Em 2003, Cunha questionou Dilma sobre contratos da Petrobras

Do JOTA

Cunha questionou Dilma em 2003 sobre contratos suspeitos na Lava Jato

Fernando Melo

Em 2003 o Brasil vivia um momento de êxtase. A democracia era vista como um sucesso diante da chegada do primeiro presidente operário ao poder e sua grande promessa de melhorar a vida dos mais pobres com o programa Fome Zero. Enquanto o país debatia este tema, logo nas primeiras semanas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, um deputado do PPB do Rio de Janeiro se interessou por uma empresa e suspeitas de irregularidades que recaíam sobre ela. Para obter as informações que desejava, enviou uma série de pedidos a uma ministra neófita e pouco conhecida nos meios políticos. O deputado tinha interesse em documentos da maior empresa brasileira e pedia respostas sobre processos licitatórios, contratos e seus aditivos. A ministra de óculos de aro grosso e fama de durona recebeu a solicitação por fax da Câmara dos Deputados, na época em que o telefone tinha apenas seis algarismos: 61 319-5626.

O deputado carioca chama-se Eduardo Cunha.

A ministra chefiava as Minas e Energia e atende por  Dilma Rousseff.

A empresa era a Petrobras.

O JOTA teve acesso a centenas de papeis assinados por Cunha e enviados para a Petrobras e para o Ministério de Minas e Energia. Em última análise, eram ambos comandados por Dilma Rousseff, que além de ministra chefiava o Conselho de Administração da estatal.

Os documentos contam a história de um embate que começou muito antes da operação Lava Jato e das prisões de empresários e ex-diretores da petroleira, suspeitos de montar um esquema para beneficiar empresas com contratos e, em troca, obter doações eleitorais e benesses pessoais.

Já em 2003, a guerra entre Dilma e Cunha girava em torno de obras em plataformas da Petrobras que, segundo delatores da Lava Jato, tiveram pagamentos de propina para o PT e e diretores da Estatal.

Ovo da serpente

Por exemplo: no dia 25 de março de 2003, Cunha pediu “informações à sra. Ministra das Minas e Energia sobre a Petrobras e a Braspetro”, o braço da empresa para encontrar e produzir petróleo fora do Brasil.

Menos de quatro meses depois, no dia 15 de julho, Cunha foi além e aprovou, na Comissão de Fiscalização e Controle, a convocação de Dilma para “explicar a posição da Petrobras nas licitações sobre plataformas de produção e exploração”.

Em 7 de agosto de 2003, às 8h51 da manhã, um novo fax foi enviado para uma nova convocação de Dilma a pedido de Cunha. O deputado queria que a então ministra fosse “explicar a posição da Petrobras nas licitações sobre plataformas de produção e exploração”e “o andamento da apuração de irregularidades encontradas nos processos de contratação” de uma empresa.

Cunha repetia o pedido de convocação feito seis meses antes, mas queria mais. Justificando “o não comparecimento do senhor presidente da Petrobras para prestar esclarecimentos sobre a contratação das plataformas fora do país, prejudicando a indústria naval do país assim como o andamento das licitações da P-51 e p-52”.

No epicentro da Lava Jato

As plataformas P-51 e P-52 estão no centro da operação Lava Jato. Em um dos depoimentos, o ex-gerente de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco afirmou que teve conhecimento de pagamento de propinas relacionadas a  obras nas duas plataformas. Segundo Barusco, que firmou acordo de colaboração premiada para reduzir sua pena, parte da propina ia para o ex-diretor da Petrobras Renato Duque, que dividia o dinheiro com o PT. Cunha não era filiado ao PMDB na época. Ele se elegeu pelo partido pela primeira vez em 2006.

Cunha também se interessou pelo “andamento da apuração de irregularidades encontradas nos processos de contratação da Empresa Marítima Engenharia e Petróleo assim como o andamento das ações judiciais em curso envolvendo a mesma empresa”.

Um ano depois de o deputado começar a acumular informações sobre a Petrobras, em 4 de março de 2004, a Marítima entrou com uma ação na Justiça exigindo que a Petrobras adotasse a Lei de Licitações (Lei 8.666/93) nas suas contratações.

A partir do pedido da empresa, a Justiça expediu mandado de prisão para o ex-diretor de Engenharia da Petrobras Renato Duque, que negocia uma eventual delação premiada com o juiz Sergio Moro.

Convocações da então ministra

Cunha tentou convocar Dilma em diversas ocasiões. Após uma informação publicada na coluna do jornalista Élio Gaspari, o deputado enviou ofício para o Ministério de Minas e Energia: “Torna-se necessária a presença da ministra para prestar maiores esclarecimentos sobre o contrato entre a Petrobras e a empreiteira americana Halliburton”.

O deputado pedia informações sobre alterações de projetos, multa contratual por atrasos, renegociação do preço e do prazo e de “todas as transações que envolvem o assunto”.

Em centenas de documentos nos arquivos da Petrobras, é possível ver o esforço do atual presidente da Câmara para levantar informações entre a relação da estatal com o governo e empreiteiras.

Respostas

As respostas de Dilma não eram enviadas diretamente para o deputado carioca. Em diversos ofícios, ela ordena para a então secretária de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia, Graça Foster, posteriormente alçada ao cargo máximo da petroleira, que peça ao então presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, que responda ao deputado em até cinco dias, “objetivando integrar aviso da Senhora Ministra ao parlamentar”.

Em 3 de maio de 2003, às 3:18 da manhã, um novo fax foi enviado da Câmara para a ministra de Minas e Energia. Cunha alterou o foco. Pediu a Dilma cópia dos editais de licitação das plataformas P-51 e P-52 com as “modificações e cópias de todos os processos licitatórios, contratos e seus aditivos, faturas pagas e autorização das contratações, seja por compra, leasing ou aluguel de todas as plataformas a serviço da Petrobras”.

A partir desta semana, o JOTA começa a publicar a série O Ovo da Serpente. Nela, centenas de documentos serão tornados públicos, mostrando a relação entre Dilma Rousseff, Eduardo Cunha e Petrobras.

 

Redação

24 Comentários

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  1. O Jota quis com isto tudo o

    O Jota quis com isto tudo o quê? Mostrar que a ministra foi incopetente, leniente, passiva ou omissa? Que o nobre deputado está sendo perseguido agora por ter dado trabalho à ministra? Que o nobre deputado foi o que mais tentou ‘preservar’ a petrobrás? Eu juro que não entendi!!

    1. O Jota eu não sei, mas Cunha

      O Jota eu não sei, mas Cunha está tentando desfazer a perda de espaço para Renan e, de quebra, arrumar uma estratégia de defesa para a Lava Jato. Lembre-se, amanhã é dia de escândalo novo e véspera de manifestação. 

    2. Penso igual.

      Parece que o JOTA quer mostrar que Eduardo Cunha tentou, de todos os modos, alertar o governo dos desvios na Petrobras (em 2003, no início do 1° governo Lula)… Mas, como não conseguiu, preferiu achacar ele mesmo…

      Impressionante o nível de manipulação que tetam fazer. Aliás, uma boa questão é procurar saber quem financia esse site JOTA.

       

      Sds.

  2. Mostre pedidos encaminhados

    Mostre pedidos encaminhados ao TCU, MP ou PF para provar as reais intenções de apurar suspeitas. Ou acha que vai convencer alguém de que, uma recém empossada na presidência da Petrobrás, saberia mais do que os profissionais da nova república do Collor e do PIG? Alguns lépidos e faceiros como Roberto Jefferson conhecia todos os atalhos para a tal transição civilizada que a tucanagem, contrariada, e operadora desses esquemas, teve que fazer. Quem assume um órgão se vale de assessores que, em cargos na burocracia estável, fazem os aconselhamentos, inclusive jurídicos. Esse script está muito mal rascunhado. TEm que ser muito escroque para, nem decorrido um mês, exigir explicações sobre um esquema que conheciam melhor do que ninguém… Em todo caso, para dirimir as dúvidas, as auditorias internas e externas que ganharam para fiscalizar, que apresentem seus pareceres para comprovar as denúncias do achacador.

    1. Não, sondando o que o

      Não, sondando o que o ministério sabia realmente sobre as licitações, de o processo de propinas continuava seguro. 
      Pelo visto ninguém desconfiou.

  3. Serpente entra no modo Ouroboros e come a própria cauda

    ouroboros

    Às vezes, cobras podem entrar no modo Ouroboros e começar a comer as suas próprias caudas, criando um círculo. No entanto, ao contrário da criatura mítica, suicídio e não renovação está em jogo para o animal de verdade.

    Não que as cobras queiram se matar, mas, quando mordem seu rabo, não fazem isso para brincar, como os cães de estimação. Uma vez que a serpente começa essa processo, é difícil de parar.

     

     

  4. Confusão

    A confusão do texto é proposital? Cunha questionar a contratação de empresas estrangeiras em detrimento das nacionais não teria sido uma tentativa de assegurar o ganho de propinas destas últimas, disfarçando seu real intento sob a capa de nacionalismo? De Cunha, sempre cabe indagar as intenções.

  5. Pela matéria e, ainda, pelo

    Pela matéria e, ainda, pelo teor dos comentários do portal, supõe-se que é uma série de matérias cujo ghost writer é alguém da trupe do Cunha.

  6. O Jota parece insinuar que a

    O Jota parece insinuar que a Lava Jato vazou a delação contra Cunha a serviço do PT. Ele que vá dizer isso na cara de Moro.

    Divulgar documentos do início do primeiro governo petista e insinuar que o PT já estava envolvido com o esquema da Petrobras é pra se lascar, como se diz em Pernambuco. Mas o autor da peça éum tal de Fernando Mello; será o mesmo que era da Falha e assumiu a comunicação da CBF?

  7. Com certeza montou um dossiê

    Com certeza montou um dossiê completo sobre o “jogo” de podridrão dentro da Petrobrás x políticos…  Daí pra frente, bastou usar as informações para entrar no jogo.. não é uma boa possibilidade? mas o importante é a data.. inicio de 2003… ano zero da adm do PT.. e fim da adm PSDB..  a podridão já rolava solta.. e isso tem de ser investigado.. o início do novelo de lã… 

  8. Falou, falou e não disse nada …

    Sim. Cunha pediu esclarecimentos sobre contratos da Petrobras. E dai? Vai querer me convencer que Cunha se antecipou à Vaza Jato? Tá dificil …

  9. Jota está dizendo que se

    Jota está dizendo que se Dilma, enquanto assessorava Lula como Presidente, foi a maior responsável pelos destinos da Petrobrás, hoje sob investigação. Como quem diz: se tivesse escutado o digníssio Cunha,…

    Foi isso que eu entendi.

  10. Quando começou não tinha nem 3 meses de Lula ou Dilma

    CUnha estava tentando obter informações preventivas (de esquemas anteriores, ainda sob o tucanato de FHC) OU querendo dados e informações para criar novos esquemas sob uma governança nova.

    Em qualquer caso, a última coisa que o rei dos esquemas esgóticos queria era o bem da Petrobrás, do seu estado ou do Brasil.

    Vade retro Cunhaná, o nefasto.

  11. Vagando ou vagabundiando!
    Todos tem um pouco da verdade!
    Um fato importante: Cunha se mexe muito antes de se afiliar ao PMDB e fazia parte do baixo clero, como o ministro do TCU , como foi eleito o Severino, como foi reeleito FHC, como foi a venda das estatais, etc. Este fator!
    Vou somar ainda que ele mexia no esquema da petrobras na decada de 90 com um grupo politico e na sua filiacao ao PMDB passou a comandar em voo solo o esquema da petrobras. Pq?
    Coincidencia que antes eram questoes para saber e ter cartas, pagava para saber, depois teve certeza como funcionava e passou a administrar.
    Ha uma jogada clara que Dilma foi colocada por Lula num esquema que ela nao sabia, acredito que outros do PT sabiam e ficaram calados, assim eles precionavam jogando para um lado e outro tanto despistando, enganando e apontando outros caminhos com questoes, temos de ver tambem quantos politicos ,partidos envolvidos presionavam e intimidavam tanto a ministra como a petrobras. Se o esquema comecou na decada de 90, ate Paulo falou que na carreia da companhia ele e outros nao foram indicado por Lula, certamente a eleicao e a indicao por Lula nao agradou com Dilma. Neste ponto esta claro! Houve comflito. Os interresses de outros partidos foram contrariados. O PT e Lula como a Dilma so souberam quando Dilma tirou ele e mexeu na diretoria.
    Tem uma situacao clara que tanto o PMDB e o PSDB sabiam do esquema da petrobras. Nao sei como faziam a distribuicao e aquele percentual que sempre falam que dava ao PT ou era mentira jogada, explica agora que eles jogaram tanto com o partido, como com os funcionarios, congresso nacional, estadual e as empreiteiras com ajuda dos funcionarios da petrobras. A forma de licitacao da petrobras foi mudada e quem , como e os autores sao importante, jah que a forma sabemos e o artigo do LN sobre EC tambem preciso reler, vai ajudar. Ha eh muito importante saber quem alem do Cunha esta neste grupo lutando para ser implantada legalmente a doacao de empresas e empresarios. Sabemos que Gilmar tem envolvimento diretamente alem do partidario esta segurando o pprocesso.

  12. Interessante que para a turma

    Interessante que para a turma do Paraná só existem PT e empreiteira brasileira. E as muitas multinacionais não foram contratadas pela Petrobras? Essa empreiteira americana Halliburton que,  dizem, dá da cartas na Petrobras foi contratada com lisura? Será que estão investigando ou investigam somente as brasileiras?

  13. Loas ao congrepssista Cugna!

    Oh, como me sactifazem as acções do nobilíssimo depuctado Cugna!

    Indivígduo de carácter ilibado, que visa pregservar os princípios morais que há muito esptão perdidos no Brasil. A República deve muitíssimo a este homem, cujas coalidades como indivígduo transpbordam de seu ser.

    Vejam os segnores que o nobre depuctado age em prol dos princípios consptitucionais, sem se mover por impteresses pessoais, coestionando a actuação da megera Dilma Rousseff desde idos tempos como minisptra do maligno Lula. Fica evidengte que o parlamengtar sabia das acções despregzíveis de Dilma e irá trabagliar por sua saída, a bem do Brasil!

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