Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Para que serviu a “merrequinha” recuperada pela PF?, por Armando Coelho Neto

Para que serviu a “merrequinha” recuperada pela PF?

Por Armando Rodrigues Coelho Neto

Alertado por um colega da PF, fui pesquisar uma entrevista do ministro Dias Toffoli, um graduado funcionário da ex-suprema corte (minúsculas propositais), exibida por um canal do golpista sistema Globo de Televisão. O registro do alerta deve-se ao fato da audiência zero que há anos decretei às vozes e imagens dos Marinhos. Na entrevista, Toffoli afirma que as decisões daquela corte e não só dela, mas de todas existentes mundo afora, devem levar em consideração fatores políticos, econômicos e sociais.

Foi lamentável não ter sido a ele perguntado, se não é ou seria constrangedor para o judiciário, adotar essa postura quando aqueles fatores decisivos são ou foram artificialmente criados em conluio com mais de 300 parlamentares suspeitos de crime. Obviamente, a emissora dos Marinhos, como parte atuante do Golpe de 2016, não se vê promovendo essa artificialidade que segundo aquele barnabé entrevistado, deve ser levada em conta nos julgamentos de uma instância, contra a qual não cabe qualquer recurso. Aliás, Globo não se vê sequer quando condena a sociedade que ela alimenta, promovendo seus bandidos de estimação.

Quando se fala em circunstâncias artificialmente criadas, de pronto vem à lembrança a inédita reprovação das contas da Presidenta Dilma Rousseff (Fora Temer), em condições casuísticas. Afinal, as contas de seus antecessores apresentam e apresentavam as mesmas características daquelas “inquinadas”. Do mesmo modo que o falso crime atribuído à Dilma, poucos dias depois foi descriminalizado. Mais ainda quando gravações divulgadas tornaram públicos os podres pilares do golpe, nos quais até o nome do stf aparece enlameado. 

Uma fala ou outra de Toffoli foi aproveitável e tecnicamente didática, quando, por exemplo, explica a relatividade de uma liminar, falso conflito entre um julgamento monocrático e um coletivo. Outro ponto é quando explica remédios jurídicos como o habeas-corpus, que serve para corrigir erros e arbitrariedades cometidos por delegados, promotores, juízes de primeira instância. E, no contexto, lembra operações policiais anuladas por vícios cometidos em primeira instância. Quais?

Foi mesmo uma pena que o entrevistador, afilhado dos Marinhos, não tenha demonstrado o menor interesse sobre os vazamentos da Farsa Jato – nunca sequer apontados, quanto mais investigados ou freados.  Bom lembrar que vazamentos, quebra de sigilo, abuso de poder, suposto conluio com a imprensa serviram de base para a demissão do delegado federal Protógenes Queiroz, durante a Operação Satiagraha, que investigava o grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas.

Por que a lembrança do ex-delegado Protógenes Queiroz? Simples. Ele foi demitido por haver cometido, supostamente, um crime (também supostamente) praticado todos os dias pelo juiz Sérgio Moro, de forma irrefreada e impune. Nesse sentido, foi estranho o silêncio sobre o tema, tanto por parte do jornalista quanto  por parte do entrevistado. A Polícia Federal empenhou-se ao extremo para ver aquele delegado na rua e, sem piedade, sem qualquer análise conjuntural, o stf endossou o trabalho da golpista PF.

Na mesma linha, o adiantamento de votos por parte de ministros da ex-suprema corte, o partidarismo do judiciário, o ativismo jurídico no tribunal de exceção de Curitiba não despertaram o menor interesse. O teatrinho (Perdão, doutor Aragão) seguiu passo a passo o formalismo ministerial e o cinismo do jornalismo estilo Marinho. Nem mesmo quando Toffoli foi taxativo ao afirmar que simples delação não configura prova, a conversa avançou. Formalista, o barnabé ajustou o termo, pois prefere “colaboração premiada” – o mais correto.

Como dito, a conversa não andou. Delações não são provas mas, quando vazam, alem de configurarem crime em si, podem caracterizar outro que é a obstrução da justiça. Além disso, gera mais crime ao destruir reputações dos inimigos dos Marinhos. Desse modo, criados artificialmente os monstros e inimigos do povo, os colegas de Tóffoli “não podem ignorar o clamor público”. Entretanto, as conseqüências políticas e econômicas por ele apregoadas caem por terra, diante dos prejuízos sociais, políticos e econômicos criados pela Farsa Jato.

Como bem lembrado pelo ex-ministro da Justiça Aragão nesse GGN, a Farsa Jato festeja uma “merrequinha” de R$ 2 bilhões recuperados, que aliás, até agora só serviu mesmo para pagar a conta de luz da sede da PF, em Curitiba.

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

2 Comentários

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  1. Artigo matador.

    Prezados,

    Dá gosto ler artigos corajosos e contundentes, como  os de Eugênio Aragão e Armando Coelho Neto. Com mais elegância e valendo-se dos amplos conhecimentos jurídicos e da técnica de investigação policial eles dizem mais ou menos o mesmo que eu: a Fraude a Jato é uma ORCRIM insticucional; sérgio moro é um criminoso contumaz, assim como o são vários delegados e agentes da PF e  procuradores do MPF que integram a mesma ORCRIM.

    Armando vai mais longe e mostra que o STF também é ator do golpe de Estado. Armando Coelho Neto mostra que a burocracia estatal que se associou em ORCRIM, para aplicar o golpe, é parceira e cúmplice das quadrilhas políticas que tomaram de assalto o governo federal, depondo a Presidenta Dilma. 

    Armando Coelho Neto, assim como a maioria dos cientistas sociais e políticos, jornalistas e analistas de boa índole  e a parcela mais bem informada, atenta, onbservadora e crítica da sociedade, não dá colher de chá para os golpistas.

    Como tenho escrito há mais de um ano, os golpistas têm a fôrça e o aparato de Estado, para cometer violências institucionais e mesmo físicas, reprimindo movimentos populares, sociais e de categorias profissionais que saem às ruas para protestar. Mas eles perderam a narrativa histórica do golpe; o mundo sabe que o Brasil sofreu um golpe de Estado, que um governo legítimo foi derrubado e no lugar dele foram colocadas quadrilhas políticas de saqueadores, servis ao alto comando internacional- que fica nos EUA. O mundo e as pessoas esclarecidas (intelectuais, estudiosos, jornalistas, analistas) sabem que as oligarquias plutocráticas, escarvocratas, cleptocratas, privatistas e entreguistas estão irmanadas e servis ao alto comando internacional. O desmonte do Estado brasileiro e a entrega dos setores estratégicos às multinacionais estrangeiras é evidente. 

    Os criminosos da Fraude a Jato sabem que a História será implacável com eles; sérgio moro, procuradores do MPF que integram a Fruade a Jato, agentes e delegados da PF que integram a mesma ORCRIM, assim como a PGR e o PGR, além dos ministros do STF, todos eles, têm plena consciência dos crimes de lesa-pátria, lesa-soberania e traição à pátria que estão cometendo, além do crime já consumado, que foi a derrubada do governo legítimo da Presidenta Dilma Rousseff.

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