Perguntas de 10 jornalistas a Cármen Lúcia vira exclusiva em Veja

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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A revista publicou um workshop nas páginas amarelas e informou que a ministra concedeu à VEJA sua primeira entrevista em dois anos

Jornalista de Veja acompanhando palestra da ministra Cármen Lúcia

Jornal GGN – A entrevista com a ministra Cármen Lúcia nas páginas amarelas da edição do dia 17 de setembro da revista Veja contou com a colaboração de no mínimo 10 jornalistas. Contudo, a repórter Mariana Barros, uma das participantes do Workshop “Os Impactos da Legislação Eleitoral sobre os Meios de Comunicação”, foi a única que assinou a matéria. E publicou: a vice-presidente do Supremo Tribunal “concedeu a VEJA sua primeira entrevista nos últimos dois anos”. Mas o referido veículo se esqueceu de publicar a “exclusiva” antes de todo mundo.

O evento foi realizado no dia 25 de agosto, em São Paulo, pelo Instituto Palavra Aberta e a Associação Nacional de Editores de Revista (ANER). Para mediar a palestra da ministra Cármen Lúcia, estavam à mesa o presidente da ANER, Frederic Kachar; o diretor jurídico da ANER, Lourival Santos; e duas jornalistas: Regina Augusto, de Meio & Mensagem, e Mariana Barros, da Veja.

Publicação do dia 17 de setembro de 2014Após a apresentação da mais nova vice-presidente da Suprema Corte, o espaço foi aberto a perguntas. E contribuíram diversos jornalistas da plateia, além das profissionais da Veja e de Meio & Mensagem. O Jornal GGN publicou a reportagem Cármen Lúcia e o gozo da autoridade suprema no dia seguinte, assim como outros veículos.

Ao final do Workshop, a ministra concedeu entrevistas exclusivas, de fato, a alguns jornalistas. As perguntas respondidas ao GGN resultaram em outra reportagem: As diferentes visões sobre a indicação na Suprema Corte brasileira.

Mas as páginas amarelas de Veja não tiveram a preocupação de separar o que foi particular e o que foi coletivo ou, ainda, de deixar transparente o contexto.

Um dos trechos de destaque da denominada “primeira entrevista nos últimos dois anos” da ministra à VEJA, foi: “Não tenho problema em mandar. Eu brinco que tudo o que as mulheres querem ouvir depois dos 50 anos não é ‘eu te amo’, mas ‘sim, senhora’. Se for possível escutar um ‘sim, senhora, eu te amo’, aí será maravilhoso”.

A mesma frase já divulgada aqui, há um mês. Mas, com alterações. “Mulheres, depois que passa dos 50, a gente gosta mesmo é do sim senhora, não é do eu te amo. Se tiver o eu te amo junto, aí isso é um Deus. Sim senhora e eu te amo, aí é realização total”, foi o que disse Cármen Lúcia.

Na publicação, a repórter também, curiosamente, incorporou para si indagações de outros jornalistas, além de ter criado perguntas não existentes para dar o sentido de entrevista pingue-pongue.

O curioso foi que, em determinado momento, a mesa debateu o papel da imprensa ao cobrir as eleições e a responsabilidade que se tem com a imparcialidade, com o verídico, com os fatos.

A repórter Mariana Barros, antes de dirigir sua pergunta à ministra, contribuiu com o tema abordado e afirmou que os jornalistas tem um compromisso com a verdade, com o que estão apurando e que “o rigor das informações é muito importante”. Na frase, Mariana usou os termos “apuração”, “contemplar os vários lados” e “ética”.

Assista à íntegra do Workshop. Mariana expõe a imparcialidade a partir de 1 hora e 15 minutos.

https://www.youtube.com/watch?v=zFQCtuBoiCY&feature=youtu.be width:700 height:394

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

15 Comentários

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  1. a corrupção é muito mais ampla …

    E pensar q ministros do supremo balançam a cabeça em sinal de concordância (para discursos vazios, enganosos, etc), … imagina na hora de julgar?

    Não ocorre potanto corrupção somente quando alguém é dito pego fazendo o malfeito. Corrupção ocorre tbm qdo um ente público, em público, acena na direção incorreta, mesmo q ingenuamente.

  2. A Veja é uma zona. Publicar

    A Veja é uma zona. Publicar descaradamente mentiras só mostra o respeito que eles tem com seus assinantes, que na verdade é um só: Geraldo Alckmin, que os paga não com dinheiro do próprio bolso, mas com o do “antenado” eleitor paulista….

  3. Ética zero da jornalista

    Que coisa constrangedora. Apropriou-se de perguntas feitas por outros jornalistas como se tivessem sido feitas por ela e, pior, editou as respostas como se tivessem sido dadas a perguntas que, na verdade, foram meramente criadas para se enquadrarem nas respostas. Um caminho aberto para a manipulação.

    Horrível! Altamente reprovável a conduta da jornalista.

      1. Existem outros casos?

        Outras entrevistas foram publicadas assim? Eu não tenho conhecimento disso. Aí foi o caso de publicar uma entrevista que não existiu. A entrevista foi dada a vários jornalistas e não uma exclusiva.

          1. Ué? Não foi ela quem assinou a matéria?

            Não entendi. Ela fez porque quis, salvo prova em contrário. De qualquer forma, ela compactuou com isso. Se ela foi obrigada a fazer isso, deveria ter se negado. Continua sendo anti-ético o que ela fez.

            Eu conheço muito bem gente que quis se safar dizendo que “cumpria ordens”. E foram condenados, mesmo quando negar o cumprimento poderia resultar em morte, como muitos nazistas. A pessoa tem que se negar a cumprir uma ordem manifestamente ilegal. Vai assinar uma entrevista que não existiu? Isso é o quê? Isso é manifestamente errado, sem desculpas. É uma obrigação, acima de tudo, moral, ética, recusar-se a fazer o que ela fez. Você tem que se negar a fazer isso, nem que custe o seu emprego. Se os jornalistas fizessem isso, muitos abusos da imprensa deixariam de existir.

    1. Ética zero da revistinha do esgoto

      Qual a novidade/ Quando a revistinha da abril for ética, me avisa, mas adianto que não vou acreditar.. Será qua a ministra foi consultada e liberou a matéria? Duvido.Mas eles também nunca respeitaram autoridade nenhuma.

  4. volume morto

    A Veja é igual o volume morto das represas de São Paulo,

    Quando todo mundo pensa que já chegou ao fundo o Alkimim arranja um jeito de mergulhar mais um pouco.

  5. Policarpo

    TrIste Fim de Policarpo Quaresma. Tenho repassado o email para vários amigos mostrando a terrível realidade: ofertas incessantes de assinatura da veja com 55% de desconto!!!!!

  6. Ou seja: a ministra vai ler,

    Ou seja: a ministra vai ler, vai saber que a “exclusiva” é mentira, pois ela foi a personagem, e mesmo assim, assim que cair uma denúncia contra petista naquele panfleto tucano ela vai acreditar que é verdade, assim como Marco Aurélio de Mello, eetc…

  7. Antes de atirar pedras na

    Antes de atirar pedras na jornalista, melhor verificar se a ministra não soube da “exclusiva” antecipadamente e, mesmo assim, concordou em número, gênero e grau.

  8. mais dados significativos

    mais dados significativos para o caso veja

    de como se comporta esse entulho

    de quinta categoria.

    ouve e diz uma coisa e escreve outra.

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