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Breve perfil de brasileiros ilustres – Edir Macedo, o caçador de demônios
por Sebastião Nunes
O megaempresário Edir Macedo é um megaespertalhão. Com um olho no cravo e outro na ferradura, transformou em minas de ouro suas empresas: a Igreja Universal do Reino de Deus e o Grupo Record, ambas farinha do mesmo saco neopentecostal (não confundir com protestantismo, que tem igrejas sérias e atuantes socialmente).
Produto de um Rio de Janeiro caótico e confuso, Edir Macedo alimenta o sonho – como todo extremista – de dominar o mundo, fincando as garras em vários países. O pulo do gato do megaempresário, apologista da “Teologia da Prosperidade”, foi prometer aos seguidores dupla recompensa: riqueza material na Terra (Deus não gosta de pobre) e um lote no Paraíso, sem dúvida a grande sacada do neopentecostalismo.
Duvido muito que o megaempresário Edir Macedo acredite no Deus que anuncia ou esteja preocupado com a questão: é inteligente, esperto e oportunista o suficiente para saber que Deus (ou Jesus) é só um garoto-propaganda para faturar sempre mais.
Resta saber como se divide seu rebanho de funcionários e operários. Acreditam os que pregam no que pregam? Acreditam os que ouvem no que ouvem? Ou será que uns e outros só querem ganhar seus lotes nos dois paraísos, o terreal e o celestial?
O LIVRO DO EXORCISMO
Meu assunto, porém, é mais restrito. Por que só hoje me ocorreu, não faço ideia.
Sob as vistas complacentes da Igreja Católica, o megaempresário Edir Macedo resolveu atacar, já em 1997, as religiões afrobrasileiras e o espiritismo, talvez porque naquela ocasião, 30 anos atrás, não se sentisse forte o suficiente e achasse necessário destruí-las para aumentar o próprio rebanho de fornecedores de dízimos.
Refiro-me ao livro “Orixás, Caboclos e Guias – deuses ou demônios?”, que já vendeu mais de três milhões de cópias.
O prefácio, assinado pelos “editores”, dá o tom da obra:
“Este livro denuncia as manobras satânicas através do kardecismo, da umbanda, do candomblé e outras seitas similares: coloca a descoberto as verdadeiras intenções dos demônios que se fazem passar por orixás, exus, erês, e ensina a fórmula para que a pessoa se liberte de seu domínio.”
Logo no início, o megaempresário explica quem são os inimigos:
“O povo brasileiro herdou, das práticas religiosas dos índios nativos e dos escravos oriundos da África, algumas ‘religiões’ que vieram mais tarde a ser reforçadas com doutrinas espiritualistas, esotéricas e tantas outras. (…) Hoje, com o decorrer dos séculos, um sincretismo religioso, ou seja, uma mistura curiosa e diabólica de mitologia africana, indígena brasileira, espiritismo e cristianismo, criou ou favoreceu o desenvolvimento de cultos fetichistas como a umbanda, a quimbanda e o candomblé.”
Mais adiante:
“No Brasil, em seitas como vodu, macumba, quimbanda, candomblé ou umbanda, os demônios são adorados, agradados ou servidos como verdadeiros deuses. No espiritismo mais sofisticado, eles se manifestam mentindo, afirmando serem espíritos de pessoas que já morreram (médicos, poetas, escritores, pintores, sábios etc.). Se fazem passar por espíritos de pessoas da própria família dos que se encontram nas reuniões, quando são invocadas para ‘prestar caridade’ ou receber uma ‘doutrina’.”
No capítulo “De deuses a demônios” continua o megaempresário:
“No candomblé, Oxum, Iemanjá, Ogum e outros demônios são verdadeiros deuses a quem o adepto oferece trabalhos de sangue, para agradar quando alguma coisa não está indo bem ou quando deseja receber algo especial. (…) No kardecismo e nas demais ramificações espíritas ou espiritualistas, os demônios se apresentam como espíritos evoluídos ou ainda em evolução.”
E segue na mesma toada:
“Os exus, os pretos velhos, os espíritos de crianças, os caboclos ou os ‘santos’ são espíritos malignos sem corpo, ansiando por achar um meio de se expressarem neste mundo, não podendo fazê-lo antes de possuírem um corpo. Por isso, procuram o corpo humano, dada a perfeição de funcionamento dos seus sentidos.”
No capítulo “Quem são os demônios”, continua a lenga-lenga:
“Doenças, miséria, desastres e todos os problemas que afligem o ser humano desde que este iniciou sua vida na Terra têm uma origem: o diabo. (…) Os demônios, em sua maioria, (…) atuam como espíritos sem cor, sexo, dimensões, enfim, sem corpos. Procuram seres vivos para através deles se exprimir, e o homem é o seu principal alvo.”
No capítulo “Como os demônios se apoderam das pessoas”, lemos isto:
“O fato de nunca ter ido a uma reunião espírita e de professar uma religião cristã não impede que os demônios se apoderem das pessoas. Em muitos casos, um espírito foi o ‘senhor’ do corpo do pai ou da mãe que faleceu e procura agora se apossar do filho ou da filha para continuar a sua obra maligna. (…) Há casos de demônios que perseguem várias gerações.”
Mais além, o arrecadador de dízimos tropeça no próprio rabo:
“Um despacho custa muito dinheiro. Ficamos penalizados quando vemos pessoas pobres comprando galinhas, cabritos, porcos e bifes para oferecê-los aos demônios, quando não têm condições de colocar tais alimentos na mesa para a família.”
A certa altura, e depois de desancar a mediunidade, o livro revela os “Dez sinais de possessão, num autêntico balaio de gatos:
“1 – Nervosismo; 2 – Dores de cabeça constantes; 3 – Insônia; 4 – Medo; 5 – Desmaios ou ataques; 6 – Desejo de suicídio; 7 – Doenças que os médicos não descobrem as causas; 8 – Visões de vultos ou audição de vozes; 9 – Vícios; 10 – Depressão”.
Bem lá na frente, como a cereja do bolo, salta-nos aos olhos “Os 10 passos da libertação” sendo que o primeiro passo é “aceitar de fato o Senhor Jesus como único Salvador”, mais ou menos como relata George Orwell em “1984”: entregar-se ao Grande Irmão, isto é, à salvação, ou seja, ao megaempresário e a seus funcionários coletores de dízimos, conforme ameaça no 9º passo: “Ser fiel nos dízimos e nas ofertas”, pois, “a Bíblia diz em Malaquias 3.10 que há um espírito devorador, causador de toda miséria, desgraça e caos na vida daqueles que roubam ao Senhor nos dízimos e nas ofertas. Quando Deus criou o homem, o fez perfeito e o colocou sobre a Sua criação. Deus concedeu ao homem o direito e o privilégio de administrar todos os bens na Terra, porém, com a organização do culto, exigiu a décima parte de todo o trabalho do homem. Ele fez isso para, dentre outros motivos, o reconhecermos como Senhor de todas as coisas e naturalmente nos considerarmos servos”.
E o lero-lero chega ao clímax:
“Assim, meu caro leitor, Deus é glorificado com as primícias de toda a nossa renda e os 90% com Ele valerão muito mais do que os 100% sem a Sua proteção. Dar dízimos e ofertas significa realmente amar a obra de Deus e estar preocupado em levá-la avante.”
Para terminar, o megaempresário se justifica e à sua obra:
“Você deve se apropriar de todos os seus direitos. Aproprie-se deles. Cobre de Deus aquilo que Ele mesmo prometeu. Viva uma vida vitoriosa e abundante; nunca aceite a derrota ou a desgraça.”
Para se proteger contra seus inimigos, afirma ferozmente:
“Exerça vigilância constante. O diabo e os demônios existem; eles estão ativos, prontos para tragar alguém. O diabo, nosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge, procurando alguém para devorar.”
MINHA CONCLUSÃO
Não irei discutir aqui os malfeitos do megaempresário Edir Macedo. Não vou esmiuçar as inúmeras acusações de que se safou graças à nossa tortuosa INjustica, nem ao menos a acusação de tráfico de crianças.
Basta lembrar a necessidade que tem nossa elite, seja ela política, empresarial, religiosa ou jurídica de manter em brutal ignorância a população do país. Quanto mais ignorante, melhor. Só os ignorantes e semianalfabetos acreditam em discursos desse nível e se aterrorizam com os demônios que eles apregoam.
E viva 1984 – o mundo no qual estamos mergulhados do pé ao cérebro.
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e daí nassif…cadê o texto do alexandre andrada?
Alexandre Andrada havia publicado aqui, agora ha pouco o texto “Golpe de 64 não salvou….etc” mas o texto sumiu……afinal o que aconteceu??????????
texto
Foi publicado no blog do spin e foi para o blog LN por erro. O The Intercept tem restrições à republicação de seu material. E, também por erro, não foi dada a fonte correta. Não está despublicado, só saiu do Blog LN.
Não é bem assim
“Só os ignorantes e semianalfabetos acreditam em discursos desse nível e se aterrorizam com os demônios que eles apregoam.”
Não é bem assim, não. Tem muita, muita, gente letrada, bem formada e com alguma grana que vai nessa onda.
Não é assim tão automático. Esta é uma visão meio caricata. E corre-se o risco de estigmatizar o pobre. Cuidado!
segredo do sucesso…
demônios não pagam dízimo
não seja um ou deixe de ser, pague