Europa pratica guerra não declarada contra os imigrantes, diz pesquisadora

Falta acolhimento e sobra preconceito aos imigrantes que atravessam o Mar Mediterrâneo em busca de uma vida melhor.

Imigrantes africanos abandonados no Mar Mediterrâneo com colete salva vidas.
Crédito: Creative Commons/ Chris McGrath/Getty Images)

A região do Mar Mediterrâneo é considerada a maior cova do mundo, de acordo com Berenice Bento, doutora em sociologia, pesquisadora do CNPq e professora do Departamento de Sociologia da UnB.

Em entrevista exclusiva à TV GGN, a pesquisadora afirmou que a constatação veio durante a residência em Lampedusa, uma ilha no extremo sul da Itália, principal rota de imigrantes em busca de dignidade.

“São pessoas que tentam a vida, por muitas motivações, saindo de pontos da África, Líbia e Tunísia. Chegam em Lampedusa em situações de completa despossessão, com a roupa do corpo, e depois são transferidas para um presídio”, denuncia a pesquisadora.

Guerra não declarada

Participaram do encontro também o chefe de resgate da Cruz Vermelha do mar por 8 anos e presidente da SMH (Salvamento Marítimo Humanitário), Iñigo Mijangos Churruca, e Luca Ciarlariello, psicólogo e ativista no Mediterrâneo Central.

Ciarlariello comenta que a luta migratória é uma das mais intensas do mundo, além de um fenômeno já bem estruturado, pois enquanto a Europa alimenta a retórica de ser um fenômeno emergencial, não há acolhimento para os imigrantes que arriscam a vida para atravessar o Mar Mediterrâneo.

“A União Europeia sempre fala de ser melhor, de respeitar os direitos humanos, mas tem muita contradição nessa parte, porque Frontex controla as fronteiras. Acolhida não tem”, continua o psicólogo.

Para Berenice Bento, o tratamento dos países europeus é uma guerra não declarada contra os imigrantes, que, não por acaso, são oriundos de países colonizados e explorados pelos impérios do velho continente. Assim, estas pessoas são vistas como um “problema a ser resolvido”.

Em Lampedusa, por exemplo, uma embarcação e seus tripulantes estão detidos pelo crime de salvar 200 pessoas em alto mar e levá-las ao porto.

“Em Portugal, onde estou, a guerra aos imigrantes é clara. A polícia federal daqui trata os imigrantes, principalmente os negros e negras, como lixo. Um processo que era para demorar dois, três meses dura dois, três anos. Sem esse processo andar, não tem como ter uma casa, ter um emprego”, continua a pesquisadora.

Berenice Bento, socióloga

Discursos iguais

De acordo com os entrevistados, a repulsa por imigrantes na Europa é tão grande que chega a aproximar lados opostos: progressistas e defensores da extrema direita chegam a ter um discurso bastante parecido quando a temática é migração.

“Se você comparar o discurso do Macron [presidente da França] e Marine Le Pen [candidata da extrema direita derrotada no último pleito francês], não tem diferença fundamental. Tem uma herança que forma esse continente, que é a herança colonial, que faz com que essa estrutura racista que olha o outro com um corpo a ser explorado, nao como humano, mas como energia a ser explorada”, emenda Berenice.

Nem mesmo a justificativa de que as imigrações contribuiriam com o envelhecimento da população e supriria a demanda por mão de obra é válida, na visão de Iñigo Churruca.

“É perigoso esse discurso porque voltamos a usar pessoas como objetos que consideramos que podem ser interessante que venham à Europa para nos ajudar a superar o desafio demográfico. Mas as pessoas são seres humanos e têm direito de migrar. Ponto“, finaliza .

Confira a entrevista na íntegra no canal TV GGN.

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Camila Bezerra

Jornalista

3 Comentários

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  1. Muitos desses imigrantes fogem de países q foram destruídos pelas guerras q o Ocidente orquestrou pra roubar as riquezas de países como a Síria.

  2. Não são imigrantes: são fugitivos; fogem da guerra,da fome, da perseguição ética,da completa impossibilidade de ser cidadão em seu próprio país desestabilizado pelo EUA ,reino Unido, Europa!

  3. Durante vários séculos, os piedodos europeus, considerevam um dever sagrado invadir os paises de outros continentes. A hsitória nos conta como esta cruzada acabou por transformar os outros continentes em colônias, acarretando escravidão, fome e divisões tertitoriais arbitrárias que redundaram em guerras fatricidas entre os colonizados e tudo isso, escudado ma mentira que era preciso cristianizar o mundo para salvá-lo.
    O resultado de tudo isso, é que ao longo desses séculos de imposição do domínio europeu, os povos submetidos foram se conscientizando e durgiram muitos movimentos de libertação, muitos paéses conseguiram sua independência, mas o estrago deixado pelos europeus, perduram até os dias atuais. Portanto, os europeus não estão fazendo nenhum favor em acolher esses imigrantes, eles estão apenas reparando parte do mal que lhes causou. Cidadãos da europa, reconheçam suas culpas e se redimam pagando uma pequena parte do que devem!

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