Dia EI aproxima escolas estaduais de Salvador das comunidades locais

Por Ana Luiza Basílio, do Centro de Referências em Educação Integral

A comunidade de Santa Cruz, localizada na região nordeste de Amaralina, em Salvador, acordou aos sons de uma fanfarra no último sábado, 23 de novembro. Cerca de 150 alunos da Escola Estadual General Dionísio Cerqueira foram às ruas do bairro para convidar os moradores a virem para a instituição e participarem do Dia EI – Dia da Educação Integral que mobilizou outras 33 escolas da rede estadual.

Alunos da Escola Estadual General Dionísio Cerqueira organizam passeata na comunidade.

Alunos da Escola Estadual General Dionísio Cerqueira organizam passeata na comunidade.

A passeata apresentou uma amostra das atividades que hoje acontecem na escola e do movimento feito no sentido de envolver os alunos na aprendizagem e de integrar a instituição ao seu território. Os 500 alunos que frequentam a escola – entre Ensino Fundamental II e Educação para Jovens e Adultos (EJA) –, cumprem o ensino regular na parte da manhã e oficinas no período da tarde, sendo parte delas oferta do Mais Educação e parte fruto dos projetos desenvolvidos a partir da articulação da unidade com outros atores sociais.

Atividades como capoeira, música, dança e teatro fazem parte do dia a dia dos alunos, o que mostra a preocupação da gestão em diversificar o ensino e aprendizagem e trazer novas possibilidades educativas ao espaço escolar a partir de uma conduta multidisciplinar. Para Maria Auxiliadora Rodrigues Cortes, diretora da instituição, essa foi a saída para combater o alto índice de evasão escolar, decorrente em grande parte dos problemas estruturais do território, marcado pela violência e pela presença do tráfico de drogas. “Percebemos que não daríamos conta sozinhos. Então, a ideia é mostrar que escola é movimento, vida, e que permite sim a interação de outros agentes, como a comunidade”, explica.

Para o professor de geografia, Luiz André Degaut Goes Santos, a diversidade de aprendizagem significa muito para a comunidade. “Além de apresentar um novo cenário para os jovens, é possível reconhecer talentos entre eles ao envolvê-los em outras atividades”. Também é importante, segundo o educador, o apoio financeiro que a permanência na escola pode trazer. “Ofertar almoço para esses alunos pode ser um alento para os pais, visto a complexidade dos problemas sociais da região”, aponta.

O Dia EI deu visibilidade às diversas produções feitas pela escola em parceria com seus alunos e comunidade. Em uma exposição, foi possível ver os produtos desenvolvidos a partir do projeto “Reciclarte”, feito em parceria com a OAS Empreendimentos, que envolve a comunidade em uma coleta seletiva de lixo em apoio à escola; a iniciativa “Nossa Horta”, realizada em parceria com a Odebrecht, mostrou o empenho escolar em diminuir os custos com a alimentação e a possibilidade dos alunos aprenderem com a manutenção da horta e de seus elementos.

Maria Auxiliadora, ou Dôra – como é conhecida entre a comunidade –, acredita que mais do que dar acesso à comunidade é necessário manter uma relação de transparência. “É preciso mostrar aos pais o que seus filhos fazem na escola. E, sobretudo, ter o desejo de mudar”, finaliza.

No subúrbio ferroviário

Aluna do Colégio Estadual Humberto Alencar Castelo Branco revitaliza banco da Praça Revolução.

Aluna do Colégio Estadual Humberto Alencar Castelo Branco revitaliza banco da Praça Revolução.

As escolas da região conhecida como ‘subúrbio ferroviário’ [formado por 22 bairros de Salvador] também se mobilizaram para o Dia EI. Os alunos do Colégio Estadual Humberto Alencar Castelo Branco elegeram a Praça da Revolução, no subdistrito de Peri Peri, como palco das ações presentes na escola. As atividades de percussão, com o apoio do Araketu, exposição e revitalização – o banco da praça foi pintado pela turma –, eram acompanhadas por um olhar emocionado da diretora da instituição Olivia Virginia Vieira Costa. “A ocupação da praça é símbolo de nossa luta pelo combate à evasão escolar e à violência, drogas e armas entre nossos alunos”, comemorou a gestora. A unidade oferece ensino fundamental II e médio a aproximadamente 2.075 alunos.

A temática da Consciência Negra foi o mote encontrado pela equipe do Colégio Estadual Luiz Rogério de Souza para participar do Dia Ei. A escola, que já vem em um esforço de integrar projetos à sua realidade, elaborou uma grande gincana multidisciplinar em que os alunos tinham que apresentar os hábitos e costumes dos países da África. Cada equipe montou uma representação de sua pesquisa e se encarregou de explicar aos que no dia transitavam pela escola, totalmente aberta à comunidade.

O estudante Isaias Martin, do Colégio Estadual Luiz Rogério de Souza, durante apresentação de trabalho.

O estudante Isaias Martin, do Colégio Estadual Luiz Rogério de Souza, durante apresentação de trabalho.

Para o estudante Isaias Martin, integrante da equipe vermelha, responsável pela apresentação sobre Angola, “mesmo diante de uma gincana, os alunos conseguiram se unir e trabalhar em grupo, um ajudando ao outro”. O sentimento também foi compartilhado por Erick Adonai, integrante da equipe azul, responsável pela pesquisa sobre Cabo Verde, que terminou sua apresentação com o provérbio: “Uma mão sozinha não bate palmas”.

No Colégio Estadual de Praia Grande, o diálogo com a educação integral trouxe à escola projetos de artes, karatê e letramento. Para a vice-diretora Leide Oliveira Dias Santos, embora ainda haja cautela por parte dos professores na mudança de proposta estrutural e curricular, há um desejo de mudança.

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Alunos expõem trabalhos durante Dia EI no Colégio Estadual de Praia Grande.

O Dia EI

O Dia EI contou com a mobilização de 34 escolas estaduais de Salvador. A data integra a política de educação integral do Estado da Bahia da qual fazem parte 42 instituições escolares. Para que essas escolas dialoguem com a perspectiva da educação na integralidade do indivíduo foi oferecida, em julho deste ano, uma formação direcionada aos gestores – diretores, vice-diretores, coordenadores e professores – a partir de uma parceria entre Instituto Inspirare, Cipó Comunicação Interativa  e Secretaria da Educação do Estado da Bahia.

Para Irene Piñeiro, coordenadora do Dia EI e do Programa de Formação de Profissionais de Educação: Articulação Escola Comunidade, da Cipó, o trabalho tem como objetivo promover a articulação das escolas com as famílias e comunidades. “Para que não tenhamos mais escolas fechadas aos potenciais educativos de seu entorno, precisamos trabalhar o currículo integral, fazer um mapeamento desses territórios e rever o planejamento pedagógico”, avalia.

A gestora avaliou o Dia EI, que marcou o compromisso dessas instituições  com a educação integral. “Pudemos perceber que as escolas têm potenciais educativos e os jovens têm o desejo de participar. É preciso estimular  isso. Acredito que estejamos no início de um caminho que indica, sobretudo, uma quebra de paradigmas em relação à educação”, finalizou.

Redação

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