Velha mídia esconde discurso de Temer sobre razões políticas do impeachment

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Na quinta (22), o presidente Michel Temer foi alvo de uma reportagem no The Intercept Brasil por ter dito, num discurso para investidores estrangeiros em Nova York, que Dilma Rousseff sofreu um impeachment por razões políticas: não aceitou o programa neoliberal criado pelo PMDB, chamado de “ponte para o futuro”. Hoje, nenhum dos jornais da velha mídia oligarquica tratou do assunto. A única exceção foi uma colunista do Estadão que, pelas redes sociais, tentou desmoralizar o The Intercept e defender Temer.

Por Glenn Greenwald

Grande mídia ignora confissão de Temer, exceto por acusação falsa de colunista do Estadão

No The Intercept

Ontem, Inacio Vieira do The Intercept Brasil expôs uma das mais significativas provas das verdadeiras motivações por trás do impeachment da presidente eleita, Dilma Rousseff. Em palestra para um grupo de empresários e dirigentes da política externa americana, o atual presidente, Michel Temer, admitiu que não foram as pedaladas fiscais que deram início ao processo de impeachment, mas a oposição de Dilma à plataforma neoliberal, composta de cortes em programas sociais e privatizações, proposta pelo PMDB.

Mas o que é ainda mais revelador do que o casual reconhecimento das motivações golpistas de Temer é como a grande mídia brasileira — unida em torno do impeachment — ignorou completamente o comentário do presidente. Literalmente, nenhum dos inúmeros veículos do Grupo Globo, nem o maior jornal do país, Folha, e nenhuma das revistas políticas sequer mencionou os comentários surpreendentes e incriminadores de Temer. Foi imposto um verdadeiro apagão. Enquanto diversos jornalistas e sites independentes abordaram a admissão do recém-empossado, nenhum dos grandes veículos de comunicação disse uma só palavra.

A única exceção à cortina de silêncio que se fechou foi a colunista do Estadão, Lúcia Guimarães, que investiu horas no Twitter humilhando-se, num enorme esforço em negar que Temer havia dito o que disse. Começou por insinuar que o The Intercept Brasil teria feito um “corte” suspeito no vídeo que alterava sua genuinidade — basicamente acusando Inacio Vieira de cometer uma fraude — sem apresentar nenhuma prova quanto a isso. Tudo em função de proteger Temer.

Após um colunista da Folha enviar um link para o vídeo completo, Lúcia escreveu que só poderia acreditar que Temer havia feito a afirmação quando visse os drives originais das câmeras exibidos simultaneamente. Ela acrescentou que o que torna suspeita a reportagem é o fato de Temer ser um autor de um best-seller de direito constitucional, que não diria um “despautério” desses.

Apenas quando a transcrição oficial completa do Palácio do Planalto foi publicada, a colunista finalmente admitiu que Temer havia dito a tal frase, mas, em vez de retratar as acusações falsas ou se desculpar com Inacio Vieira e com o The Intercept Brasil por ter sugerido que o vídeo teria sido fraudado, ela apenas publicou a parte relevante do discurso de Temer, como se ela mesma tivesse descoberto a citação e estivesse informando seus seguidores. Mesmo após admiti-lo, a jornalista alegou de forma ligeiramente amargurada que os oponentes do impeachment estavam transformando a questão em um carnaval e comemorando a revelação.

Mesmo tento sido forçada a fazê-lo por ter se complicado para defender Temer, ao menos uma colunista do Estadão reconheceu a existência de uma reportagem de tamanha importância. O resto da grande mídia brasileira a ignorou por completo. Imagine a seguinte situação: o recém-empossado presidente de um país admite para uma sala repleta de oligarcas e imperialistas que ele e seu partido deram início ao processo de impeachment da presidente eleita por razões políticas e ideológicas, e não pelos motivos previamente alegados. Toda a grande imprensa brasileira finge que nada aconteceu, se recusa a informar os brasileiros sobre a admissão do presidente e ignora as possíveis repercussões sobre o caso do impeachment.

Há um motivo para a organização Repórteres Sem Fronteiras ter reduzido a posição do Brasil em seu ranking de liberdade de imprensa para 104 e denunciado a grande mídia corporativa como uma ameaça para a democracia e liberdade de imprensa no país. Como explicou a ativista brasileira Milly Lacombe: “Temer confessa o golpe, existe uma gravação com a confissão e nossa mídia corporativa esconde o que ele disse. Tá bom ou precisa de mais?” Um dos mais palpáveis exemplos foi dado através deste lamentável silêncio.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

13 Comentários

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  1. A mídia esconde a verdade e

    A mídia esconde a verdade e os seus leitores estão cegos. Mas, acredito que o barulho está se fortalecendo e 2018 está muito próximo!

  2. Estive em um ato com Ddilma

    Estive em um ato com Ddilma na quarta-feira e ela não denunciou essa fala… não sei se ela não chegou a ficar sabendo, mas acredito que ela saiba o pq caiu.

    Evidente que ela estava ali para apoiar Jandira, mas Dilma não tem mais que se preocupar como repactuar a base governista agora que ela já era.

    Ela precisa denunciar a baixeza do processo. Esfregar o golpe na cara do povo Brasileiro, abrir a boca !!!

  3. !

    Isso não causa surpresa. Há dias que o esforço para tentar emplacar Temer se tornou escancarado na grande mídia. 

    Miriam Leitão afirmou que a insatisfação com o Governo Temer se deve à herança de DILMA , e logo a popularidade do presidente vai melhorar assim que as medidas econômicas começarem a fazer efeito.

    Mas o insuperável foi o texto de J.R. Guzzo na VEJA desta semana. Um trecho da pérola : 

    ROUBARAM O RISO

    No caso de Dilma ainda vai. A presidente deposta tem um talento raro na arte de se tornar malquista – e isso ajuda muito, claro, no culto geral ao mau humor que existe em relação a ela e seu falecido governo. Mas Michel Temer? Nunca houve a menor necessidade de ficar com raiva de Michel Temer. Em mais de quarenta anos de politica o novo presidente nada fez para merecer paixões – e muito menos ódio.

  4. Quantos vezes Lúcia Guimarães

    Quantos vezes Lúcia Guimarães foi agraciada com o Prêmio Pulitzer de Jornalismo mesmo?

    Como é que ela tem essa coragem de acusar o The Intercept de fraudar um vídeo e publicá-lo?

    Essa mulher deve ser uma louca, além de golpista.

  5. Ato falho ou burrice?

    Parece que o presidente Fora pegou a doença do ex-presidente do supremo: na alegria nauseabunda dos holofotes, começa puerilmente a despejar atos falhos e, tomado pela autocomplacência, desembesta a soltar suas verdades….

    Se a doença pegar….

  6. Ato falho ou burrice?

    Parece que o presidente Fora pegou a doença do ex-presidente do supremo: na alegria nauseabunda dos holofotes, começa puerilmente a despejar atos falhos e, tomado pela autocomplacência, desembesta a soltar suas verdades….

    Se a doença pegar….

  7. Quer dizer o Golpista

    Quer dizer o Golpista beneficiário do Golpe,confessa o próprio Golpe e toda grande mídia esconde.O maior grupo de comunicação do País,vagão principal do golpe,envolvido até o talo em offshore fantasmas,acobertada por um Juiz bunda suja,que sequestrou o Brasil,mandou o Conselho Nacional de Justiça e o Supremo Tribunal Federal a procurarem o que fazer.Isso não é um País,dá-se o nome que quiser,menos que isso aqui seja uma Federação,Nação,uma República.Seria uma Republiqueta de Bananas.Nem isso.Sobraram apenas as bananas,servidas abundamente a população,nunca como frutas,mas na forma mais vil,indecente e imoral que se possa imaginar.

  8. Boa, Mister Fora!

    O neoliberalismo é coisa de museu no mundo todo, mas nosso “presidente”, Sr.. Fora Temer, teve a brilhante ideia de condensar duas pataquadas com uma só frase:

    1. deu o golpe por razões diferentes das alegadas;

    2. está na pré-história da economia mundial!!!

    Belo papel, Sr. Fora!

  9. Boa, Mister Fora!

    O neoliberalismo é coisa de museu no mundo todo, mas nosso “presidente”, Sr.. Fora Temer, teve a brilhante ideia de condensar duas pataquadas com uma só frase:

    1. deu o golpe por razões diferentes das alegadas;

    2. está na pré-história da economia mundial!!!

    Belo papel, Sr. Fora!

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