Esquerda precisa de um ‘voucher juízo’, por Ricardo Cappelli

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Arte de Carlos Aliperti
 
Esquerda precisa de um ‘voucher juízo’
 
por Ricardo Cappelli
 
Prestem atenção nestas frases:
 
“O país foi governado nos últimos 30 anos pela centro-esquerda. Agora mudou, é liberalismo, centro-direta conservadora. O problema do Brasil foi a visão social democracia, que quebrou o país. Vamos na direção contrária. O governo gasta demais. Precisamos encolher o Estado.”
 
“Para as pessoas que não conseguirem acompanhar (o liberalismo), para as quais não houve igualdade de oportunidades, a gente dá voucher, voucher saúde, voucher educação…”
 
São palavras de Paulo Guedes, o novo Czar da economia. Nomeou os presidentes do BNDES e da Petrobras. Controlará fazenda, planejamento e indústria e comércio, por enquanto.

 
No Itamaraty Olavo de Carvalho reina absoluto. Na justiça, “Edgar Hoover” prepara sua equipe. Debochando da comunidade universitária, da ausência de provas e da dor da família do Reitor assassinado pela infâmia, Luiz Carlos Cancellier, trouxe a delegada da “Ouvidos Moucos Cancellier” para o núcleo da futura “Operação Juízo Final”.
 
Tudo indica que Deltan Dallagnol está a caminho da chefia da PGR. Faz sentido. Com afirmações místicas orientando nossa diplomacia, um PowerPoint como método probatório é muito razoável. 
 
Somente um milagre natalino será capaz de tirar Lula da prisão até o fim do ano. Se o bom velhinho não ajudar, o destino do ex-presidente a partir de janeiro deve ser uma “cela especial” em algum presídio. Hoover já anunciou: “chefe de quadrilha deve ter tratamento diferenciado.” 
 
Estamos diante de uma alteração do eixo político para a extrema direita. Até quando este sectarismo vai se sustentar ou prevalecer ainda é uma incógnita.
 
A última linha de resistência será a eleição para as presidências da Câmara e do Senado. As duas casas parecem ser as únicas ainda capazes de segurar o ímpeto bolsonarista. Algo como as célebres batalhas de Verdun ou Stalingrado. Se as duas casas caírem, em pouco tempo estaremos todos falando alemão.
 
Perto dos comandantes alemães, o general Vilas Bôas, um nacionalista de direita, parece ser do PT. O liberal social Rodrigo Maia, do DEM, já chamado pelo Príncipe de Orléans e Bragança de “partido de esquerda”, certamente é do PCdoB. Renan Calheiros, coitado, defensor fervoroso de Lula, é líder inquestionável do PCO.
 
Parte da esquerda continua tonta com a blitzkrieg do exército adversário. 
 
O pedaço hegemonista continua no “fantástico mundo de Bobby” planejando a próxima hashtag. Tem certeza que foi vitorioso com a série “A resistência heróica”.  Depois de #NaoVaiTerGolpe #LulaLivre e #EleNao prepara o lançamento pomposo da quarta temporada.
 
Outra parte passou a acreditar em duendes. Sofre de ejaculação precoce. Prepara o anúncio imediato de uma candidatura à presidência catapultada por setores conservadores por cima de um suposto e improvável cadáver do PT. 
 
Ao afrontar a tradição de Rio Branco em nossa política internacional, os novos ocupantes do Planalto parecem estar malucos. Será? Qual será a contrapartida do Tio Sam?
 
Questões contraditórias vão se colocar. Como conciliar represálias à China com os interesses do agronegócio? Como harmonizar o ímpeto liberal com o nacionalismo dos militares que já se declararam contra a privatização da Petrobras? 
 
Como manter uma base no Congresso negando aos políticos participação em postos chaves do governo?
 
O fascismo é uma colcha de retalhos sem unidade programática. Sua união está calcada no ódio ao inimigo comum, petistas ou judeus. No poder, as contradições vão brotando, sua base esfacelando e só lhe restam dois caminhos: o autoritarismo aberto ou a derrota humilhante. 
 
A história ensina como enfrentá-los.
 
Num momento tão grave da vida nacional, a esquerda brasileira precisa se colocar à altura do momento histórico. Em tempos de voucher, um “voucher juízo” seria muito bem vindo.
 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

13 Comentários

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  1. Muita presunçao

    A esquerda deveria se aconselhar com o articulista? Ele sabe mais do que as lideranças partidárias? Presunçao e água benta sao de graça mesmo…

    1. Um estrábico arrogante

      Que quer mostrar o norte para aqueles que  julga perdidos e entre os quais não se inclui! Prefiro intelectuais menos mediocres e companheiros mais humildes para a jornada que se inicia.

      1. Uvas verdes

        Eu já ia fazer um comentário assim: “que tal o autor do artigo dar o exemplo?”, mas você e a Anarquista Lúcida já o fizeram por mim, e melhor.

        Subscrevo os comentários dos dois. 

        Sem falar das piadinhas de bolsominions desqualificando as lutas anteriores como se apenas de vitória se fizesse a História e a vida – se não fossem essas lutas estaríamos melhores? sem elas o que está ruim certamente estaria pior. Se as hashtags, ao que resume grosseiramente todas as mobilizações, não serviram para nada, o que sugere que façamos? Tem um arsenal suficiente para todos? 

        Talvez exatamente porque ele seja do tipo que não assume compromisso por medo da derrota, prefere substituir argumentos por piadinhas de gosto duvidoso, um apanhado dos engraçadinhos da internet, para pedir que a esquerda o salve, mas sem dar bandeira de que está pedindo ajuda, rs. 

        Não entendo por que o GGN ainda o publica, talvez para exercitar um pouco nossa verve polemista porque não acrescenta nada ao debate que interessa, além de provocação colegial inconsequente. 

         

        Sampa/SP, 22/11/2018 – 21:52   

  2. Não exite esquerda sem o

    Não exite esquerda sem o Lula.

    A dita esquerda ainda não percebeu este fato.

    A direita já percebeu há muito tempo. POr isto tratou de encarcerá-lo e mantê-lo incomunicável.

    Na linha desta percepção da direita eles se emprenham em assassinar o Lula bem na nossa cara.

    Os efeitos definhantes já são claramente perceptíveis como pôde ser comprovado em seu últmo depoimento.

    Por nossa covardia temos mais é qe nos ferrar mesmo.

    Alguém viu o futuro governo apresentar alguma proposta de desenvolvimento, criação de empregos, ciência e tecnologia,etc etc?

    Só na educação com a escola sem partido. Sem partido de esquerda mas fanáticos religiosos de direita pode.

    Para mim é o fim desta nação. Nós merecemos.

  3. Sem liderança

    As “esquerdas” não possuem liderança, nem estrategia para combater o sistema de desinformação orwelliano do zapzap/youtube, derrotas na disputa da camara e no senado só aumentarão o prejuizo social que está se desenhando no horizonte. 

  4. O problema pra essa turma é

    O problema pra essa turma é gastar com pobre…..pra eles é jogar dinheiro fora…..

     

    Já um cidadão ganhar milhões por ter uma fortuna aplicada é uma benção…………..monsieur Guillotin deve estar se revirando no tumulo……..

  5. Entendo que a questão é muito

    Entendo que a questão é muito mais grave. As corporações controlam praticamente todos os Estados nacionais no campo ocidental. As democracias tornaram-se uma fachada, as constituições uma mera formalidade. Na ruptura do tecido social provocada pelo avanço do ultraliberalismo, a esquerda pode encontrar um espaço para contra-atacar, mas não obterá êxito sem o apoio consciente das massas marginalizadas pelo sistema. A conscientização das massas é a única arma disponível para enfrentar o 1%.

  6. Esquerda à altura?

    Houve nesta eleição uma espécie de explosão por alguma válvula de escape na panela social do Brasil. Usaram-se artifícios, mensagens pelas redes sociais, fake news. A esquerda está sim à altura de uma boa democracia, de uma forma correta de governar, de uma forma republicana de agir. A esquerda brasileira é democrática, humana, legalista, nacionalista e republicana. O grupo golpista que ganhou a eleição não é democrático, incluindo todos os seus subgrupos de poder, com Supremo com tudo. O problema dessa gente é agora governar de verdade e provar que são ou serão melhores que nós. Resta-nos aguardar, em paz. Cairão sozinhos.

    1. Infelizmente isso nao é verdade Nao cairão sozinhos

      E acho difícil também que consigamos derrubá-los tao cedo. A ditadura de 64 durou 21 anos, vc se lembra?

      1. Oi Analú

        Lembro sim…

        Neste caso acredito mais na autoderrubada, ou seja, acredito que ao começar mesmo a governar começaram também a perder muito apoio popular e terão vida curta. Por outro lado, enquanto o Bolsonaro não se apresente como pessoa de verdade, qualquer ataque este o reverte ao seu favor..

        Então, acho melhor aguardar e ficar atentos.

        1. Eles nao dependem mais do apoio popular

          E é loucura nao denunciarmos as manobras dele. Talvez nao qualquer uma, nem ficar repetindo o já sabido. Mas coisas como essa do Mais Médicos, por ex., têm sim que ser denunciadas.

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