O futuro dos jornais e a cobrança pelo conteúdo online

As poucas famílias donas dos jornais brasileiros, seus executivos, estiveram reunidas com patrocínio de sua entidade, a ANJ, para mais uma vez discutir uma saída para seus dilemas. Pelo que foi publicado, são eles:

1)    A receita hoje dos jornais brasileiros gira em torno de 90% do arrecadado em publicidade no papel.

2)    O mesmo modelo aplicado às mídias digitais, tablets, smartfones, web, ainda não resultou em mudança alguma, apesar já de um bom tempo em investimentos.

3)    Daí, mais uma vez querem de todo o jeito cobrar pelo conteúdo, e buscaram algumas vozes para incentivá-los neste rumo.

O que foi apresentado como modelo, as posições defendidas, o festival de platitudes, estão longe de apresentar uma saída. De uma maneira geral, muitos comentaram em apostar em qualidade, aprofundamento das reportagens, novos conteúdos. Mas como? Ao mesmo tempo, contraditoriamente, foi falado em redução de custos, mudança na qualidade do papel, diminuição do tamanho dos jornais. Será que imaginam matar logo o jornal em papel e cair no até agora incerto mundo digital, com portas fechadas para que cada um escolha o seu jornalão, como acontecia no passado? Algumas contradições despontam claras:

1)    Na internet não há mais o conceito da marca. Muitos acessos são feitos via mecanismos de busca. O novo leitor perdeu a fidelidade, há uma ampla concorrência inexistente no passado. Podemos buscar um jornal de outro país, uma agência oficial de notícias, blogs, mídia social, são os novos hábitos,

2)    Imaginam eles que têm poder de oligopólio para que todos, simultaneamente, fechem as portas e impeçam a circulação de notícias. Além da arrogância em imaginar sua força, chega a ser pueril fantasiar sucesso no projeto. Vamos a um simples raciocínio: a indústria fonográfica foi à lona quando copiavam byte a byte os produtos que ela intermediava. No caso dos jornais, a situação é muito mais frouxa. Basta que blogueiros, novos sites de notícias, tenham assinaturas e comentem o conteúdo. Não há direito autoral, aqui ou em qualquer lugar do planeta, que proíba novos textos, comentados, acrescidos, a partir deste conteúdo. Teriam que mudar nossa Constituição. Será o maior gol contra desta gente, certamente o fim da linha.

Mas nada é mais esclarecedor para entendermos o maior dos dilemas dos jornais do que as palavras de um de seus especialistas, publicado no site da própria ANJ:

Pesquisas do IBOPE indicam que os jornais perderam cerca de dois milhões de leitores entre 2002 e 20012. Ao mesmo tempo, houve um aumento de 60% nos acessos a sites de notícias, acompanhado de uma migração de interesses do leitor: notícias locais e esporte mantiveram sua audiência no impresso, porém negócios, economia e opinião perderam alguns pontos junto aos leitores.

A interpretação primeira destes grupos é com o alarmismo dos números, a diminuição de leitores em papel e o crescimento do interesse dos leitores por sites e outras fontes. O principal para ser estudado está no complemento da informação: o interesse dos leitores se manteve no noticiário local e esportes, mas negócios, economia e opinião perderam pontos de audiência. Por qual motivo? São exatamente nos assuntos mais ideológicos, onde todos os jornais, pertencentes a poucos, representam um lado explícito e único do leque ideológico. O que move muitos para a internet? A possibilidade de achar uma visão que se contraponha às mesmices divulgadas igualmente. E tome mais participação, mais produção de conteúdo, mais contrapontos. Este é exatamente um dos principais motivos da crise dos grandes jornais americanos e muitos europeus.

Mas este ponto não foi abordado. Nem de longe há possibilidade de, em simpósios, encontros, debates, as famílias refletirem e mudarem. O negócio dos jornais não é jornalismo, mas sempre foi e é a velha propaganda dos seus interesses. Só que esta está encostada na parede, não sabe para onde correr.

Luis Nassif

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