Visão distorcida e ilusão de ótica social

O texto de hoje (26/12) de Igor Gielow na Folha é um primor da distorção da realidade para a afirmação de uma idéia pré-concebida.

Nestas épocas natalinas tão propícias aos textos de carater pessoal e emotivo, Igor nos narra uma experiência oftálmico-sociológica que vivenciou em um shopping center.

Começa-o criticando o ostentatório e o mau gosto das nossas classes abastadas. Nossas peruas são realmente um caso à parte.  Vejamos:

À frente na fila homérica (Igor nos narra um passeio ao shopping para assistir um filme), duas jovens marcadas pelo uso abusivo de maquiagem, estampas animais e óculos com cristais -suponho que da Swarovski, sucesso entre as abastadas nativas. Elas discutiam ir a um restaurante à beira do lago Paranoá.”

Segue denunciando o preconceito que as “abastadas nativas” têm em relação aos pobres:

“O duro é que precisamos passar perto do Varjão”, queixou-se uma. “Pare de ser preconceituosa, lá só é perigoso porque são pobres, coitados”, rebateu a outra. Varjão é uma área carente conhecida pela criminalidade, margeada pela via que leva ao tal restaurante.”

Quando julgamos que Igor irá partir para mais um daqueles discursos piegas que o finado Sergio Motta chamava de “masturbação sociológica”, eis que somos surpreendidos  pela  informação de que as peruas exibicionistas e preconceituosas são na verdade autênticas representantes da nossa esquerda política. Citando uma pesquisa do Datafolha Igor nos esclarece:

Um dos mais incrustados mitos da esquerda local é o de que a pobreza é geradora exclusiva da violência. Boa parte de nossa elite estudou numa academia majoritariamente esquerdista, o que ajuda a explicar um número do levantamento.

Segundo o Datafolha, 56% dos que ganham mais do que dez salários mínimos acreditam no mito (no caso, “falta de oportunidades iguais”).”

Tá Igor, então ficamos assim, nossa esquerda ganha mais de 10 salários mínimos, pertence à “elite” e diverte-se exibindo-se em shoppings centers e bons restaurantes de Brasília, sempre trajando figurinos espalhafatosos e muitos cristais Swarovisk.

Ah!, também é um mito que somos uma das sociedades mais desiguais do mundo. Assim  como é uma mitificação da sociologia esquerdista que a convivência em desigualdade de oportunidades gere violência. Os pobres não querem cristais Swarovisk nem desejam freqüentar restaurantes à beira do Paranoá. Eles sabem que o pouco com Deus é muito, e por isso, sabem que a causa da violência é a maldade humana. Pois segundo o mesmo Datafolha:

Já os mais pobres da amostra (renda de até dois mínimos mensais) rejeitam a autocomiseração social: entre eles, 60% preferem culpar a “maldade”. Ainda que o conceito seja gelatinoso, fica claro para onde aponta a percepção desse segmento social.”

Os pobres estão felizes como estão. São esses esquerdistas que complicam tudo quando teorizam sobre justiça social e não quando cuspindo-lhes na cara seus belos carros, roupas estravagantes e cristais Swarovisk instigam-lhes desejos irrealizáveis.

Dos problemas oftálmicos de Igor não comentarei uma palavra, isso é coisa pessoal, não tenho formação médica e creio que o maior problema dele não é esse. 

IGOR GIELOW

Miopia e estrabismo

BRASÍLIA – Num desses insanos dias que antecedem o Natal, eu tomei a decisão temerária de ir ao cinema de um shopping. Queria descobrir se “As aventuras de Pi”, de Ang Lee, é tão bom quanto parece.

À frente na fila homérica, duas jovens marcadas pelo uso abusivo de maquiagem, estampas animais e óculos com cristais -suponho que da Swarovski, sucesso entre as abastadas nativas. Elas discutiam ir a um restaurante à beira do lago Paranoá.

“O duro é que precisamos passar perto do Varjão”, queixou-se uma. “Pare de ser preconceituosa, lá só é perigoso porque são pobres, coitados”, rebateu a outra. Varjão é uma área carente conhecida pela criminalidade, margeada pela via que leva ao tal restaurante.

Lendo ontem os dados da pesquisa Datafolha sobre valores do brasileiro, o diálogo me voltou à cabeça.

Um dos mais incrustados mitos da esquerda local é o de que a pobreza é geradora exclusiva da violência. Boa parte de nossa elite estudou numa academia majoritariamente esquerdista, o que ajuda a explicar um número do levantamento.

Segundo o Datafolha, 56% dos que ganham mais do que dez salários mínimos acreditam no mito (no caso, “falta de oportunidades iguais”).

Já os mais pobres da amostra (renda de até dois mínimos mensais) rejeitam a autocomiseração social: entre eles, 60% preferem culpar a “maldade”. Ainda que o conceito seja gelatinoso, fica claro para onde aponta a percepção desse segmento social.

Errei ao não checar antes e não pude ver “Pi”: a sessão era em 3D. Estrábicos como eu não formam uma só imagem no cérebro, e somos assim imunes a essa tecnologia, nem mesmo se aqueles óculos ridículos vierem adornados com os mesmos Swarovski do modelo que a rainha Elizabeth 2ª usou na véspera do Natal.

Meu estrabismo foi mitigado na faca e com longa terapia, mas não tem cura definitiva. Assim como, temo, a miopia das moças da fila.

Redação

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