Resenha- “ O silêncio das montanhas”, de Khaled Hosseini.

“ O silêncio das montanhas”, de Khaled Hosseini. Ed.Globo Livros, 2013

 

“Dizem que a gente deve encontrar um propósito na vida e viver este propósito. Mas, às vezes, só depois de termos vivido reconhecemos que a vida teve um propósito, e talvez um que nunca se teve em mente.”

 

Livros alçados a Best-sellers e cujos lançamentos são precedidos de meses de expectativa, com confetes non-stop da mídia, normalmente não me conquistam. Ao contrário, fico “de implicância”, tentando descobrir os perversos  truques de marketing embutidos nos lançamentos, do que pode se revelar uma leitura sem maiores predicados.

Mas confesso que quando o autor já me proporcionou momentos literários memoráveis, sou mais uma a engrossar a  fila do gargarejo.

Produzi minha cota de lenços ensopados de lágrimas com  “O caçador de Pipas”, e quase provoquei a inundação do Cerrado ao ler, na minha opinião, o ainda mais belo e tocante  “Cidade do sol”.

Por esses motivos, há 2 meses meu carrinho em uma livraria virtual já possuía o terceiro livro do médico e escritor afegão Khaled Hosseini. Obra lançada , comprada, entregue e lida em menos de uma semana.

Uma década depois de mostrar ao mundo as tragédias humanas, que unem realidades tão distantes, quanto uma caverna afegã e um subúrbio brasileiro, Hosseini novamente prova que é um grande narrador. Personagens bem construídas, tramas que se desenvolvem com ritmo e lógica, detalhes repletos de delicadeza, desfecho triste,  mas absolutamente coerente com o enredo .

A narrativa começa com uma fábula contada pelo pai aos dois irmãos que serão os protagonistas; e é o anúncio do trágico destino reservado para ambos.

No idioma persa, Pari significa fada. No livro, ela é a irmã caçula, doce e amada do pequeno  Abdullah, com 10 anos.

Tudo acontece em torno da cruel separação de Pari e Abdullah. O autor vai costurar o zigue-zague do tempo, de 1949 até 2010, para  ilustrar as lembranças, os tormentos, e os destinos de todos aqueles que, muitas vezes sem saber, deram sua contribuição para que a vida dos  protagonistas  fosse um turbilhão de desencontros.

O tio Nabi, motorista que, sem perceber, conquista o coração de seu patrão, em uma época e um país onde a homossexualidade é algo que se leva para o túmulo, em cruel silêncio.  A poeta Nila Wahdati, encurralada pela sua condição multirracial e multicultural, filha de um afegão com uma francesa, que deságua na bipolaridade, com consequências irreversíveis. Os primos Idris e Timur que, como tantos outros na década de 80, fogem de Cabul e sua guerra sem fim, para os Estados Unidos. O pequeno Adel, que está prestes a descobrir que o pai é um líder terrorista que mantém, a sangue e a bala, o equilíbrio da antiga aldeia. O médico grego Makhos de uma ONG humanitária, responsável, nos anos 2000, pelo desfecho de tudo. E, finalmente, as irmãs Parwana e Masooma, nascidas e criadas na miséria de vida para a qual as meninas desde sempre estiveram destinadas, e que são  o gatilho para a trama,  que dura 60 anos.

Mais uma vez Hosseini emociona. Fala do exílio, de partir, da separação dos que se amam, da perda de si próprio, cuja dor é mais pungente que a perda do outro.

E principalmente, mostra que os pequenos gestos, as palavras que se pretendiam inocentes, os sentimentos mais levianos e volúveis, podem modificar e destruir vidas. E nem sempre haverá tempo ou maneiras de se recomeçar. Tudo que resta, remeterá ao primeiro parágrafo da narrativa : “ vcs querem uma história? Pois eu vou lhes dar uma história”.

E eu aconselho, pela terceira vez, vale conferir a história que este sensível afegão tem para contar.

Redação

1 Comentário

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  1. Realmente O silêncio das

    Realmente O silêncio das Montanhas é um daqueles livros que merece crédito.Amei o modo que o autor escolheu de misturar e costurar as histórias como uma colcha de retalhos q levariam um dia ao reecontro de Pari com o irmão e também a maneira que ele fez cada personagem ser o principal em cada momento da trama foi incrível.

    Li os três livros do Khaled…Chorei em todos,especialmente em “Cidade do Sol”  após a partida de  Mariam. Quando Layla coloca a fita k7 pra rodar e o filme é “Pinóquio” realmente é mto emocionante…

    Espero que ele escreva ainda mais livros pra que possamos nos encantar ainda mais com as histórias que nos fazem ir além dos continentes. 

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