A crítica à posição brasileira sobre o Egito

Da Folha

JANIO DE FREITAS

Notas da reprovação

Há muitas maneiras de marcar posições, numa conjuntura delicada como a do caso do Egito, sem expor flancos a ataques e ressentimentos

O BRASIL NÃO se saiu bem no episódio egípcio. Ficou preso a uma falta de clareza que não se confunde com isenção ante problemas alheios internos, e que o remendo tentado por Lula, com sua canelada em Mubarak, só fez acentuar. A falha se torna mais grave por incidir na ocasião em que a reforma do Conselho de Segurança da ONU volta a ser discutida, com grande interesse do Brasil, entre indianos, japoneses, alemães, sul-africanos, brasileiros e outros.

O argumento genérico utilizado por Dilma Rousseff, segundo o qual “o Brasil não precisa dar opinião em tudo”, é verdadeiro, mas carece de uma ressalva. Tanto não precisa opinião em tudo quanto não precisa opinar, sempre, em questões de princípio. Se quiser, como tem propagado nos últimos anos, distinguir-se dos países, sobretudo das potências, que decidem suas definições e suas omissões por outras vias.

OqueO que foi até a principal razão suscitada pelo governo Lula para investir tanto na reforma do Conselho de Segurança da ONU, aliada à obtenção de uma cadeira permanente para o Brasil.

Não faltar à clareza não significaria se comprometer com a derrubada ou com a permanência de Mubarak. Mas, até por coerência com a advertência de Dilma Rousseff, de que seu governo “não admite concessão com direitos humanos”, seria, por exemplo, comparecer com um pronunciamento diplomático em favor desse princípio e da democracia que o permite. Há muitas maneiras de marcar posições assim, em uma conjuntura delicada, sem expor flancos a ataques e ressentimentos. Fazê-lo no caso egípcio, da parte do Brasil não seria apenas digno, mas proveitoso para suas aspirações internacionais, em comparação com o generalizado escapismo.

O Brasil tardou muito a mostrar-se ciente da crise, e o fez com uma nota tão insignificante que nem foi percebida, sequer aqui. Quando voltou a se mostrar, já Mubarak não era. E o fez, ainda, por uma nota rasinha. No Itamaraty ou no Planalto, onde tenham surgido as notas, está faltando o que jamais faltou por lá: bom redator.

Se por mais não fosse, ao menos para atenuar a evidência de que o Brasil agiu como é próprio de um oportunista. E não pode ser próprio de país que pretende tornar-se portador de nova concepção de decisões internacionais no desmoralizado Conselho de Segurança.

POBREZAS

Por falar em ausência de bom redator, a marca criada para o governo Dilma é de uma desinteligência invulgar. “País rico é país sem pobreza”? Os Estados Unidos, com seus bolsões de pobreza, nos últimos anos até aumentados pelo estouro imobiliário, não são ricos? Os principais países europeus, com seus tantos milhares de imigrantes em guetos de miséria, não são ricos?

Quem sabe o gênio criador quisesse dizer que o Brasil de Dilma, filho do Brasil de Lula, não é rico, já que não lhe faltam pobres de todas as escalas? Então, além da obtusidade, haveria a fraude como propósito.

Pelo que mostrou até agora, Dilma Rousseff mereceria, para seu governo, marca menos pobre em todos os sentidos. 

Luis Nassif

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