“Caça às bruxas” será mais difícil do que muitos pensaram, por Sakamoto

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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do Blog do Sakamoto

A “caça às bruxas” brasileira será mais difícil do que muitos pensaram

Leonardo Sakamoto

Pelo menos dois grupos dividiam o mesmo espaço na manifestação, nesta sexta (18), na avenida Paulista, em São Paulo: os que apoiavam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores. E aqueles que não os apoiavam ou, pelo contrário, são críticos a eles, mas acreditam que tanto o impeachment quanto uma prisão de Lula não se sustentam com os elementos postos à mesa e significam uma esvaziamento das instituições democráticas.

Contudo, chamou a atenção os comentários de alívio entre os presentes que se consideram ideologicamente à esquerda ao constatarem, através dos milhares que estavam na Paulista, que não estavam sozinhos.

Datafolha cravou 95 mil pessoas e os organizadores 500 mil mas, claro, nem todos que lá estavam se consideram à esquerda no espectro político. Aliás, se o próprio PT fosse capaz de uma autocrítica real, também não se consideraria mais um partido de esquerda.

“Eu estava com medo de usar vermelho.” Uma estudante brincou com a colega, pois ambas vestiam camisetas dessa cor. Um rapaz comentou com seu amigo que “finalmente, podia usar um boné vermelho de um movimento social sem o risco de apanhar. Referiam-se às histórias que circularam nas redes sociais e na imprensa nos últimos tempos, de pessoas que foram assediadas ou espancadas por usarem a cor “errada” para estes tempos.

Quando a escolha da cor deixa de ser uma questão estética e passa a ser de garantia de integridade física e psicológica, algo está muito errado em um país.

Quando convicções políticas ou ideológicas acabam sendo escondidas por medo de retaliação violenta por parte de desconhecidos ou, pior, de amigos, algo está muito errado em um país.

Quando crianças mimetizam o comportamento de seus pais e isolam amiguinhos porque os pais deles votaram em um candidato diferente do de seus nas últimas eleições, algo está muito errado em um país.

Não sei o quanto as manifestações que aconteceram em todo o pelo país, nesta sexta, terão poder de influenciar no processo de impeachment. Até porque isso vai depender de cálculos políticos complexos, correlação de forças, influência da mídia e de quanto governo e oposição estarão dispostos a prometer a deputados e senadores para garantirem seu voto neste grande balcão de negócios chamado Congresso Nacional.

Mas, certamente, reconectaram e empoderaram muita gente que se considera à esquerda e andava acreditando que eram os últimos da espécie tendo que, por questão de sobrevivência, permanecerem escondidos sob o risco de serem extintos. Afinal, a esquerda brasileira, mesmo aquela que não tem nada a ver com os pecados do partido do governo, tem sido sistematicamente atacada e é vítima de calúnias e difamações.

A manifestação foi, claro, bem menor que a de domingo (13), pró-impeachment, mas foi significativa. Agora, a esquerda se mostra numerosa e barulhenta o suficiente para deixar claro que qualquer tentativa de imposição de uma caça às bruxas, de um macarthismo à brasileira, não vai ser tão fácil quanto alguns arautos da intolerância pensavam.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

35 Comentários

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  1. Tiram a Dilma e colocam o

    Tiram a Dilma e colocam o Temer no lugar dela.

    Assim, teremos o presidente do executivo do PMDB, o presidente da Câmara dos Deputados do PMDB e o presidente do Senado do PMDB, que apenas por acaso, também é o maior partido do congresso.

    Isso sim é democracia plena…

  2. Sem ruptura
    Vamos caminhar até a próxima tentativa de golpe.
    A próxima década perdida…

    Porque não temos coragem de promover a ruptura. É preciso confiança nos militares!
    Sozinha a ESQUERDA está fadada a derrota!

  3. Sério Sr.

    Sério Sr. Sakamoto?

    Jênial!

     

    Qual seria a causa da dificuldade que teremos para excorcizar os demonios fascistas?

    Será porque e a sua turma da esquerda do nem nem ISENTONA foram irresponsáveis em 2013?

     

  4. “Afinal, a esquerda

    “Afinal, a esquerda brasileira, mesmo aquela que não tem nada a ver com os pecados do partido do governo, tem sido sistematicamente atacada e é vítima de calúnias e difamações.”

    Politicamente o saka nunca sai do muro da Marina. Quando aplaude a esquerda é para criticá-la em seguida e se mostrar IMPARCIAL. Jornalista melífluo e hipócrita, aliás, trabalha no grupo folha.

     

  5. Caça às Bruxas

    Não é uma questão de cor de roupa ou de bandeira. É uma questão de cor de gente, de debate sobre os limites da desigualdade social. Quem tem que explicar cor de roupa é justamente as pessoas que usam a cor da Confederação Brasileira de Futebol – um antro de banditismo – que precisam pensar. O verde e amarelo da CBF não é o verde amarelo do Brasil. O nosso verde e amarelo representa nossas florestas e nossas riquezas, destacando o ouro (aprendi isso no antigo primário). O verde e amarelo da CBF são os interesses de marketing da Rede Globo de Televisão, a riqueza da família Marinho e a entrega de nossas riquezas, como o petróleo à Chevron e à família Bush.

  6. Não me cansarei de repetir

    Querem mesmo uma guerra civil?

    Estamos prontos.

    Estar na rua ontem no meio daquela multidão deu a certeza a mim e a muitos que eu conheço de que realmetne estamos prontos.

    Fascistas e golpístas não passarão!

  7. Na foto do dia 18, vc vê

    Na foto do dia 18, vc vê claramente as faixas de pedestre dos últimos quarteirões, mostrando que estavam vazios.

    Na foto do dia 13, todos os quarteirões estão cheios.

    1. Então Tá!

      Deixe de ser babaca.  

      A manifestação do dia 13 tinha patrocínio e convocação permanente do monopólio da mídia, há mais de um mês, e a do dia 18 também, só que contrária, todo santo dia, desde 2004. 

      Por isso que os três patetas, analistas políticos da Globonews, surgiram com aquelas caras de gosto de cabo de guarda-chuva, no Jornal das 10.  A manifestação foi tão expressiva que eles preocuparam-se com as consequências que começarão a acontecer na próxima semana, pois ficou claro nas ruas que a esquerda com os movimentos sociais e o que resta de instituições republicanas não conchavadas, quando não ocupadas por golpistas, começam finalmente a se moverem.

      Quem pensava no golpe paraguaio, como um recreio em Ypacarai, pode ir tirando o cavalinho da chuva, pois a parada vai ser duríssima, antes, durante e depois, se insistirem em golpear a nossa Democracia.     

      1. Isso para não falar…

        Que o auge da manifestação foi depois das 19h00, à noite, com os discursos que culminaram com a fala do Lula. Então, a foto durante o dia mostra apenas quem havia chegado até aquela hora.

    2. Pode até ser que a

      Pode até ser que a manifestação na Paulista do dia 13 foi maior, mas se foi maior, foi pouco. Agora, e o resto do Brasil. Vocês colocaram aquele monte de gente em Recife, Salvador, Natal, João Pessoa, Curitiba, Porto Alegre, Fortaleza, Rio de Janeiro, Brasilia, isto é, em 14 cidades brasileiras? Mostre as fotos. Nós invadimos as ruas DO BRASIL!  E vai ter mais.

  8. Acho incrível como ainda tem

    Acho incrível como ainda tem gente que se diz de “esquerda” e continua repetindo esse papo de ficar em cima do muro. Nossas vaidades intelectuais, nossos egos, estão nos levando ao imobilismo. Enquanto isso, eles só agem, agem e agem.

  9. Uma tem as cores da bandeira

    Uma tem as cores da bandeira do brasil, a outra tem todas as cores e todas as bandeiras.

    Precisa falar mais…

     

    Os jornalistas se tornaram lambedores de bola de seus patrões.

  10. A Força das Manifestações

    Eu não vou perder tempo comparando qual manifestação foi maior. Até porque a manifestação da direita teve uma forte convocação dos meios de comunicação, principalmente da Rede Globo que deu uma cobertura espetaculosa ao evento. Teve um grande apoio da FIESP oferecendo uma estrutura de um mega show, teve outdoos fazendo o chamamento e teve também o patrocínio de muitos empresários. Teve, inclusive, um incentivo do governador Geraldo Alckmin liberando as catracas do metrô e garantindo um aparato policial de impressionar qualquer ditador. Enquanto a manifestação da esquerda não teve nada disso.

    Mas, foi impressionante o número de manifestantes de esquerda. Por isso não devo comparar o tamanho das manifestações. Porém, posso comparar a qualidade delas, e em termos de qualidade, fica claro que a manifestação da esquerda foi infinitamente superior à da direita. Enquanto a da direita era dispersa, gente de opiniões diversas, inclusive opostas; uns apoiando isso, outros apoiando aquilo, sem nenhum líder verdadeiro; uns fascistas, outros apenas alienados; uns pro Bolsonaro, outros pro Moro, outros contra Aécio, outros contra Alckmin, quase nenhum contra Cunha; uma mistura de corruptos e gente culturalmente medíocre. Na manifestação da direita o perfil das pessoas era de classe média alta, e um ou outro com perfil de marginal, neonazistas e buldogues loucos para atacar alguém.

    Enquanto a da esquerda foi bem diferente. Gente com cara de povo; bem mais jovens; unidas em torno de um objetivo comum: não ao golpe e pela democracia. Manifestação alegre, em paz, sem nenhuma violência. Gente que sabe falar, que sabe se manifestar sem demonstração de ignorância e ódio; gente que sabe realmente o que quer. Gente bem esclarecida, politicamente consciente, gente de luta, gente de garra. Todos a favor do Lula e da Dilma. Não houve expulsão de político algum. Não houve a manifestação de ódio pedindo a prisão de adversários.

    A força de uma manifestação está muito mais na qualidade dos manifestantes do que no número deles. 

    1. Gente consciente e que vai

      Gente consciente e que vai lutar. O pessoal das passeatas de domingo jamais iria na rua se arriscar. Eles se cagam de medo. Eu, sinceramente, acho que estamos subestimando a nossa própria capacidade de mobilização. No domingo foi praticamente uma micareta, não tem característica política. E uma suposta força deles se dá por uma intimidação social que lembra o fascismo, e nesse caso, basta a gente perder o medo que o recuo é imediato. 

      Tem muita gente que está quieta, só observando, e que vai começar a se manifestar assim que ver o ambiente certo para isso. 

      Ouça o que eu estou falando. As mobilizações de rua da esquerda vão enterrar o golpe. Ontem foi o início do fim. 

    2. Excelente comentário. Até no

      Excelente comentário. Até no dia a dia nota-se a diferença. Acho o pessoal progressista ou da esquerda lindos.

    3. Não houve manifestação de ódio…

      Mas a gente pediu a prisão do camicia nera, por diversos crimes contra a Constituição e as leis, culminando com o grampo ilegal e sua divulgação criminosa. O crime se agrava por ser o perpetrante um juiz de direito sabe (ou deveria saber, se não fosse um néscio) que: 1) juiz não é promotor; e 2) ninguém, muito menos um juiz, pode ouvir grampos feitos sem autorização, quanto mais vazá-los. Principalmente se envolverem a Presidente da República ou Ministros de Estado, pois envolve diretamente questões de segurança nacional.

      Moro é um bandido togado, pois age como tal. Quem comete crimes como ele cometeu, é criminoso, é bandido. Se o Dantas é o banqueiro bandido, o Moro é o juiz bandido.

  11. Onde foi menor?

    Leonardo,

    Onde foi menor? Em São Paulo, a do dia 18 foi maior: basta ver as fotos. Em Porto Alegre, foi maior, e por aí vai….

  12. Acho melhor os golpistas

    Acho melhor os golpistas pensarem bem, porque nao vai ficar barata essa tentativa de golpe contra a democracia. A hora que o caldo entornar tenho duvidas se os coxinhas vao aguentar o tranco. Pensem bem !

  13. Foi menor?

    Parem de repetir as mentiras da Globo e Datafolha de que a manifestação do dia 18 foi menor. Fico triste quando até o Sakamoto se deixa levar pela desinformação. Aqui no Rio, a manifestação da Praça XV foi a maiior até agora dentre todas, a favor ou contra, com certeza maior que a do dia 13 em Copacabana.

    1. Andrea, as manifestações

      Andrea, as manifestações conservadoras em São Paulo, mesmo contando basicamente com a classe média e a elite da cidade, tendema ser (e estão sendo) muito maiores que as manifestações progressistas (que contam com movimentos sociais vindos de outras cidades), dado que a cidade de São Paulo é claramente anti-Dilma, como comprovam os mais de 60% dos votos para Aécio em 2014.

      Mesmo assim, se o DataFolha fala em 95 mil, sem dúvida foram mais de 100 mil pessoas na Paulista no dia 18.

      Quanto ao Rio, os organizadores da manifestação pró-democracia tiveram a decência de marcá-la no Centro da cidade, e não fazer como os conservadores, que agendam suas manifestações na Avenida Atlântica nos domingos à tarde… impossível não juntar gente. Só falta distribuir sacolés, viseiras e água de coco…

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