Intervenção imperialista no Brasil criou as condições de existência da Lava Jato, diz pesquisador

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Condições que deram origem à Lava Jato estão longe de serem superadas e o país está sujeito a novas ofensivas

A “intervenção imperialista” contínua no Brasil criou as condições ideais para a existência da Operação Lava Jato e a saliência de figuras como Sergio Moro, Deltan Dallagnol e outras personagens que forjaram uma “máquina anticorrupção” que acabou por exterminar milhares de empregos e detonar empresas nacionais. Essas condições, que pesquisadores têm chamado de “imperialismo legal”, não foram superadas, de modo que o País segue sujeito ao surgimento de novas “Lava Jato”.

O alerta é do pesquisador Luís Eduardo Fernandes, autor do livro “A Internacional da Lava Jato: imperialismo, nova direita e o combate à corrupção como farsa”, da editora Autonomia Literária. Fernandes foi entrevistado por Luis Nassif na noite de terça (9), quando explicou que a obra é produto parcial da tese de doutorado que investigou as condições econômicas, sociais e institucionais que deram origem à Operação Lava Jato.

“A gente chegou à grande conclusão de que a Lava Jato foi produto de processo contínuo de intervenção de um novo tipo de imperialismo que tem no século XXI, que a gente chama de ‘imperialismo legal’, que tem a ver com a guerra jurídica e econômica [a nível transnacional]. E esse processo contínuo de intervenção imperialista no Brasil criou as condições de existência de um Moro, de um Dallagnol e de outras coisas”, disse Fernandes.

No livro, Fernandes analisa a estrutura da política anticorrupção criada pelos Estados Unidos e que penetrou nas instituições brasileiras nas últimas décadas. Fazendo referência a um documentário inédito do canal TVGGN sobre a influência dos EUA no Lava Jato, Fernandes lembrou como a arquitetura dos órgãos americanos é capaz de lançar seus tentáculos sobre empresas e governos de outros países.

“Há uma enorme divisão do trabalho com relação à política externa anticorrupção, que envolve órgãos como o DOJ, o DHS e o departamento de tesouro americano, que aplica as sanções econômicas para indivíduos, empresas e outros países [processados e condenados por corrupção]”, comentou.

Além disso, os Estados Unidos investem bilhões de recursos “para fortalecer entidades da sociedade civil que levam essa pauta anticorrupção para países periféricos, através de ONGS e tanques de pensamentos [think tanks], entre outras entidades transnacionais.” Não raramente, essas entidades acabam se relacionando com a imprensa tradicional e servindo como fonte para reportagens que atendem aos interesses dessa indústria anticorrupção.

A editora Autonomia Literária cedeu uma cópia do livro “A Internacional da Lava Jato: imperialismo, nova direita e o combate à corrupção como farsa” para presentar um dos nossos assinantes do Clube de Membros do canal TVGGN, no Youtube. Se você já faz parte do Clube, deixe um comentário neste post aqui para participar do sorteio. Caso ainda não seja assinante do canal, visite essa página aqui e clique em “seja membro” para conhecer as condições.

Tudo isso foi visto na Lava Jato e em outras operações polêmicas que surgiram na esteira, como a Greenfield contra o grupo JBS. Com ajuda dos procuradores brasileiros, Petrobras foi processada nos EUA e teve de pagar uma multa bilionária (maior do que toda a corrupção alegada na petroleira) para se livrar do julgamento em solo americano. Enquanto isso, a Transparência Internacional Brasil negociava por baixo dos panos com os procuradores para interferir no destino dos recursos das multas bilionárias.

Talvez a Lava Jato não tivesse ultrapassado as fronteiras sem a conivência – e até mesmo certo grau de subserviência – de algumas autoridades brasileiras míopes, e sem a FPCA (lei anticorrupção americana) e todo o aparato legal criado pelos EUA para alcançar a corrupção de outros países.

“Uma parte da crítica à Lava Jato, corretamente, e com muitos méritos, se centra muito nos métodos jurídicos [que viabilizaram tamanho poderio da operação]. No entanto, a gente tem que entender a Lava Jato num contexto mais geral, social e econômico, até para fazer o debate necessário para o país se proteger e não existirem outras Lava Jato”, pontuou Fernandes.

Assista a entrevista completa com o autor a partir dos 11 minutos:

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

4 Comentários

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  1. Já foram publicados vários estudos sobre a Lava Jato e suas consequências. Agora é preciso começar a estudar a reação à operação para refinar as técnicas de combate político, jurídico e midiatico que foram utilizadas para neutralizar e derrotar o Lawfare.

  2. Sim, provavelmente o autor está certo, em parte.

    O problema é vender o tema como novidade ou descoberta.

    A estrutura ideológica do capitalismo, e seus tentáculos imperialistas, desde a mais tenra hora, no fim do Século XIX e início do Século XX em diante, e eu arriscaria dizer, até nas expansões coloniais do Século XV, sempre esteve baseada no controle da normatividade, e seu uso como arma política e geopolítica.

    Seja no âmbito de controle interno, ou nos embates externos, as elites capitalistas sempre recorreram ao binômio judiciário/polícia (no âmbito interno) ou organismos internacionais normativos /poder militar para legitimarem suas ações e intervenções.

    É um sistema muito mais antigo e complexo que a Lava Jato.

    O fenômeno em si (Lava Jato) aparece mais pelos seus aspectos mais espetaculares.

    Juízes, promotores, policiais, prisões de figuras do mundo político e alguns empresários escolhidos a dedo como bodes expiatórios, ou que devem ser derrubados, como o caso da Odebrecht e seu setor de pesquisa e inovação militar.

    Tudo foi elaborado e ensaiado desde 2004/2005, quando os boatos sobre reservas minerais gigantescas (pré sal) viraram realidade.

    Era preciso bloquear o uso independente desse dinheiro.

    Mas bem antes, os movimentos políticos conservadores já bebiam na fonte do “moralismo”, do “combate à corrupção”, e no uso estratégico dos estigmas implantados pela mídia capitalista nos setores, digamos, progressistas ou que desafiassem a ordem mundial vigente (EUA e Europa).

    Assim foi com Vargas, com Juscelino, Jango, etc.

    Figuras como Lacerda, Jânio Quadros, Sandra Cavalcanti, e outros vestais, sempre existiram.

    É preciso dizer que a ocupação colonial da Corte Portuguesa em terras tupinambás trouxe essa simbiose comum ao ordenamento jurídico português, onde a polícia era de costumes (intendência), e regrava a vida em sociedade, tudo a partir do viés hierárquico, que na época, manifestava sua pior face com a escravidão, mas que com o tempo, mudou pouco, principalmente para pretos e pobres.

    Esse traço não é só nosso.

    Itália e sua Mãos Limpas, e outros fenômenos mais recentes de moralismo político a serviço de gerenciamento mais agudo do capitalismo, que vocês chamam de forma ingênua de “extrema-direita”, como se fosse possível separar a direita de sua face extrema.

    A ascensão dos republicanos nos EUA, como elemento imbatível, ainda que democratas ganhem uma ou outra eleição (e a cada volta, se parecem mais com os republicanos), foi alavancada na desregulação completa de tudo (mídia, mercados, etc), e ao mesmo tempo, no uso instrumentalizado do estamento jurídico, com a tripla tática: criminalização da pobreza (preta e latina, principalmente), alienação política dos pobres brancos e uso estratégico do judiciário para acuar adversários.

    Apesar da paradoxal queda de Nixon, aquele era o ensaio do que estaria por vir: mídia e judiciário no controle das esferas de poder político.

    Na Inglaterra, Tatcher, segurando o bastão da suposta austeridade moral e econômica.

    Como se governar para os ricos fosse símbolo de austeridade moral, ou de pouca presença do Estado.

    (risos).

    É o contrário, quando se busca austeridade e “equilíbrio fiscal”, sob o (falso) argumento (liberal) de pouca presença do Estado, é justamente o contrário que fazemos:

    O Estado intervém para tornar os ricos mais ricos.

    Eu leio aqui que precisamos aprender para evitar novas lava jatos.

    Novamente penso: Santa ingenuidade.

    O controle dessa agenda não é nosso, no sistema capitalista não há chance das forças que integram seus sistemas políticos representativos e institucionais de afastarem essa circunstância (o uso do moralismo como arma política).

    Na verdade, só forças anticapitalistas podem fazê-lo, porque dirigem suas forças contra o sistema que dá causa a tantas lava jatos.

    A lava jato é um sintoma.

    O capitalismo é a causa.

    Não se luta contra sintomas, apenas, mas principalmente, contra as causas.

  3. Imaginando os efeitos da Lava Jato e os governos Temer e Bolsonaro, concordo com José Dirceu que diz que o governo Lula é bom. Foram pelo menos 7 a 8 anos de destruição e esses quase 1 ano e meio de Lula, já fez mudar muita coisa

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