Jovens trabalhadoras brancas, por Geraldo Hasse

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

“Os jornalistas brasileiros são uma categoria profissional predominante feminina, jovem e branca”. Assim começa o livro Perfil do Jornalista Brasileiro (155 pag., Insular, Florianópolis, 2013), que se baseia numa pesquisa nacional feita no segundo semestre de 2012 junto a 2.731 profissionais por estudantes e professores da Universidade Federal de Santa Catarina. Embora a pesquisa seja um trabalho acadêmico, o resultado final é uma obra engajada na análise das mudanças no mundo do trabalho no contexto da
globalização da economia por conta do avanço do neoliberalismo.

Já na introdução os autores Jacques Mick, jornalista-doutor em sociologia política, e Samuel Pantoja Lima, jornalista e doutor em engenharia de produção, pegam pesado, lembrando que nos últimos 20 anos a profissão de jornalista sofreu profundas metamorfoses determinadas por transformações estruturais do capitalismo que reconfiguraram as possibilidades de atuação dos trabalhadores da área de comunicação social.

Para fundamentar seu trabalho, mezzo acadêmico, mezzo jornalístico, Mick e Lima referem-se a três estudos anteriores sobre os jornalistas:

1 – Em 1993, no livro O Mundo dos Jornalistas (Summus, São Paulo), Isabel Siqueira Travancas mostrou que os jornalistas se identificavam tanto com seu ofício em jornais e emissoras de rádio e TV que aceitariam sacrificar outras relações sociais, inclusive a vida familiar, em favor do jornalismo.

2 – Em 2002, Alzira Alves Abreu (A Modernização da Imprensa: 1970-2000, Zahar, Rio) caracterizou a velha guarda jornalística, situada em postos estratégicos da imprensa, como dotada de envolvimento político e ideológico, agindo em função de valores e utopias. Com as mudanças ocorridas a partir dos anos 1970, os jornalistas teriam abandonado o romantismo e a ideologia, passando a reconhecer-se mais como técnicos nas diversas especialidades existentes.


3 – Em 2008, Virginia Pradelina da Silveira Fonseca, em Indústria de Notícias – Capitalismo e Novas Tecnologias no Jornalismo Contemporâneo (Editora da UFRGS, Porto Alegre), concluiu estar em
curso “uma mudança de perfil, de valores, de identidade e de representação do jornalismo e do jornalista na sociedade”. As mudanças seriam decorrentes de movimentos de restruturação social condicionados pelo desenvolvimento das tecnologias e pela expansão do capital.

Uma das evidências dessa metamorfose seria a cristalização dos conceitos de:

“jornalista multimídia”, apto a exercer várias funções full time em mais de um veículo de comunicação;

“produtor de conteúdo”

“assessor de imprensa/gestor de imagem”

“assessor de relações públicas/gestor de crise”

“professores de jornalismo”, cujo número passou de 1500 (em 1990) para 6000 (em 2010)

O número de cursos de comunicação subiu de 18 até 1970 para 317 até 2010, inundando o mercado com uma massa de profissionais que escapam à capacidade de observação dos sindicatos e do Ministério
do Trabalho.

Segundo a pesquisa, a maioria dos jornalistas brasileiros tem até 30 anos. Apenas 0,4% têm mais de 64 anos. Houve uma juvenilização da profissão. As mulheres são 63,7%. 75% do total são filiados a
sindicatos. 60% são solteiros. 51% têm religião. 71% são favoráveis à criação de um órgão superior, tipo ordem dos jornalistas. 49% declaram-se de esquerda. 61% recebem até 5 salários mininos. 60% dos que trabalham na mídia têm carteira assinada.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Tem mais caroço nesse angu

    Só faltou dizer que essas jovens jornalistas apresentam a vantagem diferencial de poderem ser estrategicamente alocadas como isca sexual para suas “fontes” masculinas.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador