As mudanças trazidas pela Internet

 

Do Estadão

Internet e a previsão de desaparecimento

Surgem sempre novos predadores da mídia e da comunicação, mas muitas espécies normalmente se adaptam às mudanças, em vez de desaparecer

Parece que a vida no mundo da mídia e comunicações está se tornando cada vez mais perigoso. As previsões de desaparecimentos acumulam-se. Telefonemas, e-mails, blogs e o Facebook, segundo especialistas do setor, caminham na direção do túmulo. Na semana passada, a revista Wired proclamou: “A Internet está morta.”

Mas a evolução – e não a extinção – sempre foi a regra básica da ecologia midiática. Surgem sempre novos predadores da mídia, mas muitas espécies normalmente se adaptam, em vez de desaparecer. Esta é a mensagem de dois teóricos importantes da comunicação e da história, Marshall McLuhan e Neil Postman. A TV, por exemplo, foi considerada uma ameaça ao rádio e ao cinema, mas ambos evoluíram e sobreviveram.

Mas, para especialistas, mesmo que essa evolução padrão continue intacta, há algumas diferenças fundamentais na ecologia da mídia. Segundo eles, se retirarmos essa hipérbole “morte da” das previsões, ficarão, principalmente, comentários sobre o impacto provocado pelas rápidas mudanças e as inovações que se acumulam no campo da mídia e das comunicações na era da internet. E o resultado disso é a proliferação de formas de mídia digital e padrões de consumo de mídia que mudam ao ritmo veloz. Assim, o motor da evolução fica cada vez mais acelerado, abrindo a porta para novas possibilidades. “As mudanças têm sido qualitativas”, diz Janet Sternberg, professora da Fordham University e presidente do instituto de pesquisa Media Ecology Association.

É o caso, por exemplo, de redes sociais como Facebook, Twitter e outras – que são híbridos de comunicação, distribuição de mídia e expressão pessoal pura e simples. E novos aparelhos digitais versáteis – como o iPhone, os telefones inteligentes Android, os iPod e os iPad – promovem ainda mais a inovação e a experimentação.

As adaptações acompanham esse processo. Calouros de faculdades não usam mais relógios e sim celulares para consultar a hora – e raramente utilizam e-mails. Em vez de e-mails, os jovens preferem se comunicar pelas redes sociais, por mensagens instantâneas ou de texto para celulares, que seus amigos vão responder com mais rapidez.

Os americanos estão usando menos seus celulares. Quando falam, as conversas são mais rápidas. Isso, em parte, reflete a mudança no uso dos celulares, que funcionam hoje mais como computadores móveis pelo qual a comunicação é feita via mensagens escritas. As pessoas usam cada vez mais mensagens de texto; as conversas telefônicas são reservadas para diálogos mais importantes, complicados.

Amplas faixas da blogosfera estão ficando ociosas, abandonadas. Mas, de novo, este é um sinal do comportamento que vai se adaptando a novas formas de comunicação. Grande parte dela nos blogs pessoais, onde as pessoas escrevem e postam fotos suas, dos filhos e até de seus animais, tem a ver com “sociabilidade” e elas hoje estão mudando para redes sociais como o Facebook, diz John Kelly, da Morningside Analytics, empresa de pesquisa. Por outro lado, os blogs profissionais, direcionados para consumo público e centralizados em assuntos como política, economia e notícias estão prosperando, observa ele.

A expansão dos aparelhos móveis, sejam os telefones inteligentes, os iPads ou os Nooks, levou à criação de aplicativos de software específicos que facilitam a leitura de um texto ou assistir um vídeo em telas menores do que as dos PCs. Assim, as pessoas não estão usando essa mídia móvel por meio de um navegador como Internet Explorer ou Firefox, um ponto importante levantado no artigo “A internet está morta”. Mas livros, revistas e filmes vistos num iPad, por exemplo, são baixados pela internet. E de fato, a Wired acrescentou no artigo a expressão “vida longa para a internet”. Similarmente, o argumento usado para provar um possível colapso do Facebook é que é um website excessivamente pesado, ao passo que os aparelhos móveis exigem designs simples, de fácil uso.

Inovação e experimentação com capacidade de adaptação, essa é a regra num período de mudanças bruscas que poderiam ser vistas como o equivalente, na era digital, à agitação produzida pela introdução da imprensa escrita. A evolução da mídia, naturalmente, causa vítimas. As mais frequentes são os meios de distribuição e armazenamento, especialmente os físicos, que podem ser transformados em “bits” (menor unidade de transferência de dados) digitais. A película fotográfica está superada, mas as pessoas estão tirando mais fotos do que nunca. Os CDs não predominam mais no campo da música, à medida que ela está sendo distribuída cada vez mais online. “Livros, revistas e jornais são os próximos”, prevê Nicholas Negroponte, fundador da MIT Media Lab. “O texto não vai desaparecer, nem a leitura. É o papel que vai sumir.”

Os gostos culturais também têm uma grande influências, às vezes provocando mudanças inesperadas nessa dança da evolução. Toca-discos e discos de vinil pareciam completamente extintos, mas foram revividos pelos audiófilos, incluindo DJs que criaram novos sons e ritmos – e fizeram do uso do toca-discos uma arte.

O rádio é um sobrevivente clássico dessa evolução. Nos anos 30 e 40, era o meio de entretenimento básico das famílias americanas. Na década de 50, a televisão arrancou esse papel do rádio. Mas ele se adaptou, mudando para formatos de programação mais curtos, transformando-se em música de fundo.

A capacidade de concentração evoluiu e diminuiu, como os mais habilidosos manipuladores da mídia podem atestar. “Adoro o iPad”, admite Negroponte, “mas não consigo me concentrar na leitura de uma longa narrativa e estou sempre tentado a checar meus e-mail, olhar as palavras por alto ou ficar clicando nos links”. E as pessoas, exatamente como a tecnologia, influem nessa agitada ecologia da mídia. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

É ESPECIALISTA EM TECNOLOGIA 

Luis Nassif

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