para o raio que a parta.

      1. André LB não leu a caricatura…

        A caricatura é relevante sim, não acho que é de direita ou de esquerda, apenas mostra o conflito inevitável quando se pede mais participação estatal. Seja qual for o objetivo, a questão é afirmar qual a solução para o financiamento, tem que sair de alguém.

        Quanto a muitos pobres e remediados apoiarem os conservadores, isso se deve ao controle de mídia e cultura que vocês tanto prezam.

        É óbvio que aqueles que tem opinião diversa da sua são completos idiotas controlados pela mídia. E devem ir para o raio que os partam. Assim, você, o inteligente que restará, pode administrar o país de forma brilhante…

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