O ônus e o bônus da Ombudsman da Folha

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – Ombudsman da Folha, Vera Guimarães faz sua análise semanal. Ela analisa a relação da Folha com a presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff. Segundo ela, Dilma não tem o monopólio das más notícias, mas “apanhou por tabela”, do “mercado” e “por sua própria conta”. Este último fica a cargo da manchete da Folha de que “Dilma não cumpriu 43% das promessas de 2010”. Pontua também que Marina Silva levou as críticas de igual forma. Ah, Aécio também teve seu quinhão. Ela registrou a isenção do jornal ao pontuar a sutil bordoada que Geraldo Alckmin tomou na última semana. Leia a coluna.

da Folha

Ombudsman

Vera Guimarães Martins

O ônus e o bônus de Dilma (e da Folha)

Quem está no governo pode desfrutar da janela, mas tem muito mais vidraças para serem quebradas

Sete dias, três manchetes negativas, três positivas. Tal foi o saldo da última semana da campanha de Dilma Rousseff na Folha. As três boas notícias eram resultados de pesquisa do Datafolha, que mostraram a petista recuperando a vantagem nas pesquisas. (Ok, vamos combinar que esse é o fato que realmente importa à candidata que disputa seu futuro político nas urnas hoje.)

Dilma não teve o monopólio das más notícias. Marina Silva (PSB) apareceu em três manchetes, todas em cenário de queda livre, em oposição à subida em marcha lenta de Aécio Neves (PSDB). Lanterninha e relegado pelo noticiário até a última semana, o tucano ficou com dois títulos positivos na reta final.

Dos três, a presidente foi a única a figurar em manchetes extrapesquisas. Apanhou por tabela (“PF investiga ligação entre tesoureiro do PT e doleiro preso”), do mercado (“Com Dilma em alta, Bolsa tem maior queda em três anos”) e por sua própria conta (“Dilma não cumpriu 43% das promessas de 2010”).

Registre-se que o título que falta para completar a semana era uma bordoada no tucano Geraldo Alckmin, candidato ao governo de SP.

Com pouca diferença, esse recorte semanal pode ser estendido à cobertura política desde 23 de agosto, quando a entrada tardia de Marina Silva fechou o quadro, e o departamento da ombudsman começou a contabilizar a cobertura eleitoral. Predomínio absoluto da eleição majoritária federal, e disputas estaduais reduzidas a coadjuvantes.

Dilma/PT foram responsáveis por 46% das chamadas na capa; Marina/PSB, por 37%, e Aécio/PSDB, por 17%. Nas páginas internas, os números mudam um pouco: 46%, 29% e 25%, respectivamente.

Buscar equilíbrio no noticiário político-eleitoral é uma cruzada difícil. Primeiro porque não se pode dar peso igual para candidatos diferentes. Quem está no poder desfruta da janela, mas tem muito mais vidraça –inevitável que tenha mais vidros quebrados. Idem se estiver na frente, como Marina Silva comprovou quando estava em ascensão.

Além de ocupar o cargo mais alto do país, Dilma é fustigada por um cenário de índices econômicos ruins, e economia é item de primeira necessidade no noticiário. É natural que assim seja. Como candidata à reeleição, ela carrega o ônus e o bônus de estar sob os holofotes em tempo integral, ocupando um espaço que seus concorrentes penam para obter. É ingenuidade achar que isso só tem lado ruim. Na política, pior do que aparecer mal é aparecer pouco, como Aécio deve ter percebido nos tempos de índices magros.

Das 49 chamadas negativas para a campanha do PT, 25 se referem ao governo federal. Dilma, a candidata, foi agraciada com 24, duas a mais do que sua adversária do PSB. O tucano de Minas ficou com 17.

Parte dos leitores se queixa de distorções e vieses. As reclamações são inevitáveis, não só porque eles realmente existem (apontei três aqui no domingo passado) mas também porque a polarização turva o cenário, a racionalidade e a memória, que é seletiva por natureza. Eleitores não gostam de nada ruim sobre seu candidato nem de notícia “mezzo” boa sobre os adversários deles.

A estridência da Folha –que Joaquim Barbosa, em seu dia de ombudsman (quinta, 2), chamou de estardalhaço– acentua a polarização. O ex-ministro do STF levantou outro aspecto importante: a antipatia do jornal por tudo o que vem do setor público. Já comentei antes o azedume atávico que é parte de seu DNA, mas o viés negativo da Folha é ainda mais acentuado quando se trata de governos, o que leva a abordagens exageradas ou distorcidas.

Na dose certa, o olhar crítico e a desconfiança do poder público podem ser um bônus que aproxima o jornal da imparcialidade perseguida; na medida errada, viram um ônus que obriga o leitor a dar um desconto a boa parte do que lê.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

10 Comentários

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  1. Sobre descontos

    “viram um ônus que obriga o leitor a dar um desconto a boa parte do que lê.’

    Não é por nada não, minha cara, mas se há doze anos a Folha e sua turma batem incessantemente no PT e o partido continua ganhando as eleições, me parece claro que o leitor anda dando, há anos, um ENORME desconto ao q lê.

  2. andou passeando nessa semana?

    será que a jornalista andou passeando em Miami ou Nova Iorque  essa semana ou está desinformada e não viu o Manchetômetro? se alguém tiver o email dela poderia enviar, quem sabe exerce a crítica à FSP com menos parcialidade..

     Publicado em 05/10/2014

    MANCHETÔMETRO É 
    A AUTÓPSIA DO PIG!

    E ainda chamam isso de imprensa …

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    Rudá Morcillo, no twitter

     

     

    ​O Ansioso blogueiro recebeu esse email:

    ​Caro PHA,

    Envio aqui o link para a nova página do Manchetômetro sobre os escândalos na cobertura de 2014. É impressionante. Se tiver tempo, por favor dê uma olhada.

     

    ESCÂNDALOS

    O estudo que feito no âmbito do LEMEP acerca da cobertura das eleições presidenciais de 2010 na grande mídia imprensa mostrou um número muito alto de escândalos no material noticiado. Naquele pleito 6 escândalos tiveram destaque, cinco negativos para o PT e sua candidata, Dilma Rousseff, e um negativo para o PSDB. No total da cobertura foram 1501 textos sobre os “escândalos do PT” e 82 sobre o único “escândalo do PSDB”.

    Na cobertura da eleição de 2014 o número de “escândalos” é ainda maior. Contrários ao PT são: Correios de Minas Gerais, Doleiro Yousseff, Graça Forster na CPI, Mensalão, Miriam Leitão na Wikipedia e Petrobrás. Contrários ao PSDB temos: Aeroporto de Cláudio, Alstom, Cantareira/Água em São Paulo, Mensalão Tucano e Metrô de São Paulo.

    Os gráficos abaixo mostram a frequência e distribuição temporal desses “escândalos” nas capas dos grandes jornais.

    COBERTURA AGREGADA

    O gráfico abaixo mostra o número de matérias que cada escândalo recebeu na cobertura da mídia por todo ano de 2014. A cor azul marca os escândalos contrários ao PSDB e a vermelha os contrários ao PT.

    SITUAÇÃO X OPOSIÇÃO (AGREGADO)

    O gráfico abaixo mostra o número de matérias sobre escândalos agregadas por partidos, PSDB e PT, respectivamente, oposição e situação. A base de dados cobre os textos de capa de todo ano de 2014. A cor azul marca os escândalos contrários ao PSDB e a vermelha os contrários ao PT.

     

     

    SITUAÇÃO X OPOSIÇÃO (TEMPORAL)

    O gráfico abaixo mostra a distribuição temporal de matérias sobre escândalos agregadas por partidos, PSDB e PT, respectivamente, oposição e situação. A base de dados cobre os textos de capa de todo ano de 2014, e a unidade de tempo é o mês. A cor azul marca os escândalos contrários ao PSDB e a vermelha os contrários ao PT.

     

    SÉRIE TEMPORAL SEMANAL: SITUAÇÃO (PT)

    O gráfico abaixo mostra o número de matérias que cada escândalo contrário ao PT recebeu durante a campanha eleitoral, que teve início no dia 6 de julho de 2014. A unidade de tempo é a semana.

     

    SÉRIE TEMPORAL SEMANAL: OPOSIÇÃO (PSDB)

    O gráfico abaixo mostra o número de matérias que cada escândalo contrário ao PSDB recebeu durante a campanha eleitoral, que teve início no dia 6 de julho de 2014. A unidade de tempo é a semana.

     

     

  3. Nassif
    O que este pasquim,

    Nassif

    O que este pasquim, junto a outros da mesma linha editorial fizeram nestas eleições é uma vergonha para a nossa frágil democracia. A três dias acabaram o horário eleitoral e eles só falam do 2º. turno presidencial e da vitória no 1º turno do governo estadual, omitindo que as eleições no ambito presidencial pode acabar agora e a estadual pode haver 2º turno. Nunca um cargo de ombudsman foi tão “desprezível”. Incrível como as mídias do país nos tratam de mentecaptos.

    Decência já, Reformas Gerais Urgentes.

    Abração

     

  4. Nassif, obrigado pela

    Nassif, obrigado pela sugestão, mas não ponho os olhos nessa e em outras porcarias. Prefiro outros meios para me informar, como o sei blog, por exemplo.

  5. que ombudsman, que

    que ombudsman, que nada…

    ela é um mera representante das renitentes distorções do seu jornal

    e ainda as confirma no texto.

    deplorável….

  6. Direito de espernear

    A imprensa tradicional com todas as suas imperfeições deve continuar existindo.Tomamos como exemplo os políticos, o sistema político, frágeis em em sua estratura moral e ética, mas indispensáveis ao regime democrático possível.Cabe às instiituiçõies e à  sociedade como um todo aperfeiçoá-los. Não é admissível tolher a liberdade de expressão, quando na verdade o importante é preservar os direitos dos cidadãos, inibindo os potenciais  infratores com sanções punitivas imediatas e eficazes . Para tanto já possuimos leis adequadas a esta finalidade.Numa sociedade democrátiuca livre está fora de cogitação qualquer tipo de censura, mesmo que disfarçada sobre a forma de controles.No nosso país se e quando atingirmos um nível razoável de justiça social, uma maior eficácia da presença do Estado através das suas instituições , teremos por consequência o posicionamento dos meios de comunicação no seu devido lugar, com ou sem partidarismo.

  7. Por força maior uma nota
    Por força maior uma nota deixou de ser postada e integrava o texto:
    Nota: as contorções analíticas acima não se aplicam a governos tucanos, mormente ao herdeiro da marmota de 32.

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