Idosos japoneses fabricam saquê para salvar cidade do abandono
18 de outubro de 2011 • 10h00 • atualizado às 10h40
Em meio ao progressivo abandono das zonas rurais do Japão, um grupo de idosos do remoto povoado de Houki, escondido nas montanhas do sudoeste japonês, decidiu revitalizar a comunidade com um bem-sucedido negócio de saquê numa antiga escola abandonada.
O projeto é único na região, a província de Tottori, que sofre de um problema que afeta todo o Japão: o despovoamento das zonas rurais junto com o envelhecimento em um país no qual 23% da população tem mais de 65 anos.
No bairro de Fukuoka, em Houki, quase a metade de seus 180 habitantes são idosos que viram como o distrito ficou abandonado após o fechamento, em 2009, da sua principal destilaria, a fuga dos mais jovens às grandes cidades e o fechamento, há quatro anos, da escola local.
Neste panorama sombrio, nove aposentados puseram as mãos na massa para criar em maio de 2009 o projeto “Kamidai”, nome da antiga escola, com o qual visavam potencializar as lavouras, revitalizar a região e recuperar suas tradições gastronômicas.
A ideia era criar uma destilaria de saquê, acompanhada de um pequeno restaurante, aproveitando os dois principais recursos do povoado: a água, famosa em todo o país por sua pureza, e o arroz, matéria-prima principal para fazer o famoso licor japonês.
O “Kamidai” progrediu com um investimento inicial de mais de 124 mil euros, dos quais 24 mil euros vieram de ajudas estatais. Em pouco mais de dois anos, o projeto se tornou em um bem-sucedido modelo de desenvolvimento agro-turístico do qual participam cerca de 30 idosos e que até agora rendeu mais de 95 mil euros.
A primeira etapa foi encontrar um espaço que tivesse um “vínculo sentimental muito forte” com a comunidade, por isso decidiram reabrir a escola, mas desta vez com um propósito empresarial, explicou à agência Efe, Keisei Imersa, 75 anos, ex-prefeito de Houki e diretor do projeto.
“Fizemos muitos esforços para revitalizar a região e para isso nos apoiamos em nosso principal capital: as pessoas” acrescentou Imersa, com os olhos brilhando ao falar do “Kamidai”.
Sua primeira produção foi de 2 mil litros de saquê caseiro, que este ano chegou aos 3,7 mil litros após a grande saída do produto e graças a acordos com associações de jovens, cooperativas agrícolas, hoteleiros e o governo da província.
Os idosos quiseram manter a estrutura da escola, que abriu em 1876 e é uma das mais antigas da prefeitura. Os refeitórios onde são oferecidas a comida e bebida são formados por carteiras em vez de mesas, e as lousas deixaram para trás as explicações de álgebra e geografia para informar os menus do dia.
A destilaria é uma pequena cabana de madeira ao lado da escola, onde foi instalado um restaurante, “Kachan Sova” (“massa caseira”), que abre nos finais de semana e no qual seis mulheres, com uma média de 70 anos, preparam meticulosamente os pedidos.
No restaurante são oferecidos por entre 5 a 9 euros talharins, tofu, arroz com polvo e verduras, com receitas artesanais e produtos frescos. O chefe da destilaria, Yoshifumi Adachi, controla a elaboração do saquê artesanal.
Depois de lavado, o arroz é misturado com aguardente por 45 dias. O resultado é uma bebida de textura pouco delicada, sabor potente de até 16% de teor alcoólico, cuja tampa é formada por uma membrana que permite o licor transpirar e continuar fermentando depois de engarrafado.
“A comunidade estava desvalorizada e a melhor forma de revitalizá-la foi tomando saquê na antiga escola, que virou um espaço para conversar, beber, comer e encontrar velhos amigos”, disse Adachi.
Com uma média de 80 clientes a cada final de semana, os idosos passaram a comercializar seu precioso produto até pela internet.
Imersa, mentor do “Kamidai”, fala como se o projeto tivesse salvado sua vida: “Se não estivesse aqui, estaria cultivando a terra à toa, vivendo de pensão, mas agora me divirto, trabalho com meus amigos e aproveito a vida”, concluiu.
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