A segurança do trabalho dos repórteres de TV

No blog do Cesar Monatti

A reportagem de TV sobre o trânsito nas datas comemorativas e feriadões se transformou num padrão da produção de telejornais, para não se dizer, um clichê.

Com a justificativa de estar prestando um serviço aos espectadores, repórteres de campo se postam às margens de grandes rodovias com a fila de automóveis às suas costas e reproduzem um texto, frequentemente ao vivo, que, em essência, se repete a cada oportunidade e em todos os canais.

Afora a cansativa reiteração e o contrassenso de que o suposto “serviço” serviria àqueles que já estão lotando os carros que compõem o fundo, porque em plena era de aplicativos de tráfego via internet é pouco esperado que alguém assista TV como pré-requisito para iniciar viagem rodoviária, um tema ainda subestimado no dia a dia das profissões que não são exercidas em ambientes industriais chama a atenção de quem tem noções básicas sobre a questão: a segurança do trabalho de repórteres e cinegrafistas.

Qual é a necessidade real de expor equipes ao risco de um atropelamento por um veículo desgovernado ou que seja obrigado a usar o acostamento para recurso de manobra visando a evitar uma colisão, por exemplo?

A própria presença de pessoal e equipamentos de filmagem à beira de avenidas e estradas aumenta a possibilidade de desatenção de motoristas em função da curiosidade despertada pela atividade.

Ainda que se possa alegar que a probabilidade de ocorrência de uma situação desse tipo é pequena, o ponto principal é que o impacto, por via de regra, tem o potencial de ser fatal.

Medidas simples podem ser adotadas para diminuir esse risco, caso se entenda que imagens de estradas sobrecarregadas sejam indispensáveis, o que é, no mínimo, questionável.

Equipes de TV podem e devem buscar locais seguros, afastados do fluxo, tais como passarelas de pedestres, andares elevados de prédios, etc., para obter o enquadramento desejado.

Não parece, sob qualquer ponto de vista, ser necessário esperar até que ocorra uma tragédia evitável para que sejam tomadas providências mínimas que objetivem impedir o aumento da macabra estatística de jornalistas mortos durante o trabalho por outra razões, tais como perseguições políticas e conflitos de rua.

 

Redação

3 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Como esta o trânsito na
    Como esta o trânsito na “rodovia da morte’, ou seja, todas as.rodovias federais.

    Esse cuidado todo para falar aquele texto padrão?
    Realmente, a.imprensa.deveria parar de falar de trânsito.. É im.serviço que.não sabem fazer e nunca souberam.

  2. FOCO

    Além da insegurança gera um erro básico: desvia a atenção do telespectador para a possibilidade do repórter ser atropelado. A informação fica em segundo plano.

  3. Confraria de “operadores” de trânsito

    Eu entendo que os profissionais que se acham cuidando do trânsito formam uma quadrilha, ou melhor, uma confraria quase que religiosa e bastante ineficaz na saúde do trânsito tanto no Brasil como em muitos países.

     

    Explico: um mantra religioso, ouvido ou lido desde sempre e um pouco mais quando em feriadões é esse: “Reduza a velocidade”. Nas reportagens apontadas nesse assunto, este mantra sempre aparece. E está presente em um bocado de placas às margens das vias e rodovias e sai da boca desses pseudo-entendidos de trânsito por ocasião dessas reportagens.

     

    A lógica desses incompetentes infelizes para justificar este mantra é algo como “em velocidade zero não há acidentes, mas em velocidade x há y acidentes; portanto reduzindo x, automaticamente se reduz y”.

     

    Se essa lógica fosse realmente verdadeira, seria necessário instalar quebra-molas nas pistas de aeroportos, uma vez que os Airbus e os Boeings atingem 300 km/h para poder decolar! E um contra-exemplo dessa lógica é o limite de velocidades nas Autobahns alemãs, que é infinito, salvo em alguns entroncamentos ou em obras nessas vias, e essa ausência de limites não promove uma carnificina diária por aquelas bandas, como a que acontece no Brasil. No caso específico das Autobahns, as ditas foram projetadas justamente para aguentar trânsito de 200 a 250 km/h para automóveis. E os automóveis melhores fabricados na Alemanha aguentam tranquilamente uma velocidade de cruzeiro nessa faixa por várias horas.

     

    Ou seja, esse mantra nada mais é do que uma forma de escamotear a própria incompetência lançando a culpa por acidentes aos próprios usuários que se envolvem em acidentes. Sempre se ouve em acidentes graves, que a causa principal foi o tal pecado do “excesso de velocidade”, quando na verdade a causa quase sempre é o despreparo do condutor para manter determinada velocidade ou ainda as condições da estrada ou mesmo do veículo no local em que o acidente ocorreu. Aliás, para essa confraria, todas as estradas são trafegáveis, desde que obedecida a sinalização existente, que, por sua vez é colocada de modo a escamotear um pouco a inadequação do traçado.

    Note-se também, especialmente nas rodovias brasileiras, quando se implanta um placa de limite de velocidade, por exemplo, obrigando os veículos a reduzirem para 60 km/h, não há nenhum espaço de frenagem para atingir esta velocidade, nem a extensão deste limite imposto em metros e muito menos outro indicador de que a redução imposta anteriormente é revogada. Assim uma fiscalização pode perfeitamente se estabelecer ao lado de uma placa assim, sem permitir efetivamente a redução dessa velocidade, por exemplo de 90 km/h para 60 km/h.

     

    A partir daí, os participantes de trânsito, principalmente os motoristas são tratados como criancinhas de 5 anos de idade por essa confraria, pois temos um bocado de sinais de proibição tipicamente para esta faixa etária, como “proibido parar aqui”; “proibido entrar ali – Contramão”; “velocidade máxima xx “; “em semáforos, pare na cor do PT (vermelho), olhe na cor do PSDB (amarelo), siga na cor do PV (verde)”; “sentido obrigatório”; “exclusivo para ônibus”, “não dobre à esquerda (só no regime militar era autorizado dobrar a esquerda – sem crase, mas à força!)”; etc. O coitado do pedestre “tem que atravessar na faixa zebrada”, colocam-se cercas de currais perto de travessias por passarelas, onde o pedestre tem que subir e depois descer para atravessar a estrada, quando um carro tem muito mais energia disponível para subir e descer do que o pedestre.

     

    Reparem que esses sinais de trânsito são obrigações típicas para a criançada na escola maternal. Sem falar de quebra-molas, que é um terror de quem está com diarréia em um automóvel. Ressalte-se, claro, que essas “soluções” paliativas são bem baratas, mas costumam transferir um problema para outro logradouro.

     

    Por outro lado, também andaram surgindo uns “hereges” dessa confraria no planejamento de trânsito, sendo que um deles, já falecido, implantou um conceito de trânsito chamado “shared space”, no qual, não há semáforos, não há calçadas, não há placas de sinalização, nem limites de velocidades, muito menos aqueles obstáculos idiotas, como vasos de plantas ou pinos ou o “gelo baiano”, nem quebra-molas, nem nada. Aqui (em inglês):
     

    http://en.wikipedia.org/wiki/Shared_space

    temos uma descrição desta “heresia”. Em suma, trata-se de colocar em todos os participantes do trânsito, sejam pedestres, motoristas, etc. em posição de colaborarem mutuamente entre si. Isto torna todos os participantes muito mais cuidadosos quando trafegam por estas ruas. Onde foi implantado este conceito, o índice de acidentes foi praticamente reduzido a zero. Houve até o caso de uma cidade alemã, pequena, cujos responsáveis pelo trânsito suprimiram numa madrugada todos os sinais de trânsito da cidade, e com esta medida acabaram com os acidentes de trânsito na mesma.

     

    Eu imagino ainda que essa confraria possui como uma grande aliada no Brasil naquelas “autoridades” dedicadas a permitir a construção de monstrengos aglomerantes urbanos, como espigões comerciais ou residenciais. Afinal de contas, cada prédio construído onde antes havia uma construção apenas térrea, multiplica (isso mesmo multiplica) por 10 ou até mais os novos usuários a frequentarem aquele mesmo local. Isto obriga as prefeituras a abrir novas vias para poder acomodar o trânsito multiplicado, não é? E assim voltamos à confraria que tem que atuar novamente com suas soluções arcaicas nesse quarteirão agora tomado de espigões.

     

    Essas vias de maior trânsito custam um bocado de dinheiro em desapropriações e implantação aos cofres municipais, e atendem o tráfego por apenas umas seis horas por dia, no início e no fim do expediente comercial. Fora deste expediente, muitas vezes é possível até fazer um piquenique na via, de tão pouco é o tráfego. Ou seja, desperdício de dinheiro público, igual a ineficiência.

     

    E se fossemos colocar todos os integrantes essa confraria no olho da rua e implantarmos o shared space em todas as cidades, será que nossa carnificina diária no trânsito (500.000 mortes/ano) se reduziria? Com a palavra, os membros dessa confraria. Não vale defender a confraria!

     

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador