Elio Gaspari, o jornalismo mediúnico e a presdigitação da informação.

Elio Gaspari é um italiano que ganha a vida no Brasil praticando um tipo raro de jornalismo – o jornalismo mediúnico.

São conhecidos seus artigos onde psicografa personalidades desencarnadas. Especialmente juízes da Suprema Corte Americana, em relação aos quais Gaspari parece ter uma obsessão quase que sexual.

Pois bem, no seu artigo “A privataria petista mora nos detalhes” na Folha de hoje, 29.12.2013, acrescentou a presdigitação de informação aos seus talentos.  A começar pela chamada para o texto:

“A privatização dos aeroportos da Viúva pode virar um grande espetáculo de especulação imobiliária”.

Temos aqui um caso clássico de não notícia, o uso do verbo “poder” no sentido de possibilidade.

Ora, tudo que ‘pode sim” também “pode não”. Não há informação alguma aqui. Mas veremos que Gaspari, com a agilidade dos malandros de feira que presdigitam uma bolinha, faz desaparecer a dubiedade da situação posta acima e passa a criticar o governo petista como se o fato já tivesse ocorrido.

Mas, antes falemos um pouco da Privataria Petista.

Pelo conceito de Gaspari, a Petista não só existe como é pior que a Tucana.

Gaspari começa lembrando as privatizações do governo FHC.

Durante o tucanato converteram-se papéis podres de dívidas da União em moeda corrente, juntaram-se financiamentos do BNDES, dinheiro dos fundos de pensão estatais e torrou-se a patrimônio da Viúva na festa da privataria.”

Tudo verdade, houve casos onde até o presidente foi grampeado, houve favorecimentos no “limite da irresponsabilidade”, entre eles, a venda da Companhia Vale do Rio Doce por 3,3 bilhões de dólares (um terço do seu lucro líquido naquele ano). Não vou gastar tempo aqui com a insanidade criminosa que foram as privatizações do governo FHC. A quem tiver interesse, recomendo a leitura do livro “A Privataria Tucana” de Amaury Ribeiro Júnior. Mas é esclarecedor lembrar que o termo “Privataria” é um genial neologismo criado pelo próprio Gaspari para descrever aquele período – privatização e pirataria.

Quando Gaspari, agora, afirma que a Privataria Petista é pior ainda, espera-se uma revelação bombástica.

“Tomando-se o caso do leilão dos aeroportos, resulta que fazem diferente, e pior”.

Tal qual quem não notou a bolinha escondida entre os dedos do malandro, pode até apostar que sim. E perder a aposta.

Em novembro a Odebrecht, associada a uma operadora de aeroporto de Cingapura, arrematou a concessão do Galeão (alguém ainda se lembra do valor pago pela Vale?) por R$ 19 bilhões. Não é bem assim. A Infraero continua com 49% do negócio, e o velho e bom BNDES, mais um fundo de investimentos estatal, botaram R$ 1,4 bilhão na operadora de transportes da Odebrecht. Somando-se essa participação à da Infraero, a Viúva fica com mais de 50% do Galeão”.

Alguém pode me esclarecer onde está o escândalo tamanho que coloca a Privataria Tucana no chapéu ? Nem Gaspari é capaz:

“Pode-se argumentar que a gestão ganhará a eficácia da iniciativa privada, …”

Agora, a presdigitação que transforma uma boa notícia em uma acusação de fraude:

“…mas ganha uma passagem de ida a Davos quem sabe onde terminam os braços das empreiteiras e onde começa o Estado dos comissários. Ganha a passagem de volta quem sabe onde termina a máquina de administração de serviços do Estado e onde começa a das empreiteiras”.

Se Gaspari praticasse o jornalismo investigativo, buscaria informações sobre o contrato de concessão do aeroporto do Galeão, ele é público e existe uma lei, a Lei da Transparência, que garante o acesso à informação. Lá estão as responsabilidades e direitos de cada parte. Acompanharia a execução do contrato e, então, informaria aos seus leitores se os braços das empreiteiras avançaram sobre os limites do Estado ou se a máquina pública de serviços do Estado está a serviço das empreiteiras.

Mas para Gaspari basta a presdigitação da informação e o jornalismo mediúnico. Vejamos:

“… conforme o repórter Daniel Rittner revelou, as empreiteiras que arremataram as concessões dos aeroportos de Guarulhos, Brasília e Viracopos querem fazer uma pequena mudança nos contratos assinados em 2012. Pelo que se acertou, as concessionárias podem construir hotéis, centros de convenções e torres de escritórios nas áreas arrendadas, explorando-os por períodos de 20 a 30 anos. Agora, uma associação de concessionários cabala a prorrogação da posse dessas melhorias”.

Reparem neste trecho “as empreiteiras… querem fazer uma pequena mudança nos contratos assinados em 2012.”

Ah, esses empreiteiros sempre querendo aplicar a “Lei de Gerson”. Mas querer é uma coisa, obter é outra. 

Elio Gaspari não nos informa se os empreiteiros sequer apresentaram as suas solicitações ao governo, nem qual foi a resposta dada pelo governo a elas. Mas, como médium que é, sabe o que ocorrerá no futuro, logo, presdigita algumas informações no presente e afirma convicto:

“A privataria tucana patrocinava grandes tacadas iniciais, (e veja se que Gaspari nem precisou citar os contratos para o Metrô paulistano) a petista move-se suavemente nas mudanças dos contratos. Cada mudança, um negócio… Nem a criatividade dos advogados da bancada da Papuda seria suficiente para explicar a uma empresa que entrou no leilão de um aeroporto e teve seu lance superado que devia ter previsto a possibilidade da extensão do período de exploração dos empreendimentos imobiliários”.

Viu, você perdeu a aposta, Gaspari é invencível. De repente, entre seus dedos, surge a hipotética extensão do período de exploração dos empreendimentos imobiliários”, agora, como fato consumado.

Interessante também a sua citação à Papuda. Ela nada tem a ver com o texto, mas Gaspari não é de perder viagem. Ainda que, creio que nessa ele viajou mesmo. Criativo, realmente, são certos juízes que enviam prisioneiros à Papuda. Praticam o julgamento mediúnico, ao estilo do jornalismo de Gaspari. Para esse tipo de atividade judicante, não são necessárias as provas, basta a habilidade para o “fatiamento” e o “domínio do fato”.  A esses Gaspari admira. Como entre eles não está incluído o ministro Luís Roberto Barroso, Gaspari desce-lhe o relho. Mas isso é outra história, quem quiser leia-o http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/145659-a-privataria-petista-mora-nos-detalhes.shtml

Por fim, como quem acredita em palpites, Elio Gaspari recomenda:

“A doutora Dilma deve botar sobre sua mesa um talonário do jogo do bicho carioca: “Casa Lotérica São Jorge, vale o que está escrito”.

Bom conselho.

 Já, se dedicar se a ler os artigos de Elio Gaspari, não sei se terá a mesma garantia, qual seja, a de que “vale o que está escrito”.

Redação

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