Ion de Andrade
Médico epidemiologista e professor universitário
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A internet como nova Ágora

As manifestações de rua por todo o mundo, iniciadas com a primavera árabe há alguns anos ocorreram em sociedades bem distintas umas das outras. Seus efeitos foram também variados a depender dos contextos.

Alguns elementos comuns podem, entretanto ser percebidos:

a)      Os movimentos de rua vêm tendo papel democratizante. Produziram derrubadas de poder de regimes autoritários, guerras civis contra ditaduras e aperfeiçoamentos institucionais a depender das sociedades;

b)      Apontam para políticas universalistas, (ensino público, saúde para todos, mobilidade urbana, etc);

c)       Têm referencial partidário pobre;

d)      Se utilizam da internet como veículo de alinhamento da vontade coletiva e de mobilização;

e)      Em alguns casos foram subvertidas por interesses externos (Líbia, Síria)

f)       Foram desencadeadas por motivos pontuais e incorporando novos significados com o próprio progredir dos movimentos.

Estamos diante do mesmo fenômeno em realidades diversas, ou são fenômenos que coincidem no plano da contemporaneidade, mas não compõem um quadro geral?

Em outras palavras, tem o occupy relação com a primavera árabe ou com as manifestações de rua do Brasil ou se trata de um novo padrão de expressão política dos tempos de internet, entendida como uma tecnologia com imenso poder de dar liquidez extrema a à formação da vontade coletiva?

Se vierem a confirmar-se como um dado permanente da nova realidade que papel terão na conformação da institucionalidade? Que instituições democráticas serão capazes de exprimir no cotidiano o novo poder que desce às ruas?

Penso que o movimento reflete elementos conjunturais comuns relacionados à crise orgânica que se exprime em nível planetário e que produzirá uma nova reacomodação geral do poder. Porém, penso que os movimentos exprimem também um novo universo político que deverá incorporar novos arranjos institucionais ainda não estabelecidos onde a democracia direta ganhará espaços sobre a representativa e onde a consulta popular direta tenderá a tornar-se um polo incontornável da formação dos novos consensos que sustentam o poder.

A Reforma Política não poderá furtar-se de estudar a matéria e propor no Brasil novas respostas institucionais. Talvez o mundo deva beber um pouco da experiência política suíça onde os grandes temas são alvo de inúmeros referendos todos os anos. Eles denominam as consultas de referendos mas se trata na verdade de plebiscitos, pois quem referenda  a vontade popular é o poder político uma vez consagrado o resultado.

É a Internet a nova Ágora?

 

 

Ion de Andrade

Médico epidemiologista e professor universitário

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