Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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As mariposa, a lâmpida e o desânimo, Parte 2, por Rui Daher

Davos

O capitalismo em transição

“As mariposa quando chega o frio/Fica dando vorta em vorta da lâmpida pra si isquentá”

Longe de mim, na primeira parte deste editorial do BRD, ao usar a imagem das lâmpadas se apagando para as mariposas, inferir que não arrumariam outras fontes para se aquecerem. Menos ainda, pensar em sua extinção, o que permitiria às esquerdas se acomodarem nos divãs da teoria e abandonar a práxis, pois as pragas que vêm do capitalismo estariam também extintas.

Não sonho, as mariposas vieram para ficar. Apenas transgenias recentes as modificaram a ponto de fazer expandirem, ao extremo, os incômodos que trazem ao planeta. É do filósofo brasileiro Paulo Arantes a frase: “A continuar assim, o capitalismo corre o risco de morrer de overdose”, preocupação que as folhas e telas cotidianas dizem ter chegado a Davos, na Suíça.

Entre 1950 e 2015, foi possível à economia mundial aumentar a renda real média per capita em 460% (2,7% ao ano), a extrema pobreza cair de 72% para 10%, e a expectativa de vida subir para os 71 anos.

Bem, média é média, sabemos, o que nem sempre significa todos numa boa.

Da parte das potências ocidentais e da Rússia, isso ocorreu em base, principalmente, de acordos de comércio, industrialização, inovação tecnológica e, quando não, aproveitando-se de invasões de países para garantir governos títeres. A partir da segunda metade do período, o reforço veio das demanda e especialização em países asiáticos, sobretudo China, Índia e Coreia do Sul.   

Esse bom funcionamento do capitalismo foi determinante para a queda das economias que praticavam o socialismo real em diversos graus, e baseava-se em permitir altos ganhos de renda e patrimônio às elites, desde que elas distribuíssem suas mercadorias em condições de estreitar a base da pirâmide social.

Uma década de mutações pós 2007, no entanto, fez as principais economias capitalistas ocidentais perderem crescimento e cederem à competitividade asiática, o que trouxe aumento da desigualdade social, perda de postos de trabalho, sobretudo dos menos qualificados, agravada pela contínua inovação em tecnologia.

As recuperações posteriores ao baque causado pela esbórnia financeira, foram relativamente fracas, o que fez as mazelas se pronunciarem de várias formas, como exposto na parte 1.

O tecido social se esgarçou no momento em que percebeu injusto os governos e seus bancos centrais privilegiarem socorrer as instituições financeiras e esquecerem as pessoas que perdiam casas e empregos. Foram-se, assim, a crença na justiça e na competência das elites econômicas e políticas. Era impossível esconder aa cara da quadrilha que destruiu seus sonhos.

Prenunciava-se o início do término de um período econômico, pós-Segunda Guerra, liderado pelos EUA, e surgia a possibilidade de deslocamento do polo de hegemonia para a China.

É claro que para o esgotamento das principais economias ocidentais ainda tem muito chão a percorrer. Estados Unidos, União Europeia e Japão ainda detêm 36% da produção mundial em paridade de poder de compra. Além disso, dominam os principais conglomerados de empresas, a inovação tecnológica, as mais importantes instituições de ensino e, fundamental, o maior arsenal de armas.

Com um senão. Cada vez é menor sua exclusividade nessas hegemonias. Não fosse assim, Donald Trump e Xi Jiping não estariam se encarando em Davos.

No próximo capítulo, termino com o Brasil, antes que a Federação de Corporações não o faço por mim. Então, volto à galhofa, com a sensação de ter cumprido a promessa feita a Nestor e Pestana, mas com a frustração de não ter sido lido ou comentado por ninguém. Tanta a minha falta de sorte que vem o Teori – que Deus o tenha – e morre no mesmo dia de minha publicação.

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

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