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Redação

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  1. ATO INSTITUCIONAL Nº 5, DE 13 DE DEZEMBRO DE 1968

    Se Joaquim Barbosa tivesse feito a prisão de Dirceu Delúbio e Genoíno na data de hoje seria muito mais simbólico. E mais honesto.

    ATO INSTITUCIONAL Nº 5, DE 13 DE DEZEMBRO DE 1968

     

    O PRESIDENTE DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL , ouvido o Conselho de Segurança Nacional, e

     

    CONSIDERANDO que a Revolução brasileira de 31 de março de 1964 teve, conforme decorre dos Atos com os quais se institucionalizou, fundamentos e propósitos que visavam a dar ao País um regime que, atendendo às exigências de um sistema jurídico e político, assegurasse autêntica ordem democrática, baseada na liberdade, no respeito à dignidade da pessoa humana, no combate à subversão e às ideologias contrárias às tradições de nosso povo, na luta contra a corrupção, buscando, deste modo, “os. meios indispensáveis à obra de reconstrução econômica, financeira, política e moral do Brasil, de maneira a poder enfrentar, de modo direito e imediato, os graves e urgentes problemas de que depende a restauração da ordem interna e do prestígio internacional da nossa pátria” (Preâmbulo do Ato Institucional nº 1, de 9 de abril de 1964);

     

    CONSIDERANDO que o Governo da República, responsável pela execução daqueles objetivos e pela ordem e segurança internas, não só não pode permitir que pessoas ou grupos anti-revolucionários contra ela trabalhem, tramem ou ajam, sob pena de estar faltando a compromissos que assumiu com o povo brasileiro, bem como porque o Poder Revolucionário, ao editar o Ato Institucional nº 2, afirmou, categoricamente, que “não se disse que a Resolução foi, mas que é e continuará” e, portanto, o processo revolucionário em desenvolvimento não pode ser detido;

     

    CONSIDERANDO que esse mesmo Poder Revolucionário, exercido pelo Presidente da República, ao convocar o Congresso Nacional para discutir, votar e promulgar a nova Constituição, estabeleceu que esta, além de representar “a institucionalização dos ideais e princípios da Revolução”, deveria “assegurar a continuidade da obra revolucionária” (Ato Institucional nº 4, de 7 de dezembro de 1966);

     

    CONSIDERANDO, no entanto, que atos nitidamente subversivos, oriundos dos mais distintos setores políticos e culturais, comprovam que os instrumentos jurídicos, que a Revolução vitoriosa outorgou à Nação para sua defesa, desenvolvimento e bem-estar de seu povo, estão servindo de meios para combatê-la e destruí-la;

     

    CONSIDERANDO que, assim, se torna imperiosa a adoção de medidas que impeçam sejam frustrados os ideais superiores da Revolução, preservando a ordem, a segurança, a tranqüilidade, o desenvolvimento econômico e cultural e a harmonia política e social do País comprometidos por processos subversivos e de guerra revolucionária;

     

    CONSIDERANDO que todos esses fatos perturbadores, da ordem são contrários aos ideais e à consolidação do Movimento de março de 1964, obrigando os que por ele se responsabilizaram e juraram defendê-lo, a adotarem as providências necessárias, que evitem sua destruição,

     

    Resolve editar o seguinte

     

    ATO INSTITUCIONAL

     

    Art 1º – São mantidas a Constituição de 24 de janeiro de 1967 e as Constituições estaduais, com as modificações constantes deste Ato Institucional.

     

    Art 2º – O Presidente da República poderá decretar o recesso do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas e das Câmaras de Vereadores, por Ato Complementar, em estado de sitio ou fora dele, só voltando os mesmos a funcionar quando convocados pelo Presidente da República.

     

    § 1º – Decretado o recesso parlamentar, o Poder Executivo correspondente fica autorizado a legislar em todas as matérias e exercer as atribuições previstas nas Constituições ou na Lei Orgânica dos Municípios.

     

    § 2º – Durante o período de recesso, os Senadores, os Deputados federais, estaduais e os Vereadores só perceberão a parte fixa de seus subsídios.

     

    § 3º – Em caso de recesso da Câmara Municipal, a fiscalização financeira e orçamentária dos Municípios que não possuam Tribunal de Contas, será exercida pelo do respectivo Estado, estendendo sua ação às funções de auditoria, julgamento das contas dos administradores e demais responsáveis por bens e valores públicos.

     

    Art 3º – O Presidente da República, no interesse nacional, poderá decretar a intervenção nos Estados e Municípios, sem as limitações previstas na Constituição.

     

    Parágrafo único – Os interventores nos Estados e Municípios serão nomeados pelo Presidente da República e exercerão todas as funções e atribuições que caibam, respectivamente, aos Governadores ou Prefeitos, e gozarão das prerrogativas, vencimentos e vantagens fixados em lei.

     

    Art 4º – No interesse de preservar a Revolução, o Presidente da República, ouvido o Conselho de Segurança Nacional, e sem as limitações previstas na Constituição, poderá suspender os direitos políticos de quaisquer cidadãos pelo prazo de 10 anos e cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais.

     

    Parágrafo único – Aos membros dos Legislativos federal, estaduais e municipais, que tiverem seus mandatos cassados, não serão dados substitutos, determinando-se o quorum parlamentar em função dos lugares efetivamente preenchidos.

     

    Art 5º – A suspensão dos direitos políticos, com base neste Ato, importa, simultaneamente, em:

     

    I – cessação de privilégio de foro por prerrogativa de função;

     

    II – suspensão do direito de votar e de ser votado nas eleições sindicais;

     

    III – proibição de atividades ou manifestação sobre assunto de natureza política;

     

    IV – aplicação, quando necessária, das seguintes medidas de segurança:

     

    a) liberdade vigiada;

     

    b) proibição de freqüentar determinados lugares;

     

    c) domicílio determinado,

     

    § 1º – o ato que decretar a suspensão dos direitos políticos poderá fixar restrições ou proibições relativamente ao exercício de quaisquer outros direitos públicos ou privados.

     

    § 2º – As medidas de segurança de que trata o item IV deste artigo serão aplicadas pelo Ministro de Estado da Justiça, defesa a apreciação de seu ato pelo Poder Judiciário.

     

    Art 6º – Ficam suspensas as garantias constitucionais ou legais de: vitaliciedade, mamovibilidade e estabilidade, bem como a de exercício em funções por prazo certo.

     

    § 1º – O Presidente da República poderá mediante decreto, demitir, remover, aposentar ou pôr em disponibilidade quaisquer titulares das garantias referidas neste artigo, assim como empregado de autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista, e demitir, transferir para a reserva ou reformar militares ou membros das polícias militares, assegurados, quando for o caso, os vencimentos e vantagens proporcionais ao tempo de serviço.

     

    § 2º – O disposto neste artigo e seu § 1º aplica-se, também, nos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios.

     

    Art 7º – O Presidente da República, em qualquer dos casos previstos na Constituição, poderá decretar o estado de sítio e prorrogá-lo, fixando o respectivo prazo.

     

    Art 8º – O Presidente da República poderá, após investigação, decretar o confisco de bens de todos quantos tenham enriquecido, ilicitamente, no exercício de cargo ou função pública, inclusive de autarquias, empresas públicas e sociedades de economia mista, sem prejuízo das sanções penais cabíveis.

     

    Parágrafo único – Provada a legitimidade da aquisição dos bens, far-se-á sua restituição.

     

    Art 9º – O Presidente da República poderá baixar Atos Complementares para a execução deste Ato Institucional, bem como adotar, se necessário à defesa da Revolução, as medidas previstas nas alíneas d e e do § 2º do art. 152 da Constituição.

     

    Art 10 – Fica suspensa a garantia de habeas corpus , nos casos de crimes políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a economia popular.

     

    Art 11 – Excluem-se de qualquer apreciação judicial todos os atos praticados de acordo com este Ato institucional e seus Atos Complementares, bem como os respectivos efeitos.

     

    Art 12 – O presente Ato Institucional entra em vigor nesta data, revogadas as disposições em contrário.

     

    Brasília, 13 de dezembro de 1968; 147º da Independência e 80º da República.

     

    A. COSTA E SILVA 
    Luís Antônio da Gama e Silva 
    Augusto Hamann Rademaker Grünewald 
    Aurélio de Lyra Tavares 
    José de Magalhães Pinto 
    Antônio Delfim Netto 
    Mário David Andreazza 
    Ivo Arzua Pereira 
    Tarso Dutra 
    Jarbas G. Passarinho 
    Márcio de Souza e Mello 
    Leonel Miranda 
    José Costa Cavalcanti 
    Edmundo de Macedo Soares 
    Hélio Beltrão 
    Afonso A. Lima 
    Carlos F. de Simas  

  2. Frankenstein e o meu pé de laranja lima

    FRANKENSTEIN E O MEU PÉ DE LARANJA LIMA – Proibir o financiamento privado de campanha é um avanço digno de nota. O financiamento privado distorce a vontade popular e transforma as disputas em verdadeiras ‘corridas ao pote de ouro’. Há inúmeros parlamentares que hoje se elegem com campanhas milionárias, independentemente de colorações partidárias. 

    Isto afasta militantes sociais de base, afinal de contas, quem é que tem condições de bancar uma campanha milionária para deputado federal, estadual ou até mesmo para vereador nas grandes capitais?

    Ocorre que não basta proibir o financiamento feito a partir das pessoas jurídicas. Fazê-lo seria uma solução pela metade. E porque é uma solução pela metade? Porque acaba apenas parcialmente com o famigerado financiamento privado. Ora, dinheiro de pessoas físicas também é dinheiro privado! 

    Acabar com as contribuições de pessoas jurídicas e manter contribuições de pessoas físicas é um arremedo. E além de arremedo, será a porta aberta para a prática de um imenso e incontrolável laranjal. Uma pessoa física endinheirada pode perfeitamente burlar o limite atual através de dois, dez, duzentos ou mais laranjas.

    A reforma política tem vários pontos importantes, mas fundamental mesmo é a implementação do financiamento público exclusivo e do voto em lista. Admitir o financiamento privado através de pessoas físicas é a porta aberta para a manutenção do poder econômico. 

    Se um assalariado que percebe dois salários mínimos doar 10% de seus rendimentos, como poderá competir com as pessoas físicas mais abastadas, muitas delas proprietárias de bancos, de indústrias e de empreiteiras?

    O grande problema que existe hoje em dia é o controle e a fiscalização da justiça eleitoral nos municípios, a fiscalização dos TREs e do TSE. E qual é o problema? O problema é que é impossível fiscalizar, por exemplo, uma eleição municipal onde existem mais de 60.000 candidatos espalhados em todo o território nacional. 

    Atualmente cada candidatura constitui um comitê financeiro próprio, daí a incomensurável dificuldade, quase uma impossibilidade lógica de se fazer um controle efetivo sobre a questão do caixa dois.

    Justamente por isto é que o financiamento privado é pernicioso e que a manutenção do mesmo através de doações de pessoas físicas é apenas um ‘meia boca’. Somente o financiamento público exclusivo é que resolverá esta situação. 

    Mas o TSE vai despejar dinheiro público na mão de 60.000 candidaturas, cada uma das quais com comitê financeiro próprio? Evidentemente que disponibilizar dinheiro público nos moldes do voto aberto e uninominal, como temos hoje, é outro erro crasso e de incontrolável fiscalização!

    Por isto é que a reforma política defendida pela esquerda e pelos movimentos sociais só será digna deste nome se combinar o financiamento público exclusivo com o voto na lista partidária! 

    Ao invés da justiça eleitoral fiscalizar mais de 60.000 candidaturas avulsas (o que é praticamente impossível), bastaria que se fiscalizasse os 30 partidos existentes hoje em Pindorama. O que é mais fácil, fiscalizar 60.000 candidatos abastecidos com dinheiro do financiamento público, ou fiscalizar os 30 partidos existentes, para os quais seriam repassados estes recursos?

    Enfim, dizem que de boas intenções o inferno está cheio… Falar em reforma política sem falar em financiamento público exclusivo e sem falar no voto em lista é um sofisma, não mais do que isto.

    Acabar pela metade com o financiamento privado não vai resolver os problemas atuais de nosso sistema político-eleitoral e, pior ainda, pode abrir caminho para um laranjal igualmente incontrolável, parecido ou até pior do que o sistema que vigora atualmente.

    1. Concordo perfeitamente com a

      Concordo perfeitamente com a proibição de todo e qualquer tipo de financiamento privado de campanhas eleitorais, seja de pessoas naturais ou de empresas.

      A proibição apenas de financiamento de empresas (pessoas jurídicas) é saudável, mas não totalmente eficaz.

      O financiamento de pessoas naturais (físicas/individuais/próprias) é facilmente violável como acima bem anotado.

      Não se pode restringir essa reforma a uma “reforma meia-sola”. 

      Sou favorável também à diminuição dos custos de uma eleição pela introdução do voto por listas e distrital

  3. Desprotegidas: como a legalização da prostituição falhou

    Desprotegidas: como a legalização da prostituição falhou

    por arttemiarktos em feminismo Tags:,,

    Quando a Alemanha legalizou a prostituição pouco mais de uma década atrás, os políticos acharam que estavam criando melhores condições e mais autonomia para as ‘trabalhadoras do sexo’.  Não funcionou dessa maneira, no entanto. Exploração e tráfico de seres humanos continuam a ser problemas significativos.

    Por Spiegel Staff

    Sânandrei é uma aldeia pobre na Romênia com casas pobres e ruas lamacentas. Cerca de 80% de seus moradores mais jovens estão desempregados e uma família pode se considerar sortuda se possui um quintal para cultivar batatas e legumes.

    Exposição

    Alina está de pé na frente da casa de seus pais, uma das mais antigas de Sânandrei, vestindo botas de peles e jeans. Ela fala do porquê queria sair de casa quatro anos atrás, assim que completou 22 anos. Contou sobre seu pai que bebia e agredia sua esposa e, ás vezes, abusava dela também. Alina não tinha emprego e nem dinheiro.

    Através de uma amiga de seu novo namorado, ouviu falar sobre as possibilidades disponíveis na Alemanha. Soube que uma prostituta poderia facilmente ganhar €900 ($1.170) por um mês de trabalho lá.

    Alina começou a pensar sobre isso. Tudo parecia melhor que Sânandrei. “Eu pensei que teria meu próprio quarto, um banheiro e poucos clientes”, disse. No verão de 2009, ela e sua amiga pegaram o carro de seu namorado e dirigiram pela Hungria, Eslováquia e RepúblicaTcheca até chegar à capital alemã _ mas não no moderno bairro de Mitte, no coração da cidade e sim perto do aeroporto Schönefeld, onde o nome do estabelecimento sózinho já diz algo sobre o proprietário: Airport Muschis (“Aeroporto das Xanas”). O bordel é especializado em sexo a preço tabelado. Por €100 ($129), um cliente pode obter sexo por quanto tempo e como quiser.

    Foi tudo muito rápido, diz Alina. Havia outras romenas que conheciam o homem que as tinha levado para lá. Disseram-lhe para entregar suas roupas e lhe deram lingeries bem reveladoras para usar em seu lugar.

    Os clientes de Berlim pagam o preço tabelado na entrada. Muitos tomam drogas para melhorar o desempenho sexual e os serviços podem durar toda a noite. Um fila se formou muitas vezes, fora do quarto de Alina. Ela falou que eventualmente parou de contar quantos homens entraram no seu quarto. “Eu bloqueei”, disse. “Havia tantos, todos os dias.”

    Trancafiadas

    Alina contou que ela e a outra mulher foram obrigadas a pagar €800 por semana aos cafetões. Ela compartilhava uma cama em um quarto com outras três mulheres. Não havia outra mobília. Só o que viu da Alemanha foi o posto de gasolina Esso da esquina, onde era permitido sair para comprar cigarros e lanches, mas sempre acompanhadas de um segurança. O resto do tempo Alina foi mantida trancafiada no clube.

    A promotoria descobriu que as mulheres no clube tinham que oferecer sexo oral, vaginal e anal e servir vários homens de uma vez no que se conhece como sessões de gang bang*.  Os homens nem sempre usam preservativos.  “Eu não podia dizer  não para nada”, afirmou Alina. Durante a menstruação, tinha que inserir esponjas dentro da vagina, para que os clientes não percebessem que estava em seu período.

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    Declarou que quase nunca era espancada e nem as outras mulheres. “Disseram que conheciam bastante pessoas na Romênia que sabiam onde nossas famílias viviam. Isso foi o suficiente”, disse. Ocasionalmente, falava com sua mãe pelo celular e mentia sobre o quanto era bom estar na Alemanha. O cafetão uma vez pagou a Alina  €600 e ela conseguiu enviar o dinheiro para sua família.

    A história de Alina não é incomum na Alemanha. As organizações de ajuda e especialistas estimam que existam até 200 mil prostitutas trabalhando no país. De acordo com vários estudos, incluindo um do European Network for HIV/STI Prevention and Health feito entre trabalhadoras do sexo migrantes (TAMPEP) de 65 a 80% das jovens e mulheres vieram do interior, a maioria da Romênia e Bulgária.

    A polícia pouco pode fazer por mulheres como Alina. Os cafetões estão preparados para se safar, esclarece Alina, e costumam se gabar de conhecer policiais. “Eles sabiam quando uma batida estaria para acontecer”, por isso ela nunca se atrevia a confiar num policial.

    Os cafetões ensinavam ás garotas exatamente o que dizer aos policiais. Elas deviam dizer que navegavam na internet na Bulgária ou na Romênia e descobriram que era possível ganhar um bom dinheiro trabalhando em um bordel na Alemanha. Então, um dia, simplesmente compraram uma passagem de ônibus e se instalaram no clube, inteiramente por sua própria vontade.

    Teia de mentiras

    Parece provável que todo policial que trabalha nos locais de luz vermelha ouvem a mesma teia de mentiras repetidas vezes. O objetivo das mentiras é cobrir todos os indícios de tráfico de seres humanos, em que as mulheres são trazidas para a Alemanha e exploradas lá. Torna-se uma declaração que transforma mulheres como Alina em prostitutas autônomas, mulheres de negócio que escolheram sua profissão livremente e para quem a Alemanha agora oferece boas condições de trabalho no setor de sexo da indústria de serviços.

    É essa a imagem de “prostituta respeitável” que os políticos querem tornar plausível: livres para fazer o que elas gostam, cobertas pelo sistema de seguro social, fazendo o trabalho que gostam e poupando numa conta do banco local. Os cientistas sociais tem um nome para elas: “trabalhadoras do sexo migrantes”; ambiciosas prestadoras de serviço que estão aproveitando as oportunidades que agora existem numa Europa cada vez mais unificada.

    Em 2001, o parlamento alemão, o Bundestag, com os votos do partido social democrata e do partido verde, a coalizão governista no poder naquela época, passou a lei da prostituição destinada a melhorar as condições de trabalho das prostitutas. Sob a nova lei, as mulheres poderiam processar por seus salários e contribuir para programas de seguro saúde, desemprego e pensão. O objetivo da legislação era fazer da prostituição uma profissão aceita, como a de uma caixa de bando ou assistente de dentista, ao invés do ostracismo.

    As mulheres propagandistas do comércio de sexo autônomo ficaram satisfeitas consigo mesmas, quando a lei foi aprovada. A ministra da família Christine Bergmann (SPD), foi vista levantando uma taça de champanhe com Kerstin Müller, líder do Partido Verde no parlamento na época, ao lado de Felicitas Weigmannn, agora Felicitas Schirow, uma dona de bordel. Eram três mulheres brindando ao fato de que homens na Alemanha poderiam agora ir a bordéis sem qualquer escrúpulo.

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    Hoje muitos policiais, organizações de mulheres e políticos familiarizados com a prostituição estão convencidos de que a lei bem-intencionada de fato é pouco mais do que um programa de subsídio para cafetões e tornou o mercado mais atraente para os traficantes de seres humanos.

    Fortalecimento dos direitos das mulheres

    Quando a lei da prostituição foi promulgada, o código civil germânico também foi alterado. A frase “promoção da prostituição”, um crime, foi substituído por “exploração da prostituição”. Proxenetismo é um delito punível quando é “exploração” ou “incitação”. A polícia e os promotores estão frustrados, porque esses elementos de crime são muito difíceis de provar. Um cafetão pode ser considerado explorador, por exemplo, se ele recolhe mais da metade do salário de uma prostituta, o que raramente é possível provar. Em 2000, 151 pessoas foram condenadas por proxenetismo, enquanto em 2011 apenas 32.

    O objetivo dos defensores da lei, era de fato fortalecer os direitos das mulheres e não o dos cafetões. Esperavam que os donos de bordéis finalmente aproveitariam a oportunidade para “proporcionar boas condições de trabalho sem serem sujeitos a acusações”, como um relatório da lei feito pelo Ministério Federal para as Famílias avaliou.

    Antes da nova lei, a prostituição em si não era punida, mas considerada imoral. As autoridades toleravam bordéis, eufemisticamente se referindo a eles como “aluguel de quartos para fins comerciais”. Hoje, pouco mais de 11 anos da promulgação da lei que regularizou a prostituição em 2001, existem cerca de 3000 a 3500 estabelecimentos da luz vermelha, de acordo com as estimativas da associação da indústria do sexo Erotik Gewerbe Deutschland (UEGD). O sindicato dos serviços públicos o Ver.di, estima que a prostituição representa cerca de €14.5 bilhões em receitas anuais.

    Estimativas apontam a existência de 500 bordéis em Berlim, 70 em Osnabrück, pequena cidade do noroeste e 270 em Saarland, pequeno estado do sudeste, na fronteira com a França. Muitos homens franceses frequentam os bordéis em Saarland. O Berlin’s Sauna Club Artemis, localizado perto do aeroporto, atrai muitos clientes da Grã-Bretanha e Itália.

    Agencias de viagem oferecem excursões para os bordéis alemães com duração de até 8 dias. Os passeios são “legais” e “seguros”, escreve um agenciador na sua homepage. Clientes potenciais são atraídos com a promessa de 100 “mulheres totalmente nuas” usando nada além de saltos. Clientes também são apanhados no aeroporto e levados para os clubes em BMW’s.

    Em acréscimo aos assim chamados clubes de nudismo ou saunas, onde os clientes usam uma toalha, enquanto as mulheres estão nuas, grandes bordéis também se estabeleceram. Eles anunciam seus serviços a preços com tudo incluído. Quando o Pussy Club abriu perto de Stuttgart, em 2009, a administração anunciou o clube da seguinte forma: “Sexo com todas as mulheres, o quanto você quiser, com a frequência que quiser, do jeito que quiser. Sexo. Sexo anal. Sexo oral sem camisinha. Sexo a três. Sexo grupal. Gang bangs*.” O preço €70 durante o dia e €100 durante a noite.

    De acordo com a polícia, cerca de 1700 clientes aproveitaram a oferta do fim de semana de abertura. Ônibus chegaram de longe e jornais locais informaram que algo em torno de 700 homens esperaram na fila do lado de fora do bordel. Depois disso, os clientes escreveram em salas de bate-papo na internet, sobre o suposto serviço insatisfatório, reclamando que as mulheres depois de algumas horas de uso não prestavam para mais nada.

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    O negócio tornou-se mais árduo, disse Andrea Weppert, assistente social em Nuremberg que trabalha com prostitutas há mais de 20 anos, durante o período em que o número de prostitutas triplicou. De acordo com Weppert, mais da metade das prostitutas não tem residência fixa, mas viaja de um lugar para outro, assim podem ganhar mais dinheiro sendo “nova” numa cidade em particular.

    Hoje, “uma alta porcentagem das prostitutas na vão para casa depois do trabalho, mas permanecem no seu local de trabalho perto do relógio”, escreveu uma ex-prostituta usando o pseudônimo Dóris Winter, em contribuição para a série acadêmica “A lei das prostitutas”. “As mulheres vivem nos quartos onde trabalham”, acrescentou.

    Em Nuremberg, esses quartos custam em torno de €50 a €80 por dia, disse a assistente social Wippert e o preço pode chegar a elevar-se para €160 em bordéis com muita clientela. As condições de trabalho para as prostitutas pioraram em anos recentes. Na Alemanha, em geral, acrescentou, “significativamente mais serviços são oferecidos sob condições de maior risco e por menos dinheiro do que há 10 anos atrás”.

    Queda dos preços

    Apesar do agravamento das condições, mulheres estão migrando para a Alemanha, o maior mercado de prostituição da União Européia _ um fato que até mesmo donos de bordéis confirmam. Holger Rettig do UEGD disse que o afluxo de mulheres vindas da Romênia e Bulgária cresceu dramaticamente desde que os dois países aderiram à União Européia. “Isso levou a uma queda de preços”, afirma Rettig, que observa que o negócio da prostituição é caracterizado por “uma economia de mercado radical ao invés de uma economia de mercado social”.

    O chefe de polícia de Munique Wilhelm Schmibauer lamenta o “explosivo incremento do tráfico humano vindo da Romênia e Bulgária”, mas acrescenta que não tem acesso às ferramentas necessárias para investigar. Ele é frequentemente proibido de usar a vigilância por telefone. O resultado, diz Schmibauer, “é que não temos praticamente nenhum caso envolvendo tráfico de seres humanos. Nós não podemos provar nada.”

    Isto torna difícil de rastrear aqueles que trazem “mercadorias frescas” das mais remotas regiões da Europa para os bordéis da Alemanha, mercadorias como Sina. Ela relatou aos psicólogos no escritório do Centro de Informação para Mulheres em Stuttgart, seu caminho até os bordéis a preço fixo alemães. Em Corhana, sua aldeia natal perto da fronteira da Romênia com a República da Moldávia, a maioria das casas não tem água encanada. Sina e as outras garotas do povoado tem de buscar água do poço todos os dias. É como uma cena de “cinderela”. Todas as garotas sonhavam com um homem vindo um dia para salvá-las de suas vidas sombrias.

    O homem, que eventualmente veio para sua aldeia em sua grande BMW, chamava-se Marian. Para Sina foi amor à primeira vista. Ele disse que havia trabalho para ela na Alemanha e seus pais assinaram uma autorização, pois ela era de menor, para deixar o país. Na viagem para Schifferstadt no sudoeste do estado de Rhineland_Palatinate, ele deu a ela álcool e dormiu com ela.

    Marian deixou-a no “No Limit”, um bordel de preço fixo. Sina tinha apenas 16 anos e supostamente atendeu até 30 clientes por dia. Ocasionalmente, recebia algumas centenas de euros. Marian, preocupado com batidas policiais, mandou-a de volta para a Romênia. Mas ela retornou e continuou a trabalhar como prostituta. Tinha esperança que um cliente se apaixonaria por ela e iria salvá-la.

    Sem melhorias mensuráveis

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    A lei da prostituição melhorou a situação das mulheres como Sina? Cinco anos depois que foi introduzida, o Ministério da Família avaliou o que a nova legislação conseguiu. O relatório atesta que os objetivos foram “apenas parcialmente alcançados” e que a legalização “não trouxe qualquer melhoria real mensurável na cobertura social das prostitutas.” Nem as condições de trabalho, nem a capacidade de sair da profissão tinham melhorado. Finalmente, não havia “nenhuma prova sólida a relatar” que a lei tenha reduzido o crime.

    Dificilmente um único tribunal tenha ouvido falar num caso envolvendo uma prostituta entrando com processo por seu salário. Apenas 1% das mulheres entrevistadas disseram que tinham assinado um contrato de prostituta. O fato do sindicato Ver.di ter desenvolvido um “modelo de contrato para serviços sexuais”, não mudou os fatos. Numa pesquisa conduzida pela Ver.di, uma dona de bordel declarou que apreciava a lei das prostitutas pelo fato de ter reduzido o risco de batidas policiais. De fato, ela disse, a lei era mais vantajosa para os donos de bordéis que para as prostitutas.

    Para operar uma snack bar móvel na Alemanha, tem que estar em conformidade com a norma padrão DIN 10500/1 para “operar veículos com alimentos perecíveis”, que dita, por exemplo, que dispensadores de salão e toalhas descartáveis são necessários. Um dono de bordel não está sujeito a essas restrições. Tudo o que tem a fazer é comunicar às autoridades quando o bordel será aberto.

    Prostitutas ainda resistem a se registrar junto ás autoridades. Em Hamburgo, com Reeperbahn, seu famoso distrito da luz vermelha, sómente 153 mulheres estão em conformidade com os regulamentos e registradas na repartição de impostos da cidade. O governo quer que as prostitutas paguem impostos. Isso significa que tem que estabelecer regras para a profissão em troca?

    O curioso papel que o governo assume no comércio do sexo fica evidente entre as prostitutas de rua em Bonn. Todas as noites, prostitutas tem que comprar um bilhete de impostos de uma máquina, válido até as 6 horas da manhã do dia seguinte. O bilhete custa €6.

    Sexo por um Big Mac

    Na parte norte de Colônia, onde as prostitutas viciadas em drogas trabalham pela Geestmünder Strasse não muito longe da fábrica Ford, nenhum imposto é arrecadado. Como parte de um projeto social, as assim chamadas “barracas de trabalho” _ essencialmente um cercado para estacionar e fazer sexo _ são construídas no espaço sob um galpão coberto. Embora não existam sinais claros que a instalação é para prostituição, o limite de velocidade de 10km/h é assinalado na área cercada, e os motoristas são obrigados a mover-se no sentido anti-horário.

    Em noites de primavera, cerca de 20 mulheres ficam paradas ao longo da margem da área. Algumas trouxeram cadeiras de praia, enquanto outras se sentam em paradas de ônibus reaproveitadas. Quando um cliente concorda com o preço cobrado pela mulher, ele se dirige com ela para uma das barracas. Há oito barracas sob o telhado do galpão, bem como uma com chão de concreto e um banco de parque para ciclistas e pedestres. Existe um botão de alarme em cada barraca e um grupo de mulheres católicas monitora a área todas as noites.

    Alia, uma mulher de 23 anos com uma peruca loira, espreme-se num corpete e tenta disfarçar o hálito de álcool com uma pastilha de hortelã. Referindo-se a si mesma e às outras prostitutas de rua, diz: “As pessoas que trabalham aqui tem problemas reais.”

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    O caminho de Alia para Geestemünder Strasse começou quando ela saiu da escola e foi morar com um namorado, que mandou que saísse e “se virasse”. Ela começou a se prostituir por causa de “dificuldades financeiras e por amor”, declarou, e também por maconha, cocaína, anfetamina e álcool que se combinou com a situação. “Não existe prostituição sem coerção e angústia”, afirma. Ela tem andado pelas ruas por 3 anos. “Uma mulher que está indo bem não trabalha assim”, diz.

    O preço para sexo oral e intercurso costumava ser €40 na Geestemünder Strasse. Mas quando a cidade vizinha de Dortmund fechou sua área de prostituição de rua, mais mulheres vieram para Colonha, disse Alia. “Há cada vez mais mulheres agora e elas reduzem tantos seus preços que fazem de tudo por qualquer coisa,  reclama. Mulheres búlgaras e romenas, às vezes cobram menos de €10, denuncia. “Uma mulher aqui pode chegar a fazer por um Big Mac.”

    Mas as mulheres do leste europeu dificilmente trabalham em Geestemünder Strasse. Elas foram expulsas pelo controle regular de passaportes da polícia, que de fato tem a intenção de encontrar e proteger as vítimas de tráfico de seres humanos e prostituição forçada. Agora, as prostitutas trabalham na rua, na parte sul de Colônia, mas isso ainda faz baixar os preços no bairro do norte.

    Em 2007, Carolyn Maloney, uma congressista democrata de Nova York e fundadora da Convenção de Tráfico Humano no congresso dos Estados Unidos, escreveu sobre as consequências da legalização da prostituição em torno de Las Vegas, a Meca do jogo. “Era uma vez, registrou, “uma crença ingênua de que a legalização da prostituição poderia melhorar a vida das prostitutas, eliminar a prostituição em áreas onde permaneceu ilegal e remover o crime organizado dos negócios. Como em um contos de fadas, isto acabou por se revelar pura fantasia.”

    Policiais alemães que trabalham em distritos da luz vermelha se queixam de que dificilmente são capazes de obter acesso aos bordéis. A Alemanha tornou-se um “centro para a exploração sexual de jovens mulheres da Europa do leste, bem como uma esfera de atividade de grupos do crime organizado de todo o mundo”, declara Manfred Paulus, um detetive aposentado do sul da cidade de Ulm. Ele trabalhava como vice-detetive e agora alerta mulheres da Bulgária e Bielorrússia para não serem atraídas para a Alemanha.

    Estatísticamente falando, a Alemanha tem quase nenhum problema com a prostituição e o tráfico de seres humanos. De acordo com o Escritório De Polícia Federal Criminal (BKA), houve 636 casos de “trafico de seres humanos para fins de exploração sexual”, em 2011, ou quase um  terço a menos que 10 anos antes. Treze das vítimas eram menores de 14 anos e outras 77 eram menores de 18 anos. Há muitas mulheres de países da EU, “cuja situação sugere que são vítimas de tráfico humano, mas é difícil construir provas que sejam aceitas nos tribunais”, afirma o relatório da BKA. Tudo depende do testemunho das mulheres, relatam os autores, mas há pouca disposição de cooperar com os policiais e agências de assistência, especialmente no caso de vítimas presumidas da Romênia e Bulgária. E quando as mulheres se atrevem a dizer alguma coisa, os seus testemunhos são frequentemente retratados.

    Declínio das convicções

    Um estudo do Planck Institute for Foreign and International Criminal Law concluiu que os números oficiais sobre o tráfico humano diz “pouco sobre o alcance atual do crime.”

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    De acordo com um relatório sobre o tráfico de seres humanos,  recentemente apresentado pela comissária para Assuntos Internos Europeus, Cecilia Malmströn, existem mais de 23.600 vítimas na União Européia e dois terços delas são exploradas sexualmente. Malmström, da Suécia, vê indícios de que grupos criminosos estão expandindo suas operações. No entanto, disse, o número de condenações está em declínio, porque a polícia está sendo coibida nos seus esforços para combater o tráfico. Ela insiste para que a Alemanha faça algo mais a respeito do problema.

    Mas e se a lei germânica da prostituição realmente ajuda os traficantes de seres humanos? A lei tem de fato promovido a prostituição e junto com ela, o tráfico de seres humanos?

    Axel Dreher, um professor de política internacional e desenvolvimento da Universidade de Feidelberg, tentou responder a essas perguntas, usando dados de 150 países. Os números são imprecisos, como são todas as estatísticas relacionadas com o tráfico de seres humanos e prostituição, mas ele foi capaz de identificar uma tendência: onde a prostituição é legal, existe mais tráfico de seres humanos do que em outros lugares.

    A maioria das mulheres que vem para a Alemanha para se tornarem prostitutas não são sequestradas na rua _ e a maioria não acredita seriamente, que irão trabalhar numa padaria alemã. Mais frequentemente, elas são como Sina, que se apaixonou por um homem e o seguiu até a Alemanha;  ou como Alina, que sabia que estava indo para se prostitituir. Mas o que elas costumeiramente não sabem, é o quão ruim poderia ser _ e nem capazes de imaginar que dificilmente conseguiriam guardar alguma quantia do dinheiro que ganham.

    Alguns casos são ainda mais perturbadores. Em dezembro, espectadores alemães ficaram chocados com o programa “Wegwerfmädchen” (garotas descartáveis), parte da série criminal “Tatort”, filmado na cidade alemã de Hanover. A série retrata cafetões jogando duas jovens gravemente feridas no lixo, depois de uma orgia sexual. Apenas alguns dias depois do episódio ir ao ar, a polícia encontrou uma garota chorando e seminua em um pequeno parque.

    A masmorra de Isar

    A garota de 18 anos havia fugido de um bordel. Contou que três homens e duas mulheres se aproximaram dela em sua aldeia natal. Os estranhos haviam prometido um emprego como babá. Quando chegaram em Munique, vendaram seus olhos e a levaram para uma cela em um porão com uma porta que só abria com um código de segurança.

    Uma outra garota estava sentada numa beliche no quarto escuro e havia um som de água escorrendo atrás da parede. A polícia supôs que o esconderijo estava localizado numa fábrica perto do rio Isar, que atravessa Munique. Os homens a estupraram e quando ela se recusou a trabalhar como prostituta em um bordel, eles a espancaram, afirmou.

    Os oficiais a princípio duvidaram, mas a garota se lembrava do nome dos cafetões. Eles foram presos e estão sob custódia da polícia. Por causa de sua recura em responder as perguntas, o calabouço ainda não foi encontrado e a moça romena está agora no programa de proteção ás testemunhas.

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    Ás vezes, as garotas são enviadas pelas próprias famílias, como Cora da Moldávia. A moça de 20 anos coloca as mãos nos bolsos de seu agasalho e veste um chinelo de pelúcia com grandes olhos costurados neles. Cora vive num abrigo assistencial na Romênia para vítimas de tráfico de seres humanos. Quando as garotas completam 15 ou 16 anos na Moldávia, diz a psicóloga de Cora, seus irmãos e pais, frequentemente lhes dizem: “Puta, saia e vá ganhar algum dinheiro.”

    Os irmãos de Cora, levaram sua atraente e bem-comportada irmã a uma discoteca perto da cidade. Sua única obrigação era servir bebidas, mas ela conheceu um homem com contatos na Romênia. “Ele disse que eu poderia ganhar muito mais dinheiro nas discotecas de lá.” Cora foi com ele, primeiro para a Romênia e depois Alemanha.

    Processo de Emancipação

    Depois de ser estuprada por um dia inteiro em Nuremberg, contou, sabia o que tinha que fazer. Trabalhou em um bordel em Frauentormauer, um dos distritos da luz vermelha mais antigos da Alemanha.Disse aos policiais que recebia homens em seu quarto, supostamente por 18 horas ao dia. Contou que policiais frequentavam o bordel como clientes. “Eles não percebiam nada. Ou não se importavam.”

    O bordel estava muito cheio na véspera de Natal de 2012. Cora disse que seu cafetão exigiu que ela trabalhasse num turno de 24 horas e que foi esfaqueada no rosto quando se recusou. A ferida sangrou tanto que foi permitido que fosse a um hospital. Um cliente, cujo número de celular ela sabia, a ajudou a fugir para a Romênia, onde apresentou queixa contra seu algoz. O cafetão ligou para ela recentemente e fez ameaças de ir em seu encalço.

    Apesar de histórias como essa, os políticos em Berlim não sentem pressão significativa para fazer alguma coisa. Isto se deve em parte, porque no debate sobre a prostituição, uma posição ideologicamente correta, tem mais peso do que a realidade deplorável. Por exemplo, quando a Hamburg University for Applied Sciences realizou uma conferência sobre a prostituição na Alemanha, um ano atrás, um participante disse que a prostituição, “reconhecida como comércio sexual, está passando por um processo de emancipação e profissionalização.”

    Tais declarações são um choque para Rahel Gugel, uma professora de direitos: “É um absurdo. Não tem nada a ver com a realidade.” Professora de direito social no trabalho na Baden-Württemberg Cooperative State University, Gugel escreveu sua dissertação sobre a lei da prostituição e trabalhou para uma organização de ajuda.

    Os defensores da legalização argumentam que todos tem o direito de se envolver em qualquer profissão que ele ou ela tenham escolhido. Algumas feministas ainda elogiam as prostitutas por sua emancipação, porque, segundo elas, mulheres devem poder fazer o que quiserem com seus corpos. Na prática, porém, fica claro o quanto são indistintas as linhas que separam a prostituição voluntária da prostituição forçada. Por acaso mulheres como Alina e Cora se tornaram prostitutas voluntariamente e tomaram decisões autônomas? “É politicamente correto na Alemanha, respeitar as decisões individuais das mulheres”, afirma a advogada Gugel. “Mas se você quer proteger as mulheres, esse não é o caminho para isso.”

    Em 2009, políticas do CDU, do SDP, os favoráveis ao negócio,  o Free Democratic Party (FDP) e o Green Party no sudoeste do estado de Baden-Württemberg, foram convocadas para uma iniciativa no Bundesrat, o corpo legislativo que representa os estados alemães, contra os “inumanos serviços de preços tabelados”.  Mas nenhuma mudança foi feita na lei.

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    A Hollanda escolheu o caminho da desregulamentação legal, dois anos antes da Alemanha. Tanto o Ministro da Justiça holandês quanto a polícia admitiram que não houve melhorias palpáveis para as prostitutas desde então. Elas estão em piores de saúde do que antes e um crescente número são de viciadas em drogas. A polícia estima que 50 a 90% das prostitutas, não pratica a prostituição voluntáriamente.

    O social-democrata Lodewijk Asscher acredita que a legalização da prostituição foi “um erro nacional.” O governo holandês pretende agora, tornar a lei mais rígida para combater o aumento do tráfico de humanos e da prostituição forçada.

    Os alemães ainda não chegaram lá. Os verdes, que desempenharam um papel tão fundamental ao apoiar a lei da prostituição há 12 anos, não tem arrependimentos. A porta-voz Kerstin Müller, a líder parlamentar do partido verde na época, declara que se concentra em outras questões hoje em dia. Irmingard Schewe-Gerick, que também era líder parlamentar do partido verde naquela data em que a lei foi aprovada, diz: “A lei é boa. Apenas nós deveríamos tê-la implementado mais refletidamente.” Curiosamente, Schewe-Gerick é agora a presidente da organização de direitos das mulheres, a Terre dês Femmes, que visa alcançar “uma sociedade sem prostituição”. O terceiro pioneiro da nova lei á época, Volker-Bech, ex-porta-voz da política legal do seu partido, faz um apelo a novos programas de assistência e garantia de condições de abandonar a prostituição. Mas ele afirma que a Suécia não pode ser um modelo para a Alemanha. “A proibição não melhora nada, porque então a prostituição vai continuar em lugares de difícil fiscalização.” Além disso, acrescenta, “quadrilhas criminosas vão assumir os negócios” – como se fossem empresários honestos os que exploram a prostituição hoje.

    Reino da Ilegalidade

    Alguns de seus companheiros verdes, discordam. “Um grande segmento da indústria está operando atualmente no reino da ilegalidade”, afirma Thekla Walker de Stuttgart. Walker, a presidenta da organização estadual do seu partido, tem procurado mudar a abordagem do mesmo sobre a prostituição.

    “A prostituta autônoma que imaginou, quando a lei da prostituição foi promulgada em 2001, que poderia negociar em igualdade de condições com seu cliente e poder sustentar-se com seus proventos é a exceção”, atesta um relatório da moção apresentada por Walker, durante uma convenção do partido no mês passado. As leis atuais, continua, não protegem as mulheres contra a exploração, apenas lhes concede, a “liberdade de se permitir serem exploradas.” Os verdes, escreveu Walker, não podem fechar os olhos para as catastróficas condições de vida e trabalho de muitas prostitutas.

    Mas eles fecharam. Walker retirou a moção porque não tinha chance de garantir uma maioria, porém, o partido ficou de dar uma olhada mais atenta para ver se a lei exige melhorias.

    Na Alemanha, aqueles que falam contra a legalização são considerados “pudicos e moralistas”, afirma a professora de direito, Gugel. Além disso, acrescenta, não tem a sensação, “de que os políticos tenham muito interesse no assunto.”

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    A ministra da Família Kristina Scröder, no entanto, agiu de fato para levantar-se contra o tráfico e prostituição forçada. “A despeito dos intensos esforços, não foi possível alcançar unanimidade entre os quatro ministérios envolvidos”, disse Schröder em um comunicado. Seu desejo de regulamentar mais fortemente os bordéis, esbarrou em face da oposição do ministro da Justiça, Sbine Leuttheusser_Schnarrenberger. Schanrrenberger acredita que a reforma de lei é desnecessária e repete o velho jargão, ou seja, a de que a lei alemã tira as mulheres da ilegalidade, enquanto a lei sueca as coloca na obscuridade.

    Em face de tal desacordo, seria um milagre se o governo alemão chegasse a uma decisão rápida para proteger as mulheres do tráfico de seres humanos, de uma maneira mais eficaz. Em vez disso, as mulheres continuarão a cuidar de si mesmas.

    Totalmente legal

    Alina de Sânandrei, conseguiu fugir do bordel Airport Muschis. Depois de uma batida policial, ela e outras 10 mulheres correram para um restaurante turco na vizinhança. O irmão do proprietário, que era um cliente, escondeu as mulheres e alugou um ônibus às próprias custas. Em seguida, tentou levá-las para a Romênia. Os cafetões tentaram deter o ônibus, mas as mulheres conseguiram escapar.

    Alina vive agora na casa dos pais. Ela não lhes contou sobre o que aconteceu. Está trabalhando mas não quer dizer no quê. O salário é suficiente para o bilhete de ônibus, roupas e alguma maquiagem.

    Alina, ás vezes, visita o Aldrom, um centro de aconselhamento para as vítimas de tráfico de seres humanos na cidade romena de Timisoara ocidental, onde fala com a psisóloga Georgiana Palcu,  que está tentando encontrar uma vaga de treinamento como cabeleireira ou cozinheira. Palcu fala que as conversas com as mulheres que voltaram da Alemanha são “sem fim e difíceis”. Ela as incentiva a serem otimistas.

    Mas Palcu não tem ilusões. Mesmo que uma garota possa encontrar uma vaga no treinamento, ela provavelmente não aceitaria o trabalho, pois tais empregos não oferecem mais do que €200 para uma jornada de trabalho de 40 horas. Como resultado, afirma Palcu, muitas daquelas que retornaram da Alemanha, depois de serem maltratadas, estão lá trabalhando como prostitutas novamente. “O que eu posso dizer à elas?”, pergunta. “Esta é a realidade. Você não consegue viver com €200.”

    O bordel Airport Muschis não existe mais. Foi substituído pelo Club Erotica, que não oferece preços tabelados. Mas os clientes ainda tem muitas possibilidades de escolha no local. A poucos quilômetros de distância, em Schöneberg, o King George mudou para preços fixos. Sua administração usa o slogan “Geiz macht Geil”, que numa tradução livre quer dizer, “ser barato faz o seu tesão”. Por €99, os clientes podem desfrutar de sexo e bebidas até o estabelecimento fechar. Sexo anal, sexo oral desprotegido e beijos-de-lingua são extra. O King George promove uma “festa do Ganb Bang*” às segundas, quartas e sextas.

    É completamente legal.

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    * um gang bang é uma prática sexual  em que uma mulher tem relações sexuais com vários homens em seqüência ou ao mesmo tempo.

    BY CORDULA MEYER, CONNY NEUMANN, FIDELIUS SCHMID, PETRA TRUCKENDANNER and STEFFEN WINTER

    Translated from the German by Christopher Sultan

     

  4. A degradante vida de prostitutas nigerianas na Itália

    Fotógrafo registra a degradante vida de prostitutas nigerianas na Itália

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    Um fenômeno absolutamente bizarro está fazendo com que as mulheres nigerianas abandonem seus lares e migrem para a Itália. O objetivo é usar seus corpos para conseguirem dinheiro e enviar para suas famílias.

    As condições de vida são incrivelmente assustadoras, e as fotos mostram que higiene é uma palavra inexistente.

    Por quase 20 anos, as mulheres da cidade de Benin, na parte centro-sul da Nigéria, começaram a ocupar algumas estradas da Itália. A cada ano, mais garotas sentem-se atraídas pelo comércio do corpo.

    Confira as fotos registradas pelo fotógrafo Paolo Patrizi.

      

     

  5. Sobreviventes do tráfico questionam a ONU sobre legalizar a pros

    Sobreviventes do tráfico questionam a ONU sobre legalizar a prostituição

     prostitutas640 Sobreviventes do tráfico questionam a ONU sobre legalizar a prostituição

    Das 20 mil trabalhadoras sexuais da França, 70% são imigrantes. Foto: A. D. McKenzie/IPS

     

    Nações Unidas, 1/10/2013 – O longo debate sobre como regular o trabalho sexual chegou a um ponto de ruptura entre a Organização das Nações Unidas (ONU) e organizações que combatem o tráfico de pessoas. Estas acreditam que o fórum mundial deve rever sua posição, refletida em dois informes que promovem a despenalização de todos os aspectos da prostituição.

    “Quando vimos os informes nos preocupamos”, pontuou Lauren Hersh, diretora do escritório nova-iorquino da organização Igualdade Já, que lidera a campanha pública lançada em setembro. “É atroz haver agências da ONU pedindo para manter os bordéis”, disse à IPS. Esta coalizão de 98 organizações pede à ONU que revise os informes, divulgados no ano passado, para que reflitam as experiências de sobreviventes da prostituição e para incluir uma gama mais ampla de pontos de vista sobre o impacto de legalizar a indústria do sexo.

    Um deles, intitulado O Trabalho Sexual e a Lei na Ásia Pacífico, foi apoiado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids (Onusida). O segundo, O HIV e a Lei: Riscos, Direitos e Saúde, foi publicado pela Comissão Global sobre HIV e Direito do Pnud.

    Ambos se centram em reduzir o vírus HIV e a doença que causa, a aids, protegendo simultaneamente os direitos dos que trabalham na prostituição. As sobreviventes do tráfico sexual dizem ser imperativo abordar a demanda que mantém vivo o negócio da prostituição, e que isso não é adequadamente abordado nos informes. A um pedido de declarações, um porta-voz do Pnud disse que os informes examinam os problemas do trabalho sexual pelas lentes específicas da epidemia de HIV, e que condenam fortemente o tráfico sexual.

    “O Pnud defende e promove o respeito pelos direitos humanos para todos, especialmente os mais excluídos e marginalizados. O informe O Trabalho Sexual e a Lei… distingue claramente entre trabalho sexual adulto consensual e tráfico humano com fins de exploração sexual”, explicou o porta-voz. Fontes do UNFPA e da Onusida disseram à IPS que a declaração do Pnud reflete de modo preciso a posição de suas agências.

    Os estudos também propõem a despenalização da indústria sexual como uma forma de promover a capacidade das pessoas que se prostituem de negociar o uso de preservativos. A Igualdade Já afirma que a questão econômica é que exerce pressão para manter relações sexuais sem preservativo, pois frequentemente os clientes oferecem mais dinheiro para que seja dessa forma. Se as mulheres são escravizadas ou controladas por um proxeneta, têm menos capacidade de insistir no uso de preservativos.

    Em um comunicado, o Pnud declarou que a penalização do trabalho sexual aumenta a vulnerabilidade perante o HIV e limita o acesso aos preservativos e aos serviços de saúde sexual. Hersh acredita que “comumente são os proxenetas e os clientes que ditam o uso de preservativos, porque as mulheres podem conseguir mais dinheiro deixando de usá-los”, e ressaltou que a coalizão não tenta prejudicar os esforços da campanha contra o HIV/aids. A Igualdade Já tenta, há quase um ano, chegar à ONU por meio de canais internos, inclusive mediante o envio de uma carta assinada por mais de 80 organizações a Michel Sidibé, diretor-executivo da Onusida.

    A prostituição é legal em muitos países, entre eles a Suíça. Há pouco foram instaladas em Zurique “cabines sexuais” para promover a segurança das prostitutas. Mas a situação continua sendo difícil para homens e mulheres em Estados que legalizam ou despenalizam a prostituição, segundo a Igualdade Já. “Um dos principais problemas é que os informes não incluíram consultas aos nossos sócios no terreno, particularmente as organizações lideradas por sobreviventes”, disse Hersh à IPS.

    Stella Marr, diretora-executiva e cofundadora da organização internacional Sex Trafficking Survivors United, é uma sobrevivente da exploração sexual. Foi aliciada aos 20 anos e exerceu a prostituição durante uma década. “Se não abordarmos a demanda, sempre haverá tráfico”, advertiu Marr à IPS, acrescentando que os informes da ONU a “entristecem”.

    Marr acredita que a melhor solução é o modelo nórdico, que penaliza a compra de sexo, mas despenaliza a prática da prostituição. Ela abandonou a prostituição quando um cliente lhe ofereceu ajuda e um lugar seguro para viver por dois anos. Não conhece ninguém mais que tenha conseguido isso. “O fato de eu ter saído não significa que fui forte. Tive sorte”, afirmou.

    As vozes das sobreviventes da indústria do sexo não são ouvidas tão fortemente como as de quem continua na atividade, pela vergonha que as persegue, apontou Rachel Moran, integrante e fundadora da Survivors of Prostituiton-Abuse Calling for Ellightenment (Space) International, que foi prostituta dos 15 aos 22 anos.

    Outra faceta dos informes que a Igualdade Já quer abordar é a definição de “tráfico” dada pela ONU. No Protocolo para Prevenir, Reprimir e Sancionar o Tráfico de Pessoas, Especialmente Mulheres e Crianças, das Nações Unidas, os Estados membros acordaram uma definição ampla, que reflete uma variedade de experiências vividas por sobreviventes da exploração sexual. Os informes da ONU do ano passado recomendam reduzir e reelaborar a definição, o que pode significar que muitas pessoas que foram submetidas já não sejam consideradas vítimas e que os traficantes não sejam responsabilizados.

    “Entendo que é difícil. É preciso ter uma maneira de ajudar as pessoas a saírem dessa vida. Precisam ser reconhecidas como vítimas de tráfico. Não acreditamos que alguém a escolha”, ressaltou Marr. Contudo, a Igualdade Já é otimista em relação a próximos documentos, e dá como exemplo um estudo da Ásia Pacífico, recentemente lançado por Pnud, UNFPA e ONU Mulheres, segundo o qual a compra de sexo na região está fortemente associada às violações e à violência sexual generalizada contra as mulheres. Envolverde/IPS

     

  6. Colégio Presidente Médici será Colégio Carlos Marighella

    Do blog do Mário Magalhães | UOL

    Emilio Garrastazu Medici

    Médici, um presidente da ditadura: perdeu

    Numa eleição histórica encerrada anteontem, a comunidade do Colégio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médici, de Salvador, decidiu que a instituição deve ser rebatizada como Colégio Estadual Carlos Marighella.

    Os eleitores, na maioria alunos, deram 406 votos (69%) a Marighella e 128 ao geógrafo Milton Santos. Os nulos foram 25, e os brancos, 27. O resultado será encaminhado à Secretaria da Educação da Bahia, para que o Estado promova uma “reinauguração”, palavra empregada pela diretora do estabelecimento, Aldair Almeida Dantas, em conversa com o blog.

    O colégio foi inaugurado em 1972, quando o general gaúcho Médici (1905-85) ocupava a Presidência da República, sem ter recebido um só voto popular. Seu governo (1969-74) marcou o período de maior repressão e falta de liberdades na ditadura imposta em 64.

    Do golpe que derrubou o presidente constitucional João Goulart até 1985, nos 21 anos em que ditadores ocuparam o Palácio do Planalto, ao menos 400 oposicionistas foram mortos por agentes públicos. Boa parte havia sido presa com vida, estava sob custódia do Estado e foi torturada até a morte.  Mais de 130 cidadãos tiveram os corpos desaparecidos para sempre, sem que as famílias pudessem lhes oferecer um enterro digno. Nem mesmo a legislação da ditadura autorizava tortura e execução de seres humanos.

    O guerrilheiro baiano Carlos Marighella (1911-69) foi declarado pela ditadura, em novembro de 1968, “inimigo público número 1”. Militante comunista na maior parte da vida, ele se incorporou em 67 à luta armada contra o regime. Fundou a maior organização guerrilheira de combate à ditadura, a Ação Libertadora Nacional, ALN.

    Foi assassinado em 1969, no governo Médici, por ao menos 29 membros da polícia política armados até os dentes. Desarmado, Marighella não portava nem um canivete. Em decisões de 1996 e 2011, a União reconheceu que o “inimigo” poderia ter sido preso vivo, assumiu a responsabilidade por seu homicídio e pediu perdão à sua família.

    O outro candidato da eleição, o geógrafo baiano Milton Santos (1926-2001), foi um dos pensadores brasileiros mais brilhantes do século XX. Perseguido pela ditadura, foi obrigado a passar mais de uma década no exílio, inclusive durante a administração do general Médici.

    Milton Santos e Carlos Marighella eram afrodescendentes. Médici era branco.

    O pleito foi coordenado pelo colegiado da escola, composto por professores, funcionários, estudantes e pais de alunos segmentos que tiveram direito a voto. Ninguém propôs manter na cédula o nome atual insatisfeitos com as opções votaram branco e nulo. O colégio Médici é de ensino médio e profissionalizante.

    Continuam a existir no Brasil centenas ou milhares de sítios públicos batizados em homenagem a próceres e símbolos da ditadura. Seria como eternizar na Alemanha reverências do tempo do nazismo ou, na Argentina, da ditadura 1976-83. Mas não existe escola berlinense Adolf Hitler ou praça portenha Jorge Rafael Videla, o ditador que principiou o ciclo genocida. Tiranos e açougueiros do passado não devem servir de exemplo aos jovens.

    É esse o caminho apontado no colégio Médici, futuro colégio Marighella.

    Como assinalou a diretora Aldair, na origem da escolha pela mudança de nome esteve uma exposição dos alunos, derivada de “um trabalho espetacular da professora Maria Carmen”. Chamaram-na “A vida em preto e branco: Carlos Marighella e a ditadura militar”.

    Um vídeo com a socióloga e professora Carmen apresentando a exposição pode ser assistido clicando aqui.

    Testemunho pessoal

    Sou autor da biografia “Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo” (Companhia das Letras). Um exemplar aparece no vídeo, entre os objetos expostos no ainda colégio Médici. A professora Carmem disse, comovendo-me: “Seu livro foi uma base e uma inspiração para esse trabalho”.

    Como sabe quem leu a biografia, não produzi nem uma hagiografia, promovendo os feitos do protagonista, nem um libelo contra ele. Escrevi uma reportagem, contando o que Marighella fez, disse e, na medida do possível, pensou. Não o julgo ou trato como herói ou bandido empenho-me em fornecer informações para cada leitor formar seu próprio juízo.

    Mas, como dizia João Saldanha, grande amigo de Marighella, eu não sou filho de chocadeira tenho opinião. A ditadura foi um mal, e seus crimes devem ser narrados, bem como os criminosos, punidos. A história não deve apagar personagens, como a ditadura e suas viúvas tentaram fazer com Marighella, ou como os artistas de Stálin faziam eliminando das fotografias as pessoas caídas em desgraça.

    A professora Carmem e seus alunos orgulham o Brasil. Assim como é legítimo haver escolas com o nome de Carlos Lacerda (1914-77), líder de direita de gigantesco talento, é legítimo reverenciar um dirigente de esquerda como Carlos Marighella.

    Ilegítimo é bajular em prédio público a memória de ditador, perenizando o elogio das trevas.

    Tomara que o governo Jacques Wagner não barre a decisão democrática e soberana da comunidade que decidiu pela civilização, contra a barbárie.

    http://blogdomariomagalhaes.blogosfera.uol.com.br/2013/12/12/colegio-presidente-medici-decide-trocar-nome-para-colegio-carlos-marighella/

  7. MAIS MÉDICOS
    Com atendimento

    MAIS MÉDICOS

    Com atendimento humanizado, médica cubana prioriza educação em Embu das Artes

    ‘Muitos dizem que estamos aqui obrigados e não é verdade. Há críticas ao nosso país e ao nosso sistema político. Nós não viemos por política, estamos fazendo um favor’por Sarah Fernandes, da RBA publicado 12/12/2013 10:56, última modificação 12/12/2013 16:30

    São Paulo – “Meu nome é Maricel Mejias, sou cubana e serei sua nova médica de família. Para mim será uma alegria e um grande prazer acompanhar a sua gestação até o parto.” Foi assim que a médica, recém-levada pelo programa Mais Médicos ao município de Embu das Artes, na região metropolitana de São Paulo, começou seu dia de trabalho na última sexta-feira (6).

    Era o primeiro pré-natal de uma jovem de 17 anos que preferiu não se identificar. A consulta, acompanhada pela reportagem da RBA, durou quase uma hora e foi permeada por muitas perguntas, das mais comuns às mais inusitadas: “Sua mãe é fumante?”; “Costuma comer a comida muito quente?”; “Quantas refeições faz por dia?”.

    Todas as respostas eram anotadas com muita atenção em um extenso prontuário. Para terminar, a médica concluiu, com as mãos sobre os ombros da gestante: “Eu estou aqui para garantir sua saúde e esclarecer todas as suas dúvidas. Você pode vir sempre que quiser. Estou aqui todos os dias, das 8h às 17h. Você é muito bem-vinda”.

    Médica há 27 anos, Maricel faz parte de uma equipe de seis profissionais cubanas que chegaram a Embu das Artes em 1º de novembro. Ela foi direcionada para a Unidade Básica de Saúde do Jardim Valo Verde, um bairro pobre do município, caracterizado por problemas sociais e sanitários. “Esporte e cultura também são saúde e eu não vi nenhum parque nessa região. Eu peço para as pessoas fazerem exercícios, mas onde?”, questionou.

     

     

     

    Ainda nos primeiros 15 dias de atendimento, ela já fala português de forma bastante clara. Por via das dúvidas, é acompanhada de uma enfermeira, atenta para qualquer adaptação de linguagem necessária.

    “Quando o senhor não compreender algo, por favor, pergunte. Eu preciso que você volte para a casa com todas as dúvidas esclarecidas, para que possamos fazer um bom trabalho”, explicou Maricel ao segundo paciente, um senhor de 62 anos que sofre de hipertensão. Foram mais 40 minutos de consulta, que começou por um exame detalhado dos pés do paciente.

    “O senhor pode tomar todos os remédios, mas se não fizer a dieta não vai adiantar. A hipertensão é uma das piores doenças crônicas. Ela prejudica seu coração, seu cérebro, suas artérias, seus rins”, dizia em um tom quase que de convencimento. “Podemos tentar incorporar uma atividade física leve no seu dia? Vamos combinar 15 minutos de caminhada dentro de casa, antes do banho? Isso vai estimular seu organismo.”

    O último atendimento no consultório foi de um bebê de cinco meses. Mais uma hora: “Ela busca o som da sua voz?”; “Reconhece o pai?”; “Faz sons com a boca?”; “Rola no berço?”. Tudo devidamente anotado. “Veja, mãe, ela já consegue passar essa caneta de uma mão para a outra! Está muito adiantada”, comemorou a cubana.

    Humanização

    A UBS do Valo Verde atente 1.419 famílias, um total de 4.905 pessoas. Entre os pacientes, 477 são hipertensos, 147 diabéticos e 32 gestantes. A unidade funciona acoplada a um ambulatório de especialidades, com uma equipe de 26 médicos, contando com Maricel, única clínica geral. Isto impede a unidade de completar a outra equipe do Saúde da Família, que já conta com uma enfermeira e sete agentes de saúde.

    Atrair médicos para as regiões mais pobres é uma das prioridades do Mais Médicos, instituído pela presidenta Dilma Rousseff dentro de um pacto para melhorar o atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS), que inclui investimentos em infraestrutura de unidades de saúde.

    O Brasil tem hoje 1,8 médicos para cada mil habitantes e a meta é atingir a média registrada na Inglaterra, de 2,7 para cada mil, segundo o Ministério da Saúde. O país possui um sistema de saúde público e universal que inspirou a criação do SUS. Para alcançar o índice inglês seria preciso ter mais 168.424 médicos.

    Só em São Paulo, cidade da região metropolitana com o maior potencial de atração de médicos, problemas na saúde pública e carências de profissionais fizeram com que o tempo médio de espera para realização de uma cirurgia fosse de 178 dias em 2012, segundo um levantamento da Rede Nossa São Paulo. Os exames demoraram cerca de 86 dias e as consultas 66.

    As vagas do Mais Médicos que não foram preenchidas por profissionais brasileiros foram disponibilizadas para estrangeiros. A maioria veio de Cuba, por meio de um convênio com a Organização Pan Americana de Saúde (Opas), em que parte do salário de R$ 10 mil é repassado para o governo cubano, para financiar o sistema de saúde, completamente público, e a formação de novos médicos. O modelo gerou polêmica e alguns cubanos foram recebidos nos aeroportos com gritos de “escravos” por parte de médicos brasileiros. “Nós não criticamos. Vocês são um país independente”, respondeu Maricel.

    Para a gerente da unidade, Andrea Fonseca, a chegada recente da médica já começa a fazer com que a equipe revise seu trabalho. Enquanto os profissionais brasileiros da unidade atendem a cerca de quatro pacientes por hora, a cubana atende a um. “Ela pensa em promover saúde e não em tratar doença”, disse. “A Maricel tem o hábito de passar pouca coisa para a enfermagem e para os especialistas. Sozinha, limpa feridas, dá pontos e põe o paciente no soro”, comentou Andrea.

    “Uma vez ela pediu uma banheira. Não entendemos por que, mas conseguimos uma. Ela disse corajosa: ‘Tem uma criança com febre e sou eu quem vai baixar a temperatura dela’”, contou Andrea. “Outra vez ela pediu uma tesourinha. Quando vimos, a doutora, uma médica, estava cortando as unhas de uma criança e mostrando para a mãe: ‘É assim que tem que ficar para ela não acabe doente’”.

    Aos 51 anos e natural da província de Camaguey, na região central de Cuba, Maricel é especialista em Medicina Geral Integral. “É uma especialidade que te permite conhecer a família integralmente, do ponto de vista genético, físico, moral, econômico e social. Em Cuba, dizemos que somos médicos da alma”, disse. “Nós trabalhamos com as pessoas que não têm doenças, para prevenir. Como? Educando, mudando seus hábitos e promovendo cultura. Quem não tem cultura não tem liberdade.”

    A missão internacional no Brasil já é a segunda da qual Maricel participa movida por um interesse pessoal. Antes disso, esteve por dois anos na Bolívia, próximo à capital La Paz, atendendo a comunidade indígena Yungas, uma das mais pobres do país.

    “Na literatura, o caminho que leva até elas é chamado ‘caminho da morte’. Muitas vezes eu andava de frente para uma montanha de pedra, com um precipício atrás de mim, carregando uma mochila, para atender a uma única família”, relatou. “Nessa região, as pessoas não conheciam sequer um termômetro e não sabiam medir a temperatura. Fizemos um grande trabalho de educação e quando saímos, eles tiveram uma melhoria muito expressiva em saúde”, contou emocionada.

    Maricel deixou em Cuba os pais, o marido, um casal de filhos, três netos e um irmão, que é cirurgião maxilofacial e que retornou de uma missão na África no último mês. “Um dos meus netos fez aniversário dia 5, teve festa e eu estava longe. Mas eles estão felizes de eu estar trabalhando aqui. Minha filha, que também é médica, está esperando eu voltar para que ela possa também sair em missão.”

    ‘Um favor’

    Atualmente, pelo menos 48 mil médicos cubanos atendem em missões internacionais em 58 países, incluindo China, Catar, Argélia, México e agora Brasil, segundo o Ministério da Saúde de Cuba.

    “Muitas pessoas dizem que estamos aqui obrigados. Não é verdade. O diretor da unidade de saúde em que trabalho em Cuba comunicou que o Brasil abriria vagas para missão e que os interessados poderiam se inscrever para um exame de competência. Eu vim porque quis e se quiser volto”, afirmou. “Há muitas críticas ao nosso trabalho, ao nosso país, ao nosso sistema político, ao nosso presidente (Raul Castro) e até a Fidel Castro (ex-presidente). Nós não estamos aqui por política, estamos aqui fazendo um favor.”

    Outros 11 médicos cubanos chegarão a Embu das Artes nesta sexta-feira (13), ultrapassando o total de 15 profissionais solicitado pela prefeitura ao Mais Médicos. A intenção é, segundo o prefeito Chico Brito (PT), completar as equipes de do programa Saúde da Família, um modelo de atendimento em que médicos, enfermeiros e agentes de saúde visitam as famílias pobres em suas casas para orientá-las sobre formas de vida saudável e acompanhar doenças pré-existentes.

    “A demanda por médicos é muito grande na região metropolitana e Embu das Artes não tem condições de disputar em salários com cidades com o triplo de arrecadação”, disse o prefeito, durante a solenidade de recepção das médicas, em novembro. “Ainda existe uma injustiça tributária no Brasil que não garante recursos suficientes para os municípios poderem contratar mais profissionais.”

    Embu das Artes tem 240 mil habitantes e 62 médicos. “Falar em número de profissionais não significa que o número de horas de trabalho necessárias para atender à população seja suficiente”, explicou a secretária municipal de Saúde, Sandra Magali, também na chegada das profissionais. “Temos contratos de 10 ou 20 horas semanais. Sofremos um déficit de horas.”

    Atendimento domiciliar

    Uma das atividades preferidas de Maricel são as visitas domiciliares. Ela estruturou um cronograma junto aos agentes comunitários do programa Saúde da Família, que prevê três períodos por semana dedicados ao atendimento domiciliar. “Quando vamos às casas dos pacientes olhamos as condições de higiene, os hábitos sociais e fazemos educação”, disse.

    Na sexta-feira foi a vez de atender à família do motorista de ônibus Fabio Carareto, de 36 anos, que há dois anos foi vítima de um atropelamento e ficou paraplégico. Ela receitou um remédio para dor e verificou a pressão. “Está um pouco alta hoje, mas nas outras medições não estava. Vamos ter que voltar na segunda e na terça para verificar se realmente é apenas algo pontual, certo?”, perguntou ao paciente.

    Fábio ainda aguarda duas cirurgias para finalizar o tratamento e retomar de vez suas atividades. “É a segunda vez que a doutora vem à minha casa. Foram dois momentos muito felizes. Ela já mostrou que irá me ajudar muito na recuperação.”

    “Depois das cirurgias ele vai voltar a nadar, como fazia antes do acidente. É o que eu digo, se ele quer, ele pode”, observou Maricel, já em tom de amizade. “O Fábio também planeja fazer um curso de eletrônica e montar uma oficina. Ele tem uma condição psicológica boa e isso é ótimo para o tratamento. A alegria também é saúde.”

    “O SUS tem uma concepção excelente. Vocês estão agora encontrando um caminho e têm tudo para conseguir. Nós estamos aqui para ajudá-los nisso”, concluiu a cubana.

    http://www.redebrasilatual.com.br/saude/2013/12/com-atendimento-humanizado-medica-cubana-em-embu-das-artes-prioriza-educacao-5043.html

      

     

  8. A dor de Lázaro e a omissão de Jaques Wagner

    A história que cerca a família de Jorge Lázaro é tão triste quanto absurda. Baianos, negros e pobres, ele e sua companheira tiveram dois de seus seis filhos brutalmente assassinados. Em ambos os casos são fortes os indícios de que os crimes tenham sido praticados por policiais, situação denunciada pela própria investigação, mas estranhamente recusada pelo Ministério Público do Estado.

    A luta de Lázaro para elucidar os crimes e proteger o que restou sua família chegou ao conhecimento do governador da Bahia, Jaques Wagner, do PT, que por sua vez, inexplicavelmente mantém um silêncio e omissão também criminosos.

    Graças ao corajoso trabalho da Quilombo Xis e sua campanha Reaja ou será morta, reaja ou será morto!, esse caso – infelizmente apenas mais um dentre tantos parecidos, saiu da invisibilidade e foi incluído em uma campanha internacional de direitos humanos promovida pela Anistia Internacional.

    Após dois assassinatos e muito sofrimento, o mínimo que se exige é que o Estado garanta a proteção e apoio social, econômico e psicológico à família, além da garantia de uma investigação imparcial e célere dos dois crimes.

    No mais, é pública e notória a existência de grupos de extermínios que atuam cotidianamente na Bahia – assim como em todo o país, em grande parte compostos por policiais. A postura do governador Jaques Wagner e de seu governo são fundamentais para desmantelar esses grupos. Um bom começo seria o estabelecimento de um mecanismo de controle externo da atividade policial e de investigação dos grupos de extermínio que atuam na Bahia.

    Abaixo, o emocionante relato de Lázaro e o texto da Anistia Internacional.

    [video:http://www.youtube.com/watch?v=KzQajjvVBB8%5D

     

    Em janeiro de 2008, Ricardo Matos dos Santos, artista circense e filho de Lázaro, 21 anos, foi assassinado enquanto jogava futebol em uma quadra poliesportiva com outros jovens em Salvador. Quatro homens chegaram em um carro, três deles desceram e começaram a atirar: dois jovens morreram. De acordo com as investigações e com testemunhas, há fortes evidências de que eles foram mortos por policiais militares.

    Após o crime, a família foi ameaçada, incluída no Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas, sendo obrigada a deixar o local em que vivia. Após a família ser excluída do programa, Lázaro continuou sua luta por justiça e proteção de seus familiares. Em março de 2013, outro filho de Lázaro, Ênio, de 19 anos, foi sequestrado e assassinado por pessoas desconhecidas. Não há informação sobre os autores e as circunstâncias do crime.

    O caso da família de Lázaro não é o único. Em 2011, mais de 52 mil pessoas foram assassinadas no Brasil. A taxa de homicídios entre os jovens (53,4 mortes por 100 mil) é mais de duas vezes maior do que a entre a população em geral (21,4 por 100 mil). Destes jovens assassinados, 76,9% são negros/as. Nestes casos, a indiferença e a impunidade são a regra. No Brasil, mais de 90% dos inquéritos de homicídios são arquivados antes de se transformarem em denúncias.

    É preocupante saber que parte dessas mortes é causada por policiais militares, agentes do Estado responsáveis pela segurança pública, especialmente no Nordeste onde há atuação de grupos de extermínio formado por policiais.

    Após 5 anos do assassinato de Ricardo, ninguém foi levado à julgamento. A vida de Lázaro tem sido a busca por justiça, proteção e apoio para sua família, que vive em situação precária.

    http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2013/12/09/a-dor-de-lazaro-e-a-omissao-de-jaques-wagner-pt/

  9. SE O STJD CONDENAR A

    SE O STJD CONDENAR A PORTUGUESA, TEM QUE TIRAR O TÍTULO DE 2010 DO FLUMINENSE

    O STJD está numa sinuca de bico. Se condenar a Portuguesa e tirar da equipe paulista quatro pontos, o tribunal terá que retirar o título conquistado pelo Fluminense em 2010.

    Sabem por quê? Vamos aos fatos…

    O Duque de Caxias, time do Rio de Janeiro, escalou Leandro Chaves de maneira irregular na partida contra o Icasa. Isso porque o atacante, que começou a Série B pelo Ipatinga, havia recebido um cartão amarelo pelo clube mineiro. Com a camisa do Duque de Caxias, ele tomou mais dois cartões, contra Guaratinguetá e Paraná. E o jogo seguinte era contra o Icasa. O Duque de Caxias colocou Leandro Chaves em campo. Alegou que não sabia do cartão recebido pelo jogador quando ele estava no Ipatinga.

    O Duque de Caxias foi enquadrado no Artigo 214 do CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva), que fala sobre “incluir na equipe, ou fazer constar da súmula ou documento equivalente, atleta em situação irregular para participar de partida, prova ou equivalente”. Pena: “perda do número máximo de pontos atribuídos a uma vitória no regulamento da competição (três pontos), independentemente do resultado da partida, prova ou equivalente, e multa de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais)”.

    O Duque de Caxias foi absolvido pelo STJD, que aceitou a argumentação do clube, que deixou Leandro Chaves de fora quando ele recebeu o terceiro cartão amarelo com a camisa do Duque de Caxias. Com a decisão, não foi rebaixado para a Série C, mas sim o Brasiliense, que permaneceria na B se o time do Rio de Janeiro tivesse sido condenado.

    Esse fato ocorreu em 2010.

    Pois bem, neste mesmo ano de 2010, o Fluminense foi campeão brasileiro. Terminou a competição com 71 pontos e o Cruzeiro com 69.

    No empate em 1-1 diante do Goiás, pela 35ª rodada do segundo turno, o time carioca escalou o meia Tartá de maneira irregular no parecer do STJD. Isso porque o jogador, que iniciou a competição pelo Atlético-PR, levou dois cartões amarelos, na segunda rodada (empate em 2-2 contra o Guarani) e sétima (derrota 0-1 para o Vitória).

    Já com a camisa do Fluminense, para onde foi transferido, Tartá tomou cartão amarelo na rodada 31, diante de seu ex-time, no empate em 2-2  na Arena da Baixada.

    No jogo seguinte, triunfo de 2-0 contra o Grêmio, no Engenhão, Tartá ficou de fora.

    Mas nos dois jogos seguintes, empate 0-0 contra o Inter, em Porto Alegre, e vitória 1-0 sobre o Vasco (gol de Tartá), o jogador recebeu cartões amarelos.

    Ou seja: se o STJD desconsiderou o cartão amarelo que Leandro Chaves recebeu com a camisa do Ipatinga, deveria fazer o mesmo com os dois que Tartá levou com a camisa do Atlético-PR.

    Portanto, segundo entendimento do STJD, na partida contra o Goiás Tartá não tinha condições de jogo.

    O caso foi levantado depois de encerrada a competição, exatamente como acontece agora neste episódio envolvendo Héverton, meia da Portuguesa. Mas o Fluminense nem sequer foi a julgamento no STJD. Deveria, mas não foi; deveria ter sido enquadrado no mesmo artigo 214 do CBJD, mas não foi.

    Se fosse, perderia quatro pontos. E se perdesse quatro pontos, acabaria o Brasileiro de 2010 com 67 e o Cruzeiro, que terminou com 69, seria o campeão nacional.

    E sabem o que Paulo Schmidt, o procurador geral do tribunal, disse à época em entrevista ao SporTV (veja vídeo abaixo) quando questionado sobre a irregularidade de Tartá? Disse Schmidt: “Rediscutir o título que foi conquistado no campo de jogo, da forma que foi, abrir precedente não só para o Cruzeiro, mas vários clubes discutir tudo isso…”

    Então, STJD, como é que fica agora? A situação é a mesma. A Portuguesa, usando as mesmas palavras de Paulo Schmidt, conquistou o direito de permanecer na Série A no campo de jogo, de forma heroica.

    Se valeu para o Fluminense, tem que valer para a Portuguesa também.

    http://esportes.terra.com.br/blog-do-sormani/blog/2013/12/13/se-o-stjd-condenar-a-portuguesa-tem-que-tirar-o-titulo-de-2010-do-fluminense/

  10. Auguém tem o vídeo do congresso do PT ?

      O Lula tirou o maior sarro da direita ressentida, os gentilis e o resto dos zé graça da mídia que tentam fazer piada com PT levaram uma surra presidencial.

  11. Política de comunicação da

    Política de comunicação da presidenta Dilma leva mídia independente à pior crise desde a ditadura

     

    O Instituto Barão de Itararé têm sido um dos baluartes na luta contra a concentração da mídia no Brasil

    A política de comunicação do governo Dilma conseguiu produzir, nesta terça-feira, mais uma baixa entre uma das mais renomadas publicações da esquerda brasileira. Distante dos anunciantes tradicionais no varejo, que se vêem forçados a anunciar apenas nos diários de corporações líderes de venda na imprensa brasileira, sob pena de perder as negociações comerciais nestes veículos damídia conservadora; e sem qualquer reconhecimento por parte do poder público, sejam municipais, estaduais ou federal, a revista Caros Amigos foi vítima da “asfixia financeira”, como classifica a agência brasileira de notícias Carta Maior, promovida pela política em curso na Secretaria de Comunicação da Presidência da República. Desde a ditadura militar, a mídia independente no país vive sua pior crise.

    A revista, fundada em 1997 por intelectuais e jornalistas, detentora de sete distinções do prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos, entra em crise, a redação faz greve e é demitida. “Na origem do problema, a asfixia financeira, decorrente das decisões do governo federal de suprimir publicidade de utilidade pública nos veículos da mídia alternativa. Criada pelo renomado jornalista Sergio de Souza, Caros Amigos tornou-se uma referência pela qualidade de suas grandes reportagens e entrevistas. A revista resistiu ao ciclo tucano dos anos 90, mas não suportou os ‘critérios técnicos’ da Secom no governo Dilma, cuja prioridade é concentrar recursos nos veículos conservadores”, afirma a Carta Maior, em sua edição desta terça-feira.

    Opinião sensata

    Em sua página em uma rede social, o cartunista e intelectual Gilberto Maringoni, que integra a redação da agência Carta Maior, escreveu sobre o drama vivido pela Caros Amigos.

    “Vou dizer uma coisa e espero não ser mal interpretado. Não vale a pena atacar o editor da Caros Amigos, Wagner Nabuco, como se ele fosse inteiramente responsável pela dramática situação da revista. Sei perfeitamente o que é ficar sem receber e sem ter direitos trabalhistas respeitados. Mas é injusto demonizar Wagner como se fosse um patrão da grande imprensa, um Frias ou Marinho da vida.

    “Wagner batalha há mais de 30 anos pela transformação social e sofre o cerco e o descaso de um governo que dá importância zero à pluralidade e à democratização das comunicações. Estive com ele na Confecom, em 2009, e sei das investidas que faz para manter a publicação. Sou inteiramente solidário aos jornalistas de lá, muitos deles meus amigos. Eles devem buscar fazer valer seus direitos. Mas é preciso centrar as baterias contra o responsável principal por esta situação, o governo federal que tem absoluta preferência pelos monopólios da mídia. Na situação em que estamos, Caros Amigos será apenas a primeira a cair… Lamentavelmente”, prevê Maringoni.

    Os jornalistas que trabalhavam na redação da Caros Amigos relataram, por meio de nota, o ocorrido na redação, prontamente respondida pelo diretor da revista, Wagner Nabuco. Leia, a seguir, ambos os lados da questão. No Núcleo de Mídia, o Correio do Brasil não encontrou quem pudesse repercutir os fatos aqui relatados.

    Carta dos jornalistas da Caros Amigos:

    O diretor-geral da revista Caros Amigos, Wagner Nabuco, chamou hoje (11/03/2013) a equipe de redação e anunciou que a empresa está demitindo todos os trabalhadores que se encontravam em greve desde sexta-feira, dia 08/03, alegando “quebra de confiança”.

    Nós, integrantes da equipe de redação da revista Caros Amigos – responsáveis diretos pela publicação da edição mensal, o site Caros Amigos, as edições especiais e encartes da Editora Casa Amarela – lamentamos a decisão da Direção. Consideramos a precarização do trabalho e a atitude unilateral como passos para trás no fortalecimento do projeto editorial da revista, que sempre se colocou como uma publicação independente, de jornalismo crítico e de qualidade, apoiando por diversas vezes, inclusive, a luta de trabalhadores de outras
    áreas contra a precarização no mercado de trabalho.

    A greve é um instrumento legal, previsto na Constituição brasileira e direito de todos os trabalhadores. Foi adotada como medida para tentar melhorar as condições de trabalho na revista e foi precedida por uma série de incansáveis diálogos por parte desta equipe, desde que ela começou a ser montada em 2009. As tentativas foram sempre no sentido de atingir o piso salarial para todos os profissionais, encerrar os atrasos no pagamento dos salários e direitos como férias e 13º, que nos atingiram por mais de uma vez, de conquistar o registro dos funcionários fixos e uma melhor relação com colaboradores freelancers, que também convivem e conviveram com baixas remunerações e atrasos nos pagamentos.

    Diante de alegações por parte da direção sobre dificuldades financeiras vividas pela empresa por se tratar de uma publicação alternativa, convivemos com salários mais baixos que os pisos e os praticados pelo mercado, e também com a inexistência de muitos direitos trabalhistas. Aceitamos negociar gradativamente a correção desses problemas de forma a fazer com que a Caros Amigos, “a primeira à esquerda”, não se tornasse agente de exploração de seus funcionários e avançasse nessa frente conforme suas possibilidades. Trabalhamos para ampliar a receita da empresa, seja pelo prestígio do trabalho realizado, muitas vezes premiado, seja pelo aumento do trabalho em forma de outras publicações como especiais e encartes.

    Em todos os anos entre 2009 e 2013, mantivemos o diálogo salutar com a Direção, buscando negociar melhores condições para desenvolvermos o trabalho com o qual estávamos comprometidos. Isso foi feito por meio de cartas de toda a redação à direção, conversas de comissões da redação com a direção e inúmeras negociações entre o editor-chefe e diretor-geral.

    Apesar de todos nossos esforços em construir uma boa relação interna, fomos pegos de surpresa com o anúncio de corte da folha salarial em 50%, com a demissão de boa parte da equipe ou redução do salário dos 11 funcionários de 32 mil pra 16 mil ao todo, conforme relatado em nota divulgada na data de anúncio da greve e que segue novamente ao final desta.

    O anúncio de medida drástica que atinge diretamente os trabalhadores foi feito em forma de comunicado pelo diretor-geral, sem margem para negociação. Ainda buscamos pelo diálogo reverter o problema junto à direção por uma semana. Sem margem para conversa, recorremos à paralisação como forma de ampliarmos nossas vozes, mas fomos surpreendidos mais uma vez com o comunicado da demissão coletiva.

    Nossa luta não é – e nunca foi – contra a revista Caros Amigos. Pelo contrario, reforçamos a importância de publicações contra-hegemônicas e críticas em um cenário difícil para a democratização da comunicação no Brasil, que cerceia a variedade de vozes. Nossa luta é, portanto, para o fortalecimento e a coerência de um veículo fundamental do qual sempre tivemos o maior orgulho de participar.

    Vimos a público lamentar profundamente que essa crise provocada pela direção venha causar sérios prejuízos ao projeto editorial da Caros Amigos, que contou por todos esses anos com nossa dedicação.

    Saímos desse espaço de forma digna diante de uma situação que tornou a greve inevitável, na esperança que nossos apelos sirvam de acúmulo para o futuro da Caros Amigos de modo que ela se torne exemplo não só no campo editorial, mas nas relações que mantém com seus funcionários e colaboradores. Esperamos que o compromisso assumido com colaboradores durante a gestão dessa equipe seja louvado e que eles recebam seus pagamentos sem atrasos. Também que sejam honrados nossos diretos trabalhistas.

    Agradecemos todos que se solidarizaram com nossa situação e os que seguirão nos apoiando nessa nova etapa. Esperamos que esta experiência sirva de acúmulo e motivo de debate sobre a precarização, o achatamento de salários, a piora nas condições de trabalho e atitudes patronais – que existem tanto em empresas da grande imprensa quanto nas da contra-hegemônica – no sentido de buscarmos melhores condições para todos exercerem suas profissões. Por fim, esperamos que o exemplo comece pela imprensa contra-hegemônica com a correção de práticas como esta.

    São Paulo, 11 de março de 2013.

    Alexandre Bazzan; Caio Zinet; Cecília Luedemann; Débora Prado; Eliane Parmezani; Gabriela Moncau; Gilberto Breyne; Hamilton Octavio de Souza; Otávio Nagoya; Paula Salati; Ricardo Palamartchuk

    A resposta de Wagner Nabuco, diretor-geral da Caros Amigos

    “Nessa sexta-feira (8/3) estava em reunião, anteriormente agendada, com o contador e advogados, quando a equipe editorial entregou uma carta manifesto se declarando em greve.

    “Assim que terminei a reunião desci ao andar da redação e não encontrei ninguém; as mesas estavam limpas e vazias. Confesso que me surpreendi, pois ao longo de 2012 e em 2013, tivemos várias reuniões com toda a redação (e suas comissões de representantes) para tratar dos assuntos que apresentaram na carta. Aliás, esta sempre foi minha postura com as várias equipes de redação, estagiários e free-lancers, que por aqui passaram e deram inestimável colaboração ao longo desses 16 anos.

    “Devo dizer que reuniões assim também foram feitas com as equipes financeira, administrativa e comercial, hoje com apenas 9 pessoas, sendo que alguns trabalham e colaboram comigo e com a revista desde 1997.

    “Ressalto que nessas reuniões mostrei todos os números da editora, sua movimentação financeira e o prejuízo mensal que a revista vem acumulando pois, mesmo com os milhares de leitores, as receitas de publicidade são pequenas ( e agora com mais restrições da SECOM/PR ) , todo o mercado de circulação – bancas e assinaturas – está em queda , os custos vem aumentando acima da inflação, e não podemos repassar para o preço de capa. Essa situação atingiu duramente os veículos alternativos e contra hegemônicos, que tiveram que fazer ajustes para continuar suas operações e produzir um jornalismo crítico e independente.

    “Expliquei à todos , sem distinção entre redação , comercial e operacional, que precisava tomar essas difíceis medidas para garantir a sobrevivência da revista como tenho feito em momentos de crise já vividas desde 1997.

    “Mais uma vez, tenho certeza, a Caros Amigos contando com o empenho de suas equipes internas , o apoio dos amig@s e a fidelidade dos nossos leitores , por todo o Brasil, sairá mais fortalecida dessa lamentável crise.

    “Abraços

    Wagner Nabuco”

    Relator da ONU

    Um dos dirigentes do Instituto Barão de Itararé, Centro de Estudos da Mídia Alternativa, o jornalista Altamiro Borges, em seu blog, relata a visita do relator das Nações Unidas para a Liberdade de Opinião e Expressão, Frank de La Rue, ao Brasil. O relator tem se manifestado em defesa de medidas de combate à concentração dos meios de comunicação e em apoio à liberdade e garantia de direitos na Internet.

    Recentemente, la Rue se posicionou a favor da Ley de Medios da Argentina, por entender que instrumentos de regulação democrática são necessários para garantir o pluralismo e a diversidade na comunicação. La Rue participa de uma série de debate sobre a democratização da comunicação e a liberdade de expressão na Câmara Municipal de São Paulo.

  12. O Voto do MINISTRO DIAS TOFFOLI

    O parágrafo único do artigo 1º da Constituição Federal, o qual dispõe que “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”, encerra o princípio republicano, que se traduz na afirmação de que “a soberania reside no povo, que se autogoverna mediante leis elaboradas preferencialmente pelos seus representantes” (MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 138).

    O princípio republicano de que o povo se autogoverna escolhendo seus representantes se concretiza no voto direto e secreto do cidadão, com igual valor para todos, como posto no caput do art. 14 da Constituição Federal.

    Conforme salienta Jorge Miranda,

    “o sufrágio é o direito político máximo, porque, através dele, os cidadãos escolhem os governantes e, assim, direta e indiretamente, as coordenadas principais de política do Estado (ou das entidades descentralizadas em que se situem)” (Os direitos político dos cidadãos na Constituição portuguesa. In: Revista de Direito Constitucional e Internacional. Ano 15, nº 60, jul.-set./2007, p. 300-301).

    Sobre essas bases assenta-se o Estado Democrático de Direito, pois o exercício da democracia pressupõe a existência de eleições tão livres, universais e equânimes quanto possível. E o mecanismo utilizado pelo eleitor para externar sua vontade política é o voto.  O voto é, pois, a manifestação, a exteriorização da soberania e da vontade do povo, que decide quem deve governar e como se dará essa governança.

    Nas palavras de José Afonso da Silva:

    “Na democracia representativa a participação popular é indireta, periódica e formal, por via das instituições eleitorais que visam a disciplinar as técnicas de escolha dos representantes do povo. A ordem democrática,  contudo, não é apenas uma questão de eleições periódicas, em que, por meio do voto, são escolhidas as autoridades governamentais. Por um lado, ela consubstancia um procedimento técnico para a designação de pessoas para o exercício de funções governamentais. Por outro, ‘eleger’ significa expressar preferência entre alternativas, realizar um ato formal de decisão política. Realmente, nas democracias de partido e sufrágio universal as eleições tendem a ultrapassar a pura função designatória, para se transformar num instrumento pelo qual o povo adere a uma política governamental e confere seu consentimento – e, por consequência, legitimidade – às autoridades governamentais. Ela é, assim, o modo pelo qual o povo, nas democracias representativas, participa na formação da vontade do governo e no processo político” (Comentário contextual à Constituição. 3 ed., São Paulo: Malheiros, 2007, p. 41).

    Assim, quando do exercício da soberania popular, o cidadão, pessoa física, é o único constitucionalmente legitimado a exercitá-la. A hora do voto é um daqueles raros momentos – se não o único — em que há a perfeita consumação do princípio da igualdade, em que todos os cidadãos – ricos, pobres, de qualquer raça, opção sexual, credo – são formal e  materialmente iguais entre si.

    São formalmente iguais porque a Constituição Federal dá o direito de voto a todos os maiores de dezesseis anos, inclusive os analfabetos. E são materialmente iguais entre si porque o voto de cada qual tem o mesmo valor.

    Observa-se, assim, com toda a evidência, que o parágrafo único do art. 1º e o caput do art. 14 da Constituição Federal não se destinam à pessoa jurídica: essa não pode votar, não pode ser votada e, caso pudesse votar, o voto não teria o mesmo valor, formal e material, para todas.

    Não há, portanto, comando ou princípio constitucional que justifique a participação de pessoas jurídicas no processo eleitoral brasileiro, em qualquer fase ou forma, já que não podem exercer a soberania pelo voto direto e secreto.

    Conforme bem apontado por Daniel Sarmento e Aline Osório, em trabalho desenvolvido para subsidiar a presente ação direta,   “[a] permissão legal para arrecadação de fundos para campanhas eleitorais via pessoas jurídicas é, em si prejudicial à democracia, pois concede a quem não tem voto uma rota alternativa – e, como visto, mais ‘eficaz’ – para participar do processo político-eleitoral.” (Eleições, dinheiro e democracia: a ADI 4.650 e o modelo de financiamento de campanhas eleitorais. p. 9).

    Com efeito, o financiamento eleitoral deve ter liame com os atores sociais que participam do pleito: os eleitores, os partidos políticos e os candidatos. É inegável que as pessoas jurídicas desempenham relevante papel na sociedade, exercendo, por exemplo, pressão social sobre o Estado, mas não são – e não podem ser – atores do processo eleitoral.

     Se as pessoas jurídicas não participam do processo democrático – pois não gozam de cidadania -, admitir que possam financiar o processo eleitoral é violar um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, qual seja, o da soberania popular.

    Não é demais ressaltar que o processo eleitoral é o principal instrumento de efetivação do modelo democrático representativo, pois viabiliza a concretização dos ideais republicano e da soberania popular.

    E, para que a genuína vontade popular se consubstancie, é preciso que esse processo eleitoral garanta que a escolha dos representantes políticos pelos cidadãos se dê mediante campanhas livres e equânimes. E, nesse sentido, o texto constitucional também não deixa dúvidas acerca da vedação à participação das pessoas jurídicas no financiamento do processo eleitoral brasileiro.

    Com efeito, a Constituição de 1988, em seu art. 14, § 9º, determinou que lei complementar estabelecesse outros casos de inelegibilidade, a fim de garantir “a normalidade e [a] legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta”.

    Ressalte-se que a Carta de 1988, inovando ao que já previsto desde a Emenda à Constituição de 1946 de nº 14/65, mais do que o abuso, vedou – sem nenhum adjetivo – a influência do poder econômico no processo eleitoral.

    Ora, se o comando constitucional foi expresso ao proteger a normalidade e a legitimidade das eleições da influência do poder econômico, como poderia o legislador autorizar que setores da iniciativa privada possam financiar o processo eleitoral?

    No meu entender, não há dúvidas, portanto, que o financiamento de campanhas eleitorais por pessoas jurídicas resulta em evidente influência do poder econômico sobre as eleições – expressamente vedada no art. 14, § 9º, CF/88. -, o que já seria suficiente para se declarar a inconstitucionalidade da norma.

    Por sua vez, autorizar a influência dos setores econômicos sobre o processo eleitoral é admitir o que também é constitucionalmente vedado: a quebra da igualdade jurídica nas disputas eleitorais e o desequilíbrio no pleito.

    É inegável que os candidatos, os partidos políticos e as coligações com maior capacidade de arrecadar recursos junto aos grupos de interesse com maior poder econômico têm aumentadas as probabilidades de se sagrarem vitoriosos nas eleições.

    Nesse cenário, sobressai a discussão acerca do financiamento de partidos e campanhas eleitorais, pois, conquanto necessário para a realização do processo democrático – afinal, não há como negar os altos custos de uma campanha eleitoral –, o financiamento não pode gerar distorções e desigualdades na disputa eleitoral, afetando a premissa democrática da participação livre, igual e consciente dos eleitores no processo político, tendo em vista que o fator preponderante nesse processo deve ser sempre a vontade popular.

    Nesse mesmo sentido, aponta a douta Procuradoria-Geral da República:

    “(…) [D]evem ficar afastadas da participação, direta ou indireta, nos processos eleitorais as pessoas jurídicas de direito privado sem conotação política, na medida em que não gozam do status de cidadão, nem representam interesses públicos ou sociais. Pelo contrário, seus atos constitutivos referem-se explicitamente a negócios privados, geralmente de índole mercantil.”

    Ora, as pessoas jurídicas de direito privado não têm ideologia. Elas buscam, em verdade, atender interesses eminentemente econômicos. Afinal, a razão de existência das empresas privadas é a obtenção de lucro.

    Sendo assim, qual a razão instrumental de as empresas realizarem doações a partidos políticos ou a campanhas eleitorais?

    Walfrido Jorge Warde Júnior (Empresa pluridimensional. Empresa política e lobby. In: Revista do Advogado, São Paulo, ano 28, nº 96, mar.2008), ao fazer essa análise, lança dúvidas sobre a possibilidade dessas doações. O autor, dentre outras conclusões, afirma que o conceito jurídico de ‘objeto social’ da empresa (cuja consecução é o escopo empresarial) não comporta as doações de campanha. Afinal, como se argumentar que aquelas contribuições reverterão, financeiramente, para a sociedade empresarial e a ajudarão na realização de seu objeto social? Ora, sabe-se que não existe, do ponto de vista jurídico e ético, essa justificativa.

    Conforme esclarece o autor:

     “Todos os atos de uma sociedade empresária devem ser afetados pela atividade empresarial prevista em seu objeto social. (…).

    A única maneira, à luz do direito societário, de justificar tais doações, sem que sejam ultrapassados os limites impostos pelo objeto social (que é restrito ao exercício da empresa econômica), seria demonstrar que a eleição de dado candidato traria benefícios econômicos à sociedade empresária em questão e, no particular, que promoveria um aumento dos lucros distribuíveis e do valor das participações societárias.

    Essa justificativa é hoje, porém, porque vedada por normas eleitorais e penais aplicáveis, antijurídica.”

    Antes de apresentar dados do Tribunal Superior Eleitoral relativos às  eleições de 2004 a 2012, os quais bem ilustram o predomínio dos interesses econômicos no financiamento do processo eleitoral no Brasil, vale lembrar a abundância de formas de doação por pessoas jurídicas que a nossa legislação eleitoral autoriza.

    Nos períodos anteriores às eleições, as pessoas jurídicas podem contribuir financeiramente: (a) para o Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos, o Fundo Partidário, disciplinado no art. 38, da Lei nº 9.096, de 19/9/95 (Lei dos Partidos Políticos), que beneficia todas as agremiações; e (b) para os órgãos de direção nacional, estadual e municipal dos partidos políticos, para constituição de seus fundos (art. 39, da Lei nº 9.096/95).

    As doações para o Fundo Partidário e para os partidos políticos acontecem por meio de depósito ou transferência bancários feitos diretamente para suas contas correntes, admitindo-se, também, no caso dos partidos políticos, doação mediante cheque cruzado e nominal (arts. 38, III; e 39, § 3º, da Lei n° 9.096/95).

    As doações das pessoas jurídicas aos partidos políticos não podem advir, direta ou indiretamente, nem sob a forma de publicidade, de qualquer espécie: (a) de entidade ou governo estrangeiros; (b) de autoridades ou órgãos públicos; (c) de autarquias, empresas públicas ou concessionárias de serviços públicos, sociedades de economia mista ou fundações instituídas em virtude de lei e para cujos recursos concorram órgãos ou entidades governamentais; e (d) de entidade de classe ou sindical (art. 31, da Lei n° 9.096/95).

    Note-se que, na ausência de previsão legal em sentido contrário, também no ano da eleição pode haver doações de pessoas jurídicas ao Fundo Partidário, a partidos políticos ou a campanhas eleitorais, devendo-se identificar, nesse caso, as figuras jurídicas típicas que surgem nesse período, tais como “candidato”; “comitê financeiro” e “contas de campanha”.

    Os candidatos, comitês financeiros e partidos políticos que optem por arrecadar recursos e aplicá-los nas campanhas eleitorais são obrigados a abrir “contas de campanha”, que servem para registrar toda a movimentação financeira das respectivas empreitadas. Essas contas são, portanto, específicas para esse fim, vedando-se a utilização de conta bancária preexistente (art. 22, caput, da Lei nº 9.504/97).

    Podem também destinar às campanhas eleitorais bens e serviços estimáveis em dinheiro, devendo qualquer doação ser feita mediante recibo eleitoral (art. 23, §§ 2º e 4º, da Lei n° 9.504/97).

    O limite de doação às campanhas eleitorais a que estão sujeitas as pessoas jurídicas é de dois por cento do seu faturamento bruto no ano anterior à eleição (art. 81, § 1º, da Lei nº 9.504/97).

    Também estão proibidos de doar os entes enumerados no art. 24 da Lei nº 9.504/97, a saber, (a) entidade ou governo estrangeiro; (b) órgão da administração pública direta e indireta ou fundação mantida com recursos públicos; (c) empresa concessionária ou permissionária de serviços públicos; (d) entidade de direito privado beneficiária de contribuição compulsória; (e) entidade declarada de utilidade pública ou organização da sociedade civil de interesse público; (f) sindicato ouentidade de classe; (g) pessoa jurídica sem fins lucrativos que receba recursos do exterior; (h) entidade beneficente, religiosa ou esportiva; (i) organização não governamental que receba recursos públicos.

    A pessoa jurídica que optar por pulverizar suas doações pelas diversas campanhas eleitorais de uma mesma eleição deve-se ater ao seu limite contributivo. Em resumo, são as seguintes as fontes de financiamento das campanhas políticas: a) recursos próprios do candidato; b) contribuições e doações de pessoas físicas; c) contribuições e doações de pessoas jurídicas; d) recursos públicos provenientes do fundo partidário; e) doações de outros candidatos, partidos políticos ou comitês financeiros; f) receitas decorrentes da comercialização de bens ou da realização de eventos.

    Seguem dados do Tribunal Superior Eleitoral relativos às receitas de campanhas eleitorais do período de 2004 a 2012:

    (…)

    Conquanto a preocupação normativa com o financiamento eleitoral seja fato recente, não é de hoje que se verifica a influência do poder privado nas práticas eleitorais no Brasil.

    Durante o Império, a influência econômica estava institucionalizada na política do voto censitário, segundo a qual só se qualificavam como eleitores os indivíduos (do sexo masculino) com um determinada condição econômica. Essa influência do poder econômico estava presente também nos requisitos de elegibilidade. Para ser senador, por exemplo, o cidadão tinha de ter uma renda anual de no mínimo oitocentos mil réis (art. 45, IV, da Constituição de 1824).

    Com o advento da República, afastou-se o uso da renda como critério para a qualificação dos eleitores. Surgiu, contudo, na República Velha, a chamada “política do café com leite”, resultado da aliança entre as elites oligárquicas dos Estados de São Paulo e de Minas Gerais, a qual tinha como base o “coronelismo”, que se manifestava nas eleições, na forma do “voto de cabresto”.

    Victor Nunes Leal, já ressaltava, com perspicácia, a natureza desse fenômeno histórico. Nas suas palavras,

     “[o coronelismo] é antes uma forma peculiar de manifestação do poder privado, ou seja, uma adaptação em virtude da qual os resíduos do nosso antigo e exorbitante poder privado têm conseguido coexistir com um regime político de extensa base representativa.” (Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo no Brasil. 7. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 44).

    Como anota Barbosa Lima Sobrinho, com a criação da Justiça Eleitoral (Decreto 21.076/1932) e a preocupação, cada vez maior, de se impedirem as fraudes eleitorais e de se garantir o voto secreto,

    “[a]s técnicas eleitorais do passado perdem sua eficácia, diante da nova realidade política. (…) O poder político, obediente aos novos tempos, esquece a antiga brutalidade dos processos policiais e adota as luvas de pelica do poder econômico. Já se pode estabelecer, em alguns Estados, o preço de uma cadeira de deputado. Nas eleições majoritárias, o rádio e a televisão exercem papel preponderante, favorecendo os candidatos que contam com o apoio dos mais pujantes grupos econômicos.” (Evolução dos sistemas eleitorais. Revista de Direito Público e Ciência Política. v. IV, n. 3. set./dez. Rio de Janeiro. 1961. p. 39)

    Vai nesse mesmo sentido o pensamento de Sídia Maria Porto Lima:

    “A partir das sensíveis mudanças socioeconômicas resultantes da decadência do coronelismo, decorrente, sobretudo, do acelerado processo de urbanização e industrialização, as massas de trabalhadores tornaram-se independentes, resultando em uma redução na eficácia das formas tradicionais de dependência do eleitorado. À medida que o personalismo foi perdendo, aos poucos, sua força, o processo eleitoral, respectivo às mudanças socioeconômicas, passou a assimilar práticas inerentes ao capitalismo emergente.” (Prestação de contas e financiamento de campanhas eleitorais. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2009. p. 48).

    Sem o voto censitário, sem o voto de cabresto, restou às forças econômicas do país atuar no financiamento das campanhas. Antes, as elites agrárias – os produtores de cana-de-açúcar e de café -, hoje, as elites empresariais – as instituições financeiras, as empreiteiras e as grandes indústrias.

    Nesse contexto, o financiamento eleitoral por pessoas jurídicas nada mais é do que uma reminiscência dessas práticas oligárquicas e da participação hipertrofiada do poder privado na nossa realidade eleitoral, em direta violação às cláusulas pétreas da Constituição de 1988, também chamada, convém lembrar, de “Carta Cidadã”.

    É preciso reconhecer, portanto, que o financiamento eleitoral por empresas privadas é um instrumento – senão o principal – de permanência da forte influência do poder econômico no nosso processo eleitoral, instrumento esse capaz de desvirtuar a democracia representativa e a participação cidadã.

    Sobre isso, já advertia Fávila Ribeiro:

    “A interferência do poder econômico traz sempre por resultado a venalização do processo eleitoral, em maior ou menor escala.

    (…)

    À proporção que a riqueza invade a disputa eleitoral, cada vez se torna mais avassaladora a influência do dinheiro, espantando os líderes políticos genuínos, que também vão cedendo, ainda que em menor escala, a comprometimentos econômicos que não conseguem de todo escapar, sendo compelidos a ser conspurcarem com métodos corruptos.” (Abuso de poder no Direito Eleitoral. 2. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 58).

    Sob outra ótica, a intensa participação das pessoas jurídicas no financiamento das campanhas eleitorais acaba por apequenar a participação da própria cidadania na disputa. Como visto, as campanhas, especialmente as nacionais e as estaduais, são quase que totalmente custeadas por contribuições de empresas, sendo, em geral, ínfima a participação das contribuições individuais nesses processos. Entretanto, é o cidadão, e não os grupos econômicos, a figura central do processo eleitoral.

    Afastadas as empresas privadas do financiamento do processo eleitoral, a cidadania retoma o seu necessário e imprescindível papel no exercício da soberania, estimulando-se, assim, inclusive, a reaproximação entre partidos políticos, candidatos e eleitores, estímulo esse que se traduz, portanto, em comprometimento não só emocional, mas também financeiro.

    É o que chamo de financiamento democrático do processo eleitoral: o financiamento privado de partidos e candidatos mediante incentivo às doações feitas pelos eleitores, dentre de certos limites. Nesse mesmo sentido, aponta Maurice Duverger, ao tratar dos partidos de massa:

    “(…) Ao invés de se dirigirem a alguns grandes doadores privados, industriais, banqueiros, ou grandes comerciantes, para cobrirem as despesas da campanha – o que põe o candidato (e o eleito) na dependência destes últimos – os partidos maciços reportem o encargo por um número tão elevado quanto possível de adeptos, contribuindo cada um com uma soma modesta. Do mesmo modo, os partidos de massas caracterizam-se pela atração que exercem sobre o público: um público pagante, que permite à campanha eleitoral escapar às servidões capitalistas, junto a um público que ouve e que age, que recebe uma educação política e aprende o meio de intervir na vida do Estado.” (Os partidos políticos. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar; Brasília: Universidade de Brasília, 1980. p. 99- 100).

    Não é demais frisar: a pessoa natural tem o direito, como detentora, por excelência, da soberania popular, de contribuir financeiramente para as campanhas, observados, é claro, determinados limites.

    Sob essa perspectiva também assiste razão à requerente quando aponta que tanto a adoção de um critério baseado na renda para a definição dos limites das doações por pessoas físicas, quanto a permissão de utilização de recursos próprios pelos candidatos em suas campanhas até o valor máximo de gastos fixado por seu próprio partido violam os princípios da isonomia e da proporcionalidade.

    No meu sentir, o ponto de partida, dessa análise, em verdade, deve ser a fixação de um teto para os gastos com as campanhas eleitorais de cada qual dos cargos em disputa, de forma a garantir-se maior igualdade, lisura e equidade no processo eleitoral.

    Há de se reconhecer, também, que o estabelecimento de um limite de doação baseado na renda do doador e a ausência de teto para a utilização de recursos financeiros dos próprios candidatos perpetuam a decisiva influência do poder econômico sobre o pleito eleitoral, já que não impedem que a desigualdade de recursos entre os concorrentes seja fator preponderante para o sucesso na disputa.

    É evidente que, sem a definição de limites uniformes e independentes da condição financeira dos doadores ou dos candidatos, as desigualdades econômicas e a concentração de renda que imperam na nossa sociedade hão de refletir no financiamento das campanhas e, consequentemente, no resultado da eleições.

    Como bem ilustrou o requerente, há distorções no critério hoje utilizado para as doações por pessoas físicas:

    “Se, por exemplo, dois indivíduos tivessem, no ano anterior à eleição, rendimentos de, respectivamente, R$ 100.000,00 e R$ 20.000,00, uma doação a um candidato feita pelo primeiro no valor de R$ 5.000,00 seria perfeitamente lícita, mas o segundo, se praticasse o mesmo ato, cometeria um ilícito eleitoral que o sujeitaria a multa de valor entre R$ 15.000,00 e R$ 30.000,00 (art. 24, § 3º, Lei 9.504/97). Não há qualquer  justificativa racional e aceitável para esta discriminação, que se reveste de caráter verdadeiramente odioso.”

    Enfim, não se pode medir o exercício da cidadania e a participação de eleitores e dos candidatos no processo eleitoral com base na capacidade financeira de cada um deles. Todos os cidadãos, no processo eleitoral, têm o mesmo valor. No exercício da cidadania, todos – ricos, pobres, de qualquer raça, opção sexual, credo – são formal e materialmente iguais entre si, o que impede que se retire dos eleitores e candidatos a possibilidade de igual participação no pleito eleitoral.

    Por essas razões, Senhores Ministros, forte no princípio republicano, na soberania popular e no papel constitucional desta Corte em garantir um processo democrático de escolha dos representantes políticos pelos cidadãos, mediante campanhas livres e equânimes que concretizem a genuína vontade popular, todos preceitos imutáveis na Carta Constitucional, voto pela procedência dos pedidos da presente ação direta de inconstitucionalidade.

    Pág. 11 e segs.

    Clique aqui para ler a íntegra do voto de Dias Toffoli.

  13. A PERDA DE UM CENTROAVANTE

    A PERDA DE UM CENTROAVANTE MATADOR !

     

    13/12/2013 07h00 – Atualizado em 13/12/2013 07h00

    Suspeita de tráfico motivou dispensa de ex-jogador da base do Grêmio

    Jovem foi preso na quarta-feira por suspeita de 8 tentativas de homicídio.
    Ex-atleta também teve passagem pelo Cruzeiro de Porto Alegre.

     

    O jovem de 18 anos que foi preso na quarta-feira (11) por suspeita de ter cometido pelo menos oito homicídios em Porto Alegre foi dispensado das categorias de base do Grêmio depois de informações de que ele estava envolvido em tráfico de drogas e porte ilegal de arma. De acordo com a assessoria de imprensa do clube, a passagem do ex-jogador se estendeu por oito meses, de junho de 2010 a fevereiro de 2011.

    passagem do ex-jogador se estendeu por oito meses, de junho de 2010 a fevereiro de 2011.

    No cadastro do jovem no site da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) consta que ele ainda é jogador amador registrado pelo Esporte Clube Cruzeiro de Porto Alegre. O presidente do clube, Dirceu de Castro, disse ao G1 que não se recorda do atleta, mas que ele pode ter disputado alguma competição pela base do Cruzeiro, o que explicaria o registro.

    O jovem é suspeito de ter cometido oito homicídios no Bairro Restinga e na Vila Conceição, na capital. Segundo a Polícia Civil, o ex-atleta é conhecido como “Jogador” e fazia parte da “Gangue dos Primeiras”. Somente neste ano, ele foi preso quatro vezes por porte ilegal de arma de fogo. O ex-atleta também é investigado por participar de um tiroteio no início deste ano que atingiu um policial militar de folga e a filha dele. De acordo com a polícia, o veículo da família foi confundido com o carro utilizado por uma gangue rival.

    O envolvimento de “Jogador” com crimes na Restinga e na Vila Conceição era tanto que, de acordo com a polícia, duas delegacias especializadas trabalhavam em conjunto para efetuar a prisão. O jovem foi encaminhado ao Presídio Central de Porto Alegre.

    (http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2013/12/suspeita-de-trafico-motivou-dispensa-de-ex-jogador-da-base-do-gremio.html)

  14. FB trunca compartilhamento nas fanpages
    A MÃO DE FERRO DO FACEBOOK PARA IMPEDIR A LIVRE INTERLOCUÇÃO NAS FANPAGE – Criei uma fanpage no facebook para mostrar os spin corrptos que a grande mídia joga para debaixo do tapete, não é preciso logar para visitar e aproveito para fazer uma denúncia: O Facebook está agindo com mão de ferro para impedir que eu compartilhe livremente coisas na minha fanpage, o Facebook sabe que a fanpage é uma forma que tenho de sair do gueto que é o facebook uma vez que ali se encontram apenas amigos do campo artistico e politico, a minha caverna de platão que adoro mas que quero sair e dar umas voltinhas, mostrar para as  pessoas que não tem facebook,, mas o FB marcou alguns links como perigosos para minhas Fanpages: Tadeu Chiarelli spin cuador(sic curdor) Cecilia Cotrim spin historiadora spin curadora spin fotógrara Cristiana Castro spin advogada interessante se notar que eu posso compartilhar conteúdos destas pessoas na minha linha do tempo mas não nas fanpage,,estranho não…pois eu não sou obrigado a ficar nessa Caverna de Platão https://www.facebook.com/pages/Spin-Corrupto/589931087734829

  15. Cansou das horas de espera em chamadas de Calsenta ?

    Em outras partes do mundo o problema é o mesmo!

    Porém, algumas pessoas em outras paragens conseguiram uma solução bem interessante: em vez de você ligar no 0800 informado(a) para ser atendido(a) por uma atendente que só ganha salário mínimo com vale-cochinha e não entende nadica de sua solicitação, você procura, por exemplo, num sítio como esse:

    http://gethuman.com/phone-number/

    e liga para o número alternativo ao tal 0800, 0300, etc., onde se é atendido por um cabra mais capaz. 

    Um sítio desses bem que podia ser implantado em nossas paragens, não é? Os números são informados por voluntários, que obtiveram resultados positivos, ou então até por empregados da própria empresa envolvida. 

  16. FHC vetou, Lula aprovou e Dilma implementará (sobre os air bags)

    FHC VETOU, LULA APROVOU E DILMA IMPLEMENTARÁ (SOBRE OS AIR BAGS) – Anteontem circulou uma notícia a respeito do prazo de implementação dos air bags em veículos produzidos no Brasil.

    A notícia era sobre a possível dilatação no prazo final para a adaptação das montadoras, que passaria de 2014 para 2016. Em se confirmando a notícia, é algo de certa forma frustrante. Vamos examinar melhor esta questão e ver que a suposta frustração tem procedência, mas o contexto é de inexorável avanço, em que pese a demora.

    A previsão de colocação de air bags já estava contida na Lei que criou o Conselho Nacional de Trânsito, em 1997.

    Lamentavelmente o então presidente Fernando Henrique Cardoso vetou integralmente o ponto que versava sobre a obrigatoriedade da instalação de air bags nos veículos produzidos em Pindorama.

    Tendo como parâmetro o prazo de concretização da Lei 11.910, de março de 2009 (versa sobre a colocação de air bags), que fica entre cinco e sete anos para a implementação integral (2014 ou 2016), é possível dizer que o Brasil perdeu uma gigantesca oportunidade no passado para realizar ainda antes este avanço em matéria de segurança automotiva.

    Poderíamos ter veículos plenamente adaptados desde o ano de 2002 ou, na pior das hipóteses, em 2004! Isto se FHC não tivesse vetado INTEGRALMENTE este dispositivo lá atrás, em 1997…

    Resumindo, é preciso recordar esses pontos para que todos saibam qual o real motivo do atraso que ainda se verifica nesta matéria. E é preciso dizer também, e em alto e bom som, que enquanto o PSDB vetou os air bags no Brasil, o PT aprovou os mesmos e está implementando agora esta medida.

    Não na velocidade ideal, mas indo no rumo certo, o que é o mais importante de tudo. Ou seja, enquanto uns vetam, outros implementam. Da maneira como a “grande mídia” coloca esse possível adiamento, fica parecendo que o país encontra-se na estaca zero em matéria de air bags e sistema de freios ABS. Isto é absolutamente falso!

     

    Quando se diz que estamos no rumo certo (em que pese o fato de que poderíamos estar adaptados desde 2002 ou 2004), é porque hoje 100% dos novos lançamentos já vem adaptados com air bags e freios ABS. E 60% dos modelos existentes também estão adaptados. É (ou era) em 2014 que se atingiria 100% de implementação destes itens, mas isto não quer dizer que nada foi feito até o dia de hoje.

     

    E vale lembrar que mesmo após o atingimento de 100% da meta (que talvez  fique para 2016), ainda existirão por um bom tempo veículos sem os itens de segurança já referidos. O missivista que escreve estas linhas, e outros milhões de brasileiros, tem um veículo sem os itens de segurança e não tem ideia de trocá-lo em rápido espaço de tempo…

     

    Enveredar por esta abordagem (de que nada foi feito até aqui) é algo lamentável, pois implica em mentira ao povo brasileiro a respeito das reais condições e do real patamar de implementação das resoluções 311 e 312 do CONTRAN.

  17. Nassif, 
    Um ponto

    Nassif, 

    Um ponto interessante a ser discutido aqui na questão da corrupção na prefeitura de São Paulo é a incompetência dos governos da época em coibir a corrupção, o mesmo se aplica o caso dos cartéis dos trens. 

    Em se confirmando tudo isso, mostra que o pessoal da oposição ao governo Dilma não está preparado para governar o Brasil, afinal eles sequer conseguiram detectar um esquema de corrupção desse montante, como acham que podem governar o Brasil? O quanto a corrupção cresceria, uma vez que são completamente incompetentes em prever e coibir essa prática criminosa, que rouba da população para uso individual.

    À oposição é conveniente o discurso de que é menos corrupto, que o governo Dilma isso, aquilo, no entanto, na prática não isso que está se vendo, o que se vê é que o governo de São Paulo estava sendo roubado embaixo do nariz dos governantes e ninguém, absotulamente ninguém conseguiu ver isso, resultado? Um prejuízo de milhões de reais, que pode inclusive passar de 500 milhões de reais, isso de um apenas um grupo descoberto, e se tiver mais?

    Isso sim é que tem de ser perguntado, a oposição tem competência para governar um país, um estado ou uma cidade, tem competência para coibir a corrupção e o esquema de cartéis?

    Em se provando tudo que está surgindo na prefeitura de São Paulo, descoberto pelo prefeito Haddad, eu afirmo que NÃO!

  18. Gilmar Mendes deve explicações

    O tucano Gilmar Mendes deve uma explicação ao país…

    Publicado em dezembro 13, 2013 por Caio Hostilio

    Um magistrado que usa da politicalha, sem conceitos científicos, não merece respeito… Simplesmente abriu a boca para proferir os anseios do seu partido político, o PSDB. Deveria ter ficado calado e não estimular atos de corrupções em períodos eleitorais

    JB

    gilmar-mendes-faz-graves-denunciasAs acusações do ministro Gilmar Mendes a respeito da proibição das doações de empresas para as campanhas eleitorais, em votação no Supremo Tribunal Federal, são graves. O ministro afirmou que partidos políticos que estão no poder vão se beneficiar com o veto às doações.

    “Quem ganha com isso é quem dispuser de propaganda institucional. Há quem interessa esse modelo cerrado, hermético? Em geral, é ao governo”, afirmou.

    O ministro insinua que há por parte dos governantes uma força corrupta que os permite se perpetuar no poder. Não pode haver outra interpretação senão esta.

    Mas, após fazer esta afirmação, Gilmar Mendes ficaria constrangido se lhe perguntassem como Fernando Henrique Cardoso não conseguiu eleger José Serra em 2002. Ou, por outro lado, ao analisar os 20 anos  – seis mandatos – de governo PSDB em São Paulo (Mário Covas de 1995 a 2001, Geraldo Alckmin de 2001 a 2003 e de 2003 a 2007, José Serra de 2007 a 2011, e novamente Alckmin de 2011 até este ano).

    Ao fazer tal afirmação, Gilmar Mendes estava baseado em quê? Há fatos novos? Ele, como ministro, tem a obrigação de denunciar ao país, como aliás o fez quando revelou, em maio de 2012, que Lula o havia procurado, juntamente com o ex-ministro da Justiça Nelson Jobim, para supostamente pressioná-lo contra a realização do julgamento do mensalão.

    Gilmar deve uma explicação ao país. Suas declarações não são de um homem qualquer falando amenidades, são de uma autoridade da mais alta corte do país. Sua voz é forte e tem eco, pela importância que simboliza.

  19. OS BASTIDORES DOS JORNAIS

    OS BASTIDORES DOS JORNAIS TEVEVISIVOS

     

     

    Tintim na periferia

    Imagens de lixeiras pegando fogo, calçadas estreitas com pedestres coléricos: os enfrentamentos que opuseram a polícia e os habitantes de Trappes no verão francês geraram uma nova discussão sobre o “mal das cidades”. Um olhar sobre os jornais televisivos permite compreender como se perpetuam tais clichês

    por Jérôme Berthaut

     

    “Nos demos conta de que as periferias tinham se tornado para nós territórios estrangeiros, que havia uma parte do território francês da qual não compreendíamos mais a língua, a geografia, a sociologia…”, explicava em 2008 um dos redatores chefes dos jornais televisivos do canal France 2. “[Os habitantes] não entendem o que dizemos e nós não entendemos o que eles dizem. Isso nos levou a uma conclusão imediata e dissemos: ‘Já que estamos no estrangeiro quando vamos para a periferia, vamos fazer o que fazemos quando estamos no estrangeiro: vamos pagar pelos serviços de um ‘fixeur’.” A escolha desse termo, que designa originalmente o acompanhante pago para servir como motorista, guia e intérprete aos repórteres nos países em guerra, não é, evidentemente, insignificante. Pudemos observar essa transformação, que testemunha uma mudança estrutural da informação nos bairros populares, durante uma pesquisa dentro da redação do canal France 2.1

    O recurso aos fixeurs coloca em evidência, em primeiro lugar, a leitura cultural, mais importante do que a social, que os jornalistas fazem de suas dificuldades de acesso a certas zonas habitacionais. Já que cresceu em um conjunto habitacional, o fixeur tem uma compreensão natural da periferia e domina seus códigos – linguísticos, comportamentais, étnicos – que se pretende serem específicos. Mas o recrutamento desse tipo de intermediário revela principalmente o espaço crescente que se dá à mediatização dos “desvios” dos bairros populares.2 Espera-se dos fixeurs que mobilizem suas relações (família, amigos…) para fornecer de mão beijada os protagonistas das reportagens sobre a economia subterrânea (traficantes, ladrões, vendedores ilegais de armas ou carros), a “violência na periferia” (extorsão, antissemitismo, maltrato das mulheres), o “fundamentalismo muçulmano”, a abstenção escolar etc.

    A progressão desses temas, que se explica principalmente pela multiplicação das tomadas de posição dos partidos políticos, traz à tona o alinhamento progressivo do canal France 2 com seus concorrentes privados. Em 2012, o jornal televisivo (JT) do canal M6 cobriu 517 histórias de cotidiano, contra 472 do canal TF1 e pouco menos (454) do France 2, segundo o Institut national de l’audiovisuel (INA). Números pouco espantosos quando sabemos que a maioria dos executivos do canal público, contratados no início dos anos 2000, vem do privado e trouxer seus métodos de trabalho (ver box abaixo).

    Quando trabalhavam no canal TF1, em paralelo a suas reportagens para o jornal televisivo, os jornalistas Guilaine Chenu (que se tornou apresentadora do programa “Envoyé spécial” [Enviada especial] na France 2), Benoît Duquesne (“Complément d’enquête” [Complemento de investigação]) e David Pujadas (JT das 20 horas) multiplicaram, por exemplo, os assuntos sobre o tema do islã nas periferias para o programa “Le Droit de savoir” [O direito de saber]. Em 1995, Pujadas chegou a coescrever um livro, La Tentation du jihad [A Tentação da jihad](com Jean-Claude Lattès), que pretendia “evidenciar os mecanismos desta ‘jihad de periferia’”. Ele compilou nesse livro diversas reportagens realizadas pelo canal TF1, dentre as quais uma, difundida em outubro de 1993, intitulada “Imigração, a integração em perdição”. Nela vemos o futuro apresentador da France 2 ir ao encontro dos “moradores dos conjuntos habitacionais” para mostrar a constatação da incompatibilidade dos modos de vida das “comunidades negras”, “asiáticas” e “magrebinas” com sua integração na sociedade francesa. Segundo o jovem repórter, as características da “onda do reagrupamento familiar” (as “famílias numerosas”, a “poligamia”, a “ausência do sentido de valores”…) conduziram à “decadência” e à “formação de guetos”.

    Antecipar a hierarquia

    Foi então armados com esse tipo de preconceito que os novos chefes hierárquicos da redação da France 2 tentaram convencer a antiga equipe a romper com uma cobertura da periferia considerada “angelical demais”. Em particular durante as reuniões de pauta, instância de avaliação onde não apenas se distribuem os assuntos a tratar, mas também se fala sobre os bons e os maus pontos do dia anterior. Os dois principais jornais do canal, o “13 horas” e o “20 horas”, têm, cada um, reuniões de pauta de trinta a quarenta minutos que, na maior parte das vezes, reúnem apenas membros da hierarquia. Um de cada vez, os chefes de editoria (política, sociedade, geral, cultura) expõem as propostas de suas equipes, o avanço das reportagens em andamento, e se esforçam para conseguir o consentimento dos chefes, únicos que decidem o conteúdo do JT.

    Estes, que frequentemente dão a entender seu nível de interesse com relação às propostas apenas por uma simples expressão do rosto ou uma reação rápida (uma careta cética, uma exclamação entusiasmada, algumas breves questões…), formulam também encomendas de reportagens bem específicas. Os chefes de editoria têm, então, inclinação a se alinhar com as expectativas dos redatores chefes e dos apresentadores – até mesmo antecipá-las – ainda mais porque estão concorrendo para obter a programação das produções de suas respectivas equipes.

    Essa organização induz a uma progressão que beneficia a hierarquia. Em março de 2003, por exemplo, após o pedido de um redator chefe por pautas a respeito das “consequências da guerra do Iraque na França”, o responsável pela editoria política propôs uma matéria sobre “o papel dos governantes” para acalmar as tensões comunitárias; o da editoria de sociedade pensou em realizar entrevistas nas mesquitas e escolas de periferia; o de geral quis coletar a opinião dos jovens nos pátios dos prédios dos conjuntos habitacionais etc.

    A rivalidade entre as editorias permite aos responsáveis dos JTs garantir a confecção de reportagens sob medida, até mesmo quando os redatores estão reticentes. Em dezembro de 2006, por exemplo, depois da publicação de um comunicado de imprensa anunciando que “Nicolas Sarkozy acolhia em Beauvau [sede do ministério do interior] jovens dos bairros populares”, diversos jornalistas da editoria de geral reclamaram por ter que cobrir o evento, considerado como uma operação de “recuperação”, até mesmo de “manipulação” do ministro. Pouco importa: um responsável da editoria de política se candidatou a realizar a reportagem.

    Esses modos de funcionamento levam ao alinhamento das propostas de pauta aos esquemas de interpretação dos chefes de redação que são os que estão mais distantes do campo, ao ponto de, frequentemente, definir uma periferia fora da realidade. Na prática cotidiana, o diretor de redação, os apresentadores e os redatores chefes do JT estão, com efeito, duplamente distanciados dos bairros populares: não apenas eles não vão até lá para realizar as reportagens, mas também não tratam mais diretamente com os jornalistas que cobrem as pautas em questão, pois essa tarefa foi repassada aos chefes de editoria. Assim, seu ponto de vista sobre “as periferias” alimenta-se antes de mais nada dos únicos discursos que conseguem chegar até eles: o das fontes dominantes e das mídias que são consideradas referência a seus olhos.

    A incitação a acumular contatos junto às forças da ordem (fonte inesgotável de notícias) constitui assim uma das principais ordens dirigidas aos jovens repórteres. Uma preocupação particularmente perceptível vista a assiduidade dos jornalistas do canal nas atividades de formação realizadas pelo Instituto de Altos Estudos da Segurança Interior (Iaesi):3 com todos os tipos de mídias juntas, a equipe da France 2 foi a que inscreveu o maior número de jornalistas. Entre 1994 e 2011, apenas na editoria de geral, sete jornalistas participaram dos cursos desse instituto. Investindo nessas “formações”, o canal espera criar relações de familiaridade com os futuros responsáveis de segurança: “Custa 8 mil euros por ano para a France 2, então, quando colocamos um cara lá dentro, esperamos que dê resultado”, reconhece um antigo editor de geral, que se tornou redator chefe do JT.

    Quatro dias por mês, durante um ano, tendo aulas consagradas às diferentes dimensões da segurança, os jornalistas inscritos se relacionam com uma centena de profissionais da segurança pública que estão prometidos a uma ascensão nos seus respectivos escalões: comissários, coronéis da polícia militar, magistrados, delegados, diretores da alfândega etc. Cabe a eles, depois, entreter e reforçar as relações com seus antigos camaradas de formação. “São pessoas com quem eu ainda me encontro”, confia um repórter diplomado. “E nos tratamos com intimidade, sabia? É uma espécie de rito, uma submaçonaria, eu não vejo de outro modo. Ritualizamos a rede.”

    “E aí, Mohammed, tá bravo?”

    A estratégia se revela lucrativa para o canal, que dispõe assim de repórteres imediatamente operacionais para honrar os comandos hierárquicos, e para os jornalistas. “A cada vez que mudei de emprego, foi graças ao meu caderno de contatos ‘polícia e justiça’”, conta uma especialista no assunto, contratada quatro vezes entre 2000 e 2012, pela TF1 e pela France 2. “Tem muito pouca gente especializada em polícia: é complicado, é preciso conquistar a confiança das fontes… Então, ter um caderno de contatos com certeza me permitiu crescer.” Mas de tanto conviver com os policiais, os jornalistas acabam por adotar inconscientemente sua percepção do mundo social, suas categorias de análise, e por vezes, a sua linguagem. Assim, nos corredores da France 2, espiar um acontecimento ou uma personalidade se torna “montar uma tocaia”, cobrir um roubo. GAV (garde à vue – manter sob custódia), VMA (volà main armé – roubo à mão armada), VV (vol avec violence – roubo com violência): os termos técnicos policiais são correntes nas salas de redação.

    O ministério do interior e seus serviços (delegacias locais e regionais) funcionam como verdadeiros coprodutores da informação que sabem perfeitamente se antecipar e se adaptar às convenções jornalísticas em prática. A seleção de uma reportagem sobre uma “apreensão de entorpecentes em Nanterre” está, por exemplo, ligada ao fato de que um câmera do canal foi autorizado a acompanhar as forças de polícia em suas operações de busca em carros ou apartamentos. O chefe da editoria de informações gerais da France 2 se felicita publicamente por essa produção, uma “bela operação do departamento de investigação de narcóticos em Nanterre, com uma boa tomada, dinheiro”, que “vale pelo estilo rock’n roll, com um lado espetacular dos caras que derrubam as portas”.

    As discussões nas reuniões de pauta da redação parecem frequentemente com apostas sobre os assuntos que vão ser abordados pelos outros canais. Uma das maneiras possíveis para um chefe de editoria impor “seu” assunto consiste, então, em valorizar que os concorrentes, eles, vão falar sobre isso. Assim, como nos explicam os redatores, algumas reportagens – rebatizadas ironicamente de “pauta em caso de” – só terão a chance de ir para o ar “no caso da” TF1 também estar presente.

    Para se sair bem nesse trabalho de previsão, o conjunto dos jornalistas fica atento a respeito dos temas abordados pelas outras mídias. As rádios, é claro, mas também a imprensa escrita, e em particular o jornal popular Le Parisien. Frequentemente citado como uma referência na reunião de pauta, esse jornal diário serve de parâmetro para avaliar a programação do polo das mídias ditas “populares”. Além de fornecer quase que de bandeja as ideias das pautas realizáveis no dia por uma equipe de televisão baseada em Paris, ele é considerado como capaz de atrair um público variado. Além disso, as reportagens colocadas no início do JT retomam frequentemente a hierarquia da “capa” do Parisien. Tendo por consequência a imposição recorrente dos “assuntos de periferia”, muito tratados pelo jornal que, levando em conta a sua zona de difusão, produz um efeito de ampliação sobre a região parisiense.

    Assim que a seleção é decidida na reunião de pauta, os responsáveis do JT passam a bola para os chefes de editoria, que vão transmitir aos repórteres as orientações ligadas a cada assunto escolhido. “Isso repercute e desce um degrau”, precisa um jornalista encarregado das crônicas judiciárias. Ainda no andar de baixo, os jornalistas raramente expressam a menor crítica teórica ou política sobre a definição do assunto que lhes foi confiado pelos chefes de editoria: qualquer pauta aprovada pela hierarquia parece ser considerada como legítima e realizável, a menos que haja impossibilidade material. Assim, quando solicitado a realizar uma denúncia sobre “a agressão dos policiais CRS”, mesmo se ressalta a dificuldade em “fazer a ronda no Tarterêts” (uma periferia da região de Essone – no sul de Paris – onde “a coisa é difícil”) e nos confessa suas dúvidas sobre o interesse da reportagem (“Tenho medo que resulte num assunto sofrível”), Denis se contenta com o que tem.

    Diante das críticas que lhes são dirigidas sobre o “tratamento das periferias”, os jornalistas ressaltam as suas dificuldades em criar relações de confiança com os moradores dos bairros populares. É assim que eles justificam a mobilização sistemática de intermediários encarregados principalmente de garantir sua proteção. “Sarcelles [uma periferia], tome cuidado, é muito perigoso”, aconselha, por exemplo, uma jornalista a sua jovem colega. “Não vá sozinha. Vá acompanhada por alguém da prefeitura ou da comunidade, principalmente se você vai colher opiniões em baixo dos prédios [faz uma mímica de jornalista entrevistando]: ‘E aí, Mohammed, tá bravo?’” O dispositivo funciona então como uma profecia autorrealizável: o fato de que tudo se passa como previsto valida a posteriori os pressupostos sobre essa transmissão.

    Mas o recurso aos intermediários se justifica também pela dificuldade material em realizar em um período de tempo muito curto (às vezes de manhã para ser exibido à noite) matérias “encarnadas” e “com vida”. Uma parte pouco conhecida do trabalho dos jornalistas consiste em encontrar, nos bairros populares, esses negociadores – que se diferenciam dos fixeurs pelo fato de que não são oficialmente remunerados pela redação – capazes de pré-selecionar moradores cujas trajetórias pessoais correspondem às ordens da hierarquia. Se eles conseguem isso, sua reputação será consagrada e seu nome irá circular nas salas de redação.

    Um único intermediário pode determinar toda uma série de filmagens. No início de 2001, Denis conheceu, por exemplo, Tariq, educador em uma cidade do departamento de Essone. Ele foi encarregado de realizar uma reportagem sobre os “tournantes” (estupros coletivos) e as relações entre meninos e meninas nas “cohabs”, e o educador aceitou organizar para ele um encontro com jovens. Depois dos atentados do 11 de setembro, Tariq apresentou a Denis um jovem de sua comuna “convertido ao islã”: “Eu fiquei muito feliz por ter encontrado isso. Como o menino era delinquente, Tariq o conhecia, foi ele quem me deu o seu número de telefone”, lembra Denis, ainda agradecido. Dois dias depois, ainda na mesma cidade, o educador forneceu a Denis adolescentes que criaram o hábito de se reunir no hall do prédio. Depois foi por ocasião de uma reportagem sobre o “sentimento de insegurança” que Tariq apresentou a Denis três estudantes que reclamavam por serem regularmente revistados pela polícia.

    Essa lógica de preparação de reportagens favorece uma superexposição de algumas periferias. Em 69 reportagens sobre “a periferia” realizadas por Denis para os jornais da France 2 entre 2000 e 2007, uma grande parte tem por cenário as cidades onde o jornalista dispõe de contatos. Elas se situam principalmente na região de Essone, onde Tariq está (as cidades de Grigny e Evry acumulam quinze reportagens), e na região de Val-de-Marne, de onde afixeuse da France 2 vem.

    As solicitações que as mídias dirigem a alguns interlocutores são tão numerosas que criam uma rotina de trabalho para os acompanhantes. Em 2003, duas equipes da France 2 foram para Sarcelles num intervalo de nove dias. A cada vez, o prefeito da cidade, num verdadeiro tour operacional do conjunto habitacional, conduziu a visita segundo um percurso quase idêntico: a sinagoga, o salão de chá da “comunidade judaica”, o mercado “mestiço”, local de encontro das “setenta comunidades da cidade”, o bar PMU onde se encontram os “velhos magrebinos” que vem apostar nas corridas de cavalo, a mesquita…4

    Os percursos propostos pelos intermediadores são evidentemente inspirados por suas experiências repetidas na acolhida de jornalistas. Quer se trate de visitas padronizadas, sugestões feitas ao câmera (filmar uma passante “de burca”, o bar “dos velhos magrebinos”…) ou ainda da pré-seleção dos protagonistas das reportagens, muitas situações demonstram a interiorização por parte dos intermediadores dos códigos iconográficos do jornalismo na periferia. Já que vai além das eventuais necessidades do repórter, o acompanhante aparece também como o promotor e o transmissor das práticas jornalísticas-típicas.

    É preciso dizer que a atenção dos jornalistas em passagem pelos bairros populares é principalmente consagrada a uma detecção das situações, paisagens e protagonistas que evoquem da melhor forma “a periferia”. Assim, as imagens de grades e prédios, que são no entanto minoritárias nas construções de periferia, parecem constitutivas do tipo de visual destas reportagens. Em particular sua declinação sob a forma de travelling: este procedimento oferece uma solução estética (animar imagens de prédios que são, por definição, imóveis), ao mesmo tempo em que respondem aos imperativos de segurança – permitem aos repórteres permanecer protegidos nos seus veículos, sem nem sequer precisar parar. “Aaaah, o que seria de uma matéria sobre a periferia sem o travelling dos prédios?”, ri uma editora de vídeos ao descobrir as imagens brutas vindas da filmagem de um jornalista enviado à Clichy-sous-Bois. Essas tomadas parecem fazer parte da rotina de fabricação de reportagens nos bairros populares a tal ponto que os editores de montagem recorrem a elas frequentemente nos arquivos quando as equipes não tiveram a possibilidade de filmar.

    Outros componentes da representação das periferias vêm se acrescentar à coleta jornalística. Ao analisar o conjunto das imagens filmadas pelas equipes de Olivier ou de Denis em duas periferias diferentes, constatamos que o câmera privilegia de fato as mesmas imagens, para as quais ele se esforça em diversificar os modos de captação: enquadramentos amplos, próximos ou em movimento dos prédios, dos terraços, dos corredores escuros, das antenas parabólicas, das pichações, dos traços de degradação…

    Ao longo de uma passagem por Clichy-sous-Bois, Pierre, o redator, percebeu duas placas escurecidas por um incêndio, ainda pregadas em uma barreira, ao lado de uma escola primária. Se virou para o repórter de imagens (JRI): “Filma para mim!” O outro se prepara e filma primeiro imagens das duas placas, antes de manipular sua câmera de baixo para cima para capturar num mesmo movimento as placas, depois o prédio e as parabólicas ao fundo.

    Mas também é preciso falar de uma galeria de personagens recorrentes: o imã, o educador, os “jovens” bons ou maus, as vítimas dos transtornos etc. Esse formato antecipa a apreciação dos chefes, assim como a de um público que imaginamos impregnado pelos mesmos pressupostos sobre a periferia; ele contém ao mesmo tempo a ideia de “onde estarão as personagens”, de “quem elas serão”, mas também do “que elas dirão”. Os jornalistas devem assim desenvolver talentos de criadores de diálogos e de diretores de teatro, pois, no jornal televisivo, a palavra e as situações parecem ser menos recolhidas do que coproduzidas.

    BOX:

    Uma privatização escondida

     

    Março de 2003. A editoria geral da France 2 – dedicada principalmente às notícias de cotidiano – está cheia de caixas de papelão. A mudança em andamento dá testemunho da reorganização da redação: a editoria acaba de se fundir com a prestigiosa editoria de internacional para formar um vasto departamento de “investigações e reportagens”. Dotando-se de uma grande quantidade de repórteres ultra polivalentes, capazes de tratar indiferentemente de assuntos sobre o território francês e o estrangeiro, a France 2 alinha-se com o modelo de organização das grandes redações de audiovisual comercial.

    Essa arquitetura, ainda hoje em funcionamento, completa com efeito uma série de transformações impulsionadas pela equipe dirigente da redação nomeada em 2001. Nesse ano, o apresentador do jornal das 20 horas, Claude Sérillon, e o diretor de redação, Pierre-Henri Arnstam – duas figuras emblemáticas da televisão pública –, foram substituídos respectivamente por David Pujadas, vindo da LCI/TF1, e Olivier Mazerolle, vindo da RTL.

     

    Nessa grande renovação do organograma da redação, a maioria dos novos promovidos tinha em comum já ter trabalhado, ou até mesmo começado, no audiovisual privado. Muitos vinham da TF1, como Jean-Michel Carpentier, que se tornou em 2001 o redator assistente do jornal 20 horas da France 2, ou Thierry Thuillier, o novo responsável pela editoria internacional. Outros se formaram no canal La Cinq (canal comercial criado por Silvio Berlusconi em 1987 e que desapareceu em 1992), como Michèle Fines, que se tornou a responsável pelas informações gerais. Quanto aos raros funcionários que mantiveram seu cargo a despeito de todas as transformações, eles também conheceram frequentemente uma experiência nos canais privados. Foi o caso de Arlette Chabot, chefe da editoria de política da TF1 de 1985 a 1990, que apresenta o programa “Mots croisés” [Palavras cruzadas], ou de Béatrice Schönberg, a apresentadora dos jornais do fim de semana, que também era uma antiga jornalista do La Cinq (1987-19992) e da TF1 (1992-1997).

     

    Impregnados com as lógicas da concorrência e da rentabilidade, contratados para recuperar a parte de audiência dos jornais televisivos da France 2, esses desertores impuseram novas prioridades editoriais – principalmente as midiatizações das notícias sensacionalistas – que entravam em contradição com as práticas de uma parte da equipe precedente. No seu trabalho cotidiano, a hierarquia e as editorias dominantes podiam ver suas escolhas contestadas, até mesmo de forma violenta, pelos jornalistas da antiga linha, que se tornaram minoritários. “Era a guerra, nos diziam: ‘Vocês são uns antiquados de esquerda. Não entendem nada, não é assim que funciona o jornalismo moderno’”, lembra Marcel Trillat, figura histórica do serviço público do audiovisual, diversas vezes chefe da editoria de sociedade ao longo dos anos 1990 e militante da Confederação Geral do Trabalho (CGT).

     

    Os enfrentamentos tratavam frequentemente da atenção dada às notícias de cotidiano e à produção dos canais concorrentes. “Na redação, temos realmente uma esquerda pós-marxista que tem referências revolucionárias teóricas marxistas [e] que não suporta as palavras ‘administração’, ‘produto’, ‘audiência’, ‘cotas de mercado’, ‘penetração’… para eles, uma notícia de cotidiano é suja por definição”, estima um dos redatores chefes atuais do JT, recrutado como jornalista de geral em 1994 e promovido a editor assistente em 2001.

     

    Em alguns anos, um campo tornou-se claramente mais forte que o outro, como atestam as novas contratações: Laurent Delahousse (ex-M6) apresenta os jornais do fim de semana desde 2007, Florian Bugier (ex-Bloomberg TV, BFM TV e i>télé) responde pela apresentação dos JTs durante os períodos de férias desde 2011, François Lenglet (ex-BFM Business) dirige a editoria França desde junho de 2012 etc. “Foi realmente a outra televisão que ganhou”, deplora Trillat. (J. B.)

     

    Jérôme Berthaut

    Sociólogo, mestre de conferências na Universidade de Borgonha, membro do Cimeos e pesquisador associado à Unidade de Pesquisa Migrações e Sociedade (Urmis/Paris Diderot). Autor de La Banlieue du “20 heures”. Ethnographie de la production d’un lieu commun journalistique [A Periferia do “20 horas”. Etnografia da produção de um lugar comum jornalístico], Agone, coleção “L’ordre des choses”, Marselha, 2013.

     

    1 Salvo menções contrárias, as citações e dados mencionados aqui são extraídos de uma pesquisa de campo que aconteceu durante a elaboração de um doutorado de sociologia defendido na Universidade Paris Diderot. As observações no canal France 2 aconteceram entre 2003 e 2007, e as entrevistas foram realizadas entre 2003 e 2009.

    2 Cf. Laurent Bonelli, La France a peur. Une histoire sociale de l’“insécurité” [A França está com medo. Uma história social da “insegurança”],La Découverte, Paris, 2010, capítulo IV.

    3 Ler Pierre Rimbert, “Envahissants experts de la tolérance zero” [Invasores especialistas na tolerância zero], Le Monde Diplomatique,fev. 2001.

    4 Cf. Julie Sedel, Les Médias et la Banlieue [As mídias e a periferia],INA/Le Bord de l’eau, Lormont, 2009.

    http://www.diplomatique.org.br/acervo.php?id=3048

  20. Horario?

    Quando o blog do Nassif era no site advivo havia noticias novas durante todo o dia. Desde que migrou pra ca parece que so tem uma atualizaçao por dia e/ou com horarios extremos. Afinal, por que isso?

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