Incêndio em Valparaíso, no Chile, clama por políticas públicas contra aquecimento global

O grande incêndio ocorrido em Valparaíso chocou o Chile e o mundo pelo número de mortos, casas destruídas e hectares queimados

O perigo de incêndios florestais devido ao calor intenso e aos ventos fortes aumenta dramaticamente no Chile – Foto: Agência UMA

Géografo pede políticas públicas imperativas com força regulatória nas áreas WUI

No El Desconcierto

O grande incêndio ocorrido nos primeiros dias de fevereiro na região de Valparaíso chocou o Chile e o mundo pelo número de mortos, casas destruídas e hectares queimados.

Esta catástrofe alertou, mais uma vez, que o país tem sido marcado por catástrofes naturais, como terremotos, inundações e deslizamentos de terra, e nos últimos anos por este tipo de acidentes que ocorrem no verão.

Oliver Meseguer, professor associado do Departamento de Ciências Históricas e Geográficas da Universidade de Tarapacá e pesquisador do AndesPeat Millennium Nucleus, destacou que “no contexto das mudanças climáticas e do aquecimento global estaremos, cada vez mais, presenciando esses fenômenos, que ocorrerão em ambientes mais secos, com temperaturas mais altas que provocam maior combustão, antes preparada durante todo o inverno”.

Mas este não é o único fator que condiciona a maior ocorrência de incêndios florestais. Segundo Meseguer, há que considerar que “os seres humanos estão cada vez mais expostos a este tipo de fenômenos porque precisamente se instalam, em grande parte, nas interfaces florestas urbanas”.

Em 2020, a população urbana exposta a áreas queimadas ultrapassou 40%

Em 2020, o estudo “Incêndios florestais recentes no Chile Central: detectando ligações entre áreas queimadas e exposição populacional na interface urbano-floresta”, realizado por pesquisadores de diferentes universidades, e do qual Meseguer participou, informou que nas regiões de Biobío, Araucanía e Valparaíso, a população urbana exposta a áreas queimadas ultrapassou 40%, ou seja, “são pessoas que vivem em áreas de interface floresta urbana, que é uma área muito particular, que são aquelas áreas de contato entre cidades ou áreas urbanas e áreas florestais, que são definidas com uma largura específica em ambos os lados da zona de contato”.

O estudo analisou a ocorrência de incêndios florestais na estação seca na região mediterrânea do Chile Central entre 2000 e 2017, utilizando imagens de satélite para detectar áreas queimadas, suas métricas paisagísticas e o uso e cobertura do solo (planta), antes do incêndio, para determinar a população que vive em áreas que podem ser afetadas por incêndios florestais.

A maioria das coberturas do solo afetados pelos incêndios florestais são coberturas antropogênicas do solo, classificadas como savanas, terras agrícolas, florestas perenes de folha larga e savanas lenhosas, que representaram mais de 70% das áreas queimadas.

As áreas urbanas apresentam apenas 0,6% da área queimada entre 2001 e 2017. Estima-se que 55.680 pessoas sejam potencialmente afetadas pelos incêndios florestais, sendo que 50% delas estão localizadas em uma única região administrativa.

Esses resultados mostram a necessidade imperiosa de políticas públicas como força reguladora para o estabelecimento de áreas WUI [Wildland-urban interface, em tradução Interface urbano florestal], com a finalidade de identificar o risco de incêndios florestais em áreas urbanas, como o estabelecimento de métodos de prevenção de incêndios e de queimadas previstas.

As áreas WUI definidas no estudo “correspondem à intersecção de áreas urbanas e áreas de combustíveis vegetais, com base na regulamentação aplicada na Europa, no que diz respeito às características topográficas e climáticas e semelhanças na densidade populacional. Porém, no Chile há uma diferença em relação ao caso europeu, pois as casas são construídas com material combustível.”

Redação

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