Aziz Ab Saber e as chuvas

Por EDSON MEDEIROS

A chuva é culpada… mas tem seus cúmplices

Do Terra Magazine

Aziz Ab Saber: Agora não adianta o governador culpar a chuva

Carolina Oms

Especial para Terra Magazine

Chove há 42 dias seguidos na cidade de São Paulo. Sobe para 70 o número de mortes causadas pelas chuvas no Estado, segundo balanço divulgado pela Defesa Civil nesta terça-feira, 2. Os temporais tiraram de casa mais de 26 mil pessoas.

O geógrafo Aziz Ab’Saber atribui à natureza sua parcela de culpa nas tragédias, mas não esquece a responsabilidade dos governantes:

– Agora, não adianta o governador dizer: ‘foi a chuva que ocasionou isso’. Ele tem que saber que há um período que vem desde dezembro de 2009 e atravessou o ano inteiro de 2010 e só vai terminar depois dos meados de março.

Desses 42 dias de chuva, a maioria deles intensificou o já caótico trânsito da metrópole, alagou ruas e interditou túneis. Ab’Saber critica a falta de planejamento das obras: “Os dois túneis que a ex-prefeita Marta Suplicy (PT) aprovou no fim de seu governo, para dizer que fez obras, no mesmo estilo de (Paulo) Maluf (PP), sem qualquer previsão de impacto”.

Professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), Ab’Saber estuda geografia há 68 anos e é considerado um dos principais nomes em atividade do país.

(…)

Os governantes estão culpando as chuvas, que realmente não tem dado trégua, mas dá para culpar somente a natureza em um caso como esse?

A natureza é culpada por causa do El Niño, é um ano anômalo, isso não tenha dúvida. Agora, não adianta o governador dizer: “foi a chuva que ocasionou isso”. Ele tem que saber que há um período que vem desde dezembro de 2009 e atravessou o ano inteiro de 2010 e só vai terminar depois dos meados de março, estamos em um verão anômalo devido a periodicidade climática.

No passado já houve algumas grandes chuvas e alagamentos, mas eram muito menores os danos, porque as cidades cresceram muito de um modo não só caótico, mas desigual. Alguns lugares têm escoamento bom e outros não têm. Um rio como o Pirajussara, tem trechos que são de canais, depois tem trechos de encarceramento, depois de encarceramentos muito fracos e depois outras obras, etc. Então o crescimento da cidade foi extensivo e diversificado, com grandes problemas quando vêm períodos de chuva forte.

(…)

O nível de água nos reservatórios do Estado também tem preocupado…

As represas que tentaram retirar água das encostas da Mantiqueira Ocidental e de outras serras deixaram terrenos baixos e menos alagados, a população foi entrando nessas faixas e os governantes deixaram. E agora essas populações tão ameaçadas pelo excesso de água dessas represas, o caso de Atibaia, por exemplo, é seriíssimo, a população estava tão desesperada que ela entrou nesses vales na frente da barragem e nunca se lembrou que a barragem podia arrebentar.

As áreas ao redor do rio Tietê tem sido cada vez mais impermeabilizadas, o Governo do Estado diz que a contrapartida das árvores retiradas da Marginal Tietê são as árvores que estão sendo plantadas ou re-plantadas nos parques lineares.

Isso não adianta nada. Isso serve para eles dizerem que eles estão trabalhando. Isso vai ter importância se houver grandes chuvas rio acima, mas as massas de água vêm de rio acima.

http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4242734-EI6586,00-Aziz+Ab+Saber+Agora+nao+adianta+governador+culpar+a+chuva.html

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador