Faça negócios, não faça guerra

Freqüentador assíduo de livrarias notei, há algum tempo, a proliferação de livros que pretendem militarizar a economia em tempo de paz. Dentre estes os mais famosos são aqueles que compõe a coleção de Gary Gagliardi:

• Sun Tzu – A Arte da Guerra – A Arte do Marketing
• Sun Tzu – A Arte da Guerra – A Arte das Carreiras Profissionais
• Sun Tzu – A Arte da Guerra – A Arte da Administração e Negócios
• Sun Tzu – A Arte da Guerra – A Arte das Vendas
• Sun Tzu – A Arte da Guerra – A Arte das Pequenas Empresas
• Sun Tzu – A Arte da Guerra – Estratégia para Gerentes de Vendas

A relação entre guerra e economia não chega a ser novidade. Em texto publicado ao final da II Guerra mundial o economista J.K. Galbraith afirma que:

“Se não houvesse mais guerra, o Estado e a organização social tenderiam a desaparecer.”
“A guerra é a força principal que estrutura as sociedades.” 
(A paz indesejável? Relatório sobre a utilidade das guerras de J.K. Galbraith, citado pelo historiador militar francês André Corvisier em sua obra “A Guerra”, Biblioteca do Exército, Rio de Janeiro, 1999)

Em outra oportunidade eu mesmo tive a oportunidade de criticar AS GUERRAS-VERNISSAGES NORTE-AMERICANAS http://www.midiaindependente.org/eo/blue/2008/02/412767.shtml. A popularização da arte da guerra como um fenômeno importante para a a vida econômica em tempo de paz porém, é algo diferente.

A competição é uma categoria essencial à economia capitalista. Autores como  de Gary Gagliardi parecem ignorar que há uma diferença crucial entre guerra e competição.

“O objetivo de quem faz a guerra sempre foi – e é razoável que assim seja – enriquecer-se e empobrecer o inimigo; não é outra a razão da busca da vitória e do desejo de conquistas, senão a de fortalecer-se e enfraquecer o adversário. Por isso, que se empobrecer com a vitória ou se enfraquecer com a conquista só poderá ter ido além ou ficado aquém do fim pelo qual as guerras são feitas.” (História de Florença, Nicolau Maquiaval, Martins Fontes, São Paulo, 2007, p. 351)

A competição econômica em tempo de paz tem outra finalidade: reduzir preços, melhorar produtividade, aumentar a satisfação dos consumidores, maximizar lucros, etc… A destruição do competidor não é e não pode ser um objetivo econômico em tempo de paz, pois o monopólio repugna à economia de mercado competitiva (tanto que é proibido nos países capitalistas).

Um empresário faz a guerra aos seus empregados produz descontentamento e, em razão disto, pode provocar redução da produtividade, aumento de defeitos nos produtos e desperdício de matéria prima e explosão de demandas trabalhistas. Isto certamente afetará seu desempenho frente aos competidores que tratam bem seus colaboradores.

A guerra indiscriminada ao competidor também não é um bom negócio. Uma redução extrema na margem de lucro ou um aumento exagerado na despesa com propaganda podem levar a empresa à bancarrota. E o único a lucrar com isto será aquele que seguiu fazendo negócios sem se preocupar com a guerra que lhe era movida.

Marketing, administração, vendas, negócios, estratégias empresariais podem ser bem sucedidas sem a aplicação de conceitos de guerra à economia em tempo de paz. Henry Ford aumentou os salários dos seus empregados até transformá-los em consumidores dos carros que fabricava. Ele fez algo que foi considerado ilógico na época e que, na atualidade, seria rejeitado como se fosse um verdadeiro sacrilégio pelos empresários que se tornaram discípulos de Sun Tzu.

A verdade factual, porém, não pode ser contestada: após Henry Ford conceder salariais a empresa dele cresceu ao invés de falir. Reduções de salários e de direitos trabalhistas podem parecer objetivos lógicos (e militarmente estratégicos), mas podem provocar danos imensos aos empresários. É isto o que eles desejam?

A economia capitalista claudica desde 2008. Os operários que perderam seus empregos, que sofreram reduções salariais e foram às ruas para defender seus direitos são as vítimas não os arquitetos da catástrofe que se abate sobre os empresários. Talvez este seja um bom momento para eles abandonarem os ideólogos da guerra na paz e voltarem a fazer negócios lucrativos. 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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