Alunos da USP cercam reitor cobrando auxílio e mais professores; novo ato ocorre na quarta

Carla Castanho
Carla Castanho é repórter no Jornal GGN e produtora no canal TVGGN
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Estudantes afirmam que o campus Leste, onde há maior concentração de alunos pretos e pobres, é o mais marginalizado pela USP

Foto: Divulgação

Alunos da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH/USP) precisaram cercar o reitor, Carlos Gilberto Carlotti Junior, para cobrar por políticas de permanência estudantil e reivindicar providências contra a falta de professores no campus Leste. Nova manifestação ocorre nesta quarta-feira (21).

Veja no vídeo abaixo:

Segundo a estudante de obstetrícia do 4º semestre e representante discente do curso e da Comissão de Graduação da EACH/USP, Eduarda Rodrigues Resende, o polo é o mais marginalizado por estar localizado em uma área periférica e ser o que mais conta com estudantes de escola pública e negros. 

“A USP enxerga a EACH como uma USP de 2ª categoria. Apesar ter excelentes indicadores, eles ignoram e marginalizam nosso campus. E o curso que mais sofre é a obstetrícia”.

A mobilização ocorreu na última sexta-feira (16), e contou com aproximadamente 200 estudantes.

A atitude de impedir a passagem do reitor, explica Eduarda, se deu após a recusa de ouvir os alunos no auditório em meio ao programa Reitoria no Campus, momento em que os líderes – reitores e membros da comunidade acadêmica – se reúnem na universidade para estimular o diálogo – ao menos, era o que deveria ser feito.

“É um desrespeito com os servidores da EACH/USP também, né? Que teriam essa reunião para falar das demandas do campus e a Reitoria decidiu cancelar devido a nossa presença.”

“Ouvindo os alunos”

As tentativas dos alunos para serem ouvidos pelo reitor não foram poucas, segundo Eduarda. “Eles mentiram pra gente e trancaram a porta para a gente não entrar.”

Após a reitoria cancelar a reunião pela indignação dos estudantes, que gritavam “Unificou, unificou, EACH toda por auxílio e professor!”, finalmente, ocorreu o desabafo no auditório pelos representantes do corpo discente. 

“E durante a fala dele [reitor], em nenhum momento se comprometeu com nossas reivindicações. Usou o tempo de fala para apresentar os indicadores de melhoria que essa nova gestão trouxe para a USP.”

As porta-vozes que apresentaram as demandas e apontaram as problemáticas que não são de hoje, foram Eduarda Rodrigues e Mariana Mansa, do curso de Obstetrícia, e Manuelle Longhe, de Têxtil e Moda. A explanação teve início às 11h e durou meia-hora, depois de mais de 4 horas de insistência. 

“Ele tentou explicar também porque para a EACH foram designados somente 13 docentes, sendo que a gente tem 11 cursos aqui, basicamente seria 1 docente para cada curso”, revela Eduarda. 

Segundo Eduarda, a estimativa da coordenação do curso mostra que faltam 24 professores, somente na composição docente da Obstetrícia, o que implica na formação dos alunos. 

“Eu que entrei em 2020, era para me formar ano que vem, e eu só vou me formar em 2025.”

Auxílio permanência

A conversa com a pró-reitora, Ana Lucia Duarte Lanna, que ficou responsável por esclarecer as razões de alguns alunos perderem o auxílio permanência, que faz parte do Programa de Apoio à Permanência e Formação Estudantil (PAPFE), também não avançou, diz a estudante. 

“Ela [pró-reitora] ignorou as problemáticas apresentadas pelos estudantes, a cobrança de transparência nos processos, não teve nenhuma fala dela no sentido de ‘vamos cuidar disso’.”

Vídeo: Divulgação

Entenda o problema 

O programa de Apoio e Permanência e Formação Estudantil (PAPFE), é coordenado pela Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento, e faz parte da política de permanência da USP. 

O objetivo é promover um melhor aproveitamento do aluno durante o período acadêmico, e evitar a evasão propiciada por problemas econômicos.

Segundo dados de 2023, 15.000 auxílios seriam destinados aos contemplados, mas, de acordo com Eduarda, o propósito caminha na direção oposta. 

“A gente tem escutado muitas reclamações de estudantes que têm trancado seus cursos porque não conseguiram auxílio. Por se tratar de estudantes pobres, precisam trancar para trabalhar e sobreviver na cidade de São Paulo.”

O programa de auxílio permanência foi reformulado no início do ano e passou a oferecer ao aluno, durante todo o curso, um benefício unificado no valor de R$ 800,00, que contempla o apoio-moradia, auxílio-moradia, auxílio-livros, auxílio-alimentação e auxílio-transporte. 

No entanto, Eduarda diz que “a realidade é que os alunos estão perdendo bolsa e tendo que trancar seus cursos. Falta transparência sobre a forma como estão tocando essa política.”

Atraso na formatura

O atraso na previsão de formatura também é relacionado à pandemia de Covid-19. Em 2021, foi decidido em assembleia que os estágios do curso de obstetrícia seriam paralisados pela segurança dos alunos. Mas ainda não há alternativas para se recuperar o tempo perdido.

“A gente não tem professores suficientes para montar um esquema, por exemplo, de estágio inter-semestral ou outras possibilidades.”, diz Eduarda.

O entrave para a Obstetrícia

A falta de docentes também impacta no cumprimento de estágios, que, no curso de Obstetrícia, demanda um supervisor no campo prático, segundo o Conselho Federal de Enfermagem. 

“E também implica no oferecimento de menos vagas porque tem um número limite de estudantes que podem estar em um campo de estágio acompanhados de um professor, isso varia de estágio de pré-natal para estágio de sala de parto.”

Os professores, no entanto, têm feito um esforço contínuo para driblar o problema, que dispõe de apenas 40 vagas disponíveis para realização do estágio, sendo que, anualmente, são 60 vagas destinadas a estudantes do curso.

“A nossa coordenação e as professoras têm se desdobrado para incluir todas as alunas, ninguém está ficando de fora.”

Direto do Chile

As reivindicações que começaram por volta das sete da manhã e reuniram aproximadamente 200 estudantes da EACH/USP dos cursos de obstetrícia, gerontologia, gestão de políticas públicas e outros, também marcaram presença no Chile, iniciativa da intercambista Suzane Witt.

Outro lado

Procurada pela reportagem, a USP encaminhou nota pública informando que todas as chamadas previstas no edital dos cursos de graduação já foram feitas, estando pendente de decisão apenas auxílios da pós-graduação de quem interpôs recurso ao resultado inicial da avaliação socioeconômica.

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