Sebastião Salgado acredita na sobrevivência do Rio Doce

Da Agência Brasil

Sebastião Salgado diz que acredita na sobrevivência do Rio Doce

Por Cida Rezende

Natural de Aimorés (MG), afetada pelo rompimento das barragens da Samarco, Salgado cresceu às margens do Rio Doce. É dele a ideia de criar um fundo exclusivo para recuperação do rio que deverá ser constituído pelas empresas BHP e Vale, donas da Samarco.

O fotógrafo alerta ainda para a necessidade de que os recursos sejam fiscalizados pela sociedade civil para evitar que o dinheiro seja desviado para uso político. “Tenho muito medo de haver uma espécie de varejo desses fundos e quem sabe numa hora qualquer esses fundos, que deveriam ser para reconstituir uma bacia destruída, passe a ser um recurso para constituir praças públicas e ser plataforma de político. Tenho muito medo.”

De acordo com ele, o formato de gestão do fundo e de fiscalização da aplicação desses recursos ainda será definida e deverá contar com a participação de autoridades federais e estaduais, organizações não governamentais (ONGs) e universidades.

O fotógrafo defende ainda uma ação emergencial de atendimento às populações ribeirinhas que estão com problemas de abastecimento de água. “Para essa parte da população [pescadores e indígenas] vamos ter que encontrar um plano imediato. A proposta que nós temos deve ser concluída a médio e longo prazo, você não recupera uma bacia em menos de 15 ou 20 anos”, disse.

Perguntado sobre possíveis apoios internacionais para constituição do fundo de recuperação da Bacia do Rio Doce, ele disse que a questão é puramente nacional, de duas empresas, a Vale e a BHP que, em última instância, provocaram o dano ecológico. “Depois que o fundo for constituído a gente pode pensar na colaboração internacional tanto técnica quanto financeira para reconstrução da bacia”, ressalta.

Sobre a recuperação das nascentes da região, ele disse que o Instituto Terra, ONG da qual é fundador, pode começar o reflorestamento dessas áreas a partir de outubro do próximo ano, período de chuvas. “O instituto tem o maior viveiro de plantas nativas do estado de Minas Gerais e pode iniciar o plantio e a preparação dos técnicos que vão trabalhar nessa recuperação a longo prazo.”

Redação

7 Comentários

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  1. Gustavo Gindre

    “Confesso decepcionado com Sebastião Salgado e o Instituto Terra.

    Eu já sabia que ele era financiado pela Vale e que dera entrevistas contra as pessoas que criticavam a destruição do meio ambiente causada pela Vale.

    Mas, caramba, agora ele defende que, ao invés de multa, seja criado um fundo (gerido pelo governo e por empresas… quais?) para a limpeza do Rio Doce. Cacete. Tem que ter os dois. Tem que multar as empresas e obriga-las a resolver a cagada que fizeram.

    Para piorar, ele sai correndo, conversa com a Dilma e os governadores de Minas e do Espírito Santo para vender a idéia de que a única instituição capaz de gerir esse plano de limpeza do Rio Doce é a ONG dele próprio. E que ele já possui um plano pronto, poucos dias depois do ocorrido.

    Pô, a tragédia já produziu um projeto e uma fonte de financiamento. Até tu, Brutus?”

     

    1. Lendo melhor, a interpretação é outra.

      O que ele sugere é simplesmente com O DINHEIRO A SER TIRADO DE MULTAS DAS MINERADORAS QUE SE FAÇA UM FUNDO QUE NÃO SEJA DESVIADO PARA OUTROS FINS, tomando o exemplo da Secretaria do Meio Ambiente de Porto Alegre, que com compensações ambientais comprou MOTO-SERRAS, dá para ver comos são criativos os gestores públicos que poderão receber compensações ambientais a partir do desastre.

      Logo a criação de um fundo, em que as aplicações dos dinheiros das multas se tenha completa visibilidade do destino das mesmas, não me parece um absurdo como alguns acham. Não adianta impor multas e o dinheiro entrar no orçamento da união e for utilizado para amortecer juros, por exemplo.

      Em nenhum momento ele diz que este fundo deverá ser gerido pelo governo e empresas. Entretanto para operacionalizar a aplicação do dinheiro ALGUÉM deverá fazer isto.

      1. Leitura correta sua.

        A fundação Instituto Terra foi criada em abril de 1998, é bem anterior ao desastre da barragem em Mariana. Também é muito anterior ao desastre sua proposta de recuperação socioambiental da região do Rio Doce, que inclui, além do replantio da Mata Atlântica, da recuperação de nascentes e restauração das matas ciliares, um novo modelo de ocupação e produção rural.

        O fundo que a fundação propôe, em seu recente comunicado, prevê a participação do poder público em três esferas, união estados e municípios, ao lado da iniciativa privada e da sociedade civil, não está se propondo como gestora tal fundo, mas de participar como sociedade civil, o que é um direito da população e das organizações que convivem no vale.

  2. Oportunismo?

    Já tinha ouvido comentários de que o Sebastião Salgado era oportunista no pior sentido da palavra. Não dei muito crédito visto que era só o comentário de pessoas que trabalham com fotografia.

    Mas é difícil imaginar seriedade em achar que uma ONG fundada por ele tenha a capacidade técnica e operacional para dar conta de um desastre de tamanha proporção que exigirá projetos e obras grandiosas para se conseguir descontaminar uma área tão extensa. Algo bem mais complexo do que simplesmente fazer o plantio de árvores.

    Fora o aspecto de que sendo muito dinheiro a ser gasto para tal projeto de recuperação, se exigirá licitações públicas independente da ONG dele ter ou não competência para tanto.

  3. não confie em ninguém com mais de 30 anos

    Sebastião Salgado, o patrocínio da Vale e a “salvação” do Rio Doce

    entrevista que ele concedeu à Folha em 2013:

    Houve uma polêmica em Londres, em que ambientalistas protestaram contra a exposição por conta do financiamento da [mineradora] Vale. Qual é a sua opinião? Há incoerência?

    A minha opinião é completamente diferente, claro. Senão eu não estaria com a Vale “sponsorizando” (patrocinando) o meu projeto. Na realidade, nós já trabalhamos com eles há muitos anos.Quando começamos nosso projeto ambiental, começamos com a Vale. E não só com a gente, a Vale participa com a maioria das ONGs ambientalistas brasileiras. Então houve um problema que foi ela pegar 9% do investimento de Belo Monte. E como é a maior empresa privada que teve participação, eles não atacam o governo brasileiro que, na realidade, é um projeto do governo brasileiro. Isso é a Eletronorte, isso é o BNDES. É um projeto do governo brasileiro. Eles pegaram, eles sofreram um ataque direto e frontal e passaram a ser a empresa a combater. Agora, ela virou sigla internacional por causa de Belo Monte e isso para mim não tem nada a ver com o comportamento dessa empresa dentro do Brasil. É uma das empresas mais razoáveis do ponto de vista ambiental. Agora, toda mineradora destrói um bocado de terra, pô. Todo mundo tem um carro, todo mundo tem um computador, todo mundo tem um garfo em casa. Nós precisamos desses minérios para a sobrevivência. E todo mundo consome petróleo, e você precisa da Petrobrás. Que sociedade é essa que nós vamos negar o consumo básico? Onde nós somos os maiores consumidores?O Lula colocou 35 milhões de brasileiros saídos da linha de pobreza na classe média. Todos esses compraram carros, compraram televisão, compraram tudo. Tem que existir um sistema produtivo atrás disso. Acho que o sistema produtivo tem que ser o mais limpo e justo possível. Mas acho que a visão que nós temos que ter é um pouco mais coerente. Lá no nosso projeto ambiental trabalhamos com uma série de empresas. E nós temos que fazer com elas mesmo, porque se nós não fizermos com elas, não vamos fazer nunca. Então, eu acho que esse discurso, urbano, radical, também tem que mudar um pouquinho. Ele tem que ser mais compatível e coerente com a sociedade em que nós vivemos

     

    http://crimideia.com.br/miniver/?p=202

     

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