De fato e de ficção sobre a política internacional

https://www.youtube.com/watch?v=ynBplqio1R4]

Gente, parte significativa do que circula em redes sociais sobre política, nacional ou internacional, ou é viesado ou é falseado. E o que impacta indiretamente em política, quer seja religião ou economia, infelizmente, também.

Não se alcança apoio para nenhuma causa ou lado usando material inverídico. Antes tira-se credibilidade da causa, da ideologia, da proposta, do que seja.

Eu sei que órgãos importantes de mídia podem ser omissos em algumas coisas, ou até tendenciosos nas suas colunas de opinião (grupos Fox e Murdoch, por exemplo), mas, no geral, e mesmo esses, pelo menos não inventam.

E a capacidade do que se chama de ‘blogosfera’ para realizar investigações, descobertas ou reportagens é realmente limitada. Que não se crie falsas ilusões a respeito. As pessoas estão teclando das suas casas, não sendo “correspondentes internacionais”.

Eventualmente é interessante ver opiniões, visões alternativas e tal. Mas sobre fatos concretos e estabelecidos.

Senão fica um achômetro de quem conta um conto aumenta um ponto.

Se eu suspeito de uma foto, tento ver antes se no tineye.com já há pistas sobre a origem real da mesma. Quase sempre se acha a verdade já nesse teste.

Se um “fato” ou uma “notícia” (que é diferente de uma “opinião”, embora todos sejam “matéria”) não aparece por grandes agências internacionais, lamento, grandes são as chances de não ser sequer “opinião”, mas apenas “torcida”.

Não há (embora haja quem acredite que há) uma conspiração internacional para deturpação de notícias. Agências internacionais podem até dar destaque seletivo para algumas coisas, mas o que se vê nelas acaba quase sempre confirmado (o que não agrada a alguns discursos, mas até aí paciência.)

Tanto que, usando um exemplo famoso, quando começaram os bombardeios de Bagdá em 2003, todo mundo já sabia que não se encontrariam armas químicas, certo? As agências (e jornais dos EUA) já tinham divulgado as pesquisas da ONU a respeito.

Então, menos, muito menos.
 

Para “opinião” qualquer fonte é aceitável, desde que se perceba ser de boa fé. Podemos concordar ou não com a opinião expressa. Aí não é só blogosfera que vale, mas comentários de amigos também.

Até aqui estamos apenas influenciando a formação do consciente coletivo, mas basta sermos honestos conosco que não prejudicaremos ninguém. O máximo que pode acontecer é errarmos de diagnóstico e descobrir isso depois.

Mas para fatos e notícias, sinceramente, eu fico mais tranquilo, ao menos por ora, com o que se chama de ‘velha mídia’. E os veículos/agências que menos têm me decepcionado são os seguintes: terra.com.br, O Globo, Valor, El País, cnn.com, The Guardian, Reuters, BBC, Deutsche Welle, Huffington Post. (Para questões locais, jornais locais também, óbvio.)

Olha, se algo (muito importante, não meramente local) não apareceu em pelo menos um desses veículos, francamente, são grandes as chances de não ter ocorrido.

E não, não ponho Voz da Rússia nessa lista, apesar de sua visibilidade. Realmente sinto muito, mas, se for para ter notícias do “1984 encarnado” prefiro Gazeta Russa.

Enfim, redes sociais são para desenvolver relacionamentos e ampliar conhecimentos, e não é, realmente, uma boa ideia ficar conhecido como “espalhador de hoaxs”.

Antes que ficar agradando a A ou B acho melhor ser franco e crível.

[video:https://www.youtube.com/watch?v=WRmBChQjZPs

P.S. 10:40

O colega Marko sugeriu um link muito bom:

http://www.journalism.co.uk/news/verification-tips-both-source-and-content/s2/a557027/

O que eu acho que acontece é que, com o advento da internet e redes sociais, percebeu-se a oportunidade de se espalhar hoaxs e propagandas. 

E tais propagandas, ao contrário da ‘trollagem que é feita para irritar, são construídas para serem agradáveis a anseios comuns por justiça e um mundo melhor. Os sentimentos de indignação que todos podem ter são acarinhados. Por isso o estilo ‘denúncia’ de muitas. E são disponíveis para as variadas ideologias e lados, como ‘produtos’.

As pessoas, desacostumadas que foram pela mídia tradicional de décadas, que se impunha limites e tinha portanto credibilidade, desenvolvem a tendência a acreditar em tudo o que está escrito. Se o que está escrito, ainda por cima, agrada aos corações, pronto, o senso crítico se esvai e as coisas – até teorias de conspiração – se tornam até “virais”.

Como o Mundo passou por décadas horríveis no século XX, até bem recentemente mesmo, onde totalitarismos e ditaduras censuravam informação ou forjavam a realidade, e não havia modo de se contrapôr informação, os mais variados medos também são explorados.

Mas já é crescente a percepção de que “nem tudo é verdade”. E que os problemas de manipulação podem ser ainda maiores na internet (blogs, redes sociais) que na grande mídia tradicional.

É claro que isso leva a decepção, a algum desencanto. É doloroso perceber que aquilo no que se acreditou pode ter sido obra de lobos em pele de cordeiro, ou, quando de boa fé, algo irrealista como reflexo de uma frustração exacerbada.

P.S. 10:50

O raciocínio que quero expor é que há produtos jornalísticos e fornecedores consolidados, e de certo modo até vigiados.

E que fora disso há até fornecedores novos e alternativos, mas também muita aventura.

É como se grande mídia fosse “indústria farmacêutica” (legalizada, regulamentada, livre para pesquisar e produzir mas sob alguns parâmetros.)

E como se redes sociais, blogs, novas mídias fossem “produção doméstica”, sujeita a erros, oscilações de qualidade e inclusive a charlatanismo.

E a “verdade justa e absoluta” se apresenta como “a cura do câncer”.

Se as pessoas fossem críticas com o modo com que se informam do mesmo modo que são quando tratam de saúde…

Redação

14 Comentários

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  1. “Fatos” e “Ficção”
    “pelo menos não inventam” Olha… rs pra mim, omissão e distorção a la Fox “news” são Piores q invenção, pq né rs mesmo considerando q quem vive em lugares com opções d informação relativamente diversificada e ainda sim opta por engolir acriticamente qq extremo é pq já procura por esse tipo d “informação” ou melhor, confirmação d viés; cada vez mais noto q as pessoas na média à parte os extremos gostam das coisas meio mastigadas, então distorções além do razoável, omissões e mesmo mentiras (como no caso das recentes prisões arbitrárias solicitadas pela polícia carioca), a longo prazo tem um peso nada desprezível no desenrolar dos acontecimentos.  “quando começaram os bombardeios de Bagdá em 2003, todo mundo já sabia que não se encontrariam armas químicas, certo? As agências (e jornais dos EUA) já tinham divulgado as pesquisas da ONU a respeito.” Como diria certo personagem d humor da tv brasileira “Maaais ou menos né, mais ou menos” rs 
     Como disse acima e lembra John Pilger http://www.youtube.com/watch?v=10iiUYLOd7E Depois q o estrago estrago está feito é fácil dizer “é… podíamos ter sido mais incisivos”,  “sido menos parciais” etc etc Aí, já não adianta mais, incontáveis Inês tão mortas…  Qto à opiniões e torcidas, não escapa ninguém, apenas algumas são mais aparelhadas. Enfim…

    1. Mas se for algo importante

      Mas se for algo importante mesmo aparece no NYT, Washington Post, etc. E se alguém aceita ou mesmo busca informação viesada, como vc mesmo notou, não faz diferença. Acontece com blogosfera também.

      Eu realmente não tenho boa impressão de John Pilger. Confiar desconfiando, no mínimo.

      Esse artigo a seguir achei manipulativo até (tem comentário meu nele):

      https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/a-coragem-de-desobedecer-por-john-pilger

      1. Roberto Marinho dizia que se

        Roberto Marinho dizia que se deu no JN aconteceu; caso não, o fato não não aconteceu. É este o seu raciocício.

        1. Não. É muito o contrário.

          O raciocínio que quero expor é que há produtos jornalísticos e fornecedores consolidados, e de certo modo até vigiados.

          E que fora disso há até fornecedores novos e alternativos, mas também muita aventura.

          É como se grande mídia fosse “indústria farmacêutica” (legalizada, regulamentada, livre para pesquisar e produzir mas sob alguns parâmetros.)

          E como se redes sociais, blogs, novas mídias fossem produção doméstica, sujeita a erros, oscilações de qualidade e inclusive a charlatanismo.

          Se as pessoas fossem críticas com o modo com que se informam do mesmo modo que são quando tratam de saúde…

          E, aproveitando o gancho, um exemplo de notícia que a gente ainda consegue saber graças à mídia, pois a blogosfera se omite propositadamente.

          http://oglobo.globo.com/economia/durante-encontro-dos-brics-human-rights-watch-denuncia-violacoes-de-direitos-na-russia-13261892

           

          1. Industria farmacêutica e Jornalismo

            Eu até entendi a intenção da comparação, sobre um conjunto d normas mínimas padronizadas (se fossem seguidas), mas acho melhor a simplicidade como vc próprio citou do “confiar desconfiando”, mesmo pq infelizmente, teorias e mistificações à parte, na prática o charlatanismo corre solto, das desreguladas grande imprensa à blogosfera, das  fiscalizadas indústria farmacêutica ao curanderismo. 

            https://www.ted.com/talks/ben_goldacre_what_doctors_don_t_know_about_the_drugs_they_prescribe 

            http://edition.cnn.com/2014/02/27/opinion/plotkin-amazon-shamans/ “Como os médicos, os xamãs não são infalíveis e variam (muito) em habilidade (e experiência). Este xamã …Eu sabia que se tratava de um mestre em seu ofício.”

            http://youtu.be/i7WVIJERmmo?t=7m37s Debate interessante sobre imprensa (tradicional e alternativa) e seu papel 

             

  2. Eu tenho fé, eu acredito e nem sou idiota

    Com menos de 12 horas do fato a Globo já dava  a autoria da tragédia com o avião “derrubado” na Ucrânia, a marca do missil,  o fabricante do veículo lançador. A Globo só não conseguiu divulgar os números da mega sena. Ainda assim eu confio  nas “informações” vindas dos americanos. O Iraque de Saddam Russein tinha um arcenal de armas quimicas. Eu acredito na Globo.

  3. Eu também acho que o pessoal

    Eu também acho que o pessoal embarca em muita canoa furada, tanto que já postei algumas vezes aqui até provas de que circulavam falsas fotos de soldados israelenses pisando em crianças palestinas, cuja divulgação é um desserviço à causa palestina. Não faltam vídeos e fotos verdadeiras de espancamentos de crianças por soldados israelenses. E o que é pior: continuam os assassinatos de crianças palestinas pelas forças de Israel. Aliás, quem denunciou isso foi o The Guardian, que tinha um repórter na praia onde foram mortos quatro meninos palestinos anteontem. Por outro lado, a cobertura do Guardian para a crise da Ucrânia sempre foi alinhada à geopolítica britânica-estadunidense, e aí é tão confiável quanto a Voz da Rússia e coisas do tipo.

    http://www.theguardian.com/world/video/2014/jul/16/gaza-israeli-strike-kills-four-children-beach-video

    1. Sobre Gaza penso parecido

      O que tem sido feito com fotos de encenações, de outras situações (como Síria 2013) são desserviço, tiram a credibilidade e servem para uso dos falcões israelenses. (Mas, além disso acho um erro total o Hamas não reconhecer Estado de Israel, no que se coloca em posição contrária à toda a Comunidade Internacional, inclusive vários países árabes.)

      Quanto à crise da Ucrânia li muito na época. Acho que The Guardian foi o mais confiável em tudo. Não é problema representar o lado britânico-americano (e/ou estadunidense) quando este é, contingencialmente, o certo. A questão é perceber quando este é o lado certo, dado o histórico de décadas.

       

       

      1. Gaza e Ucrânia

         

        Novamente, curioso lembrar q os constantes rompimentos d trégua por parte d Israel (na forma d incursões terrestes e “práticas tiro” d seu exército e força aérea) q resultaram na reação do Hamas na forma d lançamentos a esmo dos ineficientes e ultrapassados foguetes, se deram à partir do momento q este grupo abandonou à prática terrorista dos homens bombas (ao menos até o momento), e propôs as fronteiras d 1967 como ponto d partida p/futuras negociações, o q implica num reconhecimento implícito do estado israelense.

        Que a atuação desse mesmo estado contra Cisjordânia e Gaza seja o fator (ir_)responsável direto pelo nascimento, crescimento e incentivo d radicalismos e grupos como Hamas, não deixa d ser curioso tb.

        Qto à questão do avião d passageiros abatido na Ucrânia, tudo leva a crer q foram os rebeldes apoiados por Moscou, os ir_responsáveis pela carnificina. 

        E falando em Gaza e Ucrânia, outra curiosidade, pq não me surpreende q a homofobia entre ‘Putinianos’ e supremacistas sionistas seja um fator comum a ambos? https://twitter.com/davidsheen/status/490616605877886976

         

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