O longo prazo nas gestões municipais

Para especialistas, cidades precisam adotar estratégias de longo prazo

Por O Globo

Pesquisadores avaliam que falta de integração entre esferas de poder agrava crise de segurança

RIO – O modelo adotado no Rio para o combate ao crime organizado com as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) é constantemente lembrado como exemplo desde que o número de assassinatos aumentou em São Paulo. Não há garantia, porém, de que a solução encontrada pelos cariocas funcionaria para os paulistas, avaliam especialistas. Para eles, São Paulo precisa começar a definir uma estratégia adequada às características locais.

Para Diógenes Lucca, comentarista de Segurança Pública da Rede Globo em São Paulo e ex-comandante do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) de SP, as UPPs estão funcionando no Rio porque o estado precisava reconquistar espaços sobre os quais havia perdido o controle. Já em São Paulo, não existiriam territórios aos quais a polícia não tem acesso.

— Aqui não tem nenhuma favela na qual a polícia não consiga entrar — explicou Lucca, ao dizer que o governo paulista precisa primeiro definir uma estratégia, que inclua integração: — Não acho que é o momento de discutir uma medida (específica). Temos um problema sério que é a falta de integração das esferas de poder. Simplesmente instalar uma unidade de polícia em Paraisópolis não vai resolver.

Lucca também criticou o fato de o estado só reagir quando “a crise adota grandes proporções”, o que leva a Polícia Militar à exaustão e, segundo ele, com resultados muito questionáveis.

O coordernador-geral do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública da UFMG, Cláudio Beato Filho, avalia que, de modo geral, as grandes cidades brasileiras têm uma distribuição ineficaz do policiamento. Na opinião dele, o que precisa ser repensado e melhor adotado é o policiamento permanente.

— Não apenas Rio e São Paulo é que precisam pensar em formas de policiamento permanente, como é o caso da UPP. Tem que ter polícia à disposição da população onde ela é necessária. Isso não é coisa da UPP. Polícia é um serviço público — disse Beato Filho.

Para a professora Alba Zaluar, do Núcleo de Pesquisas das Violências da Uerj, São Paulo pode aprender com a experiência do Rio no que diz respeito à definição do modo de agir. A antropóloga avalia que o estado demorou muito para admitir a gravidade do problema e perdeu tempo na arriscada tática de negociar com os criminosos.

— Até agora a solução em São Paulo foi uma solução muito repressiva. A UPP tem a pretensão de tentar mudar a relação da polícia com o morador.



Luis Nassif

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