China quer relação “amistosa” com governo Taleban no Afeganistão

China afirmou que "respeita o direito do povo afegão a decidir seu próprio destino e futuro e deseja seguir mantendo relações amistosas e de cooperação com o Afeganistão”

Foto: Parwiz Parwiz/REUTERS

Jornal GGN – Em meio a crise no centro da Ásia, a China anunciou nesta segunda-feira, 16, que deve reconhecer o novo governo do Taleban, no Afeganistão, e que pretende seguir mantendo relações diplomáticas “amistosas e de cooperação” com o país.

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A fim de defender sua segurança interna, a China já vinha nos últimos meses mantendo relações extra-oficiais com o grupo fundamentalista Taliban que tomou o poder no Afeganistão, após chegar no palácio presidencial, na capital Cabul, neste domingo, 15. 

A ação da China é mais uma investida contra os Estados Unidos, que vinha ocupando o Afeganistão, sob a alegação de manter a paz na região, rica de gasodutos. 

Os americanos, no entanto, retiraram suas tropas do território nas últimas semanas e Pequim chegou a classificar a movimentação como “irresponsável”.

Hoje, a China afirmou que “os talibãs indicaram várias vezes a esperança de desenvolver boas relações com a China” e “respeita o direito do povo afegão a decidir seu próprio destino e futuro e deseja seguir mantendo relações amistosas e de cooperação com o Afeganistão”, disse a porta-voz chinês Hua Chunying.

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Redação

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  1. O JOGO DE PODER NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS COM A QUEDA DO AFEGANISTÃO: ENFRAQUECIMENTO GEOPOLÍTICO DO OCIDENTE E FORTALECIMENTO DO BLOCO ASIÁTICO… Por: Dr. Válber Pires
    Não há dúvida de que a retirada dos militares norte-americanos do Afeganistão é o maior erro geopolítico dos EUA e Europa no Século XXI. Imperdoável pelo primarismo. Assim como na Política Nacional (PN), na Política Internacional (PI) não existe vácuo de poder. Se um grupo de poder abandona um espaço, outro vem e o ocupa. Diga-se de passagem que este foi um dos erros cometidos pelo PT na gestão do poder no Brasil, quando abdicou de exercer o poder sobre as Forças Armadas, o MP, a PF e o Judiciário, espaços de poder que, após serem controlados pela oposição, ajudaram a derrubar o partido e suas lideranças. No cenário internacional, o que acontece neste momento com o Afeganistão é exemplar: o novo governo deverá ser reconhecido a curto e médio prazos por atores geopolíticos importantes como China, Rússia, Paquistão, Irã e Coreia do Norte. Com isso, o bloco de poder liderado por China e Rússia na Ásia ganha um aliado estrategicamente importante contra o bloco de poder geopolítico liderado por EUA e União Europeia. Não só pela sua localização geográfica, que ajuda a fortalecer a blindagem militar de parte do território chinês e russo, os Talebans carregam consigo uma longa experiência em guerra, terrorismo e resistência contra as potências ocidentais que constituem material militar precioso. O grupo terrorista está afagando os russos, antigos inimigos, e já consolidou relações diplomáticas com a China. Caso cumpra os acordos de moderação no exercício do poder contra a população civil, deverá estender suas parcerias diplomáticas, políticas, militares e econômicas para os demais países citados, além de outros, e se consolidar no cenário internacional. Cada vez mais vivemos uma ordem internacional bipolar, mas não mais entre dois grandes países e sim entre dois grandes blocos de poder: o Ocidental e o Asiático. Com a conquista do Afeganistão pelos Talebans o Bloco Asiático sai fortalecido e o Bloco Ocidental sai enfraquecido no jogo geopolítico.

  2. Os EUA, antes de deixarem o Afeganistão, conversaram bastante com o Talibã. Eram velhos aliados, o Talibã praticamente foi inventado pelo EUA nos anos 1980, quando eram chamados de mujahedin, e sua função era manter uma guerra de desgaste contra a URSS. Conseguiram, e mais que isso, venceram essa guerra. Tomaram o Estado afegão, se apossaram das armas deixadas para trás pelos soviéticos, e fizeram o que tinham que fazer, porque, afinal, o que tem que fazer um grupo radical religioso quando toma o poder em qualquer lugar, senão impor sua visão de mundo à toda população? Isso pouco incomodava ao Ocidente, porque o Afeganistão, afinal, é lá nos quintos dos infernos, e um bom aliado CAPITALISTA no coração da Ásia, na fronteira com a China.
    Mas extremistas sempre acabam excedendo os limites, não fossem eles extremistas, e enfiaram na cabeça que precisavam impor o Islã ao mundo, fazer uma Cruzada reversa. E o Talibã, que mal sabia o que era o mundo, começou a abrigar forças mais ambiciosas e extremadas do que eles próprios, as Al Qaeda da vida.
    Pensando em por em prática uma velha recomendação de Henry Kissinger, de fatiar a URSS (e a Rússia), os EUA viram no ataque às Torres Gêmeas a oportunidade perfeita para fincar pé na Ásia Central. E logo depois, invadindo o Iraque, tomar o controle político de toda a região que vai do Mediterrâneo até a fronteira chinesa, do Índico até o Mar Negro e o Cáspio. A brincadeira custou caro. US$ 1,8 trilhão, segundo fontes conservadoras, totalmente financiados pelo endividamento do Estado americano. E pior, não rendeu controle sobre a região como imaginavam. O Irã, um dos atores que acham que iam detonar, ao contrário, se tornou mais forte politicamente, e passou a exercer uma forte influência no Iraque e na Síria, além de praticamente controlar o Hesbollah no Líbano. O Paquistão, antes um aliado submisso, passou a se aproximar mais e mais da China. E a resposta brutal da Rússia aos separatismos e terrorismos islâmicos no sul do seu território mostrou a estes e aos EUA que não seria o mamão com açúcar que eles imaginaram.
    Agora, depois de longas e amistosas conversas com os velhos amigos mujahedin / Talibãs, os EUA resolvem sair a galope do Afeganistão. Para mim isto tem um cheiro a reedição das políticas de fomento ao terrorismo islâmico na Rússia e China. Nesta, os Uigures, povo muçulmano do Oeste chinês, e vivem numa província que faz fronteira com o Afeganistão, seriam, a pedido dos americanos, abastecidos com armas e munições pelos Talibãs para levar a insurgência para dentro do território chinês. Isto é muito mais barato do que gastar trilhões numa guerra sem fim que não dá o resultado que esperavam, e permite ao Estado americano dispor desses recursos para tentar impor um cerco militar a Rússia e a China, estacionando armas, aviões e navios no seu entorno.
    Os chineses e russos, contudo, estão jogando o Grande Jogo como mestres. Apesar das inúmeras restrições russas aos talibãs, conseguiu conversar e manter sua embaixada não só intacta, mas também protegida pelas milícias deles. Os chineses vêm conversando com o novo governo já há algum tempo. E pelos sinais emitidos de lado a lado, as conversas vão bem. O Talibã precisará de recursos. Os EUA deixaram o país em frangalhos – como aliás fazem em toda guerra que travam – e um povo com fome e sem esperanças não suporta durante muito tempo qualquer regime, por mais opressor que seja. A China pode e deve entrar com grandes obras de infraestrutura, rodovias e ferrovias que façam do Afeganistão um ponto de passagem na nova Rota da Seda, assim como trajeto de gasodutos vindos do Irã, do Iraque e do sul da Rússia. Em troca de investimentos e geração de empregos, os Talibãs podem manter a paz na fronteira chinesa, e, se o progresso ocorrer de fato, servir como vitrine para o soft power chinês entre os muçulmanos.
    Vamos precisar aguardar alguns anos para ver quem afinal vai capturar a atenção dos mujahedin, se os EUA com sua pouca ajuda e muita corrupção, se a China com seus muitos recursos (e muita corrupção, se precisar).

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