Denúncia do MPSP contra Lula sobre triplex continua com Moro

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – A denúncia feita pelo Ministério Público de São Paulo contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em março deste ano e duramente criticada, foi remetida definitivamente para as mãos do juiz Sergio Moro, da Justiça Federal do Paraná.
 
A decisão foi tomada em abril deste ano pela juíza Maria Priscilla Ernandes Veiga Oliveira, da 4ª Vara Criminal Central, mas foi questionada. A nova decisão reafirmando o poder de Moro no caso foi protocolada no dia 18 de agosto, pela 10ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, mas tornada pública apenas agora.
 
Na denúncia assinada José Blat e Cássio Conserino, os promotores utilizam a teoria de Lula foi, de algum modo, “beneficiado” em seu direito após a quebra da Cooperativa Bancoop, na possibilidade de adquirir um dos apartamentos do edifício Solaris, no Guarujá.
 
O documento acusa Lula por falsidade ideológica e lavagem de dinheiro por supostamente ocultar a propriedade no Guarujá, reformado pela OAS, que os investigadores acreditam ser do ex-presidente. Além de Lula, também foram denunciados Dona Marisa, o filho do casal Fábio Luiz Lula da Silva e outros 13 investigados, como o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e o ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro.
 
Recheada de argumentos vazios contra o ex-presidente, após um extenso histórico sobre as vítimas do empreendimento da Bancoop, a peça dos promotores foi criticada não apenas pelo meio jurídico, como pelos próprios membros da força-tarefa da Operação Lava Jato.
 
Leia mais: Os argumentos vazios da denúncia contra Lula no caso Triplex
 
Em meio aos holofotes que o caso tomou em março deste ano, o magistrado do Paraná e sua equipe deixaram vazar que estariam indignados com o pedido de prisão protocolado pelos promotores do Ministério Público de São Paulo, afirmando que o documento atrapalhava o “trabalho desenvolvido na Lava Jato, guiado com cautela e esmero”.
 
Entenda: Força tarefa da Lava Jato afirma que denúncia prejudicou trabalho
 
Apesar disso, o recente inquérito formulado pelos delegados da Lava Jato e remetido aos procuradores peca pelas mesmas falhas antes criticadas. A conclusão deste documento ocorreu no dia 12 de agosto, cinco meses após a denúncia do MPSP. Mostrando as ligações de Lula com o empresário Léo Pinheiro, o inquérito também não trouxe argumentos suficientes para provar a ilegalidade dos investimentos no apartamento e de que tais reformas tenham origem em recursos ilícitos da Petrobras, como tentou criar a tese dos investigadores.
 
Leia também: Inquérito contra Lula apela com exposições, falta de provas e ilações
 
A votação de legitimar o caso para Sérgio Moro foi unânime, conforme divulgou o Tribunal de Justiça de São Paulo, nesta quinta-feira (01). Todos os desembargadores manifestaram-se favoráveis à remessa. Nos próximos dias, deve-se desenrolar o que os procuradores da força-tarefa irão fazer com este inquérito dos delegados e, agora, com o documento dos promotores de São Paulo. 
 
Para os advogados do ex-presidente Lula, a decisão do TJSP “em nada altera os questionamentos que já apresentamos sobre a competência da Justiça Federal de Curitiba para investigar aspectos relacionados a um apartamento situado no Guarujá, Estado de São Paulo”.
 
Enfatizaram, mais uma vez, que “Lula e os seus familiares não são proprietários de qualquer apartamento no Edifício Solaris, no Guarujá (SP) e, por isso mesmo, não foram beneficiados por qualquer melhoria realizada nesse imóvel. O apartamento 164-A está registrado no Cartório de Registro de Imóveis em nome da empresa OAS, que, portanto, detém a propriedade do imóvel por força de expressa disposição legal (CC, art. 1.245)”.
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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  1. Perseguição doentia. Na carta abaixo, Lula toca no assunto

    A carta de Lula aos líderes mundiais

    POR  · 01/09/2016 no Tijolaço

     

    lulacarta

    Lula enviou hoje a seguinte carta aos governantes (e ex-governantes) de todo o mundo com quem manteve relações ao longo de seus governos e em fóruns partidários. É este o texto que muitos dos governantes que encontrarão Michel Temer na reunião do G-20, na China.

                                                                  São Paulo, 25 de agosto de  2016.

    Caro Presidente,

    Dirijo-me ao senhor para informá-lo da gravíssima situação política e institucional que vive o Brasil, país que tive a honra de presidir de 2003 a 2010.

    Tomo a liberdade de escrever-lhe em nome do respeito e da amizade que existe entre nós, pelos quais sou muito grato.

    Orgulho-me de ter conseguido, apesar da complexidade inerente às grandes democracias e dos problemas crônicos do Brasil, unir o meu país em torno de um projeto de desenvolvimento econômico com inclusão social, que nos fez dar um verdadeiro salto histórico em termos de crescimento produtivo, geração de empregos, distribuição de renda, combate à pobreza e ampliação das oportunidades educacionais.

     Por meios pacíficos e democráticos, fomos capazes de tirar o Brasil do mapa da fome no mundo elaborado pela ONU, libertamos da miséria mais de 35 milhões de pessoas, que viviam em condições desumanas, e elevamos outras 40 milhões a patamares médios de renda e consumo, no maior processo de mobilidade social da nossa história.

    Em 2010, como se sabe, fui sucedido pela Presidenta Dilma Rousseff, também do Partido dos Trabalhadores, que havia dedicado sua vida à luta contra a ditadura militar, pela democracia  e pelos direitos da população pobre do nosso país.

    Mesmo enfrentando um cenário econômico internacional adverso, a Presidenta Dilma conseguiu manter o país no rumo do desenvolvimento e consolidar os programas sociais emancipadores, prosseguindo na redução das enormes desigualdades materiais e culturais ainda existentes na sociedade brasileira.

    Em 2014, a Presidenta Dilma foi reeleita com 54 milhões de votos, derrotando uma poderosa coalizão de partidos, empresas e meios de comunicação que pregava o retrocesso histórico do país, com a redução de importantes programas de inclusão social, a supressão de direitos básicos das classes populares e a alienação do patrimônio público construído com o sacrifício de inúmeras gerações de brasileiros.

    A coalizão adversária, vencida nas urnas em 2002, 2006, 2010 e 2014, não se conformou com a derrota e desde a proclamação do resultado procurou impugná-lo por todos os meios legais, sem alcançar nenhum êxito.

    Esgotados os recursos legais, no entanto, em vez de acatar a decisão soberana do eleitorado, retomando o seu legítimo trabalho de oposição e preparando-se para disputar o próximo pleito presidencial – como o PT sempre fez nas eleições que perdeu –, os partidos derrotados e os grandes grupos de mídia insurgiram-se contra as próprias regras do regime democrático, passando a sabotar o governo e a conspirar para apossar-se do poder por meios ilegítimos.

    Ao longo de todo o ano de 2015, torpedearam de modo sistemático os esforços do governo para redefinir a política econômica no sentido de resistir ao crescente impacto da crise internacional e recuperar o crescimento sustentável. Criaram um clima artificial de impasse político e institucional, com efeitos profundamente danosos sobre a vida do país, contaminando o ambiente de negócios, deixando inseguros produtores e consumidores, constrangendo as decisões de investimento. No afã de inviabilizar o governo, apostaram contra o país, chegando até mesmo a aprovar no parlamento um conjunto de medidas perdulárias e irresponsáveis destinadas a comprometer a estabilidade fiscal.

    E, finalmente, não hesitaram em deflagrar um processo de impeachment inconstitucional e completamente arbitrário contra a Presidenta da República.

    Dilma Rousseff é uma mulher íntegra, cuja honestidade pessoal e pública é reconhecida até pelos seus adversários mais ferrenhos. Nunca foi nem está sendo acusada de nenhum ato de corrupção. Nada em sua ação governamental pode justificar, sequer remotamente, um processo de cassação do mandato que o povo brasileiro livremente lhe conferiu.

    A Constituição brasileira é categórica a esse respeito: sem a existência de crime de responsabilidade, não pode haver impeachment. E não há nenhum – absolutamente nenhum – ato da Presidenta Dilma que possa ser caracterizado como crime de responsabilidade. Os procedimentos contábeis utilizados como pretexto para a destituição da Presidenta são idênticos aos adotados por todos os governos anteriores e pelo próprio vice-presidente Michel Temer nas ocasiões em que este substituiu a Presidenta por razão de viagem. E nunca foram motivo de punição aos governantes, muito menos justificativa para derrubá-los. Trata-se, portanto, de um processo estritamente político, o que fere frontalmente a Constituição e as regras do sistema presidencialista, no qual é o povo que escolhe diretamente o Chefe de Estado e de Governo a cada quatro anos.

    As forças conservadoras querem obter por meios escusos aquilo que não conseguiram democraticamente: impedir a continuidade e o avanço do projeto de desenvolvimento e inclusão social liderado pelo PT, impondo ao país o programa político e econômico derrotado nas urnas. Querem a todo custo comandar o Estado para apossar-se do patrimônio nacional – como já começa a acontecer com as reservas petrolíferas em águas profundas –  e desmontar  a  rede de proteção aos trabalhadores e aos pobres que foi ampliada  e consolidada nos últimos treze anos.

    As mesmas forças que tentam arbitrariamente derrubar a Presidenta Dilma, e implantar a sua agenda antipopular, querem também criminalizar os movimentos sociais e, sobretudo, um dos maiores partidos de esquerda democrática da América Latina, que é o PT. E não se trata de mera retórica autoritária: o PSDB, principal partido de oposição, já apresentou formalmente uma proposta de cancelamento do registro do PT, com vistas a proibi-lo de existir. Temem que, em 2018, em eleições livres, o povo brasileiro volte a me eleger Presidente da República, para resgatar o projeto democrático e popular .

    A luta contra a corrupção, que é uma mazela secular do Brasil e de tantos outros países, e deve ser combatida de modo permanente por todos os governos, foi distorcida e transformada em uma implacável perseguição midiática e política ao PT.  Denúncias contra líderes de partidos conservadores são sistematicamente abafadas e arquivadas enquanto acusações semelhantes a qualquer personalidade do PT tornam-se de imediato, à revelia do devido processo legal, condenação irrevogável na maior parte dos meios de comunicação.

    A verdade é que o combate à corrupção no Brasil passou a ser muito mais vigoroso e eficaz a partir dos governos do PT, com o respeito, que antes não existia, à plena autonomia do Ministério Público e da Polícia Federal no exercício de suas atribuições; a ampliação do orçamento, do quadro de funcionários e a modernização tecnológica dessas instituições e dos demais órgãos de controle; a nova lei de acesso à informação e a divulgação das contas públicas na internet; os acordos de cooperação internacional no enfrentamento da corrupção; e o estabelecimento de punições muito mais rigorosas para corruptos e membros de organizações criminosas.

    Todos nós, democratas, interessados no aperfeiçoamento institucional do país, apoiamos o combate à corrupção. As pessoas que comprovadamente tiverem cometido crimes, devem pagar por eles, dentro da lei. Mas os juízes, promotores e policiais também estão obrigados a cumprir a lei e não podem abusar do seu poder contra os direitos dos cidadãos. As pessoas não podem ser publicamente condenadas (e terem a sua reputação destruída) antes da conclusão do devido processo legal, e menos ainda por meio do vazamento deliberado de informações praticado pelas próprias autoridades com fins políticos. Uma justiça discriminatória e partidarizada será fatalmente uma justiça injusta.

    Eu, pessoalmente, não temo nenhuma investigação. Desde que iniciei a minha trajetória política e, particularmente nos últimos dois anos, tive toda a minha vida pública e familiar devassada – viagens, telefonemas, sigilo fiscal e bancário –, fui alvo de todo o tipo de insinuações, mentiras e ataques publicados como verdade absoluta pela grande mídia, sem que tenha sido encontrado qualquer desvio na minha conduta ou prova de envolvimento em qualquer ato irregular.  Se a justiça for imparcial, as acusações contra mim jamais prosperarão. O que não posso aceitar são os atos de flagrante ilegalidade e parcialidade praticados contra mim e meus familiares por autoridades policiais e judiciárias. É inadmissível a divulgação na tv de conversas  telefônicas sem nenhum conteúdo político, a coação de presos para fazerem denúncias mentirosas contra mim em troca da liberdade, ou a condução forçada, completamente ilegal, ocorrida em março último, para prestar depoimento do qual eu sequer tinha sido notificado.

    Por isso, meus advogados entraram com uma representação no Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas, relatando os abusos cometidos por algumas autoridades judiciais que querem a todo custo me eliminar da vida política do  país.

    A minha trajetória de mais de 40 anos de militância democrática, que começou na resistência sindical durante os anos sombrios da ditadura, prosseguiu no esforço cotidiano de conscientizar  e organizar a sociedade brasileira pela base, até ser eleito como  o primeiro Presidente da República de origem operária, é o meu maior patrimônio e a ele ninguém me fará renunciar. Os vínculos de fraternidade que construí com os brasileiros e brasileiras na cidade e no campo, nas favelas e nas fábricas, nas igrejas, nas escolas e universidades, e que  levaram a maioria do nosso povo a apoiar o vitorioso projeto  de inclusão social e promoção da dignidade humana, não serão cancelados por nenhum tipo de arbitrariedade. Da mesma forma, nada me fará abrir mão, como sabem as lideranças de todo o mundo com as quais trabalhei em harmonia e estreita cooperação — antes, durante e depois dos meus mandatos presidenciais – do compromisso de vida com a construção de um mundo sem guerras, sem fome, com mais prosperidade e justiça para todos.

    Agradeço desde já a generosa atenção que o senhor dedicou a esta mensagem e coloco-me à disposição, como sempre estive, para qualquer esclarecimento ou reflexão de interesse comum.

    Reiterando  o meu respeito e amizade, despeço-me fraternalmente.

    Luiz Inácio Lula da Silva

     

     

  2. Juntando essa denúncia, feita

    Juntando essa denúncia, feita pelos patetas do MPSP com o indiciamento recente feito pela PF, agora o juiz Moro tem a impressionante quantidade de ZERO provas contra Lula nessa história do triplex. Impossível escapar da condenação…

  3. São coisas absurdas atras de

    São coisas absurdas atras de coisas absurdas!

    A Sra Janaína só tem essa desenvoltura POR QUE O PIG A PROTEGE, se tivesse uma reportagem MOSTRANDO devidamente a tese dela o que é, ele enfiaria a cabeça num buraco e não tiraria mais…

    Absurdo atras de absurdo!

    Isso que virou o Brasil!

  4. Quem mandou o primo do Lulinha abastecer num posto BR?

    O cupom fiscal prova portanto que há fartas ligações de Lula, por familiaridade, com a Petrobrás…

    Prontchiu!

    Tá na omnijurisdição curitibana de Moro!

    Morou?

     

    (PS: isso foi no tempo que a BR era nossa, i.e. da Petrobrás, agora “tudo vai mudar”)

  5. Sobral Pinto e o estatuto do torcedor

    Depois de tanta barbaridade e silêncio dos que deveriam defender a constituição, sugiro aos advogados do Lula, repetindo o Sobral Pinto que para defender Carlos Prestes citou a proteção aos animais, a citação do “Estatuto do Torcedor”. Um juiz que cometesse um décimo das irregularidades que este faz não apitaria nem jogo de varzea na avaliação do conselho de arbitragem da cbf.

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