De Getúlio a Dilma, o passo bêbado do país que não foi para a frente

No discurso da Presidente Dilma Rousseff, neste 1º de maio de 2014, ouvi os ecos de todas as nossas crises recentes, passadas e não resolvidas. Como se não fossemos capaz de superá-las e seguirmos para a frente.

Dos dias tormentosos que vivemos os nossos mortos se riem. Somos herdeiros de sua maldição e da sua incapacidade de encontrar o espaço de convivência que permitisse a obra do país. Como bêbados ou sonâmbulos marchamos em círculos em torno de suas tumbas.

Getúlio Vargas, Carlos Lacerda, Tancredo Neves, Juscelino Kubitschek, Leonel Brizola, Roberto Marinho, Assis Chateaubriand, Julio Mesquita Filho e Samuel Wainer. Alguns nomes da crise que levou ao suicídio de Vargas. Todos mortos. Poderia acrescentar a esses nomes os de João Goulart, Janio Quadros, Ulisses Guimarães e mais outros da crise que levou-nos a ditadura. Todos mortos.

E, no entanto, no discurso da Presidente Dilma Rousseff ouvi os ecos de todas essas crises passadas, como se não fossemos capaz de superá-las. 

No texto abaixo, estão mesclados o pronunciamento da Presidente Dilma Rousseff  neste primeiro de maio, o discurso de João Goulart no célebre comício da Central do Brasil e a carta testamento de Getúlio Vargas. Parecem formar um preocupante conjunto unitário. Quem puder, encontre nele os pontos de ruptura que permitiriam identificar quando se trata de um ou dos outros.

De Getúlio a Dilma, passando por Goulart, mantemos o mesmo passo bêbado do país que não foi para a frente.

“Trabalhadores e trabalhadoras,

neste primeiro de maio, quero reafirmar, antes de tudo, que é com vocês e para vocês que estamos mudando o Brasil. Vocês que estão nas fábricas, nos campos, nas lojas e nos escritórios, sabem que estamos vencendo a luta mais difícil e mais importante: a luta do emprego e do salário.

Nosso governo tem o signo da mudança e, juntos com vocês, vamos continuar fazendo todas as mudanças que forem necessárias para melhorar a vida dos brasileiros. Continuar com as mudanças, significa, também, continuar lutando contra todo tipo de dificuldades e incompreensões. Porque mudar não é fácil, e um governo de mudança encontra todo tipo de adversários que querem manter seus privilégios e as injustiças do passado.

Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam; e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.

A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a Justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios.
Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras, mal começa esta a funcionar a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o povo seja independente.

Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo e renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. 

Mas nós não nos intimidamos.

Vamos continuar lutando pela construção de novas usinas, pela abertura de novas estradas, pela implantação de mais fábricas, por novas escolas, por mais hospitais para o nosso povo sofredor; mas sabemos que nada disso terá sentido se ao homem não for assegurado o direito sagrado ao trabalho e uma justa participação nos frutos deste desenvolvimento.

O caminho das reformas é o caminho do progresso pela paz social. Reformar é solucionar pacificamente as contradições de uma ordem econômica e jurídica superada pelas realidades do tempo em que vivemos. E realidade há de ser também a rigorosa e implacável fiscalização para que seja cumprido. 

O governo, apesar dos ataques que tem sofrido, apesar dos insultos, não recuará um centímetro sequer na fiscalização que vem exercendo contra a exploração do povo. E faço um apelo ao povo para que ajude o governo na fiscalização dos exploradores do povo, que são também exploradores do Brasil. Aqueles que desrespeitarem a lei, explorando o povo – não interessa o tamanho de sua fortuna, nem o tamanho de seu poder, esteja ele em Olaria ou na Rua do Acre – hão de responder, perante a lei, pelo seu crime.

Temos o principal: coragem e vontade política. E temos um lado: o lado do povo. E quem está ao lado do povo, pode até perder algumas batalhas, mas sabe que no final colherá a vitória. 

Hoje, com o alto testemunho da Nação e com a solidariedade do povo, reunido na praça que só ao povo pertence, o governo, que é também o povo e que também só ao povo pertence, reafirma os seus propósitos inabaláveis de lutar com todas as suas forças pela reforma da sociedade brasileira. Não apenas pela reforma agrária, mas pela reforma tributária, pela reforma eleitoral ampla, pelo voto do analfabeto, pela elegibilidade de todos os brasileiros, pela pureza da vida democrática, pela emancipação econômica, pela justiça social e pelo progresso do Brasil.

Viva o primeiro de maio!

Viva a trabalhadora e o trabalhador brasileiros!

Viva o Brasil!”.

Redação

16 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Elite depravada

    A prá lá de deprava e burra elite tupinquim não aceita o trabalhismo, mesmo que isso signifique melhora para todos, inclusive para ela própria elite que, como sabemos, quanto mais pessoas são incluidas no mercado consumidor mais eles faturam, os números estão ai, os donos da Globo acumulam uma fortuna que ultrapassa 50 bilhões de reais mas acham pouco, não querem saber de melhorar a vida do povo, derrubaram a CPMF, querem dar fim ao regime de partilha da Petrobrás, nada de aceitar royalties para a educação e saude, devem mais de 1 trilhão de reais ao fisco, boicotaram a taxação das grandes fortunas para ajudar no custeio da saúde…e tem um exército de inocentes úteis que acreditam…triste

    1. que acreditam e que gostam de trabalho escravo…

      trabalho escravo inclui servidão com ideias absurdas e completamente fora do contexto atual

    2. Eh que a nossa pseudo-elite

      Eh que a nossa pseudo-elite so se sent feliz se cercada de miseria. Para eles nao tem graca ser rico se nao estiverem cercados de miseraveis se submetendo a seus caprichos por qualquer trocado. Eles morrem de saudade do tempo em que isso ocorria e farao de tudo para nos jogar de volta ao sec XIX.

      1. Para essa elite, Barbosa caiu do céu

        Precisamos lutar pela libertação de nosso companheiros sentenciados injustamente, queremos nossos lutadores lutando por nossos direitos como sempre fizeram e não sendo objeto de sadismo do aparato deste midiatico-penal prá lá de tosco

    3. FALOU TUDO!

      Perfeita a sua análise.

      Tenho um amigo que após a hecatombe dos negros dias do FHC, finalmente seu negócio arribou, vende muito, fatura bastante, ficou muito, mas muito bem de vida.

      Infelizmente, não percebeu, ainda, que tudo foi graças à mudança que tivemos em nosso País, basicamente provocada pelo governo Lula e Dilma.

      Por razões locais, ele vai crivar na Dilma. Menos mal, mas não percebeu que seu sucesso, além é claro de seus méritos, pois dele também dependeu, tem a sustentação de um mercado que foi fundamentado neste governo, que tantos estão jogando pedras.

      Muito boa a sua colocação.

      1. Ele se acha uma ilha.  Não

        Ele se acha uma ilha.  Não entende que não é nunca foi.  Tanto é verdade que aa era das trevas de fhc por pouco não comeu restos de lixo.

        Mas clama pelo retorno da era das trevas. Com o arrocho fiscal e salario, congelamento do salario minimo e aumento para 40% da taxas de juros, com certeza nem restos do lixo sobrará para ele.

         

  2. Muitos tombaram, não só metaforicamente, na luta

    contra os que se apegam aos privilégios e resistem ferrenhamente aos avanços sociais da classe trabalhadora.

    Embora a mídia continue se utilizando dos mesmos expedientes virulentos de outrora, temos os blogs sujos.

    Só falta o governo ter um pouco mais de coragem e meter lei de mídia neles, como ocorre em qualquer país maduro democraticamente.

    No fundo, a mãe de todos as mazelas é a concentração da informação nas mãos de tres ou quatro famílias, quase todas de judeus e listadas na Forbes.

    Resolvendo isso, o salto quântico virá.

  3. Não haverá mudança nenhuma

    Não haverá mudança nenhuma sem enfrentamento. 

    Isso que foi escrito por outro comentarista, que a classe abastada deveria entender que o que é bom para os mais pobres também pode ser bom para eles pode ser chamado, parafraseando o grande Lênin, de doença infantil do trabalhismo.  Não é nem nunca será bom para ambos.

    Dilma perdeu sua chance de ouro em junho do ano passado, quando o povo chegou a subir em cima do Congresso Nacional. Poderia mandar qualquer coisa prá lá que seria aprovado. 

     

  4. Vivi todos os fatos que o cronista se refere

    Pela minha idade, posso dizer que vivi todos os fatos que o cronista se refere.

    Penso, pelo que vivifiquei, que io texto exagerta bastante.

    A situação modificou-se muito. Mas a luta sempre  existirá. Travamos, no pretérito,  intensas batalhas, difíceis e duras. Terríveis mesmo.Nunca conseguimos o poder sem oposição, máxime comandada pela Casagrande. Nunca.

    Hoje, pelo que sinto, conseguimos melhorar e muito as condições de vida e desenvolvimento de nosso povo, através dos governos Lula e Dilma.

    É fácil? É claro que não. E nunca será.

    O povo atualmente é enganado e fraudado pela mídia comandada pela elite econômica, pela extrema direita. É cruel e sórdida. É claro que a presidenta repete muitos sonhos brasileiros, mas mostra que conseguimos chegar a grandes resultados, mesmo tendo a consciência de que podem destruir o trabalho que foi feito.

    Então, temos que continuar a luta.

    É é uma luta que sempre existira, aqui, como em qualquer outro lugar do mundo.

    Não há, no entanto, local para desânimo. Temos que enfrentar e buscar sempre um mundo melhor para o povo brasileiro.

     

  5. O governo de Dona Dilma

    O governo de Dona Dilma Roussef e do PT não reage aos avanços dos inimigos do trabalhador brasileiro. È obvio que a politica de inclusão do PT tirou da marginalidade um  grande número de brasilleiros mas para garantir uma fantasia chamada governabilidade o partido fez concessões aos inimigos do povo brasileiro de maneira que os avanços obtidos foram anulados e hoje o país  é refém de suas elites irresponsáveis, uma classe que continua aferrada aos padrões das Capitanias Hereditárias .  As eleições de outubro próximo são as mais importantes dos últimos cem anos porque o eleitor deverá optar entre o modelo pouco eficiente de governo do PT e os aventureiros civis que tramaram o golpe militar de 1964. O Eleitor deve pensar nas consequencias nefastas para o economia do país de um governo com Aécio Neves ou Eduardo Campos. Embora o PT seja incapaz de tomar decisões ousadas ele representa uma alternativa aos padrões do PSDB, PSB e outros partidos menores. Vejo com preocupação a aliança do PT com o PMDB porque um impedimento de Dilma Roussef colocaria o país para ser governado pelo que existe de pior.  

  6. A origem sa suposta repetição

    A origem sa suposta repetição de discurso mostra que não conseguimos superar o que foi a razão de sermos a mesquinharia que somos hoje: a escravidão. Esse sim o fato central na história do nosso país, aquilo que ainda marca relações pessoais e é transmitido entre descendentes de poderosos ou adquirido pelo potencial egoísta do recém “vencedor”.

  7. Esta é a grande disputa que se trava neste momento.

    Os mesmos grupos que atacaram Jango e Getúlio estão atacando, com a mesma ferocidade, o governo de Dilma.

    Isso é claro.

    O que não está claro é que a imagem de “bom menino” que a mídia passa em favor de Aécio serve para ludibriar os de boa fé que embarcam na propaganda “gestão” e não enxergam que se trata de políitca de menos direitos, menos Estado e menos social.

    O que não está claro, é que as tentativas de Campos como “terceira via” e a imagem que aplicam à ele escondem que ele defende os mesmos princípios de Aécio.

    Para os atentos, é claro que o que está na disputa são os dois lados apontados na mistura de discursos que o belo post de Saraiva nos brinda.

  8. Tudo ou Nada

    Os maiores problemas e deficiências enfrentadas estes últimos 12 anos de governo popular tem sido a falta de base parlamentar confiável para Lula e agora para Dilma, com exceção honrosa do PCdoB. Por causa de alianças circunstanciais, orbitando ao redor do tempo na TV, o PT deve dividir cadeiras na câmara e no Senado, com políticos pouco confiáveis.

    Embora não tenha existido o mensalão, como conceito, houve sim um enorme desgaste do PT para ajudar a cumprir com compromissos de campanha em torno de partidos aliados, pela tentativa do PT de poder contar com o apoio desses chamados aliados. Ainda, persistem resistências da chamada “base aliada” para evoluir em diversos pontos importantes.

    Nesta próxima eleição o povo deve ser conclamado para apoiar o PT e aliados programáticos, demonstrando que o que falta ao Brasil é intensificar as propostas populares, ou seja, maior dosagem de PT e aliados. Os governos recentes de Lula e Dilma pecaram pela falta de intensidade em muitas das suas propostas e, pelo contrário, pelo excesso de dedicação, desgaste político e tempo perdido em agradar ao PIG e apoiadores pouco confiáveis. Não foi a toa que a maior luta dos poderes ocultos do Brasil tem sido destruir o PT (Dirceu, Genoino e outros) e não necessariamente a figura do eventual presidente em exercício (FHC querendo deixar o Lula sangrar).

    O movimento de junho passado veio a demonstrar isso, pois a Dilma, respaldada pela juventude nas ruas, conseguiu emplacar o dinheiro do pré-sal na educação e o programa Mais Médicos, assuntos impossíveis de conseguir com a base parlamentar pífia. Falta agora a reforma política (a mãe das reformas). Em torno desta reflexão eu conluio que precisamos direcionar a campanha em favor do PT, não apenas da Dilma como pessoa, mas priorizando chapas puro sangue em todos os cargos eletivos, com a companhia estrita de aliados programáticos.

    A mensagem da campanha deveria ser algo que motive e chame ao povo para a responsabilidade, do tipo: Por um governo realmente popular e que mude o Brasil. Dilma pode dizer que, depois deste namoro de quatro anos ela quer agora casar com o povo, de papel passado, ou prefere voltar para sua casa a cuidar da sua neta se o povo continuar apoiando ela apenas da boca para fora e colocando gente desqualificada no parlamento Vamos ao tudo ou nada.

  9. Realmente há muito em comum,
    Realmente há muito em comum, apesar das especificidades e estilos pessoais, entre Getúlio Vargas, João Goulart, Lula e Dilma… Todos governantes trabalhistas… Todos sob severo bombardeio da mídia direitista, anti-nacionalista, pró-mercado e anti-povo… Todos vítimas de factoides e da construção ou artificialização midiática de escândalos de corrupção, para criminalizá-los ou criminalizar seus partidos… Todos odiados por certo tipo de elite, herdeira do senhorialismo branco e patronato escravocrata da casa grande… Todos vítimas de golpes, tentativas de golpe ou manobras golpistas (por parte da mídia direitista ou de forças políticas ultra-conservadoras, que não respeitam a soberania popular do voto quando esta lhes é adversa)…Apesar disso, cada um a seu modo conseguiu avanços sociais mínimos para o povo brasileiro. E quase tudo que representou conquistas para o povo e a classe trabalhadora saiu de seus governos… contra os quais se levantam as elites e a mídia reacionária de direita…Mas, apesar disso: “De Getúlio a Dilma, passando por Goulart, mantemos o mesmo passo bêbado do país que não foi para a frente”… E não foi pra frente porque temos as piores e mais mesquinhas elites do planeta… As elites mais retrogradas e insensíveis socialmente de toda a história… E que com sua mídia abjeta desconstroem todos os tímidos avanços que este ou aquele governo popular ou de esquerda conseguiu alavancar… Tratando o povo a pontapés e como eles mesmos falam: “com rédeas curtas” para que reconheçam o seu “devido lugar”: o da “senzala”…Sua frase predileta: “… manda quem pode (os endinheirados…) obedece quem tem juízo (os excluídos e oprimidos, que devem obedecer docilmente aos seus senhores, passando fome e privações, mas resignados com a riqueza dos que os chicoteiam…)”… 

  10. Nasssif
    O Lula calou as

    Nasssif

    O Lula calou as oposições / TUCANOS, mas permitiu a PAPAGAIADA da mídia PORCA…….

    A Argentina fez a lei de médios, o Venezuela fechou a Globo de lá e aqui…..

    Merecemos apanhar……

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador