Morrer de amor, um conto de Caiubi Miranda

PRÓLOGO

Não sei quando decidi matá-la, mas naquele momento eu não tinha dúvida que queria fazer isso e mais, que iria fazer isso: matar a Teresa. Duas da madrugada, eu escondido no canto mais escuro da garagem da casa dela, o braço direito estendido ao longo do corpo, o 38 engatilhado na mão, dedo no gatilho. Mal respirava para não fazer barulho. Quando ela entrou na garagem acho que até fiquei invisível de tanto medo de ser visto.

Eu sabia o que ia acontecer agora, acompanhara muitas vezes essa rotina. Ela iria desligar o carro, bater a porta e viria até o porta-malas do Honda Civic prata para pegar a mochila com o notebook. A luz do porta-malas se acenderia ao ser aberto e seria o momento em que eu descarregaria nela o 38 que estava firme em minha mão. Agora era esperar, 30 segundos, um minuto no máximo!

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Eu sabia porque me apaixonara por ela e como esse amor transformara-se em ódio mortal. Na verdade, agora sei que não me apaixonei mas fui seduzido por ela.

Vivia um momento especialmente difícil na minha vida. Tinha sido demitido de um cargo de alto executivo numa das maiores multinacionais atuando no Brasil mas, nem por isso, tinha uma reserva financeira que duraria muito tempo. Eu sabia que seria difícil arrumar um novo emprego mesmo reduzindo pela metade minha remuneração. Outro caminho que acalentava era abrir uma consultoria na minha área de atuação. Eu pensava, então, que era um dos maiores especialistas do país e que tinha um vasto network profissional obtido em mais de 25 anos atuando em grandes corporações. Esse era o caminho que me parecia mais promissor.

A minha vida amorosa e familiar também estava um desastre. Depois de trinta anos de casados eu e minha mulher chegamos à conclusão de que devíamos nos separar: não tínhamos mais nenhuma convergência em nada, nossas brigas e discussões eram casa vez mais frequentes, mais acirradas e as ofensas de parte a parte cada vez mais doloridas. Mas a operação “separar” era complicada tínhamos os três filhos na universidade morando todos conosco. Não haveria mais entrada regular de recursos financeiros e as reservas não eram suficientes para duplicar os gastos domésticos. Na prática seria transformar os cinco carros que a família tinha em apenas dois mas teríamos necessidades de duas empregadas domésticas ao invés de uma. A rigor, na ponta do lápis, a separação era inviável.

Eu vivia esse inferno quando apareceu a Teresa na minha vida. Na verdade, ela era uma amiga da família de muitos anos, até com certo parentesco distante, não consanguíneo. Era uma mulher 10 ou 12 anos mais jovem que eu, bem posicionada financeira e profissionalmente e sempre solidária conosco, levando-nos à sua casa de praia para relaxar um pouco, indo jantar ou num happy hour com a família com uma certa frequência. Era uma mulher elegante mas não era bonita: magra como uma vara de pescar e com o rosto cheio de marcas de espinhas remanescentes da sua adolescência.

Pois bem. Certa tarde ela me ligou no trabalho e convidou-me para comermos uma pizza, só nós dois, e conversarmos. Isso foi sugestão da minha mulher que achava que a Teresa poderia, de alguma forma, me ajudar na questão do trabalho.

Marcamos, então, de nos encontramos às 20 horas numa batataria na rua Joaquim Távora, na Vila Mariana. E, junto com as batatas tomamos um, dois, três, quatro e cinco uísques cada um… Lá pelo terceiro, eu, por baixo da mesa, naturalmente, encostei minha perna na dela e ela correspondeu ao meu assédio.  Dez minutos depois, estávamos de mãos dadas e eu acariciava delicadamente seu rosto dizendo como era ela bonita. Saímos da batataria e, enquanto esperávamos o carro, ela simplesmente agarrou-me com força, apertando meu corpo contra o dela e emitindo sons de uma mulher prestes a ter um orgasmo. E foi o que aconteceu, relatou ela quando entramos no carro.

Por sorte, a casa dela era a 5 minutos da batataria e quando chegamos lá estávamos ainda com o sangue fervendo. Mal tivemos tempo de tirar a roupa e nos engalfinhamos num louco amor que durou até metade da madrugada. Eu adorei, fui para casa leve e com a certeza que tinha tido a melhor relação amorosa de toda minha vida.

Esse foi o capítulo do assédio e, pelo que leram, hão de concordar que foi ela quem me seduziu e não o contrário.

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No dia seguinte, ainda extasiado pela maravilhosa noite de amor, a primeira coisa que fiz foi ligar para ela e ela não atendeu. Nem essa e nem uma das 800 ligações que fiz no decorrer do dia. Quando sai do trabalho passei pela casa dela. Ela não estava.

No dia subsequente, liguei logo que acordei e ela, para minha surpresa, atendeu no primeiro toque. E foi direto ao tema. O que aconteceu conosco foi muito sério, disse ela, e estou muito confusa e preocupada. Podemos almoçar juntos para conversar? Marcamos o restaurante e o horário e não falamos mais nada.

Telefonei para minha secretária falando que estava doente e não iria trabalhar. Mas, para consumo doméstico, sai normalmente para o trabalho, terno, gravata e pastinha de executivo. Fiquei zanzando de carro pela Vila Mariana onde ficava a churrascaria sugestivamente chamada Prazeres da Carne e uma hora antes da hora marcada fui sentar no bar do restaurante. Pedi uma cerveja para passar o tempo mas a estava insossa e troquei-a logo por um uísque. Duplo, bastante gelo. Este sim me caiu bem e colocou meus pensamentos em ordem.

Era de fato uma situação delicada. A Teresa era amiga da minha família, passava os natais em casa, usava minha mulher como sua confidente, tínhamos parentes em comum… Não era aceitável, nem de bom senso, era desrespeitoso com todos ter um caso amoroso. Mas tudo isso, de repente, parecia completamente irrelevante diante da delícia daquela noite de amor, nada valia mais que aquilo… Ou valia? Aquilo era só sexo, passava, sussurrava-me o anjo bom. Talvez ele estivesse certo mas se eu pudesse tê-la pela menos mais uma vez…

Garçom, mais um uísque. Bastante gelo…

Com o novo uísque, veio a minha decisão final: aceitaria tudo, todas as condições que ela colocasse e a decisão que tomasse desde que ela se topasse ir comigo mais uma vez para a cama. Mesmo que fosse a última.

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Exatamente no horário marcado ela surgiu na porta do bar. Resplandecente, seu brilho reverberava nos espelhos e cristais do bar. Não era mais aquela magrela sardenta que eu tinha na memória, era agora uma mulher bonita, esquia, alta, maquiada com cuidado, impecavelmente elegante. As mãos compridas que recebi entre as minhas, unhas longas, também impecavelmente esmaltadas.

Puxei a cadeira para ela se sentar e enquanto ela fazia o pedido ao garçom – iria beber uma vodka com gelo moído e umas gotas de menta – encostei minha perna na perna dela e senti a reciprocidade. Parecia um sonho, eu teria uma tarde de amor que seria tão maravilhosa quanto fora a noite anterior.

Como era de costume, ela foi direto ao assunto: não queria carregar nos ombros, diante de tantas pessoas conhecidas, que ela amava, a culpa de ter desfeito o meu casamento e ter acabado com uma família que a todos parecia uma coisa maravilhosa. Por outro lado, ela não queria abrir mão de mim. E me contou que sempre fora apaixonada por mim, lembrou-me de uma semana que havia passado em meu apartamento no rio. Eu com 26 anos, mocinho bonito de Copacabana, jornalista recém-formado; ela uma adolescente magrela, cheia de espinhas. Se eu nem a notei, ela se apaixonou por mim nessa ocasião. E essa paixão permaneceu intacta, com uma brasa adormecida antes, como uma brasa recém-soprada agora, com todo seu esplendor.

E a conversa foi assim, de surpresa em surpresa para mim : ela não queria era responsável por desfazer a minha família, mas também não queria me perder. Ele me propunha ser minha amante, ser a outra. Tudo permaneceria como está – eu com a minha família, ela como o namorado que tinha – mas nos dois teríamos uma vida paralela, uma vida de amor e sexo.

Mas a parte mais surpreendente do plano estava por vir, o seu lado pragmático que daria substância e sustentação a todo resto. Como eu também estava por definir minha vida profissional, eu deveria abrir uma consultoria que era uma das alternativas em análise e, pasme, ela seria minha sócia e assim criaríamos a oportunidade de nos amarmos sem despertar qualquer suspeita.

Eu estava boquiaberto com plano apresentado por ela que, a essa altura já estava na terceira vodka e eu no quinto uísque. Sentia uma ponta de apreensão mas não podia negar que era um plano mais que perfeito.

Nesse momento ela levantou-se e disse que não tinha mais tempo para almoçar, que ia ao cinema com o namorado. Disse isso, mandou-me um beijo com a mão, virou as costas e ia saindo. Mas parou, virou-se, olhou-me nos olhos e disse, com confiança: – Pense na minha proposta e venha à minha casa amanhã às 9 horas para decidirmos o que faremos. Dito isso, retomou seu caminho para fora do restaurante, com o caminhar firme e elegante que tinha, não obstante as três ou quatro doses de vodka.

Eu fiquei absolutamente aturdido sentado na mesa sem saber como interpretar o que ocorria, sequer avaliar se a proposta era boa ou era ruim, se era um disparate ou se fazia sentido. Depois de alguns minutos, também desisti de almoçar paguei a conta das bebidas e fui para casa. Estava completamente bêbado e não sei como cheguei lá ileso. Deitei como estava e dormi o resto da tarde. Depois fiquei a noite inteira acordado, só pensando, só pensando, só pensando…

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As 9 em ponto toquei a campainha da casa de Teresa. Ela abriu uma fresta da janela do piso superior do sobrado e disse-me que entrasse e subisse. Quando cheguei ao quarto dela, vi-a completamente nua, pernas e braços abertos sobre um ededrom impecavelmente branco como se fosse a moldura do seu corpo. Era uma visão maravilhosa a ponto de deixar-me emocionado, com os olhos cheios de lágrimas. Era uma deusa.

Acho que sentindo meu constrangimento,fez um gesto chamando-me para compartilhar a cama e saciar-me em seu corpo. E tivemos uma manhã de sexo e amor ardentes.

Fomos almoçar num restaurante vizinho à sua casa, podíamos ir caminhando, mas o sexo nos deixara exaustos, preferimos ir de carro. Durante o almoço me disse que agendara para as quatro horas da tarde uma reunião como contador que iria constituir nossa consultoria e depois cuidar da burocracia fiscal. Ela não me deu essa informação de forma descuidada: parou de comer e olhou-me fixo nos olhos, com um ar de interrogação. Aquela foi a chance que ele me deu de recusar a sua proposta. Diga sim ou não agora, era a expressão do rosto dela. Eu consegui apenas balbuciar um “está bem”, Ela me olhou, deu um sorriso e afagou minha mão por cima da mesa. Pronto. Estava decidido meu futuro: teria uma consultoria em sociedade com a Teresa – que seria também minha amante – e manteria constituída a minha estrutura familiar. ‘Alea iacta est…’ diria Júlio Cesar.

As quatro horas fomos ao contador e foi fácil desenhar para ele como funcionaria a consultoria, quem tipo de clientes teríamos, que serviços prestaríamos, tudo que estava planejado na minha cabeça. Assim, não houve a menor dificuldade em elaborar o contrato social, em definir o sistema tributário e outros detalhes assim. A Teresa teria 50% das cotas e eu os outros 50%.No final do mês provisionados os impostos e deduzidas outras despesas o que sobrasse seria dividido entre eu Teresa e eu.

Como esperávamos, dois dias depois de constituída a consultoria já assinávamos um contrato com três anos de duração com um grande banco internacional. A minha parte apenas nesse contrato era equivalente ao meu salário de executivo onde eu trabalhra até então. Para a Teresa, era pelo menos cinco vezes mais do que a pensão do ex-marido. Em dois meses tínhamos quatro contratos simultâneos e isso nos rendia uma pequena fortuna todo mês. Para mim e para ela.

Mas quem trabalhava efetivamente era eu. Era eu que tinha o know how, o conhecimento do mercado, a habilidade de convencer uma platéia. Teresa me acompanhava sempre, fazia anotações nas reuniões, preparava algumas planilhas básicas, powerpoints e a administrava o fluxo da caixa da consultoria.

Em termos de importância para os nossos negócios, eu era 90% e ela era 10%. Mas na hora da divisão da grana,era metade metade.Ela sabia que era injusto, eu sabia que era injusto. Mas eu não ligava para isso. O dinheiro superava minhas necessidades financeiras e a minha necessidade de fazer amor com ela era cada dia mais intensa. Transávamos 3 a 5 vezes por dia, todos os dias. Nos intervalos, trabalhávamos. Eu estava completa e totalmente apaixonado.

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A vida dupla que estava levando me era cada vez mais incômoda. Meus princípios éticos não me permitiam mais continuar manter uma família num status falso de felicidade e, simultaneamente, manter um amor externo a essa família, um amor intenso e ardente. Eu queria ir morar com a Teresa, separar-me da minha mulher. Parecia uma coisa muito simples que acontece todos os dias: um lar desfeito por causa de uma nova paixão.

Mas a Teresa não queria nem ouvir falar do assunto. Para ela, do que jeito que estavam, as coisas estavam ótimas. Estávamos ganhando dinheiro, como sócios era natural que nos encontrássemos diariamente e podíamos fazer amor todos os dias. Por que criar um trauma para tanta gente, jogar um bomba num campo florido… Não estava bom assim?

O argumento dela me convencia. Mas apenas temporariamente: logo voltava-me o remorso de estar traindo minha mulher com uma amiga da família e estar mantendo uma vida dupla. Pensei, pensei e decidi uma via alternativa: iria desmanchar o casamento sem ir morar com a Teresa. Manteríamos em segredo nosso relacionamento, como ela queria, e eu deixaria de estar traindo minha mulher. Seria minha ex-mulher.

“Conforme pensava, tãoforme executava” como diria Guimaraes Rosa. Imediatamente arrumei uma mala básica suficiente para trabalhar alguns dias, mais algumas coisas que eu precisaria não estando em casa. Aruumei tudo no porta-malas do carro e fui atrás de minha mulher em seu trabalho.

Como já era hora do almoço, convidei-a e fomos a um restaurante na vizinhança. Contei-lhe, então, o que ia fazer. Deixá-la naquele mesmo dia, ficaria num hotel alguns dias até decidir onde iria morar. Que iria falar com nossos filhos por telefone e depois, um outro dia, voltaríamos a sentar para decidir o futuro. Esperava outra reação dela, mas ela foi seca e incisiva:  – Foi bom você ter tomado essa iniciativa, poupou-me o trabalho, já não suportava viver com você. Levantou-se da mesa, virou as costas e foi embora.

Essa questão estava resolvida. Temia choro e ranger de dentes e apenas levei um golpe na minha alta estima que, no fim, não doeu nada. Era aproveitar e liquidar de vez esse assunto. Pedi um uísque e liguei para meus filhos. Isso foi difícil mas não era exatamente uma surpresa, eles presenciavam diariamente as nossas brigas e “separação” era uma palavra que estava sempre presente. Já estava no quarto uísque. Paguei a conta e fui para o flat na Bela Cintra que eu, prudentemente, reservara.

Precisava me recompor para o encontro com Teresa, oito horas, na mesma batataria que frequentávamos, na Rua Joaquim Távora.

***

Achava que o encontro seria tranquilo. Sabia que ela não queria a marca de “destruidora de lares” mas isso passava e era um custo baixo para o benefício que teríamos: poderíamos morar juntos, não precisaríamos mais esconder o nosso amor. E teríamos muito mais tempo para fazer amor.

Ela escutou o meu relato calada, olhando para suas próprias mãos cruzadas sobre a mesa, de forma que eu não podia sequer observar suas reações ao que eu falava. Quando dei por terminado meu relato, perguntei-lhe calmamente o que tinha achado.

Ela levantou o rosto e eu levei um susto com a expressão de ódio de toda sua face. E disse de forma clara e incisiva, mas sem alterar o tom de voz: “Você é idiota?  Você me ouviu dizer alguma vez que eu te amasse? Ou que eu queria morar com você? Foi bom estar com você, ganhei muito mais dinheiro que pensava, você é boa gente divertido… Mas eu estou cansada de fazer amor com você. Você não é o pior amante do mundo mas também está logenão está entre os melhores. Posso continuar trabalhando com você, mas sem essa história de morarmos juntos. E sem mais transas, só profissional”.

Eu não acreditava no que estava ouvindo, mas ela não me deu tempo para balbuciar qualquer coisa e continuou: “Na verdade, eu não suporto mais transar com você e, pensando bem, nem quero continuar sócia da consultoria. Quero que você compre a minha parte por 25% do valor integral dos contratos que temos em andamento. E você cuida da sua vida e eu cuido da minha. Se der, continuamos amigos, mas no momento nem isso me interessa”.

Eu estava sentindo ódio dentro de mim, um ódio enorme. Era como se tivesse um vulcão dentro de mim prestes a explodir. Sem me dar tempo continuou: “Meu namorado está me esperando em casa. Eu vou pegá-lo e vamos para a minha casa em Bertioga, vamos ficar um mês lá. E quando voltarmos acho eu vamos morar juntos. Nesse período de um mês, a empregada estará lá todos os dias. Peço-lhe que retire a documentação da consultoria de lá, os contratos, notas fiscais, controles e tudo mais que você quiser. Vou lhe pedir também que você providencie no contador a mudança  no contrato social excluindo-me da sociedade e providenciando o pagamento de preço que estou estipulando: 25% dos contratos que temos em andamento”.

Rapidamente pegou a chave do carro e levantou-se para ir embora. Tentei detê-la segurando-a pelo braço com violência. Ela retirou o braço com força e esse gesto acabou rasgando a blusa que usava. Ela olhou para mim com um ódio ainda maior entrou no carro e foi-se. Eu aturdido voltei para a mesa. Um uísque me faria muito bem.

Não fazia o menor sentido o que estava acontecendo, eu precisava voltar a falar com ela ainda hoje, entender, voltar atrás, qualquer coisa faria para não deixar de fazer amor com ela. Eu não poderia viver sem isso.

Lembrei-me que havia deixado meu carro estacionado na frente da casa dela, já que tínhamos vindo à batataria no carro dela. Peguei um táxi e fui para lá. Meu carro estava mas o dela já não estava mais. A viagem à praia não era um blefe.

Durante mais de 10 dias fiquei ininterruptamente tentanto falar com ela por telefone, deitado na cama do flat com uma garrafa de uísque ao lado. O celular ela não atendia, o fixo da casa de praia era atendido pelo namorado que dizia que ela não estava e que, sim, daria o recado a ela.

Depois de 10 dias de prostração, consegui reagir e fiz a “mudança” do escritório da consultoria da casa dela para o flat. E orientei o contador para fazer a mudança no contrato social. E a cada dia que passava ia aumentando o meu ódio a ela. Ódio, ódio mesmo…

EPÍLOGO

De repente, a luz do porta-malas… Eu havia me perdido nas minhas memórias. Mas chegara a hora. Quando tirava a mochila do porta mala ela me viu e arregalou os olhos assustada. E mais os arregalou quando viu meu braço esticado, o 38 na mão sem nenhum tremor.

Mirei com cuidado e apertei o gatilho. Ouvi o estampido seco e alto, o cheiro de pólvora, o ruído da bala na face atingida, os ossos quebrando… Estava caída ao lado do carro, olhei seu rosto, não pude recolhecê-la. Dei um passso à frente, murmurei puta! e puxei o gatilho mais uma vez mirando novamente sua cabeça e novamente acertei em cheio. Se seio direto, depois o esquerdo, depois o umbigo, depois o sexo. Puta, puta, puta, puta…

Joquei o 38 no chão, abri o portão da garagem e sai andando pela rua na noite deserta…                                                             

Redação

2 Comentários

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  1. conto do caiubí

    Caraca Cadjubí, punk trash!! Adorei!! Estou escrevendo sobre o ciúme (i)mortal e um dos autores que comento é o Ernesto Sábato, do romance O túnel. Leia. Vai se identificar. beijos e saudades

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