Desde o dia em que li o artigo Alhos com bugalhos [transcrito abaixo] do Merval Pereira, o “Imortá da ABêEle”, venho arrumando um tempinho para tecer algumas considerações. Eis que agora o tempo surgiu.
Na verdade, são dois tipos de considerações: a primeira diz respeito ao discurso do “sinhô Mervá imortá”; a segunda se refere a alguns aspectos da estrutura do texto do “Sinhô Dotô Mervá Imortá Perêra” [Não costumo discutir ideias focando nos “erros” que sinalizam para o “mau uso” da variante da língua portuguesa dita padrão. Com Mervá, no entanto, tenho uma certa “sastisfação”. É o meu protesto contra uma ABL que perdeu o norte de seus propósitos. É a minha solidariedade ao escritor Antônio Torres cuja vaga foi vergonhosamente usurpada pelo ordinário “escritor” que é o Mervá.].
“Apois” bem, “vamu lá!”:
O raciocínio “mervaliano” – sobre o raciocínio da presidentA Dilma – apresenta, de início, um equívoco – o próprio Merval tratará de escancarar o equívoco. Escreve ele, o Mervá, que a forma como a presidentA Dilma vê a questão dos direitos humanos, de um modo amplo,
“[…] faria até sentido se ele [o raciocínio de Dilma] comparasse regimes políticos semelhantes.”.
[“Ô, misera!”] Quando a presidentA Dilma fala de direitos humanos – considerando todo e qualquer regime de governo -, ela o faz na perspectiva de que o respeito aos direitos humanos deva ser imperativo em qualquer forma de governo e, sobretudo, naquela forma dita democrática, caso dos EUA.
Mas esse não parece ser um preceito a ser seguido pela infame potência mundial. Basta passar um pano rápido nas investidas estadunidenses mundo afora para constatar que clamar por direitos humanos é uma conveniente bandeira… quando se trata dos interesses do governo de Washington.
Se Cuba, cujo sistema governamental ganha “publicidade jornalística” como “ditadura” – concordo, em tese, com essa denominação -, não respeita os direitos humanos, as democracias – como a estadunidense – deveriam, imperativamente, respeitá-los. Não é o que se vê.
Mais adiante, o Mervá tenta iludir, com seu “raciocínio” pouco consistente, o leitor. Escreve ele que o sistema judiciário das democracias [Faz alusão, especificamente, aos EUA, pois, no Brasil, a coisa não é tão eficaz assim. Mervá deveria dizer por qual motivo isso ocorre, mas, covardemente, não diz.] funciona e pune os que mostram desvio de conduta no quesito direitos humanos.
O poder judiciário da “democracia” estadunidense pune os transgressores, mas o Estado continua impune. Vale ressaltar ainda, Mervá, que as punições servem de lenitivo, de “prestação de contas” ao mundo e se dão no âmbito interno desta sociedade. Lá fora [Iraque, Afeganistão, Paquistão…], as atrocidades não só continuam a acontecer, como são estimuladas pelo belicismo dos EUA.
De fato, Mervá, não dá para comparar regimes autoritários com sistemas democráticos de governo, mormente, quando, nestes últimos, os direitos humanos são relegados a um discurso de conveniência. E, aqui, parece-me que quem está misturando alho com bugalhos é o “Sinhô, Dotô Mervá”, porquanto não atentou para a amplitude da fala da presidentA e a implícita crítica que ela faz ao comportamento “democrático” de alguns países, incluindo todos aqueles que se alinham às diretrizes estadunidenses.
Um dado interessante no texto do Mervá é a referência sutil a ações governamentais que desrespeitam – quer por ação efetiva, quer por omissão – os direitos humanos. Ele cita a realidade das prisões brasileiras e as intervenções arbitrárias em comunidades pobres, mas não nomeia quem capitaneou recentemente – em conluio com o judiciário – o flagrante desrespeito aos direitos humanos em Pinheirinho. Fosse um prefeito ou um governador do PT, seus nomes apareceriam em letras garrafais. Como é Geraldo Alckmin e um prefeito do PSDB, nada a declarar… apenas vagas alusões.
Já quanto à estrutura do texto, só me resta dizer que sinto vergonha. Vergonha em saber que um eleito para a ABL apresenta dificuldades enormes em engendrar algumas linhas. Parece faltar ao “Sinhô Dotô Mervá” a habilidade estilística na construção de períodos articulados. O enxame de conjunções aditivas [E a imprensa internacional… / E geralmente… / …e mancharam o nome do país… / …e sistema judiciário costuma atuar com rigor. / …e onde dissidentes morrem de fome…] ferroam o leitor. Mervá, a eliminação de algumas dessas conjunções daria mais leveza ao texto, hômi! Vêji isso lá com os doutô da ABL. E o relativo “onde”? Ele aparece três vezes! [“Ô, mininu danado esse Mervá!”].