Thiago França e o anti-rótulo que abre caminho na música, por Augusto Diniz

Thiago França

Por Augusto Diniz

Thiago França e o anti-rótulo que abre caminhos no cenário musical

Enquanto parte expressiva de músicos tenta buscar seu espaço se enquadrando em algum rótulo musical, Thiago França anda na contramão disso para abrir novos caminhos na cena cultural – e consegue com enorme competência.

O saxofonista, compositor, produtor e arranjador Thiago França, 37 anos, explica com o Metá Metá, grupo do qual faz parte desde sua criação em 2008 (junto com Kiko Dinucci e Juçara Marçal), que o trabalho autoral no seu sentido amplo desenvolvido por esta importante banda do circuito independente não impõe a necessidade de se rotular.

“O autoral que fazemos no Metá Metá não é só nas letras e melodias, mas nos arranjos, sonoridades, mistura de influências, sem partir para uma coisa fechada”, diz. “Temos mais objetivo em fazer com que as pessoas nos ouçam do que se definir. O rótulo tem concepção mercadológica que não queremos nos preocupar”.

Thiago é um exemplo de músico com intenso trabalho de inovação e renovação desde que lançou seu primeiro registro fonográfico, em 2009. A sua produção é diversa, onde se misturam atividades próprias e com outros músicos de forma plena.

“A gente não encara o Metá Metá como projeto principal e as outras coisas como paralelas. É tudo ao mesmo tempo. Isso mantém o frescor dos trabalhos”, avalia. Ele conta que entre o primeiro e o segundo disco do Metá Metá, ele fez dois trabalhos fonográficos (Marginals e Sambanzo) com várias experimentações, buscando resultados novos. “Isso trouxe influência e renovou para eu fazer o segundo disco do Metá”, afirma.

O Metá Metá, com três discos lançados, está há um mês em mais uma turnê na Europa. “Há festivais acontecendo por causa do verão europeu. Os governos de lá entendem a importância da interação da cultura com a população, a ocupação de espaço”, cita, fazendo um contraponto do que acontece por aqui.

O músico avalia que a experimentação às vezes gera desconforto às pessoas e ainda existe tabu. “Isso não é uma receita. A experimentação e a renovação é não cair num lugar comum”, conta. Porém, ele analisa que quando se trabalha num cenário fechado, seu público já sabe de sua estrutura e a forma das apresentações, o que acaba não sendo exatamente uma surpresa. “Mas é muito importante para o panorama artístico ter isso”, diz.

Sobre a Charanga do França, criada por Thiago junto com o crescimento do Carnaval de rua de São Paulo, afirma ele que o bloco tem a sua cara com destaque para os sopros, no chão, próximo do folião, sem estrutura grande e sem formalidade. “O bloco possui a característica de ser agregador”, diz, reconhecendo que o fato de ter enchido muito nos últimos anos, com a presença de “20 mil pessoal onde apenas 1 mil conseguiam ouvir a banda”,  fez com que ele mudasse o horário de saída da Charanga.

“Faremos ano que vem igual a este, saindo de manhã, atraindo famílias, crianças. Quero que as pessoas nos ouçam”, comenta.

Além de seus trabalhos de música seja solo ou em grupo, Thiago França ainda se dedica à produção de discos há dez anos, tento feito alguns projetos importantes, como da sambista Donna Inah (aliás, sua primeira produção).

Como ele concilia tudo isso: “Não sou artista que está nas festinhas, tirando selfies, sensualizando no banheiro. Mais que artista, sou músico. Meu negócio é tocar. Gosto de escrever, compor”.

A busca por fazer coisas diferentes é incessante na vida desse músico. “Adoro tocar com outras pessoas, com formação nova. Isso impulsiona, instiga”, relata. Não à toa Thiago prepara novo disco com o grupo Sambanzo, onde dessa vez vai inserir mais duas percussões e baixo.

Além disso, trabalha num disco solo com composições suas exclusivas para saxofone, seu grande instrumento do qual se tornou um dos maiores executores no País.  

Apesar de estar sempre conduzindo um trabalho de um CD tradicional, ele avalia que o trabalho musical tornou-se algo menos fechado – ele já lançou vários EPs e singles também.

“Não precisa fazer tudo certinho. Hoje, em um EP com quatro músicas, para se ouvir é ótimo. Ou mesmo uma música gravada lançada na web”, destaca mais uma ação anti-rótulo, de um processo de criação inserido dentro de um novo conceito onde a arte está sempre à frente.

Conheça mais sobre o extenso trabalho de Thiago França aqui.

Redação

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