Não dá para aceitar a prisão de Lula nem a narrativa da elite defendida justamente por quem deveria criticá-la

Nunca nutri qualquer esperança de testemunhar a elite brasileira e os cães de guarda reconhecerem a importância histórica de Lula, o maior líder popular do país.

Seria atestar o estreitamento de um fosso social e econômico aberto e mantido há séculos por poderosos cuja missão de vida sempre foi oprimir o povo e o pobre para monopolizar as riquezas públicas e exercitar a desigualdade à brasileira.

Mas constatar a incessante subserviência mental de quem deveria refletir sobre a história antes de endossar a narrativa favorável a quem manda é, no mínimo, doloroso e frustrante.

Lula foi indiciado, denunciado e sentenciado em um processo sem crime definido, sem provas apresentadas e eivado de irregularidades, como o vazamento ilegal de uma conversa travada com a presidente, e casuísmos, com a celeridade extraordinária no andamento.

Bastaria isso para obrigar quem faz e acompanha notícias a refletir para além de manchetes e achismos. Mas não é só.

As ações contra o ex-presidente são conduzidas por um juiz nitidamente parcial, amigo dos opositores políticos de Lula, avesso às leis e amparado em vergonhoso compadrio midiático – em uma engrenagem azeitada para destruir o petista moral, social e politicamente.

Mais: a caçada a Lula se dá em meio a uma disputa geopolítica cujas cartadas dispensam o uso tradicional das armas e se valem do aparato judicial para interferir nos países sob o manto da legalidade. É a famosa lawfare. Sem mencionar a guerra das fake news financiada pela direita e executada por facções “contra a corrupção”.

Mas há quem, mesmo com o manancial de informações na internet, detalhes e dados aos montes e acessíveis em segundos, ainda se submeta à narrativa construída para vilanizar o ex-presidente e, assim, as forças progressistas alinhadas com as causas populares.

O resultado são teses bipolares do tipo “Lula fez muito, mas não acho que seja inocente”. Não é achar, cara-pálida. Os processos estão aí, visíveis, óbvios, ao alcance de todos – e as falhas expostas por centenas de juristas.

Nenhum desses acusadores de Lula seria capaz de considerar um colega ou desconhecido culpado com base em ilações tão frágeis, mas, mesmo assim, eles repetem “ah, não é possível, ele deve ter feito algo” e cobram da esquerda (leia-se PT) uma autocrítica jamais exigida de partidos muito mais locupletados pela corrupção – ou você já viu algum moralista colega seu vir a público demandar um mea culpa do PSDB, partido sem qualquer preso na Lava-Jato (por que será?)?

Outro mito criado pela narrativa oficial e encampado largamente é o do “ódio estimulado pela esquerda”. Veja: só em um mês, uma vereadora da favela é assassinada, militantes petistas levam chicotadas, o presidente tem o ônibus baleado e a culpa é… da vítima! Genial!

Quando explodiram as manifestações dos patos amarelos, com bonecos de Lula e Dilma enforcados, pessoas de vermelho atacados em vias públicas, esses comentaristas do ódio silenciaram. Aceitaram.

Em resumo, eles pregam: vocês, escravizados por séculos, pobres, oprimidos, cujos direitos, cidadania e aspirações são diariamente ignorados e vilipendiados, fiquem quietos, inertes, aceitem injustiças e, se der, venham a público pedir desculpas.

Pior é ver isso ser defendido por quem deveria fazer a crítica social e exigir um país mais justo e igualitário.

A prisão de Lula não tem outro significado: é o golpe final para legitimar essa segregação social e econômica histórica do Brasil e confinar o país ao papel de pária do mundo, espécie de cabaré do capital internacional administrado por uma elite entreguista.

É uma prisão política.

Não dá para aceitar ou servir de marionete.

 

Redação

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