Vladimir Safatle: o resultado do julgamento e a luta contra a corrupção

Da Folha

Como matar um julgamento
 
Vladimir Safatle
 
Na última quarta-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu dar continui- dade ao procedimento jurídico do chamado “mensalão”, abrindo as portas para a revisão das sentenças de vários condenados.
 
A reação popular a isso foi mínima, o que parece demonstrar um descolamento entre o interesse popular e os desdobramentos do julgamento. Há de perguntar a razão.
 
Talvez fosse o caso aqui de lembrar que o resultado do julgamento foi inicialmente saudado como capaz de elevar o patamar jurídico de luta contra a corrupção. Alguns acreditaram que, a partir dele, abria-se uma jurisprudência capaz de facilitar a criminalização de práticas cotidianas de assalto ao bem público. No entanto nada disso aconteceu.
 
Depois de julgada a fatia do escândalo envolvendo membros do governo e do Partido dos Trabalhadores (PT), era de esperar que a nossa suprema corte se voltasse com sede de justiça à ou- tra ponta do problema, en- volvendo os membros do PSDB e seus consorciados. Esta seria uma bela maneira de mostrar que os juízes não estavam agindo motivados pela mera felicidade de se transformarem em celebri- dades midiáticas, mas por um desejo imparcial e apartidário de justiça.
 
Ao que parece, eis aí um ledo engano. Senão como explicar a lentidão inacreditável e a peculiar discrição que marcam o julgamento do outro lado do escândalo (alguém realmente lembra dele)?

 
Essa parcialidade matou tudo o que o julgamento poderia representar. Assim, do ponto de vista de sua potência política, ele perdeu completamente seu interesse.
 
Na verdade, quem mais ganharia com um desfecho completo do problema do mensalão seria uma esquerda brasileira renovada. Pois ela conseguiria se livrar da chantagem dos que procuraram transformar toda tentativa de julgar os erros e a corrupção de certos grupos governistas em luta ideológica.
 
Ela também poderia ver selado o reconhecimento de que os dois maiores consór-cios de poder dos últimos 20 anos tinham se afundado nas mesmas práticas, o que colocaria de maneira mais evi- dente a necessidade urgen- te de rever os impasses reais que corroem a carcomida política brasileira. Entretan-to, mais uma vez, nada dis- so aconteceu.
 
Que ao menos fique a lição de que nenhuma nova invenção democrática neste país será possível sem um processo amplo, geral e irrestrito de combate à corrupção, no qual o último mensaleiro petista será, enfim, enforca- do nas tripas do último mensaleiro tucano.
Redação

9 Comentários

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  1. Alimentando a Farsa

    Com essa matéria, o professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, está alimentando uma farsa.

    Sugiro que o professor assista ao vídeo, disponível no YouTube, desenvolvido pelo jornalista Raimundo Pereira.

    Neste assunto, o professor Safatle está mais à direita do que Ives Gandra…

  2. “Pois ela conseguiria se

    “Pois ela conseguiria se livrar da chantagem dos que procuraram transformar toda tentativa de julgar os erros e a corrupção de certos grupos governistas em luta ideológica.”

    Os próprios argumentos dele mostram quem transformou o julgamento em luta ideológica. Trata a reação como se fosse a ação em si.

    No trato da política e do “caixa dois” ele pode ter razão ao dizer que os dois partidos agiram de forma parecida, mas numa análise mais profunda, com base em todos os fatos trazidos à tona recentemente pelos livros “Privataria Tucana” e “O Príncipe da Privataria”, pela “lista de Furnas” e outros, o dano causado ao país pelo psdb e seu consórcio não tem comparação. 

    A diferença é a repercussão. Esta pode colocar um ex-presidente (sem apoio popular) na ABL, enquanto demoniza outro (que tem o apoio da população). A demosntração da diferença de força entre a tão falada “opinião pública” e a “opinião publicada”.

  3. AP470 passa.

    O mensalão tem começo, meio e fim.Chegamos  nele, já não mais existe interesse midiático, o final da novela foi desgradável a rede grobo perdeu ibope. E o batbarbosa? Ficou civilizado? Fucks virou gente fina?Gilmar deixou de ser um jagunço de Matogrosso? As mininistras criaram coragem? O certo é que apareceram fatos novos. Paulo Moreira Leite escreveu um belo livro ” A outra história do MENSALÂO “. Ela é muito mais fiel aos fatos que o enredo da grobo-stf. Palmério Doria lançou seu livro ” O PRÍNCIPE DA PRIVATARIA” , leitura obrigatória para quem pretenda conhecer fatos da história  recente, que até ajudam o conhecimento dos porques do “Mensalão”. Aí veio o “Trensalão”, ninguém fala mais em: Cachoeira , Policarpo Civita, Demóstenes, D.Dantas, Prevaricador gurgel, …. Afinal ativismo do stf sepultou a corrupçao nacional,  juntamente com nossos heróis da redemocratização Página virada, não é Gandra? Agora vamos tratar da Dilma e sua revolta contra a banal espionagem do Obama. Por falar nisto, onde foi parar a sonegação  de 1BI dos marinhos?

  4. O último parágrafo do artigo

    O último parágrafo do artigo é para ser levado a sério?

    Se for, tenho a declarar que é falacioso, típico da moralidade burguesa que assalta parte da esquerda brasileira, uma espécie de esquerda “pilatos” que lava as mãos na defesa diante dos que fazem política no Brasil a favor dos menos afortunados e se coloca no patamar dos mais honestos, dos mais justos, dos mais equilibrados, mas comem o alpiste na mão da direita direitinho.

    Como é esse processo geral, amplo e irrestrito de combate à corrupção? Isso me lembra algum general de 64 falando. E o que vem a ser uma nova invenção democrática? Na questão do enforcamento pelas tripas, poderia também se pensar na inclusão de alguns intelectuais, ou não?

  5. [ Pois ela conseguiria se

    [ Pois ela conseguiria se livrar da chantagem dos que procuraram transformar toda tentativa de julgar os erros e a corrupção de certos grupos governistas em luta ideológica.] Qunao não houver corrupção de nenhum outro, petista também não se meterá com isso. Mas ter que acabar de todos e não só de petista

     

     

  6. SINGELA HOMENAGEM A FHC. O PIONEIRO NAS ARTES DA MENSALIDADE

     

    FHC é com todo mérito, o pioneiro. Ao criar e operar, com pleno êxito, um robusto mensalão. Para tal, contou com a colaboração de seu “pau pra toda obra,” o engenheiro e mestre de obras Serjão. Quando empreendem comprar parlamentares por 200.000 pilas por cabeça. Obtendo-se assim, cumprir o rumoroso estupro da constituição, para ao cabo, ser reeleito e completar o desmanche do patrimônio público do qual se comprometera com Washington. Ao final, todos testemunhamos, o projeto tucano tá morto, mas, seus feitores se recusam enterrá-lo.

    Na verdade, este senhor foi o mais embaçado (dissimulado) embuste produzido, já nos estertores da casa-grande, em jaboticabal. Como qualquer embusteiro, o professor sempre mourejou, abrigado sob a aba da mentira e da enganação. Sedutor trapaceiro, ou, trapaceiro sedutor. Como dizia seu parceiro ACM. A muitos, o cabra enganou, e, ainda hoje, ilude a tantos outros. O mensalão do Azeredo, tido por muitos como a origem dos esquemas de  mensalidades pra comprar votos de palamentares. Este “equívoco,” na verdade, é plantado pra agasalhar nosso personagem nas sombras, oculto, quando o jogo é sujo.

    Ociólogo diplomado, não se sabe se teve o diploma revalidado, mas, isso pouco importa para quem, sem nada entender de economia, expropriou o Plano Real do Itamar Franco, passando a o ostentar como obra de sua autoria. Bem sucedido na treita, repete o procedimento. Desta feita, se dizendo pai do filho da jornalista da Globo. Enrosco que custou elevados investimentos e noites de sono perdidas. Quando a moça, provavelmente, somente desejava uma produção independente, para tal lhe aplicando o antigo golpe da barriga. Mas, estas são as voltas que o mundo costuma dá. O muito esperto, acaba enredado em suas próprias trapaças.

    Em compensação, o homi, nunca terá seus malfeitos ao menos denunciados. Imagine, se um cabra desse, seria levado às barras de um tribunal descente em Pindorama. Vejam, que até o Yves Gandra já entrou em campo.

    Orlando

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